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Dr. Bumbum

Dr. Bumbum

| Desfavor | | 36 comentários em Dr. Bumbum

O médico Denis César Barros Furtado, conhecido como “Doutor Bumbum”, foi preso nesta quinta-feira (19) no Rio de Janeiro. Furtado foi detido dentro de um centro empresarial na Barra da Tijuca (zona oeste) –onde se localiza o escritório de seu advogado. A mãe dele, Maria de Fátima Barros Furtado, 66, também foi detida juntamente com o médico. Furtado e sua mãe são investigados pela morte da bancária Lilian Calixto, que faleceu na madrugada de domingo (15) após ter sido submetida a um procedimento estético realizado no apartamento do médico, na Barra da Tijuca. LINK


“Doutor Bumbum” já seria desfavor suficiente. Mas ele ainda mata gente… desfavor da semana.

SALLY

Não tem nada mais brasileiro do que o caso do médico Denis César Barros Furtado, conhecido como “Doutor Bumbum”. Faz tempo que meus olhos não brilham tanto por uma notícia. Cheguei a salivar durante a semana, quando fui lendo coisas sobre o caso. É tudo tão maravilhoso em matéria de desfavor, que dá vontade de falar nele a semana toda!

Obviamente tudo se deu no Rio de Janeiro, mais especificamente em um bairro chamado “Barra da Tijuca”, de longe o primeiro lugar no ranking carioca em matéria de desfavor. O médico, muito bom de marketing pessoal, mas nem tanto em matéria de cuidado, habilidade e ética, fez fama em redes sociais por turbinar a bunda da mulherada. Daí recebeu este maravilhoso apelido que corrobora com a credibilidade de um bom profissional: Dr. Bumbum. Já temos um primeiro ponto: você entregaria seu corpo para um procedimento cirúrgico de uma pessoa que aceita e se intitula “Dr. Bumbum”? Ao que tudo indica, as pessoas não viram qualquer problema nisso.

Como bem descreveu o sensacional jornal-desfavor carioca “Meia Hora” em sua manchete: “Dr. Bumbum fez muita cagada”. Há pacientes que o acusam de colocar silicone industrial em seus corpos, outras acusam de sentirem sequelas como dores terríveis após os procedimentos e há ainda quem conte que Dr. Bumbum bebia álcool durante os procedimentos e permitia que as pacientes bebam também. Há relatos de todo tipo de atrocidade, não me espantaria se aparecesse um vídeo de Dr. Bumbum fazendo um curativo amarrando um gambá ao corpo da paciente. Mas, bem, isso vocês podem ler nos jornais.

Para completar este combo maravilhoso, Dr. Bumbum realizava os procedimentos em seu apartamento. Olha, existe um patamar de falta de noção padrão no Brasil, com o qual a gente nem se choca tanto, que é o médico que realiza cirurgia plástica sem ser cirurgião plástico e que realiza procedimento em clínica em vez de ir para centro cirúrgico. Feio, errado, porém Brasil. Dr. Bumbum estabeleceu um marco: clínica é para os fracos, os fortes operam na pia da cozinha do seu apartamento! Hahahaha.

Sim, eu estou rindo. E é aqui que trazemos um ponto de vista que você não vai ver na imprensa: Darwin mandou um beijo. Se você não é um completo analfabeto ou pessoa com algum retardo mental e permite que realizem em você um procedimento cirúrgico em um fuckin’ apartamento, enquanto você bebe e o médico bebe, desculpa, mas canta pra subir antes de deixar descendentes, que é melhor para todo mundo.

Esse tipo de falta de cuidado pode até encontrar maior compreensão quando o preço do médico é muito barato e o paciente é muito humilde e sem cognição. Quem não pode pagar um bom médico aceita esse esquema quase que de cirurgia mediúnica, ser operado em um consultório, por um médico sem especialização. Mas Dr. Bumbum cobrava caro. Ou seja, fica evidente que, no Brasil, pessoas que ganham bem, que ocupam cargos importantes e bem remunerados, tem bosta na cabeça. Isso preocupa e deveria ser debatido mais do que a existência de médio estelionatário.

A malandragem de querer um atalho, uma solução rápida e milagrosa, o status de querer ser operada pelo médico “famosinho”, tudo isso cega as pessoas, as deixa sem um mínimo de discernimento. Some-se a isso a infinita preguiça mental do brasileiro e sua principal muleta intelectual: “Mas eu não sabia”. Idiotas nunca sabem, já repararam? Existem formas inesgotáveis de pesquisa sobre o assunto, mas os idiotas nunca sabem. Vão pesquisar? Não vão pesquisar, porque o tempo livre é para postar foto séquici em rede social, ostentar uma felicidade que não existe e tomar chopinho com azamiga.

