
Direitos no Bolso.
| Desfavor | Desfavor da Semana | 6 comentários em Direitos no Bolso.
Concordamos muito em monitorar a defesa dos direitos humanos no Brasil. Mas beira ao ridículo insinuar que os abusos são uma ameaça só agora. Desfavor da semana.
SALLY
A organização Human Rights Watch quis fazer a presente e vigilante e disse que vai monitorar de perto o Governo Bolsonaro. Ah, vá! Meus queridos, tortura é prática recorrente no Brasil desde sempre, inclusive a perpetrada pelo Poder Público, basta entrar em qualquer delegacia de polícia ou presídio. Onde vocês estavam esse tempo todo? E sobre isso, não vão fazer nada?
Não me incomoda em nada saber que vai ter gente fiscalizando o Pocket, até porque eu mesma, dentro das minhas possibilidades, estarei fiscalizando o Pocket e serei a primeira a gritar com força caso ele cometa alguma barbaridade. Quanto mais gente fiscalizando, melhor.
O que me incomoda é uma entidade cujo único trabalho, único propósito de existir, é preservar os direitos humanos e vem falar em violações como se fosse algo novo e exclusivo do Bolsonaro. Isso apaga e acoberta toda a tortura praticada até então. Inadmissível que uma instituição que luta contra tortura varra tanta tortura para debaixo do tapete desta forma.
Hoje, o Brasil tortura, por ano, mais do que se torturava na ditadura militar. É tortura partindo de todos os lados: em delegacia para obter confissão, em presídio para obter submissão, em morros, favelas e comunidades como forma de punição, dentro de casa com pais toscos que estão incomodados com seus filhos ou maridos abusivos com suas esposas. A violência está no DNA do brasileiro, e não é de hoje. Onde caralhos estava a Human Right Watch para ajudar a erradicar esta forma brutalizada de ser este tempo todo?
Fiscaliza sim o Bolsonaro, de pertinho. Mas também fiscaliza qualquer fonte de tortura permanente no Brasil, em vez de tratar tortura como algo novo e implementado pelo Pocket. Infelizmente a tortura é uma forma de funcionar do Brasil e acontece em família, na relação com o poder público e até em crimes comuns, patrimoniais, por mero prazer do criminoso. Partindo desta premissa, da tortura como uma epidemia, as medidas serão mais efetivas e a postura da instituição será mais respeitosa e correta.
Que tal querer erradicar todos os tipos de tortura, até mesmo aqueles com os quais a sociedade brasileira já está “acostumada” e não repercutem, não lacram, não causam um impacto midiático? É o que se espera de uma organização que defende os direitos humanos como propósito principal. Se atacar a questão de forma pontual, passa a impressão é de querer se promover ou antagonizar.
A cada vistoria deles, da ONU e de qualquer organismo internacional sério os presídios brasileiros são reprovados, com relatos tenebrosos. O que eles fazem? No máximo uma recomendação para que as coisas melhorem. Voltam no ano seguinte e constatam as mesmas torturas. O que eles fazem? O mesmo. É um jogo de “finge que me fiscaliza que eu finjo que me importo”. Quando órgãos que exercem um papel tão importante como assegurar que os direitos humanos sejam cumpridos topam essa paumolescência, fica difícil dar alguma credibilidade e esperança.
Vão fiscalizar de perto? E aí, queridões, se acontecerem violações, vocês vão fazer o que? Escrever uma carinha de recomendação, com a qual o Poder Público vem limpando a bunda há vinte anos? Beleza, faz mais uma então. Mas deixa bem claro, bem especificado, que isso vem desde a década de 80, não é nada novo na República das Bananas, para não faltar com o respeito com os milhões de torturados desde então.
Quando falam exclusivamente de Bolsonaro, passam a impressão para o resto do mundo que hoje não tem tortura no Brasil, ajudando a acobertar um problema que eles deveriam combater. A impressão que passa é que eles sempre foram muito diligentes no seu trabalho e nunca permitiram que este tipo de prática bárbara se instaure por aqui. Por favor, né queridões? Vocês são é um baita cabide de emprego, que não fiscaliza direito e, mesmo quando encontram crimes bárbaros, fazem uma cartinha de merda e fica tudo por isso mesmo. Não dá para botar essa banca não.
Estão fazendo barulho agora porque Bolsonaro está nos holofotes e é politicamente correto ser contra ele? Desculpa, não querem proteger os direitos humanos, querem é lacrar. A Dona Maria tá vendo o filho ser torturado pelo tráfico, o Seu José tá vendo o filho ser torturado em delegacia para confessar um crime que não cometeu, a Dona Ana e sua filha estão sendo torturadas pelo seu marido. Mas estas pessoas não tem visibilidade, não é mesmo? Para elas não tem acompanhamento de perto.
