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Danos auditivos.

Danos auditivos.

| Desfavor | | 23 comentários em Danos auditivos.

Sally e Somir costumam concordar no que configura música ruim, mesmo que consumam esse tipo de conteúdo. Mas na hora de ranquear a porcaria, entram em desacordo. Os impopulares se fazem ouvir.

Tema de hoje: o que é mais irritante, pagode ou sertanejo?

SOMIR

Eu sei que eu vou dizer algo errado, algo reprovável… mas, sertanejo é mais irritante porque você não pode evitar os fãs do estilo mesmo se você tiver companhias de alto nível intelectual na vida. Pronto, falei. Joguem pedras. O grupo humano fã de pagode é consideravelmente menos heterogêneo no aspecto intelectual do que o grupo fã de sertanejo.

Eu, por exemplo, simplesmente não convivo com pessoas que gostam de pagode. Ou pelo menos não convivo o suficiente para ser vítima de seus gostos musicais. Eu não vou estar num churrasco com pessoas que escutam pagode, não vou estar num evento como um casamento de pessoas que escutam pagode… simplesmente não vai fazer parte da minha vida. E eu sei que esse argumento soa escrotíssimo pela presunção se formando sobre a cor da pele dessas pessoas. Eu sei que você começou a pensar nisso.

Sim, eu sei como estou soando nojento, mas se aprendi algo com a vida é que você não tem chance de evolução se ficar com vergonha do que realmente pensa. Então, melhor que saia logo e eu tenha como analisar isso com mais pontos de vista. Quem sabe eu evoluo? Ou quem sabe vocês aceitam uma verdade horrível e acabem concordando comigo?

Mas, desfavor me faz entrar em terrenos arenosos, faz parte desse processo. Apesar de gerar essa desconfiança, não é um argumento sobre raças, e sim sobre prevalência de gostos musicais em grupos humanos de acordo com características intelectuais. Eu conheço pessoas de todas as cores que gostam de pagode, mas elas não me geram interesse suficiente para formar uma relação mais próxima. E eu também conheço pessoas de todas as cores que tem horror a pagode e músicas toscas do tipo que costumeiramente geram esse interesse. Tem literalmente a ver com o gosto musical da pessoa e o resto que costuma vir no pacote.

Não estou dizendo que todo mundo que gosta de pagode é burro, até porque seria uma imensa burrice da minha parte fazer uma generalização desse nível. Mas, considerando os dados de prevalência da característica “intelectualmente desinteressante” no grupo “fãs de pagode”, eu consigo tirar uma relação, que apesar de não obrigatoriamente gerar causalidade, é eficiente para prever os resultados futuros dessa interação.

Sally tem muito mais facilidade que eu para formar relações positivas com pessoas muito inferiores intelectualmente, por isso está cheia de histórias de horror sobre pagode. Mas essa flexibilidade não é tão comum assim, via de regra, se você consegue se dar bem com todo mundo é muito mais porque tem um intelecto mediano do que por uma característica especial de conexão com outros seres humanos. Navalha de Occam: a resposta mais simples tende a ser a resposta certa.

Apesar de todos os horrores do pagode, ele não vem te morder a bunda em ambientes onde você não esperava gostos musicais do tipo. É tão horrível assim falar isso? Se você não quer pagode na sua vida, dá pra evitar. E se por um acaso Sally vive no epicentro desse gosto musical tenebroso, não muda o fato de que no resto do país o perigo mesmo é o sertanejo: eu já até expliquei no texto anterior sobre isso, sertanejo não é um estilo musical bem definido atualmente, é música pop romântica/dançante em português. É só um nome colocado pela divulgação para gerar algum reconhecimento do público. “Rancho Fundo” é sertanejo, o que toca hoje em dia é pop/brega/whatever, e esse tipo de música tão genérica tende a alcançar públicos imensamente ecléticos.

