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Incêndio no Museu Nacional.

Incêndio no Museu Nacional.

| Sally | | 50 comentários em Incêndio no Museu Nacional.

Ninguém sabe ao certo como o incêndio começou, há quem diga que foi um problema na parte elétrica, há quem diga que foi um balão que caiu ali. O que se sabe é que, o incêndio de grande proporções que tomou conta do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, apagou boa parte da história do mundo.

O museu tinha um acervo de mais de 20 milhões de itens. Coisas insubstituíveis e irrecuperáveis, como um meteorito, o primeiro dinossauro montado no Brasil e o fóssil humano mais antigo encontrado em território nacional, o esqueleto de uma mulher batizado carinhosamente de “Luiza”. Sim, tinha muita coisa nacional, inclusive documentos únicos de aborígenes que só existiram aqui e que se perderam. Mas o dano foi muito maior do que isso.

Nas redes sociais vejo o brasileiro chorando as pitangas da própria história. “Nossa história”, “nosso passado”. Isso é o de menos. País que não sabe cuidar de sua história a perde e nem acho de todo errado. Na verdade, eu acho bastante bem feito. O que me causou sofrimento foi ver que, além de tudo, o Brasil está fodendo com a história dos outros! Deixem de ser egocêntricos com a “nossa história” e parem para pensar no dano que a macaquice administrativa do Brasil causou ao mundo.

Parte da história do mundo se perdeu neste domingo, fruto da incompetência de brasileiro. O museu abrigava a maior coleção egípcia da América Latina, ou seja, múmias, sarcófagos, todo tipo de artefatos, joias, inscrições, documentos antigos e tudo mais que você possa imaginar, virara pó. Algumas coisas eram únicas, isto é, você não encontra outras semelhantes ou do mesmo gênero em nenhum museu do mundo. Isso é muito grave, confiaram ao Brasil cuidar destes objetos de valor inestimável e o país, como sempre, fez tudo muito mal feito. Um desrespeito com o mundo todo. Uma perda para a história da humanidade.

O museu também abrigava Coleções de Paleontologia, mineralogia, botânica, esqueletos e reproduções de dinossauros, múmias dos Andes e mais umas bostas da nobreza portuguesa no Brasil, que, francamente, são o que menos vai fazer falta. História do Brasil? Na boa? Estou cagando. Um país que não sabe cuidar da sua história merece ver tudo virando pó, não tenho pena. Pena eu tenho de toda a América Latina e do mundo, que viu queimar objetos precisos e insubstituíveis por culpa de um país incompetente.

Antes que comecem a reclamar de eu achar bem feito que a “valiosa história brasileira” tenha torrado, deixa eu fazer um adendo: o povo não é uma vítima dos governantes. Não existem vítimas. O povo é cúmplice. Um povo que não fiscaliza, que vota em gente que usa dinheiro destinado a cultura para pagar show da Claudia Leitte e da Pabllo Vittar, um povo que sequer pisava no museu mas hoje chora indignado não é vítima. O que está acontecendo é total e absoluta responsabilidade do povo, que colocou as pessoas erradas para gerir a cidade, o estado, o país. Agora paguem. Pena eu tenho é de quem não concorreu para isso (vulgo, o resto do mundo) e teve perdas inestimáveis.

Parem de chorar porque queimou arco e flecha, cocar ou troninho onde português colonizador cagava. Parem de culpar terceiros. Parem com todo o vitimismo e vão pedir desculpas ao mundo por queimar o maior acervo egípcio da América Latina. O resto do mundo depositou confiança no Brasil para cuidar dos dinos, das múmias, das pedrinhas do espaço e… olha a merda que vocês, fizeram, caralho! Menos vitimismo, mais mea culpa. Vão se desculpar com os gringos, seu símios chorões.

Era uma tragédia anunciada. Publicamente. O primeiro alerta oficial sobre o risco de incêndio data de 2004, mais precisamente em 3 de novembro de 2004, o então secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo Wagner Victer denunciou, em entrevista à Agência Brasil, os riscos de que o Museu Nacional do Rio de Janeiro poderia vir a ser destruído por um incêndio. A denúncia foi registrada pela repórter Daisy Nascimento e levada ao grande público.