Peguem tudo ou não peguem nada: ou combatem a tortura em todo o país, em todas as instâncias, de todas as formas, com o mesmo afinco e seriedade (afinal, não existem pessoas que mereçam ser torturadas mais do que as outras, certo?) ou então, calem a boquinha e vão defender outra causa: baleias japonesas, plásticos nos oceanos ou o que melhor lhes servir para posar de boas pessoas.
E, a propósito, vocês, como organização mundial, estão deixando a desejar. Não deram um pio em Guantánamo, porque né, era o Negão na Presidência. Dá um rolê pela América Latina e você vai ver que muito líder deixa a Coreia do Norte no chinelo. E nem vou falar do Oriente Médio… Tá sobrando tortura no mundo para vocês começarem a fazer alarde por uma “tortura futura” que sequer se sabe se vai acontecer. Vão coibir o que já acontece em vez de perder tempo e energia com um exercício de futurologia.
E da próxima vez que resolverem piar, sejam eficientes e já adiantem o que pretendem fazer com o país que for flagrado torturando ou consentindo tortura: pedir sanções econômicas? Abrigar refugiados deste país em outro lugar? Promover um boicote ao comércio? Façam alguma coisa de concreto, porque apenas apontar o dedo ficar dizendo “óóóóó, tá errado ali, óóóó!” não adianta de nada. Vocês colocam a cabeça no travesseiro e dormem tranquilos apenas em detectar o problema? Se sim, eu os desprezo.
Enquanto não fiscalizarem, reprovarem e coibirem todos os tipos de tortura que acontecem, em todos os países, independente de posicionamento político e não apresentarem medidas úteis para combater, estão passando vergonha por ficar piando para o mundo inteiro escutar. Sejam úteis, honrem a responsabilidade que assumiram, em vez de ser meros burocratas histéricos.
Para dizer que basta fiscalizar quem você não gosta, para dizer que não tem tortura no Brasil ou ainda para dizer que também não tem tortura na Venezuela: sally@desfavor.com
SOMIR
Pelo visto, o governo do Bolsonaro começou uns 500 anos atrás e não nos avisaram. Evidente que qualquer sociedade deve lutar contra violência, preconceito, tortura e abusos dos mais fragilizados, mas é absurdo acreditar que o Brasil estava numa posição minimamente estável nesse campo antes da eleição do novo presidente.
A situação é péssima no campo dos direitos humanos faz muito tempo, inclusive com governos de centro-esquerda e esquerda no poder. O Brasil é um país brutalizado por uma violência urbana que rivaliza com muitas das guerras travadas nas últimas décadas. Não estamos argumentando que pelo problema já existir não precisa manter o grau de atenção em alta, estamos tentando explicar por que essa mentalidade de demonizar o Bolsonaro é contraproducente ao gerar a ilusão que já estávamos fazendo algo de eficiente no combate às violações dos direitos humanos no país.
Não estávamos. Passamos anos aqui criticando uma política de canetadas do poder público, criando coisas como o feminicídio e a lei Maria da Penha num país que não consegue sequer resolver os crimes que chegam ao conhecimento da polícia. Escrevendo leis que “não pegam” para ocupar o pouco tempo de uma força policial imensamente sucateada, com falta crônica de pessoal e assombrada pela corrupção em todos os níveis.
É natural querer achar a solução mais simples para nossos problemas, como se o problema fosse apenas de mentalidade. “Bolsonaro é de direita, vai piorar a situação das minorias.” Muito embora eu não seja cego e perceba que a rede de segurança ficou mais fina, não é como se um governo de esquerda tivesse muito mais para oferecer a não ser uma maior afinidade ideológica. A questão dos direitos humanos no Brasil é essencialmente estrutural: não tem dinheiro, instituições, cultura ou mesmo força de trabalho necessários para aplicar uma mentalidade progressista.
Quisera eu que escolher um presidente com mais ou menos inclinação ideológica com tortura e preconceito fosse um fator determinante nessa história. Significaria que estávamos nos últimos passos rumo a uma sociedade mais justa e igualitária. Mas a verdade é que na melhor das hipóteses, estamos engatinhando no começo dessa jornada. Entendam que não é fazer pouco quando eu digo que preocupação com direitos humanos é “problema de primeiro mundo” no Brasil, é só a constatação que falta o básico para poder tratar disso.
Inclusive na mentalidade do povo. Haddad/Lula tinham vantagem na intenção de votos entre as camadas menos instruídas e abastadas durante a eleição. Vocês realmente acham que esse povo estava votando neles pela inclinação pelos direitos do público LGBT? São as mesmas pessoas que respondem em outras pesquisas que mulher que se veste de forma provocativa é culpada pelo estupro! O brasileiro médio é brutalizado, não tem a menor lapidação nessas questões de direitos humanos. Haddad teve que se comprometer a ser contra o aborto para ganhar mais alguns votos durante a eleição.
