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Frangomorfose.

Frangomorfose.

| Desfavor | | 26 comentários em Frangomorfose.

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Frangomorfose

Saudações, impopulares! Quando propus uma semana fitness para o Somir, pensava em algo mais leve, com cinco cigarros por dia, uma taça de vinho no jantar, redução dos carboidratos (batata-doce ou arroz integral em doses pequenas), eliminação das frituras, embutidos e gorduras pouco saudáveis (abacate, açaí e castanhas em pequenas porções estariam liberadas), quarenta minutos de esteira diários e três séries de trinta abdominais. Colocaria cinco sessões de meditação de cinco minutos, espalhadas nos horários que ele julgasse mais apropriados. Ele acharia terrível, diria que prefere a morte e ficaria de mimimi do mesmo jeito, pois provavelmente foi muito mimado desde criança. Mas a vida ensina e a Sally também. Vocês sabem que todos os furacões levam nome de mulher. Dessa vez, passou o furacão Sally na vida deste fura-postagens: fitness radical no limite! Para suportar esta experiência e renascer como um sujeito mais empático, nosso campeão precisaria de toda ajuda disponível. Se tem algo que motiva Paulo Cintura é ajudar na Frangomorfose de alguém. Somir é muito orgulhoso, então irritá-lo pode ser uma forma de catalisar o Hulk dentro dele (no bom sentido). Um misto de informações técnicas e zoeira seria o coquetel ideal, além de proporcionar entretenimento extra aos impopulares adeptos do milenar humor do pavê. Vamos analisar aqui a caminhada do nosso frango guerreiro:

Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer! Somir cometeu um erro perigoso ao tentar um jejum de cinco dias como estratégia. O corpo precisa se recuperar da série de exercícios e para isso é preciso de proteínas para reforçar a musculatura. Na falta de carboidratos, o organismo vai buscar outras fontes de energia: ataca as banhas e os músculos. Todo marombeiro com mais de dois neurônios (Eu, a Sally e dois amigos nossos) sabe que antes de crescer é preciso secar, então tem que ter aeróbico no começo do treinamento, depois passar para o foco da hipertrofia. Porém, nessa imersão no radicalismo fitness frangomórfico, com “tudo ao mesmo tempo agora”, a ideia era manter nosso guerreiro vivo e lúcido. Não sobrou muita coisa pro Somir comer, mas tinha que aproveitar o que desse para reunir forças para a jornada. Ervilhas, lentilhas, carne magra, claras de ovos, espinafre, brócolis, tudo isso fica sem graça sem sal ou algum tipo de gordura, mas uma coisa é sobreviver, outra é sentir prazer. Frangolino estava de castigo, ninguém vive por muito tempo da forma que a Sally estipulou. O guerreiro poderia ter feito um panelaço de lentilhas com carne de porco magra, preparar um vinagrete para conservar carne de gado, fazer omelete de claras com espinafre no microondas. Mas você é o que você come e Somir preferiu frango. No fim, foi salvo pelas ervilhas e pelo seu personal everything.

Tem que correr, tem que suar, tem que malhar, vamos lá! Todo marombeiro com mais de dois neurônios (Eu, a Sally e dois amigos nossos) sabe que a recuperação é tão importante quanto o exercício. Quando seu corpo vai um pouco além do que está acostumado, é preciso consertar o que estragou e reforçar o que foi mais exigido. Assim como não se troca um pneu com o carro andando, é preciso descansar o grupo de músculos que foi mais exigido. Por isso a Sally propôs alternar um dia de braços com um dia de pernas. Só que não adianta parar o carro se não tiver as ferramentas e outro pneu para colocar. Não há como recuperar os músculos sem fontes de energia e aminoácidos. O cérebro consome energia (e não é pouca), então tem que abastecer essa máquina. Pro tanto de exercício que o Somir fez, com a capacidade cardiorrespiratória que ele tem, faltou oxigênio e combustível pro cérebro e ele apagou. Crueldade da Sally, impedir um frango de comer milho? Talvez. Nosso herói é teimoso, mas não é burro! Partiu para o universo das ervilhas congeladas, que alimentam e servem de “bolsa de gelo”. Outra coisa que Somir não pesquisou foi o efeito da falta de certos sais minerais no equilíbrio eletrolítico. Isso gera o chamado “estado confusional”, deixando o sujeito em um estado alterado de consciência. A falta de nicotina também agrava a situação, pois leva a reações de abstinência.

A solidão é meu cigarro, não sei de nada e não sou de ninguém! Do ponto de vista científico, o que dá energia é a alimentação. Prioritariamente, carboidratos e gorduras. Em casos extremos, proteínas. Porém, para fazer sua alquimia, o corpo precisa também de oxigênio, potássio, sódio, cálcio, ferro e etc. Somir não estava proibido de fazer iogurte caseiro com leite desnatado e o fermento apropriado, mas isso não lhe ocorreu e daria trabalho. Não podia também comer bananas por causa dos carboidratos. Precisava de brócolis, espinafre, pepino… Mas não são gostosos. A nicotina, assim como a cafeína e a taurina (energéticos), é um estimulante. Não produz energia, mas estimula o sistema nervoso central, daí que resulta em maior lucidez, disposição e prazer. Sua retirada leva a reações de abstinência. Sally disse que ele não poderia cheirar rapé, usar adesivo de nicotina ou algum desses substitutos. Somir poderia ter usado cafeína, mas com esse jejum a gastrite viria com tudo. Talvez se ele ingerisse pelo método Fernando Collor, na forma de supositórios, a gastrite não incomodaria. Porém, o medo de viciar em supositórios deve ter impedido nosso herói de considerar esta possibilidade terapêutica. Também não podia usar álcool ou outro depressor do sistema nervoso central para reduzir a ansiedade ligada à abstinência.

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia! Meditar é uma arte, gafanhotos! Na verdade, você vai usar gatilhos para dar um bypass no módulo secretária com TPM. É inegável que o módulo tagarela do cérebro tem funções importantes, por isso dar o mute é tão difícil. Nosso herói poderia ter pensado nisso como um videogame! Você só mata o chefão e salva a mocinha se passar por um monte de perrengues. Aliás, por falar em perder tempo, quantas horas de videogame teria o nosso frango jogado nesses trinta e poucos anos? Porém, sejamos justos. Considerando o tamanho do desafio, Somir saiu-se bem. Todo mundo tem uma âncora para não despirocar o cabeção. A do Somir é a autopiedade autocomplacente. Foi o mimimi que o segurou esses dias todos, então não podemos simplesmente considerar uma mariquice. Somir, que a força esteja com você!

Paulo Cintura

Nota de esclarecimento: Paulo Cintura é um pseudônimo usado como homenagem ao famoso personal trainer que atuava na Escolinha do Professor Raimundo. O autor da postagem não pretende que os leitores acreditem se tratar do verdadeiro Paulo Cintura, célebre pelo bordão “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!”


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