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Carnaval local.

Carnaval local.

| Desfavor | | 33 comentários em Carnaval local.

Que não gostamos do Carnaval, não é mais segredo algum. Mas sempre tem como desgostar mais se você se esforça: Sally e Somir comparam os dois carnavais mais famosos do país para encontrar o pior dos submundos. Os impopulares fazem a festa.

Tema de hoje: qual o pior carnaval, o do Rio de Janeiro ou o de Salvador?

SOMIR

Tenho muito orgulho de dizer que não tenho uma fração da experiência de campo que a Sally tem. Pra mim aglomeração na rua é motivo para chamar batalhão de choque, não festa. Então, desse ponto de vista distante, o carnaval carioca me parece muito pior. Quer dizer que eu acho o carnaval baiano bom? Evidente que não. Mas se for para comparar, pelo menos os baianos não fazem tanta pose de “manifestação cultural”. A baixaria honesta merece mais respeito.

Em Salvador, enfileiram um bando de caminhões com caixa de som nas ruas e a gentalha vai saracoteando atrás. Estão ali para ficarem bêbados e fazerem sexo casual. Uma catarse popular necessária para a coesão social de pessoas com no máximo dois dígitos de Q.I., um momento de rebeldia contra as regras sociais que frequentemente não compreendem. É um ambiente que eu gostaria de estar? Não. Mas não tem confusão sobre o propósito daquilo: é o mais próximo de uma orgia romana que esse povo tem coragem de fazer depois de milênios de lavagem cerebral cristã.

No Rio de Janeiro as pessoas são mais civilizadas? Não necessariamente. Mas há uma pose de movimento cultural ali que torna tudo ainda mais repulsivo. Os horrendos desfiles de escolas de samba, com suas alegorias disformes e excessivamente coloridas chacoalhando ao som de uma música primitiva. Os índios vestem suas penas e rebolam como se estivessem sendo atacados por um enxame de abelhas por várias horas. E essa é a imagem da cultura nacional exportada para o mundo todo.

Todo esse festival de ofensas ao bom gosto visual e sonoro tratado como o ápice da criatividade tupiniquim. Que horror. Mas além dessa caricatura cultural sendo exibida como algo digno de orgulho, ainda temos outro ponto para detestar: a gourmetização irrefreável pelo qual a festa passa nos últimos anos. O carnaval carioca é mais sobre as celebridades bêbadas nos camarotes do que sobre o povão, que gostemos ou não, gosta de verdade do que está acontecendo ali. As globais branquinhas “causando” com suas taças de champanhe e a proteção de cinquenta seguranças fortemente armados ganham mais tempo de exposição do que quem trabalhou o ano todo para montar toda aquela festa.

Em Salvador pelo menos ainda se nutre a ilusão de ser do povo para o povo. Mesmo sabendo que já existem camarotes por lá, mesmo sabendo que para participar dos trios elétricos precisa desembolsar uma nota preta que nenhum dos pobres locais é capaz de pagar… mesmo assim, é mais democrático e honesto. Não tem carnavalesco passando mensagem através da fantasia de uma favelada seminua, só tem gente tocando música merda no último volume até que todos os presentes colapsem pelo excesso de bebida ou exaustão de fazer movimentos copulatórios (com ou sem um parceiro). Toda a energia que o cérebro deixou de gastar no ano é gasta nessa semana.

No Rio existem blocos de rua, mas cada vez mais cooptados por mentalidade elitista e/ou lacradora. Tem bloco ecologicamente consciente! Tem tatuagem temporária para as mulheres relembrarem os homens sobre as regras de consentimento (que só valem para homens feios, óbvio). Essa babaquice de mostrar os peitos como forma de protesto ao invés de mostrar os peitos porque quer e pronto, de deixar o sovaco peludo para enfrentar as concepções de gênero da sociedade, a vergonha alheia infinita de gritar contra o Bolsonaro em uníssono no meio de um bloco de carnaval… quer fazer sua putaria alcoolizada? Faz e assume! Pode falar o que quiser do povo baiano, mas lá pelo menos as coisas são como são.

