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Feliz Dia do Troll!

Feliz Dia do Troll!

| Sally | | 68 comentários em Feliz Dia do Troll!

Se você entrou neste texto hoje, no dia 17 de abril, data comemorativa deste blog que chamamos “Dia do Troll”, meus parabéns. Você zerou a brincadeira.

Se você entrou depois que nós destravamos o blog, no dia 18, tenho algumas coisas para te dizer.

Durante dez anos uma falácia elitista foi empurrada garganta abaixo de vocês pelo Somir, uma falácia que nem mesmo ele acredita mais. Uma premissa de que para que um ambiente seja fértil ele tem que ser composto apenas de pessoas inteligentes e, pior, que inteligência é sinônimo de raciocínio lógico e conhecimento teórico.

Eu começaria questionando o que é inteligência, pois certamente não é sinônimo de raciocínio lógico e conhecimento teórico. São bons pontos de partida, mas, para que eu chame alguém de inteligente, é preciso muito mais. Mas, o assunto é longo e o espaço é pouco, então, fica pra próxima. Para fins didáticos, vamos chamar aceitar que isso é inteligência.

Inteligência é importante sim, porém ela sozinha não significa NADA, como vocês devem ter observado pela pegadinha que armamos. Condicionamos a entrada ao blog à realização de um teste de Q.I. e, a mente mais brilhante do mundo não conseguiria entrar se não tivesse, além dessa inteligência formal, sabedoria, ou seja, o conhecimento prático de como aplicar sua inteligência. Sua vivência (no caso, aqui no Desfavor) era mais importante do que saber resolver problemas complexos de lógica.

Uma frase que já virou um mantra nas minhas conversas com o Somir é: não se aprende a dirigir lendo o manual de instruções de um carro. Então, estudar é muito importante sim, mas não é “o” mais importante. O que você estuda só tem serventia se você sabe como aplica-lo, caso contrário, tudo que você faz é repetir dados feito um papagaio. Apenas a teoria não te leva a lugar nenhum na vida. É preciso uma vasta bagagem prática para aplicar a teoria da melhor forma.

Sabedoria, prática, senso crítico, questionamento, pensar fora da caixinha, dominar seu emocional, empatia, timing e tantos outros requisitos são tão importantes quanto inteligência. Hoje enterramos de vez esse elitismo intelectual de pensar que inteligência é a rainha das qualidades e todo o resto orbita à sua volta como complemento. Não. São todas interdependentes. Trabalhe todas elas.

Se você espera que a gente filtre leitor por inteligência, estamos dizendo com todas as letras: não vai acontecer. Ciente desta decisão, você tem dois caminhos dignos. 1) Aceita e fica se achar que o conteúdo transcende a burrice que te incomoda ou 2) Aceita e sai, se achar que o conteúdo não vale o preço. Tem também uma saída indigna, que é ficar e reclamar da nossa escolha, mas essa, tenho certeza que ninguém vai adotar.

Certamente teve gente muito inteligente que não conseguiu passar pelo nosso desafio e certamente teve gente menos inteligente que, por intuição, por aprendizado (são dez anos fazendo uma pegadinha todo 17 de abril, né?) ou por qualquer outro motivo conseguiu entrar. Todos os leitores habituais tinham instrumentos para entender o que estava acontecendo, e, certamente poderiam depreender com facilidade a senha: dia do troll (sem espaços).

Acontece que quando um meio te condiciona, você veste o rótulo do lugar e passa a funcionar nele no piloto automático. Desfavor é visto por muitos como um clubinho dos inteligentes (apesar dos meus esforços, escrevendo texto sobre merda, vomito e funk). Tem leitor se recusando a ir a encontro de leitores por achar que não é inteligente o bastante e não vai ter “nível” para conversar com a gente, vejam a que ponto absurdo chegamos.

Ao entrar aqui, se assume essa premissa, do clubinho dos inteligentes. Então, quando você abre a página do blog e tem um aviso dizendo que só entra quem passar no teste de Q.I. , isso casa perfeitamente com o rótulo que cada um de vocês veste automaticamente atribui ao Desfavor. O cérebro gosta desse tipo de match, então, nem questiona: elitismo intelectual + teste de Q.I? Faz sentido. E é aí que está a grande armadilha.

Questionem tudo. Mesmo o óbvio. Desafiem o cérebro de vocês sempre. Não é para ficar paranoico, é apenas para fazer um exercício reflexivo. A forma padrão de enganar alguém no Brasil, seja em golpes, seja por políticos seja por um relacionamento mentiroso, é essa: reforçar algo que para a pessoa já tenha presunção de verdade. O cérebro fica vaidoso e vai feliz no fluxo daquilo que ele gosta de acreditar: a certeza de que estava certo. O cérebro procura o tempo todo evidências de que ele está certo e solta fogos quando as encontra, ou quando acha que as encontra.

