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Coluna inútil.

Coluna inútil.

| Desfavor | | 20 comentários em Coluna inútil.

Bem-vindos à Semana Inútil do Desfavor, em comemoração ao nosso mais novo feriado, o Dia de Sísifo. Nesta semana, falaremos de tudo o que é inútil, mas que não paramos de fazer. E nada mais condizente do que falar sobre o próprio Desfavor. Sally e Somir analisam os esforços mais fúteis da própria casa, e os impopulares votam, mesmo que não faça diferença.

Tema de hoje: qual a coluna mais inútil do Desfavor?

SOMIR

Pra mim foi realmente fácil escolher, pensei na Des Contos na hora. Sempre foi o ponto fora da curva por aqui, resultado do escapismo inerente ao meu ser. Mas rapidamente pareceu hours concours nessa disputa. Uma coluna de ficção num site focado na realidade é fácil demais. Por isso, resolvi ir um pouco mais fundo nessa análise de inutilidade do Desfavor e me decidi por uma que serve bem mais ao propósito desta discussão: Somir Surtado.

Existe uma certa unidade no que Sally e eu escrevemos aqui, nos últimos anos até mesmo nós não vemos uma linha tão clara separando temas e abordagens nos textos que cada um faz. Mas nem sempre foi assim. Há uma década atrás, o desfavor parecia colado com cuspe: eu queria falar com um público, Sally com outro. O Desfavor era mais sobre uma espécie de embate ideológico entre nós do que propriamente a ideia de República Impopular que nos define atualmente.

E um dos pontos de maior tensão sempre foi a coluna Sally Surtada. Relíquia do que ela fazia antes de vir para o Desfavor, existia para ventilar as frustrações femininas num mundo pré-histeria lacradora. Embora eu visse méritos na abordagem descompensada, tratando com humor agressivo a relação entre os sexos, criticava as fãs da coluna que se tornavam maioria entre nós: se finja de maluco por muito tempo e malucos de verdade começam a achar que estão em boa companhia. Estávamos flertando com um público que logo se tornaria o protótipo da insanidade lacradora que tomaria conta da internet nos anos seguintes: mulheres que culpavam homens por todos seus problemas.

Por isso, passamos alguns anos em guerra. No começo, eu assumi uma posição provocadora, com textos carregados de machismo e ofensas baratas. Obviamente não funcionou, esse público vive por isso. Sally ainda achava que estava em companhia de pessoas que entendiam o exagero e só estavam ventilando seu estresse com a difícil relação entre os sexos. Eu já estava enxergando algo errado ali. Foi aí que minha tática mudou e eu abracei a nerdice como solução. Ao invés de alimentar a insanidade com provocações, desinflei os ânimos com temas cada vez mais distantes da vida cotidiana.

Somir Surtado nasceu como uma forma de espantar o público indesejado. Pouco tempo antes, a coluna Desfavor Explica já demonstrou um novo caminho para nós, sendo a única que não era focada em polêmicas. A ideia era criar algo ainda mais difícil de consumir se sua mentalidade era totalmente bélica, focada em mocinhas e bandidos. Nela, não tinha muito o que explicar: era pegar uma ideia sobre futuro, tecnologia e/ou sociedade e desenvolvê-la pelo caminho menos natural possível. Ou você entrava na brincadeira, ou morreria de tédio pelo caminho.

E por um tempo, funcionou. Foi o pico da minha irrelevância aqui. Apenas uma fração do público tinha qualquer interesse pelos textos, mas começava a ficar claro que ao contrário dos 50 comentários dos textos brigando com homens nos textos do Sally Surtada, os 2 ou 3 nos meus pareciam bem mais interessados e construtivos. Sally e eu nunca tivemos uma conversa sobre isso, foi algo que percebemos naturalmente. Foi quando a identidade atual do Desfavor realmente nasceu: ela renegou o público histérico e veio na direção do que eu estava fazendo.

