Está chegando o final do mês, e com ele, a punição do C.U., só que dessa vez, o leitor-bomba do desfavor deu uma ideia que mexe com outros leitores. Por isso, Sally e Somir resolveram fazer uma votação, afinal, a punição deveria ser só deles. Os textos explicarão melhor do que se trata.

Tema de hoje: a punição desse mês escolhida pelo C.U. pode exigir participação dos leitores?

SALLY

Todo mês é isso. Todo mês ele tenta empurrar a linha um pouco mais pra frente. Poderia ser simples, algo como “faça um texto sobre isso”, mas não. O que deveria ser uma “punição” para o Somir e para mim apresenta cada vez mais implicações para terceiros, que não apostaram nada, que não pactuaram nada. Diante do impasse, estamos aqui mais uma vez para consultá-los sobre a punição mensal sugerida pelo leitor C.U., com a qual eu não concordo.

Como ele não tem direito de falar nos nossos textos normais, nos comprometemos a expor o ponto de vista dele, para que vocês possam decidir de posse de todas as informações.

O C.U. alega (da série frases que nunca imaginei escrever) que nós, Somir e eu, somos muito protetivos com o Desfavor. Entre outras coisas, ele também acha um absurdo que o leitor não participe de forma mais ativa, pois nós não permitimos. Pensando nisso, ele sugeriu uma dinâmica para “melhorar este aspecto” no Desfavor.

O C.U. também alega que sempre ficou muito curioso acerca dos e-mails que nós recebemos, pois se em comentário, que é algo aberto para o mundo, algumas pessoas falam as barbaridades que falam, imagine protegidos pela privacidade do e-mail. Temos aqui uma combinação perigosa de descentralização de poder com curiosidade.

Misturando estes fatores (tirar poder dos autores do blog + saciar sua curiosidade mórbida + testar os leitores) surgiu a proposta de punição deste mês que, em minha opinião, extrapola tudo, inclusive o bom-sendo.

A proposta dele é a seguinte: em vez de postagens padrão, teremos que publicar diariamente dois e-mails de leitores, um enviado a mim, outro enviado ao Somir, para que vocês, leitores, elaborem a resposta que entenderem ser mais pertinente nos comentários. Ao final do dia, o C.U. escolhera a melhor resposta para cada e-mail e ela deverá ser cortada, colada e enviada para o leitor que nos escreveu, como se fosse nossa.

Ou seja, se alguém envia um e-mail pedindo um conselho sobre um assunto, eu serei obrigada a copiar uma resposta dada por um de vocês e enviar para a pessoa por e-mail como se o conselho fosse meu. Isso é desrespeitoso em tantos níveis que não consigo nem formular uma crítica.

Segundo o C.U., quem é leitor assíduo estará acompanhando o blog e saberá que recebeu uma resposta que não foi nossa, portanto, poderá reenviar o e-mail depois que a semana da punição acabar, solicitando uma resposta real, a qual estaremos autorizados a dar. Assim, esta ação apenas enganaria, nas palavras do C.U., “aproveitadores ou carentes pau no cu que que só querem encher o saco sem qualquer afinidade com o blog”.

Ainda segundo o C.U. não há qualquer impedimento que nós consultemos os remetentes dos e-mails sobre uma eventual autorização para divulgá-los aqui no Desfavor, mesmo omitindo nomes. Ele não se opõe a que só usemos e-mails de pessoas que deram expressa anuência para esta divulgação.

Bem, não faz muita diferença, ainda que quem escreveu o e-mail autorize sua divulgação, a resposta vai ser mentirosa, pois não terá sido escrita pelo Somir ou por mim, logo, compromete nossa credibilidade da mesma forma.

É bastante óbvio para mim que o C.U. vai escolher a pior resposta possível para ser enviada. Em um mar de 30 conselhos legais, ele vai escolher o único esculacho e me fazer enviar isso assinando com meu nome. É um experimento social às custas de todos nós: ou os leitores funcionam como um único organismo unido, ou vai ter discórdia, dedo no cu e gritaria.

