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Pensando melhor…

Pensando melhor…

| Desfavor | | 93 comentários em Pensando melhor…

O desfavor pode não ser só intelectual, mas normalmente exige um pouco mais de capacidade mental do que a média da internet. Sally e Somir discutem o impacto dessas pessoas que não alcançam nem esse mínimo. Os impopulares pensam.

Tema de hoje: o quanto leitores burros prejudicam o desfavor?

SOMIR

Um grupo é a soma de suas partes. É uma regra matemática universal da qual não dá para escapar… então, se abrigarmos muitas pessoas burras, não tem como evitar a contaminação da nossa média. Não dá para aceitar numa boa. E muito embora você possa argumentar que os indivíduos não vão se afetados diretamente por essa companhia mais limitada, ainda sim tem toda uma questão de qualidade de vida e possibilidade de evolução que se enfraquece sim quando se cerca de gente assim.

Não quero ser aquele tipo de intolerante que acha que vai se tornar algo só porque outras pessoas ao redor são assim. Não me sinto ameaçado diretamente, mas, porra… a vida já é ruim o suficiente com alguns espaços seguros para desenvolvermos alguns de nossos interesses; sem isso seria intolerável. O desfavor tenta não ser espaço seguro ideológico, querendo ver o circo pegar fogo entre opiniões diferentes (mas não sempre as mesmas polêmica midiáticas ad nauseum, porque fica chato), mas tem que ser um santuário mínimo para quem pelo menos se esforça para não falar bobagem.

Tem algo para tirar de cada pessoa? Claro. Toda pessoa sabe algo que eu não sei, e faz bem pensar dessa forma. Mas, isso não quer dizer que toda pessoa valha o esforço de atravessar esse campo minado de opiniões burras e ignorância só por causa de uma pepita de sabedoria. Mais ou menos como dizer que comer cocô pode te dar alguns nutrientes… ok, pode ser, mas alguns nutrientes não compensam o fato de você comer cocô!

Leitores e pessoas burras em geral mais atrapalham do que ajudam, e mesmo naquele esquema “relógio quebrado” (acerta a hora duas vezes por dia), não é consistente o suficiente para agregar valor ao grupo. Na maioria das vezes, vai agir de forma condizente com sua falta de capacidade intelectual e na melhor das hipóteses, gastar o tempo de outras pessoas. Digo isso por experiência própria: ver muita gente burra discutindo algo num local dá uma preguiça enorme de participar.

Quando a quantidade de asneiras, achismos e certezas de pessoas que claramente não tem a menor ideia do que estão dizendo alcança uma massa crítica de estupidez, você sabe que vai ser sugado para dentro se orbitar próximo demais. E ainda na analogia estelar: burrice parece chamar muito mais atenção do que conhecimento aprofundado, é algo que queima com muito mais força e emite um brilho maldito que desestimula outras pessoas de se aproximarem. Pra quê se queimar?

Gente burra também gasta tempo precioso de gente inteligente de outra forma: eles demoram tanto para entender as coisas que cansam quem já entendeu. É irritante para as pessoas normais até ficar ouvindo as coisas repetidas vezes só porque alguém não consegue acompanhar. Claro que não é o fim do mundo e eventualmente é possível aguentar isso, mas quanto mais pessoas burras são admitidas e incentivadas a permanecer, maior a chance delas gerarem esses atrasos. Até a forma como escrevemos os textos é baseada na forma como eles são percebidos pelo público médio. Ter que explicar conceitos básicos toda vez gasta tempo e espaço de textos mais avançados.

Como disse recentemente, estou vencendo meu preconceito contra temas supostamente burros, afinal, tanto eu quanto a Sally somos bem capazes de usá-los como adubo (ha) de conversas mais interessantes. Agora, não dá pra ter as duas coisas livremente: se não vamos ficar presos a elitizar o conteúdo para bloquear o interesse de gente muito limitada, vamos ter que limitar o quanto essa gente é bem vinda de outra forma. Tudo bem que gente burra tende a não entender sutilezas, ou tem algum probleminha de autoestima para não aceitar rejeição, mas se não nos posicionarmos claramente contra elas, podem apostar que elas começam a colocar as asinhas de fora e ocupar espaço de gente que pode nos acrescentar muito mais.