Na ocasião, ele disse estar impressionado com a situação das instalações elétricas do museu, em “estado deplorável”. Disse ainda que “O museu vai pegar fogo: são fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade para com o patrimônio histórico”. Então, não estamos falando de Temer, de Sergio Cabral, de Lula. Estamos falando de TODOS. Foram quase quinze anos de descaso, nesse tempo, teve Ministro de Cultura, Secretário, Governador, Prefeito, Deputado, Senador… teve muita gente que poderia ter feito algo, direta ou indiretamente, de todos os partidos, e não o fez.

Por isso, desconfie de candidato ou político que surgir culpando alguém. É gente mesquinha, que quer capitalizar voto usando tragédia. Coisa de gente sem caráter, gente baixa, gente que você não deveria querer nem para ser síndico do seu prédio, muito menos para ocupar um cargo realmente de poder. Era uma tragédia anunciada e havia recursos sim para fazer as obras necessárias. Nessa época eu era funcionaria pública, eu estava do lado de dentro e posso assegurar: dinheiro nunca foi o problema.

Aliás, dinheiro nunca é o problema. O problema é competência para fazer projeto. O funcionalismo público costuma ser um grande cabide de emprego onde se colocar pela janela amigo, parente ou cabo eleitoral. Uns imbecilóides com a capacidade cognitiva de um babuíno embriagado. Todos os anos milhões em dinheiro de repasse são devolvidos porque vagabundo não trabalha, sequer dá as caras, não quer, não sabe ou não consegue apresentar um projeto decente. E outra, como eu mesma já escutei em alto e bom som: “Museu não dá voto, minha querida, não vamos gastar dinheiro com isso”. Então tá.

Se não acreditam em mim, apenas observem. Tem dinheiro para show de funkeira na praia. Tem dinheiro para desfile de escola de samba. Tem dinheiro para parada gay. Tem dinheiro para filme nacional bosta. Tem mais de um milhão para Maria Bethania escrever blog. Tudo isso é cultura, mas museu com o maior acervo egípcio da América Latina, não. Para isso não tem dinheiro. 40 bilhões para as Olimpíadas. 50 bilhões para a Copa. Mas museu? “Museu não dá voto, minha querida”. Calcula aí quanto gastaram nas reformas do Maracanã dos últimos 15 anos e me dize se não tinha dinheiro.

Para citar apenas um exemplo, no ano de 2014, esse museu teve incluída na sua verba a quantia de 20 milhões para custear uma reforma. A quantia foi aprovada pelo Congresso, mas não foi repassada. 2014. Dilma. Pátria Educadora. Curioso ver petistas oportunistas como Lindbergh Cheirador ou Gleisi Miss Piggy culpando o Temer e o górpi por esta tragédia em redes sociais, não? Dilmãe, esse guaxinim masculinizado, também podia ter evitado a tragédia e não o fez. Todos culpados. Todos. Sem exceção. Tinham que estar todos caladinhos, encolhidos em posição fetal, pedindo desculpas baixinho para o resto do mundo. Mas, como sempre, ninguém assume sua responsabilidade por nada.

Não é um episódio pontual, é uma forma de funcionar. É tudo escaralhado. Quando nada funciona direito e algo dá errado, inicia-se uma espiral de merda que faz o problema ficar mil vezes maior do que poderia ter sido. Um grande edifício repleto de madeira e formol (spoiler: alguns objetos estava conservados no álcool!), como vocês podem imaginar, é altamente inflamável. Era para estar impecavelmente preservado. Não estava. Mas isso seria pouco, a danação, no Brasil, ela vem obrigatoriamente no tamanho GG.

Os hidrantes que estavam no entorno do museu não funcionavam, ao menos não com a pressão suficiente para apagar o incêndio. E, se me permitem contar um spoiler, quase nenhum hidrante no Rio de Janeiro funciona direito. Espero que nenhum de nós precise constatar isso na prática.

É de conhecimento público entre aqueles que estão no poder que os hidrantes não funcionam direito, mas não se faz nada a respeito, pois “hidrante não dá voto, minha querida”. No Rio de Janeiro, especificamente, apenas três ou quatro bairros mais abastados têm hidrantes aptos a apagar um incêndio de grandes proporções com agilidade – coincidentemente, os bairros onde quem toma estas decisões de investir em hidrantes mora.