Eu sinceramente temo pelos efeitos de um conselho errado ou grosseiro para a pessoa errada na hora errada. Não é medo do que possa acontecer comigo e sim do que possa acontecer com a pessoa que vai escutar uma merda em um momento que está fragilizada. Como eu não controlo a cabeça dos outros, prefiro eu mesma dar os meus conselhos.

Além disso, se todos os e-mails não receberem ao menos uma sugestão de resposta vinda dos leitores, nós seremos punidos. Ou seja, além de nos obrigar a enganar o leitor que envia uma resposta que não é nossa, ainda coloca o leitor do blog em uma obrigação de produção de conteúdo que nós nunca cobramos aqui nestes dez anos.

TER QUE deixar um conteúdo aqui diariamente não deixa de ser uma punição também pro leitor. Segundo o C.U., não custa nada dar um conselho, de três linhas que seja, mas não sabemos a realidade de cada pessoa. Já acho muito alguém conseguir tempo para ler quatro páginas po dia.

É uma fodelança nunca antes vista, mas, como sempre, revestida de um caráter dúbio: vai ter quem ache uma experiência interessante e aceite tacar fogo no parquinho para ver quem é quem. Quem é o leitor do Desfavor. Ele vai se desenhar de uma forma muito clara e talvez não seja bonito de se ver.

Por isso, e só por isso, por achar que talvez a maior parte dos leitores considere essa experiência interessante e válida para se conhecer melhor enquanto grupo, estamos trazendo a discussão a debate. Segundo o C.U., se não quisermos fazer, não tem o menor problema, mas a alternativa que ele vai apresentar, que afeta apenas ao Somir e a mim, vai ser “dez vezes pior, vocês que sabem”.

De posse de todas estas informações, pedimos que reflitam e votem no que acham mais adequado. Eu não tenho qualquer medo, temor ou problema em encarar o que diabos o C.U. possa pedir em substituição: se tiver que fazer mil textos faço, se tiver que virar a noite trabalhando viro. Decidam por suas consciências, pelo tipo de experiência que acham válida e que acreditam poderia acrescentar mais ao Desfavor, esqueçam qualquer sentimento de pena ou proteção para comigo ou com o Somir.

Estamos autorizados a responder os comentários e expor nossos pontos de vista durante todo o dia, portanto, se tiverem dúvidas é só perguntar. Vocês têm até o final do dia de hoje para decidir: esse tipo de experiência colaborativa onde um pode salvar todos seria interessante para vocês ou devemos recusar e aceitar a tarefa secundária?

Se decidirem que aceitam o desafio do C.U., amanhã já começam as postagens dos e-mails e, de amanhã até sexta este será o conteúdo. Caso contrário, não sei informar, o C.U. se recusou a revelar o plano B. Está nas mãos de vocês.

Para dizer que quem envia e-mail pedindo conselho pro Somir tem mais é que se foder, para dizer que uma parte muito ruim de você quer ver isso acontecer ou ainda para recusar pois vão deixar coisa sem responder e nós vamos acabar nos ferrando: sally@desfavor.com

SOMIR

Já que a Sally explicou a situação no texto dela, achei desnecessário repetir. Sim, existem alguns problemas na ideia de punição deste mês, mas o melhor que fazemos agora é seguir em frente com ela. Eu realmente não quero dar mais incentivos para a criatividade do C.U., do jeito que está é um equilíbrio razoável entre risco e recompensa. Se vocês pularem fora hoje, a coisa volta bem pior nos próximos dias.

Tal qual um vírus, C.U. vai se adaptando com o tempo: começou com baixaria até vocês parecerem acostumados, depois fez um teste de atrair gente chata pra cá, mas não funcionou porque escrevemos mais do que o lacrador médio tem vontade de ler… aí começou a mexer com o fluxo de postagens do desfavor. Conseguimos nos salvar aos 45 do segundo tempo, mas não sem perder um dia de postagem. A ideia atual é colocar pressão em vocês para produzir conteúdo.