E prevendo o risco de ser preso por isso: pelo menos Salvador está no Nordeste! Eu espero Carnaval do Nordeste. O Rio de Janeiro está no Sudeste, tem que ser cobrado muito mais. O Rio é uma das maiores cidades do mundo dentro da região mais rica do país. Tem muito dinheiro e cultura disponíveis por aqui. Por uma série de questões sociais, era de se esperar que o povo baiano estivesse pouco se lixando para as convenções sociais, até porque, francamente, foram tão fodidos pelo sistema até hoje que não sei se na posição deles eu faria diferente.

Agora, o Rio? Sempre foi uma bandalheira, mas sempre foi uma bandalheira com todas as chances de melhorar. É tipo comparar o filho drogado da família da faxineira e o filho drogado da família da empresária rica. Um desses moleques teve MUITO mais chances de escapar do abismo que o outro. O carioca faz o carnaval podendo não fazer. O baiano está preso nessa “obrigação” por muito tempo ainda. O carioca é aquele playboyzinho que toma tapa na cara do Capitão Nascimento porque financia o tráfico. O baiano precisa de algum programa social eficiente para resolver seus problemas.

E do jeito que a coisa anda, se me perguntarem ano que vem, eu vou votar no carnaval paulista. São Paulo tem ZERO desculpas para entrar nesse eixo do mal carnavalesco. Na mesma analogia anterior, São Paulo é a pessoa que abandonou o cargo de CEO de uma multinacional para ir viver na Cracolândia. Mas por enquanto o grau de horror paulista ainda não é suficiente para colocá-lo na briga. Mas como tudo tende ao brasileirismo, é provável que isso mude logo.

Resumindo: quer fazer macaquice? Seja macho ou fêmea de assumir. Esse verniz cultural e consciente que o carioca tenta colocar na sua festa não só não esconde a baixaria como ainda o faz parecer arrogante. Não seja arrogante com as calças arriadas e a cara vomitada de tanto beber.

Para dizer que eu posso ser o próximo Olavo, para dizer que é da resistência à baixaria brasileira, ou mesmo para dizer que cristianismo causa tudo isso: somir@desfavor.com

SALLY

Este talvez seja um dos temas que mais sofremos para escolher, ô perguntinha difícil: qual é o pior carnaval do Brasil?

Por mais que o do Rio seja nojento, não tem como não escolher Salvador. Já vivenciei o carnaval de Salvador como turista e como moradora da cidade e lhes digo: se existe um inferno, deve ser bem parecido com o carnaval de Salvador.

“Ain mais vai gente do país todo, vai até gringo, por qual motivo tantas pessoas vão se é tão ruim?”. Pela putaria e pela bebida. Faça um exercício de imaginação comigo: se amanhã qualquer governo decreta a proibição de bebida alcoólica no carnaval e todas estas pessoas tem que passar o carnaval sóbrias, quantas vocês acham que voltam para Salvador?

Sobriedade não gera apenas uma percepção real do quão merda é o evento e seu entorno, ela também reduz a putaria. Pessoas não-bêbadas têm critérios menos flexíveis, cedem menos, são mais críticas. Sem esse efeito oba-oba que a bebida provoca, as pessoas teriam que conquistar umas às outras, conversar umas com as outras e, acima de tudo, veriam com clareza como é a aparência física umas das outras.

Mas, ainda que a putaria persistisse sem o álcool, pela simples natureza promíscua do brasileiro médio mesmo, seria mais difícil de sustentar, pois dar continuidade a uma noite toda ou até mesmo a dias vendo claramente como o outro é fisicamente, escutando com discernimento o que a pessoa fala e conseguindo fazer uma avaliação do nível (local e pessoas) não deve ser fácil.

Já morei em ambos por bastante tempo, então, acho que posso emitir uma opinião com conhecimento de causa: tudo em Salvador é mais precário, mais rudimentar, mais atrasado. Prestação de serviços, atendimento ao público, mentalidade das pessoas etc. Tudo. E olha que estas coisas também são um lixo no Rio! Então, pela involução do local, no geral, Salvador é sempre pior do que o Rio, inclusive no carnaval.

O único critério que poderia pender de forma favorável para a Bahia seria a violência, que no Rio de fato é maior, mas no carnaval de Salvador as pessoas se transtornam e se agridem de forma gratuita como parte do evento. Não importa a classe social, pessoas saem na intenção de brigar na rua, sem nenhum motivo específico. Enquanto que o carioca tende a ficar mais pacífico durante o carnaval (putaria acalma os nativos cariocas), os baianos ficam violentos, equalizando este critério.

