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Animais chatos.

Sally e Somir concordam que a natureza é supervalorizada, mas quando o tema é escolher qual o ser vivo que mais merecia deixar de ser vivo, acaba a harmonia. Os impopulares exterminam as dúvidas.

Tema de hoje: qual o animal mais chato do mundo?

SOMIR

Depois de confirmar que insetos eram sim válidos, ficou muito fácil escolher: o mosquito. Aliás, deixa eu corrigir: a mulher do mosquito. Aparentemente é um talento natural do gênero encher o saco dos outros independentemente da espécie. Para quem não sabe, é a fêmea do mosquito que fica zunindo no seu ouvido e efetivamente dá a picada. O macho é muito maior e muito mais passivo, sendo alvo fácil quando encontrado. Aparentemente é um talento natural do gênero ser inútil independentemente da espécie.

Fica até meio chato argumentar, porque a maioria das pessoas tende a concordar comigo. Poucos seres são tão universalmente odiados quanto os mosquitos. Quase como se fossem os judeus do reino animal. Mas diferentemente dos judeus, a fama de sugar sangue não é só um mito. O mosquito não só tem um instinto extremamente irritante para os seres humanos como ainda é vetor de uma quantidade enorme de doenças mortais.

O mosquito é chato antes, durante e depois da picada. Ao invés de simplesmente chegar, tomar seu sangue e deixar uma doença no lugar como um inseto educado, esse ser maldito fica fazendo voos de reconhecimento bem ao redor da sua orelha. Poucos sons são tão irritantes quanto o zunido das asas dessa desgraça indo e voltado enquanto você tenta se concentrar ou principalmente dormir. E claro que o momento preferido do mosquito é exatamente aquele que você está pegando no sono. Parece que tem um sensor de relaxamento embutido no corpo para descobrir o momento ideal para estragar seu sono.

E aí, você fica com duas opções: tentar estapear o bicho no escuro, o que tem uma taxa de sucesso menor do que ganhar na Mega Sena acumulada, ou abortar seu descanso para acender a luz e ficar caçando, ou mesmo empestear a merda do quarto todo com veneno. Nenhum dos casos se resolve rapidamente. Porque aí chegamos no ponto principal da chatice do mosquito: seu tamanho minúsculo. Não importa quão pequeno você seja, ainda é grande demais para lidar com algo menor que um milímetro voando rapidamente ao seu redor. O tempo de resposta do ser humano médio simplesmente não é suficiente.

Você acaba perdendo sua dignidade tentando pegar aquela micro-maldição no ar e tomando olés ridículos dele. Além de pequeno, é leve o suficiente para que o ar deslocado pela sua mão na hora do tapa o tire da trajetória de impacto. Em momentos de batalhas contra mosquitos que realmente colocamos em dúvida nosso lugar no topo da cadeia alimentar. E se você acha que eu sou descoordenado (e sou mesmo, esporte só no videogame), é porque todas suas vitórias contra mosquitos foram erroneamente calculadas na sua cabeça: mosquito que você consegue pegar é mosquito que já está gordo, gordo porque já está cheio do sangue de alguém. O maldito já venceu.

O mosquito que realmente vale o desafio ainda não comeu, e esse é extremamente irritante de pegar. Esse que tem coragem inversamente proporcional ao tamanho e fica tentando te picar sem parar (é literalmente a função da fêmea no Universo). E quando você finalmente desiste e apela para as armas químicas, tem que pagar o preço: se não conseguir basicamente afogar o mosquito com um jato perfeito, vai ter que passar veneno no quarto todo. Aliás, mentira que o quarto todo não, você vai esquecer algum lugar que fatalmente vai ser onde o inseto vai estar escondido. Se você caprichar mesmo no spray, vai ficar com o quarto fedido e respirando veneno até que por um acaso do destino uma das gotículas do inseticida encontre o inimigo.