Pra ser honesto, eu só confio piamente na Sally para produzir conteúdo para o desfavor, eu mesmo já tenho um histórico nebuloso. Vocês então… desfavor convidado é uma das sessões mais vazias do nosso catálogo. E nem me lembrem dos fóruns. Seja como for, dessa vez não está sendo pedido nada muito diferente da média: não há exigência de tamanho da resposta para os e-mails, então vocês podem basicamente fazer comentários. Está fácil, só aceitem.

Quando o vírus tem uma mutação menos danosa, é inteligente mantê-la para evitar outras surpresas. Deixemos que em Maio essa seja a situação, uma pressão seletiva no último momento pode fazer com que a doença se torne mais letal. Não me agrada a ideia de que pessoas recebam respostas aparentemente vindas de mim sem o meu brilhantismo de costume, mas é um preço pequeno a se pagar pelos possíveis desastres que poderiam acontecer caso essa punição seja rejeitada.

E não é uma traição de confiança: nós sabemos diferenciar entre os nossos e os paraquedistas que saem mandando e-mail sem fazer parte do dia a dia do desfavor. E mesmo que seja um e-mail de um dos da maioria silenciosa, a gente já mandou vários pedidos de liberação de postagem e podemos fazer isso só com e-mails que nos autorizaram a publicação (com nomes modificados). O C.U. sabe que o poder dele desaparece no minuto que ele tentar mexer com o anonimato de qualquer um de nós. Nós somos maníacos com apostas, mas sempre tem um limite.

E no final das contas, pode ser muito útil para mostrar para o público o que a gente tem que ler quase todos os dias. Tem baboseira incoerente, tem ofensa, tem ameaça, tem desespero, tem gente muito bacana também. Tentamos responder na maioria dos casos (eu tenho um tempo de resposta um pouco maior, que já chegou a 6 meses, mas agora está estabilizando em 1) com o melhor das nossas habilidades. Fiquei genuinamente curioso para saber como vocês lidariam com isso.

É um equilíbrio sutil entre a vontade de dar uma trollada e a percepção de quando você pode ser realmente útil na vida de outro ser humano. Tem gente que abusa, mas um dos momentos onde o ser humano está mais aberto é quando pede ajuda. Você tem um poder enorme nessa situação, e diz muito sobre cada um a forma como utilizá-lo. Podemos ver uma forma de coordenação muito especial nesses próximos dias: vocês vão disputar para ver quem dá a pior resposta ou vão lutar contra o C.U. trabalhando em equipe para passar a melhor?

Não me traz muita felicidade saber que eu vou ter que assumir qualquer resposta que vocês escreverem e o C.U. selecionar como minha, eu tendo a ser muito específico na forma como escrevo e não gosto que passem por cima disso, mas considerando que pode vir algo muito pior como punição caso vocês não aceitem, estou disposto a fazer esse sacrifício. Não me façam passar vergonha: sejam pessoas horríveis se quiserem, mas escrevam direito e não me façam parecer burro.

E sim, se vocês furarem e não tivermos nem DOIS comentários válidos nos dias, vamos ser punidos também. Mas aí estamos todos no mesmo barco: considerando como o C.U. está montando suas punições ultimamente, é provável que vocês fiquem sem desfavor por um longo tempo se nem isso conseguirem fazer. Aí eu lavo minhas mãos. Se não conseguir tempo na semana para escrever um parágrafo que seja e dar conta de um oitavo da punição, estamos perdidos de qualquer forma.

Vamos aceitar o que recebemos aqui: pelo menos é mais criativo que ver mais fotos bizarras. Se soubermos guiar o C.U. pelos próximos meses com reforços positivos para ideias inovadoras, poderemos tirar vantagem dessa situação ao invés de sofrer com ela. Só aprovem a punição da forma como ela foi sugerida, não vamos piorar essa situação.

Para dizer que vai ser do contra, para dizer que está curioso(a) com os e-mails de qualquer jeito, ou mesmo para dizer que eu não previ que vocês vão me fazer dar em cima de todos os homens que mandaram e-mails: somir@desfavor.com