Só que ela tinha muito o que trazer para o jogo. Ela nunca quis ser obtusa, não era o estilo dela. Depois que escreveu o primeiro Desfavor Explica, a coluna tornou-se um sucesso, trazendo gente de todos os cantos da internet para cá, a multidão silenciosa e muitos dos que comentam até hoje são resultado dessa fase. O público que SÓ estava aqui pelo Sally Surtada foi se afastando, deixando em seu lugar pessoas que tinham a mesma curiosidade e vontade de enxergar as coisas de formas diferentes que nós tínhamos, desde o começo. Sem ficar fazendo truques bobos para agradar um público maior.

E num continuado processo de refinamento, Sally e eu fomos aprendendo um com o estilo do outro para achar a linha editorial que temos atualmente. Eu tenho noção que me tornei consideravelmente mais acessível de uns anos para cá, ela perdeu a maioria das ressalvas sobre falar de temas mais complexos, aprendendo que era sim capaz de abordá-los. Não fosse a terrível falta de tempo que assola nós dois, eu diria que conteúdo por conteúdo, estamos na nossa melhor fase. Daqui a 10 anos provavelmente vamos estar bem diferentes e achando o que fazemos hoje de baixa qualidade, mas isso é excelente. Torço muito para viver esse dia.

E o que isso tem a ver com Somir Surtado ser a coluna mais inútil do Desfavor? Oras, ela é uma relíquia do que eu fazia antes. Existia apenas porque eu queria tirar os nutrientes de ervas daninhas que infestavam nossos comentários. Não é mais o caso. Em média, os impopulares são muito mais homogêneos na visão de mundo, não que necessariamente concordem com tudo o que dizemos, mas no sentido de manter uma saudável curiosidade sobre o mundo e terem coragem de desbravar nosso conteúdo numa era onde 2 parágrafos já constituem “textão”.

Hoje em dia, Somir Surtado é uma coluna que tecnicamente nem existe, é só uma forma de evitar que eu escreva um Desfavor Bônus por semana, porque não tem um foco claro que pode ser utilizado em outras colunas. Até por isso eu fui adicionando algumas novas como a Des Global na mistura. E para ser honesto, eu já ando notando alguns textos da Sally indo pela mesma linha. Eu imagino que vá começar a usá-la cada vez menos com o passar do tempo, criando novas colunas mais condizentes.

Por sorte, a necessidade de Somir Surtado não é mais tão grande. Os malucos do “Ei, você!” costumam ficar presos nos textos onde caem, incapazes de vazar para o resto do Desfavor. Não preciso mais ficar lutando.

Para dizer que minha existência é inútil, para dizer que não sabia dessa parte da história do Desfavor, ou mesmo para dizer que Semana Inútil no Desfavor é pleonasmo: somir@desfavor.com

SALLY

Começa hoje uma semana temática comemorando um feriado de inutilidades. Se você não sabe do que estamos falando, dá uma lida neste texto.

Faremos uma semana temática sobre o assunto. Para começar a celebrar o tema, queremos saber: qual é a coluna mais inútil do Desfavor?

Essa é fácil: “A Semana Desfavor”. E sou eu que faço, ok? Para que a criadora admita que é inútil, é séria a coisa.

A coluna “A Semana Desfavor” só existe por um motivo: dela depende o Desfavor da Semana e o Top Des, pela dinâmica do blog. Eu reúno as piores notícias da semana e envio para o Somir, para, juntos, escolhermos a pior notícia que dará origem à coluna “Desfavor da Semana” (aos sábados) e a coluna TOP DES, reunindo as dez piores notícias da semana comentadas (aos domingos).

Para começo de conversa é uma postagem desproporcionalmente grande. Normalmente ela tem em torno de dez páginas, algo cansativo de se ler. Ainda por cima, é preciso clicar em um link a cada frase para entender do que estamos falando. Será que muita gente tem tempo para fazer isso uma vez por semana? Acho pedir demais do leitor.

Tenho a consciência de que menos de 10% dos leitores devem ler essa coluna e não culpo aqueles que não o fazem, afinal, no dia seguinte tem as dez melhores/piores notícias, pra que ler tudo? Você olharia cem artigos, itens ou bens se soubesse que no dia seguinte alguém escolheria os dez melhores para que você veja?