Nessa brincadeira, um pedaço valioso da sua noite desaparece. Mas, considerando que você tomou a decisão “intomável, mas que muita gente acaba fazendo por preguiça” de torcer para o bicho picar logo e sossegar, mais uma chatice: na hora o mosquito coloca uma substância anestésica no lugar, mas depois que passa o efeito, forma um ponto inflamado que coça. Se você estava lidando com um mosquito, vá lá; mas como é muito comum ter que lidar com vários por vez (seu vizinho vai ter três pneus com água para cada um que você não tiver) essas picadas criam uma soma de danação epidérmica que vai te assombrar pelos próximos dias. E como quase tudo que dá vontade de coçar no corpo humano, não pode! Coçou, inflama mais.

E se não fosse o bastante, esse ser dos infernos ainda carrega toneladas de doenças (para cada vacina que você tomar, seu vizinho não vai tomar três) como dengue, zyka, malária… quem vive no Brasil sempre tem que ficar com o cu na mão depois de levar uma picada. E para quem diz que dá para colocar telas nas janelas e repelentes, primeiro que ficar isolado é uma resposta óbvia e meio falaciosa para qualquer problema (quem nunca sai de casa nunca é atropelado) e segundo que a maioria desses repelentes não é lá grandes coisas. Aqueles elétricos de parede são só dinheiro que você perdeu, e os de passar na pele funcionam sempre 50% das vezes, além de te deixar com cheiro estranho (citronela tem cheiro de banheiro) ou pele melada. Continua sendo chato.

Sinceramente, nada mais chato do que um animal que eu deveria poder matar tranquilamente, mas dá muito trabalho. Se fosse um leão, vá lá aguentar a chatice, lei da selva… mas uma merdinha feito um mosquito? É chato e vergonhoso sofrer com esse bicho. Se toda a espécie desaparecesse da noite para o dia, só alguns vírus chorariam. Tenho certeza que a natureza acharia uma forma de se adaptar à ausência deles rapidamente. E nossas vidas seriam bem mais felizes e seguras.

Para dizer que para um tema desses é impressionante sair tanto texto, para dizer que o mais chato é o ser humano (existem pessoas boas, não existem mosquitos bons), ou mesmo para dizer que eu deveria ter explorado mais a comparação com os judeus: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o animal mais chato do mundo?

O escroto do pombo. Temos animais mais perigosos, animais que provocam mais medo e animais mais nocivos, porém, quando o assunto é ser chato, ninguém bate a porra do pombo.

Começa pelo fato do pombo ser um animal débil metal, o que, por si só, já o faz muito inconveniente. O pombo não tem menor noção de onde está, de tempo e espaço, da vida, por isso ele se comporta de forma desgovernada, colidindo com pessoas, janelas e outros obstáculos.

O pombo é um perigo para ele mesmo e para as pessoas. O imbecilóide entra na sua sala ou na turbina de um avião, o que aparecer primeiro. A maior prova de que o pombo é retardado mental é que ele tem asas, ele voa, e, ainda assim, vive morrendo atropelado.

Um bicho sem noção de nada pode fazer tudo. Pombos tem zero respeito pelo ser humano, ao menos aqui no Rio de Janeiro ele cruzam na sua frente, não dão passagem e muitas vezes batem em você quando levantam voo. O percentual de pombos mortos por humanos é altíssimo e, ainda assim, esses ratos com asa continuam afrontando as pessoas.

Pombos não tem medo de ir onde o ser humano está. Pombos, além de invadirem seu espaço pessoal na rua, invadem sua casa também e fazem ninhos onde melhor lhes aprouver, ou seja, além de não terem instinto de sobrevivência com eles mesmos, também não tem com sua prole.

Não contentes em se arriscar montando acampamento na área de domínio humano, eles sequer têm o receio de serem percebidos pois em hipótese alguma ficam quietos. Ficam o dia inteiro fazendo “pruuuuu… pruuuuuuu”.

Sim, inseto é chato, mas pombo também faz barulho, incomoda e transmite doença (pombos transmitem 57 doenças catalogadas). Com um diferencial: pombo caga. E caga muito. O tempo todo. Caga na sua cabeça, na sua varanda, no seu quintal, no seu carro. O pombo é basicamente um cu nervoso recoberto por penas.

