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Made in Macaquitolândia

Made in Macaquitolândia

| Desfavor | | 32 comentários em Made in Macaquitolândia

Para reforçar a relação histórica do refrigerante com o país e os torcedores da Seleção Brasileira, de quem é parceiro desde 2002, a marca decidiu privar os adversários do sabor até julho. “Suspender a exportação do Guaraná é uma forma de mostrar o quanto nos orgulhamos de ser brasileiros e de estar 15 anos ao lado da Seleção Brasileira e dos torcedores. Vamos proteger a nossa “fórmula mágica da brasilidade” dos nossos adversários temporariamente. Esse é o jeito Guaraná de torcer, passar confiança e fortalecer ainda mais o elo entre o refrigerante mais brasileiro de todos, a seleção e os nossos torcedores”, comenta Jaqueline Barsi, gerente de marketing de Guaraná Antarctica. LINK


Quando não achamos que dá pra ser mais macaquito vira-lata, o brasileiro surpreende. Desfavor da semana.

SALLY

Esta semana o Guaraná Antarctica anunciou que está suspendendo as importações para os para os países “rivais” do Brasil na Copa do Mundo, como forma de mostrar apoio à seleção brasileira.

Nas palavras da Gerente de Marketing (impressionante como no mercado de trabalho brasileiro se é medíocre, é gerente): “Suspender a exportação do Guaraná é uma forma de mostrar o quanto nos orgulhamos de ser brasileiros e de estar 15 anos ao lado da Seleção Brasileira e dos torcedores. Vamos proteger a nossa “fórmula mágica da brasilidade” dos nossos adversários temporariamente. Esse é o jeito Guaraná de torcer, passar confiança e fortalecer ainda mais o elo entre o refrigerante mais brasileiro de todos, a seleção e os nossos torcedores”.

Olha, existem duas possibilidades, ambas igualmente patéticas: 1) é estratégia para causar polêmica e mídia gratuita para a marca ou 2) é burrice de forma pura, simples e direta.

Se é estratégia para gerar polêmica e ver todo mundo falando (ainda que mal) da marca, falhou miseravelmente. Primeiro porque contamina o país inteiro. É irresponsável fazer isso quando a atitude da sua marca acaba depondo contra a fama do país.

Brasileiro adora dizer que é swing sangue bom, simpático, acolhedor, sorridente e malemolente. Essa campanha mostra um brasileiro vira-lata, ressentido, invejoso, competitivo e inseguro. É verdade? Mas é claro que é verdade, essa campanha do Guaraná é a cara do Brasil! Mas é uma cara feia que o país sempre tentou esconder, acho sacanagem dar uma calça arriada dessas para ter cinco minutos de fama.

Que por sinal, nem cinco minutos foram. A Caixa Econômica se encarregou de ofuscar o Guaraná, ameaçando tirar o patrocínio dos atletas da ginástica brasileira, após as denúncias de assédio. Porra, os coitados tiram força sei lá de onde para denunciar décadas de abuso criminoso e a resposta é essa? Vão perder patrocinador? É pra ficar calado em caso de abuso então, se não perde subsídio. É sobre isso se falou a semana toda, convenhamos, de fato muito mais grave do que não vender Guaraná em uma birosca de Buenos Aires.

Nada contra criar uma polêmica como forma de divulgação, mas, até para fazer isso, tem que ter um pouquinho de competência. Esse reforço do já antigo e ultrapassado “nós x eles” é um tremendo desfavor que já não dá certo nem com os próprios criadores da tática. Lula taí, bem preso, para mostrar. Essa postura bélica, combativa, pouco conciliadora ficou obsoleta. Quer criar polêmica? Dou o maior apoio, mas faz com algo novo, faz com algo diferente. Crie a polêmica, não a copie.

Ficou feio. Ficou parecendo que a tia do cafezinho entrou no meio da reunião e disse “e se nóis deixá de vendê guaraná pra eles tudo, hein? Só di sacanagi?” e algum executivo movido a fluoxetina ou remédios para dormir olhou e disse “boa ideia, vão fazer textão com isso, vamos polemizar!”. Ficou medíocre como polêmica. Insuficiente. Copiado.

