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Forças Armadas Brasileiras

Forças Armadas Brasileiras

| Sally | | 30 comentários em Forças Armadas Brasileiras

Nestes tempos de ânimos exaltados tem sempre um descompensado que acredita poder contar com as Forças Armadas Brasileiras como última instância: desde o mito ridículo de algum país desenvolvido tentar invadir a Amazônia até um Golpe de Estado, caso a democracia se esvaia. Pois bem, eu tenho uma péssima notícia para dar: não dá para contar com as Forças Armadas Brasileiras para nada. Sua realidade atual é risível, os militares não têm condição de absolutamente nada neste país.

As Forças Armadas Brasileiras, para quem não sabe, são compostas por: exército, marinha e aeronáutica (ou Força Aérea, como preferirem). Mas, antes de te colocar a par da atual situação das Forças Armadas, vamos falar um pouco sobre o Brasil.

O Brasil é um país com mais de 16.000 quilômetros de divisas por terra, fazendo fronteira com 10 países da América do Sul. E tem mais 7.000 quilômetros de litoral. A área total a ser vigiada é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Faça as contas de quantas pessoas, unidades aéreas e navais precisariam estar estrategicamente posicionadas para cobrir toda esta área, em caso de algum ataque iminente. Pois é, o Brasil não tem nem metade.

Já vi muita gente se vangloriando do efetivo das Forças Armadas Brasileiras. Como o país é grande e adota o serviço militar obrigatório, de fato o efetivo bruto, contando com reservistas, é enorme. Todo jovem que completa 18 anos tem que se alistar obrigatoriamente, mesmo que seja dispensado, e acaba sendo contado como efetivo. Mas desses, quantos estão de fato prontos e treinados para lutar se for preciso?

Provavelmente nenhum, mas, oficialmente, o efetivo atual (na ativa) é de pouco mais de 330 mil pessoas, o que, para um país com esse tamanho de fronteira e território, é muito pouco. Daria cerca de 16 militares para cada 100 mil habitantes. E ainda está previsto um corte a longo prazo de 10% do efetivo. Isso impossibilita que atuem não apenas contra uma eventual invasão estrangeira, mas também que apaziguem qualquer problema interno. 16 militares versus 100 mil habitantes? Sem se todos eles fossem o Wolverine!

Estes números ficam ainda menores quando lembramos que as Forças Armadas não atuam exclusivamente em função do Brasil. Também participam de alguns conflitos ao redor do mundo, conforme sejam designadas, e atuam em ações de paz da ONU, como fizeram, por exemplo, em Angola, Timor-Leste e Haiti. Então, um efetivo que já seria insuficiente, fica insuficiente e meio.

Se o número de pessoas é insuficiente, o de equipamento dá pena. Pouco mais de 400 tanques, 700 aeronaves, 81 helicópteros, 110 navios, 5 submarinos e… zero porta-aviões. Esses são os que existem, mas, os que estão em efetivo funcionamento são muito menos. Não adianta muito dizer que tem 23 caças A-4 Skyhawk se nenhum, absolutamente nenhum está em funcionamento, não é mesmo?

Seja por falta de dinheiro ou até por falta de peças para manutenção por serem obsoletos, tem muita coisa encostada sem funcionar. No caso dos submarinos, por exemplo, apenas dois estão em condições de uso, para 7000 km de litoral. Helicópteros? De 81 apenas 22 funcionam. É uma longa lista de material inservível, que só consta para fazer número em uma lista de itens onde menos da metade está em funcionamento.

Armas nucleares? Não tem, o Brasil prefere arriscar um acidente nuclear fazendo usina no Rio de Janeiro, mesmo sendo uma das maiores potências hídricas e eólicas do mundo. Por sinal, não há armas de longo alcance nem proteção de longo alcance. O Brasil, meus amigos, só não é invadido por falta de interesse das outras nações. Mesmo países da América Latina, como Argentina e Paraguai, teriam poderio militar suficiente para isso.

Ok, tem pouca gente e pouco material, mas… ao menos são tecnologia de ponta? Pausa para rir. Não, não são. São, em sua maioria, tão obsoletos que o Brasil provavelmente teria muita dificuldade para invadir países toscos, como a Venezuela. A Irmã Sem Papel Higiênico tem equipamentos melhores, como por exemplo os tanques T-72 e os caças Sukhoi-30.

Até na defesa também ela bate o Brasil: a bateria antiaérea S-300 impediria facilmente um ataque tupiniquim. Se para republiquetas o Brasil já passa vergonha, quando comparado com verdadeiras potências militares, a vergonha é maior ainda. Os EUA, por exemplo têm 19 vezes mais aviões, 15 vezes mais tanques e 4 vezes mais embarcações de guerra.

Acho que fica bem claro que se um país com poderio bélico real quisesse tomar qualquer coisa do Brasil, já teria tomado. Simplesmente não somos tão importantes, não despertamos tanto interesse e não temos bens cujo valor seja de fato tão alto como imaginamos.

Os números não são o único ponto fraco, o treinamento do efetivo também é risível, bem como a motivação: hoje, vai pro exército quem não quer passar fome, não quem tem alguma vocação para isso. Além disso, o país investe pouco, em torno de 1,5% do seu PIB nas Forças Armadas, muito menos do que outros países com necessidades menores, como Colômbia (3%), Índia (2,8%) ou Equador (2,5%).