Muito por isso eu acredito que por mais que não tenhamos necessariamente ódio de pessoas burras (afinal, algumas nem tiveram chance de serem diferentes), não devemos aceitá-las de braços abertos não. É um preço muito alto para pouca recompensa. O desfavor deve continuar aceitando pessoas de opiniões muito diferentes, mas não de inteligências muito diferentes. Tem todo o resto da internet e do mundo para abrigá-los. O filtro por conteúdo funciona em termos, mas está faltando mais ação para afastar essa gente do que simplesmente não aprovar os comentários.

Para dizer que eu estou sendo misógino, para dizer que tem medo de ver o “Ei, Você!” dos comentários não aprovados, ou mesmo para dizer que burrice é ser intolerante: somir@desfavor.com

SALLY

Sabe quando algo vai represando, represando, até que, de gota em gota, se torna algo avassalador? Pois é, isso vem acontecendo aqui, no Desfavor. A burrice atingiu patamares avassaladores, onde sequer conseguimos compreender o que está tentando ser dito nos comentários. Após uma discussão acalorada, Somir e eu queremos ouvir a opinião de vocês. Por isso o tema de hoje: O quanto leitores burros realmente prejudicam o Desfavor?

Sim, a burrice é um problema, sim, a burrice é irritante. Sim, cada vez mais pessoas burras procriam e colocam pequenos burrinhos no mundo, fazendo do Brasil uma grande Idiocracy. Mas eu não vejo forma de escapar disso sem punir quem não é burro. Cabe a cada um de nós não dar significado à burrice alheia, apenas ignorar e tirar o que lhe for útil do Desfavor.

O que está acontecendo é meio que inevitável. Durante estes dez anos nós fizemos de tudo, desde truques de configuração até estratégias online, para passar debaixo do radar. Acontece que, com a quantidade de conteúdo que temos, viramos um “alvo fácil” no buscador do Google, que hoje monopoliza a internet. Apesar dos nossos esforços, somos primeiro lugar em pesquisas no Google em muitos temas. Quem está na segunda página da pesquisa Google nem é lido, mas quem está em primeiro lugar acumula todos os cliques. E, acreditem, a demanda por informação via Google é enorme, esse “todos os cliques” é muita gente, em sua maioria, pessoas que tem apenas o cerebelo.

São muitos cliques de pessoas que não sei como conseguem amarrar seus cadarços diariamente. É obvio que os casos “posso me enformar com papel higiênico” a gente corta fora, mas algo sempre vaza. Um comentário burro não precisa ser grotesco, ele pode ser aceitável e até bem escrito. Burrice não é apenas perguntar que tipo de pássaro é a Ave Maria, há infinitas modalidades de burrice, como por exemplo, dizer obviedades, repetir o que já falamos no texto, reforçar o que já falamos no texto, radicalismos, conspirações e tantas outras.

É chato, porém eu acredito que seja um mal necessário, inerente a quem se propõe a distribuir conteúdo gratuito para o mundo. Mas para que eu entenda que é um mal necessário, preciso do aval de vocês, pois se a mim não afeta, pode ser que afete ao leitor. Eu, como leitora, consigo de boa ignorar comentários burros, óbvios ou que não acrescentem nada, porém, seria bastante errado presumir que todos são como eu. Na verdade, quase nunca são. É aquela frase vazia, porém útil neste momento: “cada qual com seu cada qual”. Talvez esteja incomodando ao leitor.

Minha teoria sempre foi a de que tudo é aprendizado. Mesmo na maior das burrices podemos aprender alguma coisa, nem que seja a identificar como gente burra se comporta. Eu tiro aprendizado, experiência, de tudo, porém não estou muito certa de que a maioria das pessoas seja assim. Somir, por exemplo, apenas se irrita e se desmotiva. Se gente burra está irritando e desmotivando leitores inteligentes na hora de comentar, aí a coisa muda de figura. Continuo acreditando com todas as forças que as coisas tem a importância que a gente decide dar a elas, mas não posso pretender que todos concordem comigo nisso.

