
As pedras do meu caminho – Parte 18
| Sally | Des Cult | 2 comentários em As pedras do meu caminho – Parte 18
CAPÍTULO 32 – O AMOR RESISTIRIA À ACUSAÇÃO DE TRÁFICO DE ARMAS?
Neste capítulo vemos a maravilhosa história da espingarda calibre 12 que Pilha e Aline tentaram trazer do Paraguai para o Brasil. Apesar desta história ter sido devidamente narrada em tempo real pelo Desfavor, o livro trouxe uma riqueza deliciosa de detalhes que não sabíamos, então, mesmo que você esteja familiarizado com o caso, vale a pena ver de novo.
Tudo começou quando o casal Pilhine resolveu abrir uma lojinha em um shopping. Foram ao Paraguai para comprar diversos itens que venderiam na loja. Batendo perna na procura destes itens, uma loja chamou a atenção do nosso herói e ele parou maravilhado, hipnotizado pelo item exposto na vitrine.
Pilha conta a arma foi amor à primeira vista, porém não quis comprar: “Eu adorei, adorei mesmo. Gosto de armas, mas não compro porque já tive problema com isso em 2007”. É… No caso, tendo problema ou não com isso, quando não se tem porte de arma, o ideal é que não se compre arma. Na verdade, quando se tem um histórico meio… exótico, tipo assaltar pessoas, agredir mulher, brigar com cracudo e acabar incendiado, brigar com motoboy e apanhar, dizer ao policial que ele é burro por não ter visto sua arma com numeração raspada que estava no banco traseiro do carro e tantos outros predicados, o ideal é que não se compre uma arma.
Mas Pilha não conseguia tirar a arma da cabeça. Um dia depois, passaram pela loja novamente e ele disse “Ah, deixa eu dar mais uma olhadinha naquela espingarda” e ficou namorando a arma. Eu entendo que os olhinhos de Gato de Botas do Shrek do Pilha devem ter sido de cortar o coração. Alguns se encantam com filhotinhos, outros com bebês, bem, o Pilha é hardcore. Astro do rock, né? Se apaixonou perdidamente pela arma.
Se um ex-viciado, que responde a vários processos judiciais, que já foi preso diversas vezes, que tem histórico de atos como assaltos e agressão à mulher, namora uma arma, o que você faz? O demove da ideia? Provavelmente, pois, assim como eu, você é um medíocre. Aline não. Aline é mulher para o Pilha. Aline achou que seria uma boa ideia comprar uma 12 para o Pilha, apesar dele já ter sido preso justamente por isso, por estar armado sem ter porte de arma.
A situação se deu da seguinte forma: estavam fazendo uma última rodada de compras, faltavam poucas horas para ir embora. Aline estava com fome. Nas palavras do Pilhão, sempre fazendo amigos com sua diplomacia: “Como a comida paraguaia não é boa, achei melhor ir buscar um lanche para ela, porque seria mais rápido do que procurar um bom restaurante para almoçarmos.” Como estavam carregados, ele deixou Aline cuidando das compras que eles já haviam feito e foi atrás de um lanche para ela. Foi o tempo de Aline entrar na loja e comprar a 12.
Quando voltou com o lanche, Aline lhe contou que havia comprado um presente para ele, mostrando a arma. Segue o suposto diálogo:
PILHA: Você é maluca?
ALINE: Não, o cara me falou que tudo bem eu comprar a arma, que dá para legalizar no Brasil, me disse que tem despachantes lá em Foz que fazem isso!
PILHA: Amor, não é assim! Você não ouviu os paraguaios? Não viu que aqui eles vendem tudo, legal e ilegal também? Cadê o cara? Vamos lá na loja para devolver isso aí! Eu sei que custa 2.500, então a gente fala para ele ficar com 500 e devolver 2.000 e já era! Se não essa história vai dar encrenca!
ALINE: Não, o cara falou sério, explicou que não é arma restrita, é uma espingarda de caça!
PILHA: Que sério? Aqui não tem nada sério! Aqui o negócio é sem lei!
ALINE: O vendedor garantiu que a gente pode regularizar. Comprei, vou levar!