A paciente que morreu recorreu a ele por “indicação de um amigo”. Olha, nem sei por onde começar. Recentemente uma pessoa muito importante na minha vida passou por diversos procedimentos cirúrgicos. Vocês acham que eu vou deixar que metam o bisturi em alguém que eu amo com base em uma mera indicação? Meus amores, eu sei até a cor da cueca de quem mexe nos meus: pesquiso qualificação técnica, histórico criminal, vida pessoal, redes sociais e abordo ex-pacientes (muitos) me apresentando e pedindo por favor que me relatem como foi a experiência com esse médico. Quem faz menos do que isso no Brasil, a terra da malandrolândia, é um idiota.

Na boa? Dr. Bumbum prestava um serviço de utilidade pública em matéria de seleção natural. Vou mandar fazer um Troféu Charles Darwin e enviar para ele na cadeia (porque sim, ele vai ser preso, muito preso, preso pra caralho). Eu vejo Dr. Bumbum como uma lixeiro intelectual, ajudando a sociedade a se livrar de pessoas cujo cérebro parece um chiclete mastigado dormente. Eu apoio Dr. Bumbum e lanço uma praga: não importa o quanto se tente disseminar informação, enquanto os idiotas tiverem esse tipo de postura “mas eu não sabia”, outros Doutores Bumbum (é esse o plural?) surgirão e continuarão este belíssimo trabalho de eliminar os genes idiotas.

Dr. Bumbum foi preso esta semana em um shopping cafona da Barra da Tijuca, graças a uma denúncia do Disk Denúncia. A recompensa oferecida? Mil reais. Por mil reais entregaram o Bumbum… e o Tio do Pavê que habita em mim saúda o Tio do Pavê que habita em você. Veja bem, você está sendo procurado pela polícia em todo o país, sua foto está em todos os jornais, o que você faz? Dr. Bumbum foi ao Shopping. Quando foi encontrado, tentou fugir, quebrando a cancela do estacionamento. É tudo muito maravilhoso. É o Rafael Ilha da medicina.

Na delegacia, ele disse que o que aconteceu com a paciente foi “uma fatalidade”. Vejamos… A paciente foi de táxi até o condomínio do Dr. Bumbum realizar o procedimento e pediu que o taxista a espere. Só que ela começou a passar mal, o que atrasou seu retorno. Desconfiado, o taxista ligou para a moça para saber o que estava acontecendo. Dr. Bumbum desceu e deu 300 conto pro taxista ir embora, mentindo e dizendo que estava tudo ótemo e que a moça ficaria lá para jantar com ele. O taxista, ainda desconfiado, esperou e descobriu a farsa, comunicando à polícia que a paciente tinha morrido.

Dr. Bumbum colocava PMMA (polimetilmetacrilato) no corpo de suas pacientes, que, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica desaprova veementemente. Há muitos relatos de complicações, o procedimento não é seguro e não é recomendado, ainda mais em grandes quantidades. Dr. Bumbum fazia atendimento, avaliação e até agendamento de procedimentos via whatsapp, sem sequer ver as pacientes. Dr. Bumbum era médico, mas não era cirurgião plástico, algo que exige pelo menos 11 anos de formação. Além disso não tinha registro no Rio de Janeiro. Dr. Bumbum responde a mais de dez ações. Dr. Bumbum não apenas exerce medicina de forma temerária e irregular, como também responde a processos por homicídio, porte ilegal de arma, crime contra a ordem pública, resistência à prisão (duas vezes!), violação de domicílio e outros. Tudo isso podia ser descoberto na internet por seus pacientes.

Foi mesmo uma fatalidade? Não. Foi uma idiota que “mas eu não sabia” que caiu nas mãos de um puta criminoso, estelionatário, assassino. É o reflexo de um país que acredita que seguidores em rede social ou fama é sinal de endosso, de competência.

Mas, além de tudo, foi uma faxina intelectual. Dr. Bumbum tinha mais de 600 mil seguidores em redes sociais, era famosinho, queridinho, marqueteiro. Quando é isso que você leva em conta para colocar seu corpo e sua vida nas mãos da pessoa, morrer faz parte do pacote. Dr. Bumbum só existe porque o brasileiro tem o nível de exigência de uma ostra com paralisia cerebral. Me custa ter compaixão, porque os pacientes não eram ignorantes, eram pessoas esclarecidas que quiseram ser malandrinhas e pegar um atalho para ficar com corpinho bacana. Na boa? Não é fatalidade. É aprendizado.

Se procedimento estético resolvesse, não tinha um filho da puta se fodendo em academia. Não tem atalho, não tem mágica, não tem milagre. O que está em rede social é tudo falso. Adultinhos bem sucedidos na vida deveriam saber disso. Se não sabem, bem, desculpa, é seleção natural pós-moderna.

Enquanto existirem idiotas espertões querendo atalhos, existirão Doutores Bumbum explorando eles. Ê Brasil…

Para deixar sua piada Tio do Pavê nos comentários, para dizer que a melhor parte é ver a imprensa se acabando nos trocadilhos ou ainda para dizer que você também acha que Dr. Bumbum presta um serviço de utilidade pública: sally@desfavor.com

SOMIR

A mídia toda já falou sobre a irresponsabilidade do Dr. Bumbum, Sally já apontou para o elefante na sala que são as pessoas que se submetiam a esse açougueiro nas condições que ele oferecia… eu então me sinto livre voltar um pouco mais e analisar que condições de… realidade… permitem esse tipo de maluco agir livremente.