E como se a coluna não fosse inútil o suficiente, agora temos, ao final de cada mês, um compilado das piores notícias do mês na forma de uma postagem, ou seja, mais um motivo para não ler: mesmo que muita notícia boa fique de fora do Top Des, o leitor sabe que os melhores momentos mensais estarão resumidos e mastigados no final do mês. Salvo alguma curiosidade antropológica ou quem usa esta coluna como fonte de pesquisa para notícias bizarras (alguns sites famosos usam!), não vejo muito sentido em ler “A Semana Desfavor”.

Não sei se em um futuro a coluna vai ter alguma utilidade. Talvez se alienígenas invadirem a Terra e forem buscar registros do que acontecia por aqui depois de dizimarem a raça humana, ela sirva como uma espécie de Arquivos Akashicos cagados, para que eles riam e percebam quão idiota era o ser humano. Por agora, não vejo utilidade.

Percebam que em todas as colunas a gente acrescenta algo, nem que seja uma opinião cretina. Na coluna “A Semana Desfavor” não, é um mero corta-cola que vocês podem ler em qualquer grande portal de notícias.

É a simples comodidade de ver uma série de hediondezas reunidas em um único lugar que, pelo volume, acaba sendo contraproducente e não lida, por sinal, hediondezas que não acrescentam nada, já que qualquer leitor nosso sabe que o ser humano é um bicho escoto e bizarro.

Existem outras colunas corta-cola, como a “Ei você”, onde reproduzimos as buscas que trouxeram novos leitores para o blog, mas sempre tem algum acréscimo nosso: uma piada, um deboche, uma opinião. Todas as colunas têm um toque nosso, nem que seja para apenas fazer rir, exceto “A Semana Desfavor”. A proposta desta coluna inútil é isso mesmo: ser um corta-cola para servir como base para outras colunas. Se não publicássemos, as colunas relacionadas continuariam existindo, não afetaria em nada o Desfavor.

Basta pensar da seguinte forma: qual coluna, se suprimida, faria menos falta? Essa é a única que você pode ver na íntegra em outros lugares, ainda que demande um pouco de pesquisas. Nem estou discutindo qual coluna acrescenta mais, talvez você prefira um compilado de notícias do que um Desfavor Explica sobre merda, mas esse conteúdo, exposto desta forma, você só vê aqui. As notícias da semana você lê em qualquer lugar.

Não se trata de gosto pessoal. Não estamos perguntando sua coluna favorita ou a coluna mais erudita. Você pode inclusive detestar todas as nossas colunas e achar “A Semana Desfavor” a menos odiosa, pois é a que menos tem o nosso toque pessoal. Ainda assim, continua sendo a coluna mais inútil, visto que seu conteúdo pode ser adquirido em outras fontes.

Quando conversei com o Somir sobre o tema de hoje, ele foi categórico: a coluna mais inútil era o “Des Contos”. Não concordo. Pode ser um devaneio louco, mas ela diverte, distrai, faz rir e algumas vezes até induz a uma reflexão. Ela tem utilidades sim, qualquer conteúdo que desperte emoções e acrescente algo, ainda que seja ficcional, tem sua utilidade.

E você não encontra Des Contos em nenhum outro lugar que seja o Desfavor, pois sua matéria prima é a mente do Somir, ao contrário da minha coluna, cuja matéria prima é o que há de pior na imprensa. Não basta ser uma cópia, um corta-cola, ela ainda é um corta-cola de coisas cagadas.

Você pode me perguntar, já que a coluna é tão inútil, por qual motivo continuamos publicando? Simples: ela tem que ser feita para que outras colunas existam, então, já que eu tenho o trabalho de corno de reservar duas horas do meu dia todo santo dia para pesquisar as cagadas que o ser humano faz, não custa compartilhar com vocês. Vai que é útil para mais alguém…

É a própria definição do feriado nacional que estamos celebrando: algo completamente inútil (como coluna) mas que continua sendo feito. Sejamos sinceros, como matéria prima para outras três colunas ela é ótima, útil e necessária, mas como coluna autônoma, “A Semana Desfavor” é completamente inútil.

Para dizer que você nem sabia que essa coluna existia, para dizer que ambas são inúteis ou ainda para dizer que este feriado é inútil: sally@desfavor.com


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