Não dá pra escapar de sertanejo, nem que você escolha a dedo o tipo de pessoa com a qual convive. E é aquela merdeira genérica que faz sucesso em rádio desde sempre, músicas basicamente iguais que as pessoas estão acostumadas a ouvir, mas que quem tem um pingo de bom gosto já está morto de tédio de ouvir. Você provavelmente não ouve sertanejo “raiz” se não mora bem no interior, é uma música totalmente diferente das que fazem sucesso por aí. Pra mim é como perguntar o que pior entre pop genérico de rádio e pagode: claro que o pop genérico de rádio é pior, porque dessa porra não se escapa.

Se fosse entre sertanejo raiz e pagode, eu escolheria o inverso de hoje, porque de sertanejo das antigas é fácil de fugir, e escutar uma vez por ano bissexto não incomoda nem um pouco. Mas, na conjuntura atual, é muito fácil escolher o sertanejo (moderno) como mais irritante. Ele vai poluir seus ouvidos em virtualmente qualquer contexto social que não seja extremamente bem selecionado (e por bem selecionado eu digo até mesmo gentalha roqueira, que eu gosto, mas sei que é gentalha). Música tosca e extremamente popular é praticamente inescapável, música tosca que atinge principalmente um nicho e não é famosa pela popularidade entre pessoas de alto e altíssimo nível intelectual? Não incomoda tanto. Tem como escapar.

Pagode é meio que nem funk: se você ouve demais e não gosta, você fez péssimas escolhas na sua vida.

Para me chamar de pessoa horrível, para dizer que doeu concordar, ou mesmo para dizer que trabalha no CERN e só escuta pagode: somir@desfavor.com

SALLY

O que é mais irritante: pagode ou sertanejo?

Em 2011 discutimos sobre o que era “menos pior”, axé ou sertanejo e eu defendi o axé. Hoje, invertendo o jogo, me vejo obrigada a tomar o lado do sertanejo, pois nada, nada em matéria de música, é pior do que pagode.

Pagode é uma desgraça. Nem gênero musical isso deveria ser, pois não há uma unidade, um conjunto de características que façam de algo um pagode. Tudo no pagode é ruim: a melodia, os instrumentos bregas usados, a letra e, acima de tudo, os pagodeiros. Pagodeiro é a pobreza encarnada, mas, pior do que isso, é o pobre se levando a sério, tentando fazer arte, tentando expressar seus sentimentos amorosos. Não, por favor não. Se existe um inferno, certeza que nele toca pagode.

Sertanejo é ruim, fato. Um bando de caipira corno ou pseudo-pegador cantando espremido em uma calça que certamente vai gerar baixa motilidade do esperma (ao menos isso, terão dificuldade em procriar). Mas pagodeiro é pior. Aquela gentinha brega, oleosa e desagradável ostentando brincos, colares e pulseiras, roupas em tons berrantes e evadindo a privacidade de sua vida amorosa de forma musicada, muitas das vezes errando até mesmo a concordância verbal. Pior: tem filhos, tem filhos aos montes, sempre com mulheres igualmente bregas.

Via de regra, sertanejos são duplas. Às vezes nem isso, tem uns que cantam sozinhos. Mas quanto tem mais de um, não passa de uma dupla. Pagodeiro não, pagode é o maior cabide de emprego do mundo musical: pegam o faveladinho que canta menos pior, colocam como vocalista e, três passos atrás, tem mais 15 favelados batucando e fazendo segunda voz, que em pagode consiste em ficar dizendo “lelerê lerê” ad eternum.

Já viram os instrumentos musicais de pagodeiro? É sempre um batuque escroto, tipo um pandeirinho, ou aquela porcaria do cavaquinho (minha teoria: é muito utilizado pois dá para tocar mesmo estando algemado). O pagodeiro é o jogador de futebol do mundo da música: não faz nada de bom para a sociedade mas ganha muito dinheiro e está sempre com uma loira interesseira pendurada no pescoço.

O sertanejo, por mais chato que seja, tem uma variação de temas. Além de falar de sofrimento amoroso, fala de festas típicas, de gado e de outros assuntos igualmente desinteressantes, relacionados com a realidade destas pessoas do Rancho Fundo. Pagode não. Pagode é Corno Music por excelência. Parece uma competição de quem se fode mais na vida. O mais fracassado amorosamente é o vencedor. E, um ponto importante levantado pelo Rafinha Bastos: pagodeiro não morre. Já vimos diversos casos de sertanejos mortos, mas pagodeiro é imortal. Além de serem imortais, fazem muitos filhos, ou seja, é questão de tempo até que dominem o mundo.