O fato do candidato petista ter alcançado 45% dos votos válidos não significa que o Brasil é um país dividido entre direitos humanos e barbárie. Infelizmente ainda é uma minoria que se importa com essas causas progressistas, o PT tinha os votos de quem queria mais programas de distribuição de renda em sua imensa maioria. Porque esse é o Brasil. Um país 96% cristão que acha que linchamento é justiça, que gays são uma aberração e que relativizam tortura de acordo com o quanto gostam de uma pessoa.
Chega de fingirmos que existe uma luta real acontecendo pelos direitos humanos por aqui, não tem. Bolsonaro ou Haddad, o povo seria o mesmo. O povo e as estruturas do Estado: não conseguem evitar que uma mulher seja morta na frente da Delegacia da Mulher depois de ter denunciado o marido abusivo. Não conseguem evitar que a polícia pegue homens mais escuros na rua e os torturem até assumir a autoria de um crime que não cometeram. Não conseguem nem ensinar adolescentes a usar camisinha sem baixar a cabeça para algum pastor semi-analfabeto travestido de político!
Sério que o Bolsonaro é o problema? Que se ficar apontando e gritando para ele a cada declaração imbecil vamos resolver alguma coisa? A mentalidade de fazer barulho na rede social parece estar contaminando de vez os ativistas brasileiros: “lacrar” oferece uma ilusão de importância para a pessoa que começa a substituir a percepção da realidade absurda que vivemos. O povo continua o mesmo, e se o Bolsonaro fizer algo de absurdo contra os gays, a imensa maioria dos eleitores do PT vão achar o máximo!
O Brasil está tão ruim nessa área que nem mesmo a eleição do Bolsonaro muda as coisas para pior. O povo não é progressista e o Estado não funciona direito. Vivemos até hoje num país que dificilmente pode ser piorado nessa área. Um governo que seja pelo menos eficiente no uso das verbas públicas e reduza um pouco que seja a corrupção permite que a economia funcione melhor e capitalize o cidadão médio a começar a se preocupar um pouco mais com questões do “topo da pirâmide” como direitos humanos.
Não é uma guerra pela mentalidade de um governo, ele é mero reflexo do que já somos. Intelectuais e progressistas não avançaram nada nessas questões nas últimas décadas pela inclinação ideológica, os avanços brasileiros na área foram todos resultado de estabilização econômica e maior distribuição de renda. A bolha de lacração das redes sociais parece ter criado a ilusão que melhoramos pela mentalidade, mas as pessoas capazes de pensar em direitos humanos já tinham essa inclinação desde antes da internet. E sempre foram poucas por aqui. Só nos encontramos online. Mas lá fora, tudo continua na barbárie.
Eu queria muito que fosse só um problema do discurso do Bolsonaro. Infelizmente não é.
Para dizer que é a primeira vez que somos pró-governo (não somos), para dizer que homem branco não tem voz nesses temas, ou mesmo para dizer que é só tirar o Bolsonaro e o Brasil melhora: somir@desfavor.com
Pouco adianta reclamar depois que ele já foi eleito. Ele não é o problema, ele é um problema. A brutalidade dele é a mesma do povo,e pouco adianta tentar desbrutalizar na base da canetada, da lei, de qualquer outra força. Precisamos de arte, cultura, jogos, esportes, construções coletivas de cidadania, atitudes colaborativas.Nada diferente disso pode combater a tortura.
Sim, a brutalidade existe muito antes dele, não por causa dele…
Desfavor defendendo Bolsonaro. O mundo dá voltas mesmo rs.
Brincadeira!
Ta chato essa oposição burra.
Olha o juiz do golpe
Olha o plantador de feijão
Olha o amigo corrupto orando
Quando acontecer algo realmente q precise de mobilização as pessoas já estarão de saco cheio das reclamações.
Política é uma merda, o que vale é a conveniência, ninguém tem ideais ou convicções de nada. Se for conveniente todo mundo se alia até com o diabo. É o sistema perpetuando o sistema.
Se esse suposto aumento na fiscalização trazer melhoras nos direitos humanos no Brasil, pelo menos alguma coisa boa. O problema é usarem o Bolsonaro como bode expiatório pra vazar todas as violações que aconteciam há décadas, como se tudo tivesse começado em 01 de janeiro de 2019.
“Vocês realmente acham que esse povo estava votando neles pela inclinação pelos direitos do público LGBT?” Somir, quando publicaram o mapa mostrando os municípios onde cada candidato ganhou, um monte de internautas (a maioria jovens sulistas, preciso dizer) falaram que o nordeste votou no PT por resistência e consciência social. Sério, em que mundo essa gente vive? Sinceramente, se a internet mundial caísse por alguns meses ou anos não seria nada mal pra sociedade, a grande rede está derretendo os miolos das pessoas.
Quem vê essa galera falando do que o Bolsonaro vai fazer/deixar de fazer é capaz de acreditar que a gestão anterior está entregando um Canadá da vida pro cara, e que teríamos muito a perder com ele.