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Aclamados que se critica.

Aclamados que se critica.

| Desfavor | | 24 comentários em Aclamados que se critica.

Muito embora a definição de um “filme bom” seja muito subjetiva, alguns deles conseguem resistir ao teste do tempo e participar de uma lista bem limitada de filmes aclamados pela crítica em geral. Sally e Somir discutem sobre dois deles que não deveriam fazer parte dela. Os impopulares concordam, discordam ou “premiam” o seu.

Tema de hoje: qual o pior dos filmes aclamados pela crítica como bons?

SOMIR

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Gezuiz, até o título é pretensioso… e não, não é nem culpa dos tradutores, porque é igualzinho no original. Amélie (o título usado em vários países sem tanta paciência para masturbação intelectual francófona) conta a história de uma mulher adulta que pensa, age e se veste como uma criança cometendo pequenos crimes em nome de um senso de justiça muito pessoal. Mas no final das contas, é sobre arranjar um homem para preencher o vazio de sua vida.

O filme é carregado de “truques cinematográficos” como edições rápidas, realismo fantástico através de efeitos especiais e quebras de padrões de enquadramento e foco das cenas para quebrar a monotonia, o que como conceito geral não é um problema, mas quando serve para mascarar a falta de profundidade do roteiro e a falta de estrutura na direção, cansam rapidamente. É o equivalente de colocar mulheres peladas a cada 10 minutos num filme tosco de terror: pode até agradar ao público alvo na hora, mas a experiência geral fica comprometida.

No final das contas, você sabe que não viu nada demais. O que não seria um problema tão grande não fosse toda essa babação de ovo pelo filme: se fosse chamado apenas de um filme “diferentão” sobre uma mulher maluca em Paris, eu teria muito mais simpatia por ele. Mas quando as pessoas começam a dizer que é uma história linda e profunda sobre uma garota fora do padrão contada por uma cinematografia fantástica, a coisa azeda imediatamente. Menos, bem menos…

A estrutura da história não nos leva a lugar nenhum, nem mesmo a personagem principal parece passar por alguma transformação real no decorrer do filme. Daria para entender o filme pelo ângulo de crescimento de Amélie e sua chegada à vida adulta, mas não chegamos lá. Não dá tempo. O filme é uma longa introdução à personagem com basicamente nenhuma conclusão. Porque já entendemos a ideia de que ela é desconectada da realidade ao cometer pequenos delitos para fazer o bem para as pessoas que encontra, isso não é recompensado nem punido, não gera consequências reais para a personagem.

Você pode argumentar que esse filme não é sobre o destino, é sobre a viagem. O que, novamente, eu toleraria não fosse o status de grande filme que paira sobre ele. Cult, e olha lá… quando o diretor tem que chacoalhar algum truque de edição ou fantasia no meio de cada cena, é sinal de que o objetivo do filme está mais nisso do que propriamente na história que está sendo contada. Se eu quisesse só ver cenas diferentonas, assistira clipes musicais, esse não é o objetivo da mídia cinema.

Amélie se esconde da história durante praticamente o filme todo, mudando um pouco seu método de (falta de) ação só nos últimos momentos. O que gera uma personagem central difícil de acompanhar. Sabemos que ela é fora do padrão não pela forma diferente que se integra no mundo, e sim pelas suas fantasias e reações ao que acontece ao seu redor. Sem as cores fortes, os cortes para sua imaginação e o estilo visual do filme, é basicamente ficar olhando para o teto por mais de uma hora.

Muita gente que gosta do filme diz que a garota é “apaixonante” por causa da forma como sua mente funciona e sua originalidade. E aqui começa a minha maior crítica ao filme: apaixonante só se você gosta de criança. Porque ela é uma criança num corpo de mulher adulta. A atriz principal não tem nada de fora do padrão para o cinema: é convencionalmente bonita, por mais que a maquiagem e o figurino tentem deixá-la excêntrica. É aquele velho truque barato de fazer a nerd do filme ser uma atriz muito bonita com cabelo desgrenhado e óculos grossos. Todo mundo consegue ver que a mulher é bonita, não dá para esconder a não ser que você simplesmente mude a estrutura facial ou o corpo da pessoa.