O sertanejo tem seu nicho. Ele predomina em eventos rurais ou em cidades do interior, mas a regra é que você consiga fugir dele se quiser. Pagode não, esta desgraça se alastra como doença de pele e fica quase que inevitável ser exposto a ela: está na TV, está nas festas, está em tudo quanto é canto. O lobby pagodeiro é poderoso, aqueles 27 pobres (um na frente, 26 atrás batucando na própria mão) com dentes postiços absurdamente brancos, ternos abóbora e malemolência estão em todos os lados.

Mesmo nas raras exceções onde pagode não fala de sofrimento amoroso, o tema continua sendo hediondo. Se na sua casa o lema é ousadia e alegria, na minha é bom senso e dignidade – e não tem pagode todo dia. Enfia o lelerê no meio do buraco do seu cu, como eu mesma gritei ao ouvir esse tipo de música sendo cantada ao vivo na minha casa (true strory).

Pior do que gente compartilhando um sofrimento amoroso que não interessa a ninguém é fodido de comunidade se dizendo super feliz. Essa alegria endêmica, esse alto astral histérico sem a menor justificativa, essa alegria de viver (na merda)… isso passa uma mensagem muito errada. Tá na bosta? Não tem nem rede de esgoto onde você mora? Não seja louco, não fique cantando alegria.

Além de tudo, como são feios. Não que os sertanejos sejam bonitos, mas ao menos eles tentam. Se você pegar uma foto do Luan Santana ou do “Tchetchererê Tchetche” (nunca consigo decorar o nome) no começo da carreira e comparar com os dias de hoje, vai notar algum grau de upgrade. Faça o mesmo com o Pericles e conversamos. Talvez Deus pergunte para suas criaturas antes de nascer: você quer ser bonito ou você quer ser pagodeiro?

O sertanejo é um caipira sofrido querendo desabafar. O pagodeiro é um pobre feio e burro querendo aparecer. Há uma chance, ainda que pequena, que um sertanejo leve uma vida digna, como por exemplo, o pai da SandyeJunior (eternamente uma pessoa só para mim), casado lá com a Sandy-Mãe por uma vida, sem qualquer relato de baixaria, ou o Michel Teló, casado com uma atriz e lindamente apaixonado por ela, em uma relação com um carinho e cumplicidade de fazer inveja. Já pagodeiro… vocês não tem ideia da promiscuidade e baixaria desse meio. Gezuiz cale a minha boca para me impedir de contar as baixarias que eu já vi.

Sertanejo tem a capacidade de transcender a música ruim para virar um clássico, assim como aconteceu com “Evidências” ou “Fio de cabelo”. É o tipo de música que você canta bêbado em um karaokê ou uma rodinha de violão. Pagode não. Não há grau de entorpecimento que torne aceitável pagodear e ficar de lelerê. Pagode se leva a sério, um sofrimento corno em uma tentativa desesperada de sexo por piedade. É indigno. É ofensivo. É rudimentar.

Um plus: dependendo do estilo, sertanejo pode até ser dançante. Esses sertanejos pop ou universitários são bem dançantes, então, no ruim, no ruim, a música acaba tendo alguma utilidade e gerando algo de bom. Pagode não. Vai dançar o que? A dança da depressão? A dança do pandeiro imaginário? Ela tá dançando e o pimpolho tá de olho? Pagode é uma música criada para que os desgraçados algemados que estão tocando cavaquinho e fazendo segunda voz fiquem fazendo dois passinhos para a direita, dois passinhos para a esquerda. E só, que os neurônios dessa gente colapsam se for exigido mais.

Não dá. Pagode é irritante, melodramático, tosco. Consigo enxergar algum valor (ainda que pequeno e remoto) no sertanejo, mas não vejo absolutamente nada de bom no pagode.

Para dizer que não vê nada de bom em música brasileira, para dizer que pior mesmo é MPB ou ainda para dizer que sente falta de discussões mais relevantes nesta coluna: sally@desfavor.com


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