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, se apressou em culpar os bombeiros, alegando que “faltou logística” e outras imbecilidades. No caso, meu senhor, faltou água mesmo. E ética, da sua parte. Tomara que essa tragédia jogue alguma luz sobre a sua gestão, em menos de dez minutos o senhor teria sua prisão decretada. Tomara que o Brasil veja que o senhor é filiado ao PSOL e vive de promover atos políticos dentro da universidade, atos pelos quais o Ministério Público Federal já está na sua cola, passíveis de punição. Tomara que tantas outras coisas que não cabem aqui (mas quem sabe em outro texto) venham à tona.

Mesmo com dificuldades para chegar ao local, mesmo sem água, mesmo sem qualquer infraestrutura, os bombeiros entraram, na coragem, correndo risco, e retiraram o máximo de peças que conseguiram, com as mãos. Alguns chegaram a ter queimaduras salvando parte do acervo. Enquanto esperavam por caminhões pipa, que trariam a água que o hidrante não oferecia, os bombeiros improvisaram e usaram a água de um lago nas proximidades. Então, alto lá, lavem a boca antes de falar mal da atuação dos bombeiros. Mesmo no improviso, sucateados, sem equipamentos, eles fizeram muito mais pelo museu do que o Poder Público fez em décadas.

Apesar de todos os esforços, demoraram quatro horas para conseguir água suficiente para começar a combater o incêndio efetivamente. Um absurdo? Sim, um absurdo. Um absurdo assustador, se você pensar que amanhã o mesmo pode acontecer com a sua casa. Tudo vira pó, não dá tempo de salvar nada, pois “hidrante não dá voto, minha querida”. Sem escadas suficientes, mangueiras furadas, equipamentos de proteção danificados, que não protegem mais. Se vocês moram no Rio de Janeiro, fica o aviso: cuidem muito bem das suas casas, pois se pegar fogo, vai ser perda total.

Um museu com 20 milhões de itens históricos, insubstituíveis, únicos, patrimônios da humanidade (e não do Brasil), pedaços da história do mundo (e não do Brasil) recebia uma verba menor do que um único juiz. Isso mesmo. Gastava-se mais dinheiro dos cofres públicos pagando a um único juiz do que fazendo a manutenção deste museu.

Me diz se qualquer pessoa do Poder Público pode abrir a boca para “lamentar a tragédia”? Vilanizar bombeiros que, com uma única escada e sem água, entraram no meio das chamas para salvar itens do acervo? Vou fazer a minha parte para que esta versão que está se “oficializando” seja desmentida. A culpa é de todos os que passaram por cargos de poder desde 2004 até hoje, seja no Rio, seja em Brasília. Não venham agora jogar culpa para Fulaninho, para partido tal, para bombeiros.

O carioca, por sua vez, nunca decepciona. Hoje, algumas dúzias de débil-mentais promoveram na marra, furando o cerco de segurança, um “grande abraço” ao museu incendiado, algo que, além de não ajudar, ainda atrapalhou os trabalhos de rescaldo e tentativas de retirada do que sobrou do lado de dentro. Já tem uma campanha de uns arrombados para construir ali uma nova sede para o Flamengo, dá para acreditar? Para fechar, o imbecilóide do Prefeito de Cristo disse que vai reconstruir o acervo que foi perdido. Crivella tem uma máquina do tempo e não contou para ninguém! Volta lá pro Egito, Seu Lindo, pega umas múmias pra gente! Haja paciência…

Não adianta chorar sobre os 50 tons de cinza. Esperemos que ao menos se tire uma lição disso tudo, que se entenda que a bandalha, a incompetência e a corrupção é uma forma de funcionar e não um defeito de Fulano ou Cicrano. Sinceramente? Acho que não tinha que reformar o museu, tinha que deixar assim, acabado, incendiado, destruído e aberto a visitações, para que constantemente nos lembremos da merda que é a gestão neste país.

Em todo caso, quem quiser colaborar com uma possível reconstrução, envie qualquer registro (fotos, vídeos, etc) que tenha do museu para o e-mail thg.museo@gmail.com

Para dizer que lamenta pelos dinossauros mas não pelos artefatos aborígenes locais, para dizer que todo castigo para o Rio de Janeiro é pouco ou ainda para dizer que não aguenta mais ouvir falar nesse caralho de museu: sally@desfavor.com


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