Agora, partindo da premissa que tenha sido apenas burrice, em sua modalidade mais pura e inocente, algo que eu sinceramente duvido muito, mas também gera um pouco de pena da marca, pois é igualmente incompetente.

Antes de qualquer coisa, gostaria de desmentir que essa premissa de que essa “fórmula mágica da brasilidade”, como eles vergonhosamente chamaram, é muito desejada e disputada pelo mundo. Olha, na Argentina se referem a Guaraná como “aquela bebida de índio estranha”. Por sinal, em muitos outros países que visitei, a bebida sofre severa rejeição.

Esses sabores fortes e tropicais das comidas de vocês, brasileiros, podem até despertar uma curiosidade antropológica de quem vem aqui visitar, tirar foto com cocar e jacaré, pois faz parte do programa de índio. Na sofisticação da sua casa, porém, ninguém de fora do Brasil faz muita questão de tomar Guaraná não. Senti um pouco de pena da hipervalorização vergonhosa que fizeram deles mesmos. Parece pessoa feia usando camiseta auto-elogiativa.

Se de fato foi burrice, fico me perguntando quantos idiotas em cargos de chefia uma empresa precisa ter para que isso passe por todo mundo e ninguém diga: “não, pera, podemos fazer melhor do que isso”. Provavelmente muitos, já que o Brasil é um país que tem por hábito distribuir cargos de comando para as pessoas mais erradas possíveis. Me espanta que esta gerentinha não tenha enfiado a caneta no próprio olho na hora de assinar esse comunicado lamentável.

Enquanto todos os organismos internacionais ligados a esporte pregam exaustivamente a união, o fair play, a amizade acima das diferenças, vai o Brasilzão gritantemente na contramão fazendo birra de criança de cinco anos: “não deixo você tomar meu suco porque você é do outro time”. Aliás, antes fosse suco, né? Nem isso é, é um xarope cheio de gás e com uma química e corantes cancerígenos.

Graças a essa gracinha, a produção vai diminuir, pessoas serão demitidas, o lucro da empresa vai cair. Sério mesmo, precisava? Para lacrar precisa comprometer o trabalho dos outros, o nome do país e a lucratividade? Não tinha outro jeito melhorzinho de criar uma polêmica não? Por sinal, polêmica bem fraquinha, fora do Brasil estão cagando baldes para ficar sem a maravilhosa “bebida estranha de índio”.

Francamente, a qualquer título que isso tenha sido pensado, é vergonhoso. Parabéns, Guaraná Antarctica! Finalmente vocês conseguiram fazer uma propaganda pior do que a do concorrente, o Dolly Guaraná. Parabéns aos envolvidos. Se eu sou um concorrente internacional, eu corto pela metade o preço do meu refrigerante dizendo “rivais, apenas em campo, esta é a nossa iniciativa para mostrar que na América Latina estamos todos juntos e somos todos irmãos”. Fica a dica.

Macaquitos. E o brasileiro vai fazer o que diante disso? Vai ser macaquito também, como sempre. Vai continuar tomando Macaquito Guaraná, porque brasileiro é um povo idiota que não sabe sabotar marca, tal qual crianças, seu ímpeto imediatista não permite privações por um objetivo maior. Parabéns não só ao Guaraná Macaquito, como a todos os seus consumidores!

Para dizer que trocaria por Dolly mas o dono é criminoso, para dizer que quem bebe guaraná na Copa é criança pois o brasileiro médio se encachaça ou ainda para dizer que de fato é uma bebida estranha de índio: sally@desfavor.com

SOMIR

É fácil criticar as ideias alheias, né? No meu trabalho acontece o tempo todo, você pensa em algo que parece brilhante na hora, mas alguém te faz perceber que tinha algo pra dar errado que você não notou. E quanto mais puto você fica pela opinião alheia, via de regra maior a bobagem que você fez. Entender essa dinâmica pode explicar melhor como campanhas como essa avançam sem resistência no mercado.

Eu apostaria que foi alguém lá do topo da agência ou do Guaraná que teve a ideia. Veja bem, o pessoal do topo ganha muito mais justamente porque a responsabilidade deles é bem maior: se eles dão uma sugestão idiota, a tendência é que ninguém tente parar essa sugestão enquanto ela corre em direção a aplicação na vida real. E pessoal de agência sabe, mesmo que inconscientemente, que a regra da putez com a crítica ser proporcional à estupidez do que você falou está sempre presente. E fica bem mais assustadora quando são seus chefes trazendo isso de cima pra baixo.