Se realmente os burros estão tomando conta da área comum e estão espantando cabeças pensantes, ficarei preocupada. Acho que somos todos melhores do que isso, que podemos não nos incomodar com quem pensa diferente ou tem mais dificuldade cognitiva, é pancadinha da cabeça ou tem menos acesso a informação, mas tenho motivos para acreditar que talvez só eu consiga sublimar esse incômodo.

Depois de dez anos interagindo, já conheço o perfil do nosso leitor. Por mais de uma vez vocês abriram mão de conteúdo por medo de sermos invadidos por gente que pergunta se é possível que o cérebro saia pelo nariz ao espirrar. Sinal de que isso realmente incomoda vocês. Sinal de que talvez não dê para ignorar, por mais que eu tenha a convicção de que dá.

Meu ponto de vista: todo mundo tem algo a acrescentar. Eu quero um espaço aberto para todos, por mais irritante que isso seja algumas vezes. A pessoa pode falar 99,99% de burrices sem sentido, mas em algum momento essa pessoa pode dizer algo que seja útil para alguém. A questão é o tamanho do incômodo que essas burrices provocam em quem está lendo de fora.

Para mim é muito fácil, eu tenho o botão de moderação nas mãos, então, quando algo me irrita, eu silencio. Aqui dentro, eu corto o microfone de quem eu quiser quando eu quiser, mas talvez se não tivesse esse poder, também estivesse muito irritada. Talvez, as escolhas até aqui não tenham sido suficientes para calar a boca de quem está realmente enchendo o saco com suas burrices. Somir, por exemplo, está mil vezes mais irritado do que eu, no entender dele, o blog está virando um aterro sanitário intelectual.

Fracassados conspiradores que acham que sabem os “motivos ocultos” de todo evento que acontece, gente que quer consultoria gratuita, gente que vem destilar ódio, gente que não consegue nem usar a barra de espaçamento eescreveassim e tantos outros tipos de pessoas burras costumam ir minando a paciência de todos nós. Vocês já deve ter visto que na maior parte do tempo eu trato bem, mas dependendo do quanto aquela pessoa já encheu o saco, posso ser um pouco grossa nas respostas.

Quando um toma uma patada depois de um milhão de pentelhações, fica aquele silêncio, como que entre irmãos quando a mãe briga com um deles. Parece que fica todo mundo com medo de apanhar, bem quietinho no seu canto. Esse climão é uma merda e com certeza atrapalha o andamento do blog. Mas, faz parte da vida, não é mesmo? Há um limite na hora de emular um ambiente ideal, sempre vai vazar merda do mundo lá fora. Faz parte do jogo… ou não?

Vai do quanto de importância a essas pessoas vocês querem dar. Ou podem, vai saber, tem gente que simplesmente não consegue ignorar o outro. Na verdade, a pergunta hoje não é externa, é interna. Vai do quanto vocês permitem que estas pessoas burras abalem o ambiente, a troca de informação, o aprendizado recíproco. Não é aquele papo rasteiro de toda crítica ser uma confissão, pois se essa excrescência fosse verdade, todos nós seriamos pedófilos. É sobre o quanto vocês precisam ou preferem um ambiente estéril para se sentirem livres para argumentar, trocar ideias e desenvolver pontos de vista aqui no Desfavor.

Esta é uma questão antiga no blog, quem acompanha a gente faz tempo sabe. E é a última vez que trazemos o assunto à tona, porque sinceramente, eu já estou bem cansada dele.

Minha opinião vocês já conhecem: cada um tem uma lanterninha mental que tem o poder de iluminar o que lhe interessa, não devemos dar tanta importância aos outros. Agora eu quero ouvir a de vocês.

Para perguntar qual parte do “Eu não quero cobertura da Fazenda pois vai atrair gente burra” eu ainda não entendi, para dizer que a culpa é minha por ficar comentando clipe de funk ou ainda para ficar em cima do muro, concordar com ambos e ser o pior tipo de burro do universo: sally@desfavor.com


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