É um animal em constante diarreia, em constante fúria anal. Pombos devem cagar mil vezes por dia. Cagam e depois voltam para seu ninho, esperam você pegar no sono e começam a fazer “pruuuu… pruuuuu”. Meu sonho é pegar um pombo, segurá-lo e cagar nele.

Além das doenças que eles podem transmitir, pombos também carregam parasitas, que, por si só podem ser um problema e também podem transmitir suas próprias doenças. É um dois em um da saúde pública! Se, como qualquer animal que se preze, ele tivesse algum temor do ser humano, nem seria tão complicado, pois se esconderiam. Mas não, o pombo parece ter prazer de ficar saltitando à sua volta, te contaminando e te cagando.

Não existe repelente para pombo. Eles estão por todos os lados, morro de pena de quem tem fobia de pombo, porque a vida deve virar um verdadeiro inferno. Eles estão nas ruas, nas praças, na praia. Muitas vezes chegam a entrar em restaurantes. Se você abanar o braço para espantar um inseto ele se afasta, se você abanar a mão para espantar um pombo, ele continuará seu trajeto, provavelmente, na sua direção, como se nada. No máximo dá um pulinho pro lado e, cinco segundos depois, volta para a sua direção. É um bicho maldito.

Chegam ao cúmulo de tentar roubar a comida de humanos. Eles parecem saber que são imundos e a gente vai ficar com nojo de encostar para dar uma porrada e ficam ali, andando descoordenadamente, balançando seus pescoços, nos afrontando. Sério, eu tenho ódio de pombos e sua inconveniência. Eles se sentem no direito de fazer basicamente qualquer coisa.

Pombo não presta para nada, nem sequer para comer. Pombo só sabe afrontar pessoas, cagar e fazer “pruuuuuu” quando estamos tentando dormir. Ele não poliniza flores, não ajuda o ecossistema. Pombos até tinham sua função, que era comer insetos, mas com o tempo e com a inconveniente proximidade que mantém do ser humano, começaram a comer restos de comida humana, por ser mais fácil.

Com isso, pararam de exercer a única coisa útil que faziam na vida. Obrigada a todos os arrombados que alimentam essa praga, vocês me deram o melhor argumento para defender a total erradicação dos pombos da face da Terra: além de serem chatos, imundos e inconvenientes, são inúteis.

Insetos são desagradáveis, porém são evitáveis: repelentes dos mais diversos tipos, telas nas janelas, ar condicionado e várias outras soluções. Nada erradica o pombo da face da Terra e eles ainda tem o descaramento de se fazerem presentes na sua vida sem o menos temor ou respeito: pruuuuu… pruuu…

Você já foi a uma praia com pombos? Parece que eles estão fazendo um ritual canibal para te assar. Formam um círculo à sua volta e ficam andando e pulando de um lado para o outro. Bicam o que estiver a seu alcance e ai de você se decidir comer alguma coisa, eles vão tentar comer a comida da sua mão. Você é maior, mas eles são muitos. Torça para não acabar com a comida bicada, com uma doença, com um parasita ou com uma cagada na sua cabeça.

Pombo é o pior pesadelo de quem quer paz, higiene e tranquilidade. Sujo, abusado, barulhento e cagão. Um animal que não te respeita, que não mantém distância de você e das suas coisas, um animal que não hesita em arrulhar (é esse o nome para o barulho que o pombo faz) a qualquer hora do dia ou da noite e foda-se se vai ser descoberto por um animal muito maior do que ele, capaz de mata-lo com um tapa. O pombo não se importa com nada disso, ele apenas é desagradável full time, sem medo, sem temores, sem filtro.

Prefiro mil vezes qualquer inseto a pombo, pois de inseto eu sei como me livrar, sem sequer precisar encostar neles. No dia em que inventarem uma Mega Raquete-Elétrica que eletrocute pombos ou um spray que você borrife e o pombo caia morto, eu reconsidero minha decisão, até então, o bicho mais chato do mundo, depois do ser humano, é o pombo.

Para dizer que só não odeia pombo quem não convive com pombo, para dizer que os pombos cariocas parecem especialmente mal educados ou ainda para dizer que nada no mundo supera a barata voadora: sally@desfavor.com

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animais, natureza

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