A falta de investimento em equipamentos é assustadora. Por exemplo, a maior parte dos fuzis brasileiros são de 1964. A compra de munição também é precária, seja por incompetência no planejamento, seja por desvio de verbas (ou por ambos), estima-se que o Brasil só tenha munição para uma hora de combate, caso seja de fato invadido.

E esta informação vem de dentro, quem fez essa estimativa lastimável sobre munição foi general Maynard Marques de Santa Rosa, ex-secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa. Também vieram à tona documentos que informam que 92% dos meios de comunicação utilizados por militares brasileiros estão obsoletos.

Daí você pode pensar que, por mais precária que esteja a situação, isso pode ser revertido e material pode ser adquirido em caso de necessidade. Não, não pode. Primeiro porque não dá tempo de efetivamente comprar, receber e treinar o uso desses equipamentos (perguntem aos militares argentinos, que atuaram na Guerra das Malvinas, se dá tempo de comprar tudo que se precisa depois que uma guerra começa…), segundo porque não teria dinheiro para isso mesmo que fosse transformado em prioridade número um do país.

Para capacitar pessoas atualmente já está difícil, muitas vezes não se tem nem munição para praticar. E só tende a piorar, o contingenciamento de verba está brabo. 90% do orçamento está comprometido com o pagamento de salários e aposentadorias, portanto, só sobram 10% para investir em caso de eventual necessidade, SE o governo não reduzir o valor (em 2019 foram cortados 5,8 bilhões de reais). E estamos falando de um governo que é amigo dos militares…

O modelo de carreira militar adotado pelo Brasil é um modelo ultrapassado, burro e insustentável. A concentração cada vez maior de despesas com o pessoal inativo suga todos os recursos e a carência de contingentes de reservistas (sargentos e oficiais) com idade apropriada para atender a uma eventual convocação deixa o país sem qualquer defesa, ainda que contra uma rebelião interna.

A razão pela qual o Brasil não foi invadido ou perdeu uma guerra é bem simples: ninguém quer. Ninguém tentou, ninguém tem interesse no mato e água que tem aqui.

A última vez que alguém tentou invadir o Brasil foi há mais de 150 anos, em 1864, quando o ditador paraguaio Solano López entrou no Mato Grosso. E saibam que não estou vazando nenhuma informação confidencial, estas informações são de domínio público, divulgadas não apenas pela imprensa, como pelos próprios militares, ou seja, se alguém queria invadir, tinha total ciência de que não haveria resistência.

Cito as palavras do general Carlos Alberto Pinto Silva, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres: “A quantidade de munição que temos sempre foi a mínima. Ela quase não existe, principalmente para pistolas e fuzis. Nossa artilharia, carros de combate e grande parte do armamento foram comprados nas décadas de 70, 80. Existe uma ideia errada de que não há ameaça. Mas se ela surgir, não vai dar tempo de atingir a capacidade para reagir”. Os próprios militares afirmam, publicamente, que 1) não há condições de enfrentar um ataque e 2) não há condições de reverter esse quadro de imediato.

Você deve estar se perguntando por qual motivo os militares expõe a segurança nacional desta maneira, afirmando publicamente que nossas fronteiras estão arrombadas e nosso efetivo está defasado. Desespero. São pessoas trabalhando na mais absoluta precariedade por décadas e que certamente serão cobradas quando/se um dia for preciso defender o país. É mais ou menos como o caso do médico que é culpado por deixar morrer um paciente quando não tinham nem sequer anestésico no hospital.

Então, vamos ter um pouco de consciência antes de ficar repetindo que os militares vão resolver isso, os militares vão resolver aquilo, que se acontecer tal coisa os militares entram em cena. Não entram. Não tem pessoas, não tem equipamentos, não tem verbas. Por mais que jorre dinheiro, serão anos até adquirir equipamentos decentes e treinar a quantidade de pessoas necessária para utilizá-los. Papo de cinco, dez anos, sendo otimista. Então, meus amigos, não contem com os militares para nada, pois vocês vão se decepcionar.

Primeiro que em um Estado Democrático de Direito eles não resolvem nada em matéria de política, segundo que eles não têm qualquer condição sequer de tirar um gato do alto de uma árvore, muito menos de impedir um ataque ou dar suporte a qualquer tipo de golpe de estado. Os militares estão putos, cansados, com material obsoleto e zero vontade de pegar em armas para fazer qualquer coisa por alguém.

Essa opção de militar “resolver” alguma coisa está apenas no imaginário popular, que não gosta de pensar o quão arrombadas e desprotegidas estão nossas fronteiras. Não é mais década de 60, assim como tantas outras instituições, as Forças Armadas faliram por insistir em se manter em um sistema velho que não se adapta à atual realidade.

Parem de passar vergonha pensando que militares são uma espécie de última instância que pode resolver as coisas se os problemas ficarem realmente sérios. Não podem e, principalmente, não querem. Arrumem outro salvador da pátria imaginário, porque esse está falido e desmotivado.

Para dizer que nada funciona no Brasil, para dizer que quer mais é ser invadido e colonizado por um país decente ou ainda para dizer que o Brasil é um grande blefe: sally@desfavor.com


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