Aparentemente, a diferença entre uma mulher feia e bonita nesses casos é a mesma que o super-homem com ou sem óculos… por mais Clark Kent que tentem fazer da moça, só um completo cego não perceberia que a atriz principal de Amélie não tem nada de fora do padrão. Se o filme fosse feito com uma atriz principal feia de verdade, eu até engoliria o argumento de que a personalidade dela pode ser apaixonante. Na realidade, é só mais do mesmo que gente bonita pode tudo. E se for para ficar babando em gente bonita, prefiro a realidade.

E na realidade, isso só demonstra que mulheres raramente podem seguir essa via da personalidade atraente na vida real. Pessoas vão aceitar virtualmente qualquer coisa de uma mulher minimamente em forma com um rostinho bonito. Isso não me incomoda nem um pouco porque ser homem vem com vantagens suficientes para compensar isso, talvez até demais… não é que eu acho terrível que Amélie fosse agradar seu público com a personalidade que tem ou só olhando para uma parede por uma hora e meia, isso é a realidade, é que isso gera uma falsa sensação de propósito no filme.

E pela data do filme, dá para notar que ele tem sim alguma influência na forma como muitas mulheres acharam aceitável moldar sua personalidade até hoje: com a ilusão de que as pessoas ao seu redor gostariam mais delas se elas fossem excêntricas de alguma forma. Perpetuando uma falsa ideia de que comportamentos que em homem seriam execrados são charmosos numa mulher. Se esse filme fosse feito com um homem como personagem principal, seria chamado de incel bizarro pra baixo. Imagina um stalker infantilóide que invade a casa das pessoas e fica perseguindo uma mulher!

Ninguém gosta disso. Nem homem, nem mulher. Amélie escapa de um julgamento mais severo porque é convencionalmente atraente, e só. E a falta de conteúdo do filme só facilita esse engano: todo mundo fica distraído pelas cores bonitas e o clima de sonho tempo suficiente para não perceber que não tem nada de louvável ali. É só imagem sem substância. Não seja essa pessoa. Não funciona na vida real.

Pergunta para qualquer mulher feia o quanto funciona ser diferentona, pergunta…

Para dizer que eu sou um machista opressor, para dizer que eu não entendi o filme, ou mesmo para dizer que é barango(a) e assina embaixo: somir@desfavor.com

SALLY

Qual o pior filme entre os filmes aclamados e tidos como bons?

“O paciente inglês”. São horas da minha vida que não voltam mais, que filme chato, insuportável e pretensioso! Não li o livro, não sei se a insuportabilidade vem da origem ou se foi apenas o filme, mas puta que me pariu, que troço chaaaaaaato!

É um filme que se passa em um período de guerra. Daí você pensa: vai ter ação, certo? Errado. Vai ter sonolência. A história se passa na Segunda Guerra Mundial, quando resgatam um desconhecido de um avião abatido. O Fulano está todo queimado e é cuidado por uma enfermeira francesa e a interação entre eles é o fio condutor do filme. Realiza: um bate-papo entre um queimado e uma enfermeira.

Se ao menos esse marasmo de diálogo + flashback levasse a alguma reflexão profunda… Mas não, quando o paciente vai contando seu passado, não tem nada de emocionante acontecendo, é só o Fulano Talarico pegando a mulher do amigo mesmo. A velha fórmula de um amor proibido em dois tempos: Fulano antes da queimadura pegando a mulher do amigo x Fulano depois da queimadura com a enfermeira. Um melodrama barato sem a menor sofisticação, com roteiro previsível e cenas esteticamente lamentáveis.

A cena da ameixa… puta merda a cena da ameixa. Sério, não precisava daquilo. A enfermeira dá pedaços de ameixas na boca de cu de galinha do Fulano Queimado, que a chupa e mastiga da forma mais nojenta possível. PRA QUE? Um filme que já é escuro, arrastado, com cenário monocromático, pra que essa boquinha queimada chupando uma ameixa? Se você estiver curioso sobre a cena, basta clicar aqui e pular para 15 minutos e 45 segundos. Me diz se isso era necessário?