Se não existisse esse rótulo de que “Desfavor é lugar de pessoas inteligentes” vocês teriam imediatamente percebido que esse teste de Q.I. como condição para entrar no blog era uma coisa despropositada e não o aceitariam como algo possível. Isso levaria o cérebro a buscar uma explicação para essa situação absurda e, pensando um pouquinho, teriam percebido do que se trata.

Cada vez mais eu acredito que o conhecimento dos livros é conhecimento de segunda categoria (Mestre Yoda concorda, acho que estou bem acompanhada). Quem apenas estuda muito se torna um papagaio repetidor. Na década de 80 era ótimo, você seria o melhor aluno e um excelente profissional. Hoje, você fica para trás.

A ironia do que fizemos ontem é: a resposta certa estava dentro de vocês o tempo todo. Vocês não precisavam de livros, de equações matemáticas, de conhecimento técnico ou de inteligência para ter ciência dela. Só precisavam acessar dentro de vocês, recordar.

No entanto, a maioria acreditou no que a escola falou (“a resposta certa é a que está nos livros”), no que os pais falaram (“estude ou você nunca vai ser alguém na vida”) ou nas notas das provas (quem decora melhor é o melhor da turma). Pois é, hoje os convido a pegar tudo isso e jogar no lixo.

Sejam mais que conhecimento técnico. Sejam mais que suas profissões. Queiram mais, muito mais, do que ser inteligentes. Inteligência é apenas uma pecinha desse quebra-cabeça, e talvez nem seja a mais importante. É aquela famosa frase atribuída a Albert Einstein: se você julgar um peixe por sua habilidade de subir em árvores, ele sempre vai ser considerado burro.

Então, em determinado aspecto, a maioria de vocês foi burro ontem. Quando olhamos do prisma da experiência, da sabedoria, da intuição, da associação, da percepção, quem gabaritou o teste de Q.I. e ainda assim não entrou, foi burro. Logo, burrice depende de ponto de vista. Os devoradores de livros e de informações técnicas não tem o direito de chamar para si o rótulo de inteligentes. Não mais. Não aqui.

E, não me entendam mal, não é como se a gente fosse abrir a porteira e abraçar o mundo, incluindo nas discussões diárias quem pergunta se a lei da gravidade é um conjunto de normal para tutelar gestantes. Um mínimo é necessário, porém um mínimo de tudo, não só de inteligência: de sabedoria, de experiência, de bom senso, de intuição, de autoconhecimento, de civilidade e de proatividade.

Não estamos posando de pais dos burros, tanto é que amanhã tem a coluna Ei Você sacaneando as piores tentativas de senha digitadas ontem. Estamos apenas desmistificando que inteligência se resuma a Q.I. e que apenas pessoas inteligentes podem acrescentar a todos nós.

A intenção é apenas induzir a uma reflexão: muitas vezes a inteligência lógica não basta para a vida, não para os tempos atuais. Cuide do seu emocional, da prática, aprenda a acessar suas vivências para responder a perguntas. Confie mais em você do que nos livros. Como diria o ET Bilu, busque conhecimento, mas não apenas nos livros. Busque conhecimento na vivência, em outras pessoas, em outras culturas, em todas as fontes que puder. E também dentro de você.

Ao se deparar com um desafio, não acesse apenas informações técnicas para te ajudar a solucionar. Busque a resposta na sua experiência, na experiência de outros, em situações similares, na sua criatividade, em inovações, em combinatividade e no mundo real. Para adquirir todas estas capacidades que vão muito além da inteligência teórica, tem que botar o nariz para fora de casa e experimentar o mundo. Quando a pessoa não tem isso, ela se abraça à “inteligência” como salvadora da pátria. Lamentável.

E, por fim, uma coisa é aprender, ou seja, saber algo, ler, ler, ler e obrigar a que aquele conhecimento entre em você, como fazemos quando estudamos para uma prova. Outra coisa é apreender, ou seja, reter esse conhecimento dentro de você, por vontade própria pegá-lo e se apropriar dele. O que fizemos hoje/ontem é apreender conhecimento.

Tenho certeza de que, não importa quanto eu falasse sobre o assunto, ele não entraria tão profundamente na cabeça de quem passou pela experiência de fazer o teste de Q.I. ontem e ser barrado. Então, é a experiência, e não o livro, que te faz apreender conhecimento. Aprender é importante, mas, além de saber, é preciso fixar, e para isso, meus amores, a prática é imbatível.

Quem preta atenção no que eu falo certamente tinha uma vozinha interna gritando ontem: “Sally nunca fecharia o blog desta forma”. Quem ouviu entrou, quem não ouviu, ganhou um belíssimo aprendizado para a vida.

Feliz dia do Troll!

Para me mandar à merda, para mandar o Somir à merda ou para mandar todo o Desfavor à merda: sally@desfavor.com


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