Médicos sem noção não são novidade alguma, pessoas fechando o olho e confiando (por inocência ou preguiça) em qualquer um que estabeleça um discurso de autoridade menos ainda. Mas tem algo de novo nessa história no século XXI: a democratização e a monetização da autoridade. Não só é mais fácil do que nunca alcançar uma audiência com qualquer assunto que você quiser abordar, posicionar-se como autoridade nas redes sociais em qualquer assunto é um mercado cada vez mais rico.

Encontramos então a tempestade perfeita se formando diante dos nossos olhos. Algo que já acontecia por um misto de arrogância e ignorância dos dois lados da relação médico-paciente pode se tornar ainda mais assustador. Já falamos algumas vezes aqui sobre algo chamado Síndrome do Impostor, onde uma pessoa se acha incapacitada a realizar seu trabalho mesmo sendo totalmente preparada para ele. Mas existe o inverso: o efeito Dunning-Kruger (sim, faltou alguém dar um nome mais bacana), que é quando a pessoa superestima suas capacidades imensamente fugindo de qualquer medida de bom-senso. Aquelas audições de programas como o American Idol são excelentes exemplos disso. “Como a pessoa não percebe que é horrível no que está fazendo?”.

Bom, algumas pessoas simplesmente não conseguem enxergar limitações. E isso as dá uma confiança gigantesca diante de seus pares. Como uma pessoa que nunca estudou uma área tende a ficar confusa com suas peculiaridades, basta alguém chegar cheio de confiança que fala direto com uma área bem vulnerável da nossa mente. Não gostamos de não saber sobre alguma coisa, e via de regra, não gostamos de confrontar. Uma pessoa segura fala muita merda sem consequências nessa vida. O que nos leva para a fama de Doutor Bumbum nas redes sociais. O fato de ser uma celebridade virtual o deu a chancela suficiente para falar para suas vítimas/pacientes que a moda caralha que ele levava tudo estava bom o suficiente.

E no mundo de hoje, existem muitos interesses envolvidos no discurso de autoridade de uma pessoa qualquer na rede social. Hoje em dia, essas pessoas viram “influenciadores” para criar atalhos nesse mundo tão saturado de propagandas. Se você falar sobre um assunto e for carismático o suficiente para atrair seguidores (Hitler era carismático, não considerem um elogio completo), alguma marca vai querer te pagar para usar seu discurso de autoridade sobre o tema para alavancar suas vendas.

E nesse contexto, começamos a normalizar o fato de uma pessoa sem formação em nada de especial, sem estudo ou dedicação suficiente posar como especialista. Estamos vivendo num mundo onde confiança cega em qualquer bobagem que diz não só é mais fácil que estudar e se dedicar, como também é mais lucrativo. Para vender coisas inocentes como maquiagem, roupas e gadgets eletrônicos, estamos também inflando a credibilidade de qualquer um que ofereça risco de vida com informações erradas.

Não sei se tem volta para a população em geral, mas aqui entre nós: trate um influenciador de rede social como um mendigo segurando uma placa do fim dos tempos na rua. Por definição. QUANDO a pessoa demonstrar que sabe do que está falando, aí sim você pode começar a confiar. Qualquer um com um rostinho/corpinho atraente ou falta de escrúpulos pode falar sobre qualquer assunto e ficar muito famoso. A validade de suas ideias continua totalmente aberta, não importa quantos seguidores tenham. E mesmo que uma marca enorme esteja fazendo propaganda com eles, não significa que a empresa pesquisou a fundo quem eles eram antes de contratar.

É uma pessoa aleatória. Não provou que estudou sobre o tema, pode estar apenas papagaiando termos técnicos de uma página da Wikipédia. E não se esqueçam que essas pessoas controlam a narrativa: podem só mostrar os casos onde estavam certas e ignorar a repercussão das burrices que disseram, quem tem mais seguidores tem o microfone na mão. O resto berra no meio da multidão.

E só mais uma coisa: quem tem tempo de ter sucesso na rede social quase sempre não tem tempo pra estudar. São mais porta-vozes do tema que representam do que pesquisadores. Ser famoso na internet é trabalho de tempo integral para a maioria deles. E quando você passa o dia “lacrando”, não está ganhando experiência ou conhecimento. Infelizmente o ambiente continua favorável aos Doutores Bumbum, mas se pelo menos essa informação passar para a nossa turma aqui, menos mal.

Influenciador é o novo DJ.

Para dizer que vai lançar o Dr. Cu em Portugal, para dizer que no Brasil até bunda tem diploma, ou mesmo para dizer que ninguém te influencia: somir@desfavor.com


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