Nem ao menos a maquiagem é boa. Quando o personagem principal está todo queimado, é hora de garantir um Oscar de melhor maquiagem, não é mesmo? O ator é o mesmo que interpreta o Lord Voldemort no filme “Harry Potter”… e a maquiagem também. Sem sacanagem, é o Lord Voldemort deitado em uma cama vintage xavecando a enfermeira. Ô filme merda!

Fazer um filme com mais de duas horas onde NADA acontece merece algum crédito, afinal, são poucos os que conseguem semelhante proeza. Ainda assim, para o público, isso é um saco. Se você não for um pseudo-intelectual cinéfilo pretensioso débil metal, dá vontade de se matar estilo Didi Mocó, abrindo o maxilar com as próprias mãos.

Existe uma diferença enorme entre fazer um filme intimista, introspectivo e uma porra arrastada insuportável onde apenas se punheta o passado do personagem sem qualquer propósito. Qualquer bom roteiro está focado no querer de um ou mais personagens principais. O que o Fulano Queimado quer? Não sei, comer ameixa?

Acho curioso os cinéfilos elogiando “a bela trilha sonora” ou “a bela cenografia”. Irmão, se eu quiser música de qualidade, eu ponho a porcaria do fone de ouvido e escuto. Se eu quiser paisagem bonita, eu olho fotos. Eu não vou ao cinema em busca de música nem de natureza, vai tomar no meio do seu cu, você e seu pretensioso conhecimento artístico. O pilar de sustentação de um filme é um roteiro, e, nesse caso, estava tudo pronto em um livro. Era só adaptar para que não ficasse insuportável, mas parece que não foi possível, não é mesmo?

E quando eu digo que os diálogos são arrastados, não me refiro apenas ao conteúdo. Na forma também. O Fulano Queimado é a personificação da sofrência ao falar: fala gemendo, sem forças, lamuriando. Ok que o sujeito está todo queimado, mas porra, duas horas e meia disso é maçante. A enfermeira também está em uma vibe deprimida, depois de perder o namorado e uma amiga na guerra. O filme é um convite à depressão e ao suicídio.

Todo mundo fodido, todo mundo na merda, todo mundo se lamuriando em um cenário escuro em meio a tragédias. A pessoa tem que gostar muito pouco dela mesma para se sujeitar a mais de duas horas disso. Não tem uma reviravolta, não tem uma gota de emoção, não tem nenhuma informação útil ou interessante. Esta caralha deste filme não acrescentou absolutamente nada na minha vida. Minto: me deu um asco peculiar por ameixas.

Diante desse roteiro as cenas escuras desta desgraça de filme mal iluminado fazem surgir um sono incontrolável. Mas aí alternam isso com cenas de guerra, com explosões, para te acordar no susto, ou seja, nem para dormir esta porcaria de filme serve. E no final das contas a porra do paciente nem inglês é. Francamente, vão tomar no cu todos os envolvidos.

Se você procurar pelas críticas do filme, sejam elas de “profissionais”, sejam elas de blog amadores, todos vão endossar que se trata de um filme primoroso, belíssimo, etc. Os mesmos que defendem Almodovar dizendo que “Fale com ela” (a história do estupro de uma moça em coma pelo seu enfermeiro) é uma história de amor. O cinéfilo, ele tem que acabar.

Esta porra ganhou Oscar de melhor filme e outros oito. Ganhou Globo de Ouro, BAFTA e vários outros prêmios. Intelectual adora glorificar sofrimento, impressionante. Um Fulano queimado lamuriando sobre passado por duas horas e meia e chupando ameixa, no dia em que eu quiser ver isso, vou no Hospital do Andaraí, que é de graça!

Para dizer que hoje eu acordei amarga, para sentir medo de admitir que gostou desse filme ou ainda para me recriminar por ter postado a asquerosa cena da ameixa: sally@desfavor.com


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