O carnaval de Salvador é basicamente música baiana o dia todo. Os mesmos cantores e grupos, as mesmas músicas tocadas à exaustão. Não que o nível da música carioca seja bom, não é, mas ao menos aqui existem opções para outros gostos: tem bloco que só toca música dos Beatles, por exemplo. Graças a esta variedade maior, o carnaval do Rio pode ser menos desagradável.

Por incrível que pareça (e digo isso ciente de que o carioca é um povo muito do mal-educado), o carioca é mais educado que o soteropolitano. Salvador é uma barbárie de pessoas urinando no chão, puxando mulher pelo cabelo, se agredindo e roubando durante o carnaval. É gente chegando no hospital com palito de churrasco enfiado no peito, é gente brigando a paulada, a pedrada. Uma involução assustadora. Só vale se você quiser muito fazer uma putaria, que é basicamente o que quem passa carnaval em Salvador procura: bagunça, farra, um time off para fazer tudo que quiser, inclusive crimes, bem longe de casa.

Fora que, em Salvador, quem é “do Sul” (= do Espírito Santo para baixo) é visto com reverência. Se a pessoa é um 3 em São Paulo, na Bahia ela é um 8. E, como o brasileiro é um vira-lata que se afirma com base no olhar de terceiros, faz muito bem para o seu ego estar em um lugar onde ele é adulado. Isso cria pessoas sem senso de limites, sem modos, sem educação, que acham que podem tudo graças à adoração dos nativos locais. Um perigo.

Além disso, Salvador é um lugar onde pessoas brancas raramente são presas ou repreendidas. Local racista ao extremo, apesar de uma esmagadora maioria negra, que dá carta branca para playboy fazer o que quiser. Aqui no Rio… boa sorte se você falar com um policial ou com um delegado no tom que a playboyzada fala em Salvador. Tem um pouquinho mais de ordem, não por segurança pública, mas pela truculência mesmo.

E se a gente for pesar os eventos principais, Desfile na Marquês de Sapucaí X Barra-Ondina, o Rio dá banho com camarotes. Já fiquei nos principais camarotes baianos, inclusive no Camarote Salvador, tido como um dos melhores, e olha, como é precário, como deixa a desejar em matéria de atendimento e infraestrutura. O melhor camarote de Salvador consegue ser pior que o pior camarote do Rio.

Fora que o Rio é uma cidade de merda, porém metrópole: quase tudo funciona no carnaval, pois o comércio quer lucrar. Então, não tem dessa de loja fechada, restaurante fechado ou não encontrar um táxi na rua. Em Salvador? Boa sorte com a prestação de serviço…o ano todo. Ah, sim, não recomendo precisar de atendimento médico em Salvador durante o carnaval. Mas não recomendo mesmo!

Até em matéria de sujeira, imundice e fedentina Salvador consegue a proeza de ser pior do que o Rio. Se você acha ruim ver pessoas urinando na rua (uma realidade 365 dias por ano em Salvador), vai ter um colapso ao ver pessoas defecando na rua. Salvador fede de um jeito no carnaval que faz o Rio parecer a Suíça.

O pobre baiano é animalesco, a elite baiana é absurdamente burra e pretenciosa. Não tem pra onde correr. A lacração é cada vez maior, cheio de empoderados, porque lá todo mundo é minoria (quase 80% de negros, mais um tanto de gays somado ao fato de quase todo nordestino se achar discriminado). São complexados, um complexo de inferioridade vindo de uma cultura escravocrata, que tentam overcompensar com um pseudo-orgulho ostentativo do que são. Sempre acham que você está falando deles, sempre presumem o pior, sempre fazem barraco. Um horror.

Óbvio que quem puder escolher não tem que passar carnaval nem no Rio nem em Salvador, pois ambos são caros, perigosos e desinteressantes, uma mesmice, um mero modismo que não acrescenta em nada à pessoa. Mas, se um dia sua vida desgraçar de tal forma que você tenha que fazer esta escolha, não pense duas vezes: Rio de Janeiro. Ou Afeganistão. Ou Síria. Qualquer coisa menos Salvador.

Para me chamar de preconceituosa apesar de ser um pós conceito pois eu conheço muito bem a cidade, para me chamar de elitista quando não tem coisa mais elitista do que pagar 3 mil reais por um abadá ou ainda para me mandar passar o carnaval na Argentina, coisa que definitivamente farei: sally@desfavor.com


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