E como essa ideia é especialmente idiota, imagino o terror da equipe ao ter que lidar com ela. Se deixar, ficam com um mico nas mãos, se peitar, enfrentam a fúria dos deuses da burrice com todo seu esplendor. Sabemos o que foi preferido, não? Se a ideia tivesse vindo de baixo, muito mais gente teria levantado a babaquice ufanista que é essa ação de marketing. Mas, posso fazer outra aposta: os países que eles estão bloqueando não devem ser lá grandes consumidores da bebida. Pior: provavelmente quem compra guaraná no exterior são os brasileiros que moram por lá… vão “punir” mais os brasileiros do que qualquer outra pessoa. Porque por mais que ideias idiotas tenham seu potencial de descer sem controle da diretoria para a produção, quando a pancada vai ser muito forte na parte financeira, tudo acaba vetado. Em última instância, ninguém trabalha com integridade artística.

Apesar disso tudo, o mais triste é termos mais uma prova como o orgulho desse país só existe dentro de quatro linhas desenhadas num gramado. A própria campanha sugere que os outros povos tem algo a ganhar se tiverem um pouco mais do estilo brasileiro. Nesse ponto, discordamos seriamente. Essa mentalidade vira-lata não vai somar em nenhum outro lugar. Quem se garante mesmo, quem sabe o que está fazendo e tem orgulho da própria capacidade não fica fazendo festinha para os outros. Normalmente, é sinal do contrário.

Vejam bem, eu acho super válido provocar e tirar um sarro um do outro antes e durante a Copa. Caguei para isso de achar que vinte dois marmanjos chutando uma bola é solene o suficiente para existir respeito. É um jogo, não sugiro violência, mas também menos, muito menos sobre isso de querer unir as pessoas através do futebol. Uma das graças do futebol é que ele não é sério o suficiente para ficarmos pentelhando uns aos outros sem grandes consequências. Não que essa gentalha que se mata em estádios corrobore com minha visão, mas é gente que se mata por qualquer bobagem, com o futebol sendo só uma desculpa momentânea.

Para a maioria de nós que não temos mais passagens pela polícia do que neurônios, levar futebol a sério o suficiente para fazer mal para outro ser humano está fora de consideração. Por isso que deveria ser um ambiente seguro para rivalidade e brincadeiras. Se o Guaraná tivesse mandado pra Argentina um lote com um aviso “essa bebida não foi batizada” no rótulo, teria sido uma provocação do tamanho que o futebol merece. Mas, deixar de exportar um produto pra lá? Isso é ser muito macaquito, misturando todos seus traumas e fraquezas num pacote nefasto de inferioridade.

Fazer uma “piada” com uma pessoa que vai cagar e andar pra ela e ainda se achar o espertão é muito vergonhoso. É muito possível que os outros países nem percebam o que está acontecendo e isso puna mais quem confiou na seriedade da empresa brasileira para entregar os produtos que pediram. Se eu importasse guaraná e tomasse um não aleatório da produtora por causa de uma merda como a Copa, não faria mais negócios com essa gentalha. Quem não leva a própria estrutura a sério não merece ser considerado como fornecedor.

Ah, uma pena que outros países são mais sérios, mas não seria hilário se alguma marca francesa ou alemã desse o troco? Porque ao contrário de nós, eles exportam coisas realmente importantes. Uma Siemens da vida dizendo que não vai mandar máquinas de ressonância magnética pro Brasil até dezembro seria um tapa na cara tão violento que faria o 7X1 parecer um mero sorriso debochado. Pra mostrar para os macaquitos que eles sim fazem coisas valiosas. Mas, podemos ficar tranquilos nesse ponto porque macaquice é nossa maior exportação mundial e não há perigo de sermos ultrapassados.

Para dizer que vai torcer pelo Uruguai só por causa disso, para dizer que só não boicota o guaraná porque não toma, ou mesmo para dizer que os franceses vão querer trocar o Neymar de volta por um guaraná: somir@desfavor.com


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