Depois de muita discussão, Pilha decretou “Eu não vou levar isso não!” e Aline respondeu “Eu levo!”. Subiram em duas moto-táxis, Pilha na primeira, Aline na segunda e foram em direção à fronteira, para retornar ao Brasil. Embrulharam a arma em um cobertor, como se fosse um bebê.
Assim que se aproximaram, Pilha viu que havia uma fila de caminhões e ônibus parados, para revista, provavelmente para passar pelo scanner da Polícia Federal. Antevendo o pior, Pilhão desceu da moto e disse: “Olha aí, Aline! Vai dar merda! Solta isso… joga aí e vamos embora!”. Aline se recusou. Pilha então pegou a arma dela e “jogou fora”, atirando a arma enrolada em um cobertor no meio do mato.
Quando voltou para sua moto, viu Aline pegando a arma de volta. Pilha então perdeu a paciência e gritou: “Já que você quer ficar com isso, pega e some daqui. O acesso de pedestres está perto, vai embora por lá!”. Qualquer pessoa sensata teria desistido, mas o casal tentou um plano B: Pilha passaria pela fronteira em um veículo motorizado e Aline passaria com a “12 bebê” pela parte destinada a pedestres.
Pilha seguiu na moto, até chegar à fronteira. Foi parado por policiais, revistado e liberado. Então, ele foi procurar pela mulher no acesso para pedestres: “Ela estava há uns 30 metros de mim, em frente à cabine da Receita Federal, ainda abraçada com o pacote. Não deu nem tempo de respirar aliviado, porque vi um agente da Polícia Federal se aproximando dela. Aline arregalou os olhos na minha direção e eu só consegui balançar a cabeça negativamente, querendo dizer`agora fudeu´. Aí os pensamentos começaram a cair dentro da minha cabeça , tipo moeda de máquina de caça-níquel… plim…plim…plim…: minha mulher vai ser presa / não vou deixar ela aqui / eu vou ser preso / meu Deus, meu filho / minha família / a família da Aline… Pensei em tudo enquanto corria até ela.”
Pilha corria na direção de Aline, enquanto o policial se aproximava dela. Seguiu-se o suposto diálogo:
POLICIAL: Quem é você?
PILHA: Sou o marido dela
POLICIAL: Ela está sofrendo uma abordagem. Vamos fazer uma revista para saber o que tem aí nesse embrulho
PILHA: Tem uma espingarda calibre 12
O bom e velho sincericídio dando as caras novamente. Imediatamente o policial prensou o Pilha na parede e o algemou. Logo depois, fez o mesmo com Aline. Os dois estavam presos e, como foram reconhecidos por gente que estava lá, a notícia já começava a vazar na imprensa.
Algemados, esperaram quatro horas na delegacia para que seus depoimentos fossem colhidos. Aline foi a primeira a ser chamada pelo delegado. Pilha aguardava do lado de fora, mas a poucos metros de distância, por isso conseguiu ouvir todo o depoimento dela. Em determinado momento, Aline ficou nervosa e gritou “Não, eu não vou assinar isso!”. Pilha, por sua vez, gritou “Algum problema aí?” e Aline respondeu: ”O delegado quer que eu assine um negócio que eu não falei!” e Pilha respondeu, ainda gritando: “Então não assina!”. Adoro quando baixa o jurista no Pilha!
Irritado com a comunicação aos gritos, o delegado abriu a porta e deixou o Pilha entrar. Pilha leu o documento: estava escrito que a arma era dele e que no momento do flagrante a arma estava com ele. Começou um grande bate-boca onde, estupidamente, Pilha e Aline começaram a peitar o delegado, como conta Aline: “Ele bateu na mesa, gritou comigo. Eu disse que só falaria em juízo porque ele estava me induzindo a assinar algo que não era correto. Como ele continuava insistindo, peguei a caneta e fiz um X bem grande na parte do texto que estava errada e grifei o que eu concordava, só assinaria se fosse daquele jeito.”
Obviamente, o delegado não ficou nada feliz ao ver Aline tunando um documento oficial: “Ele virou uma fera, jogou a caneta no chão dizendo que eu não podia alterar nem rasurar o documento e começou a fazer pressão psicológica. Garantiu que a gente ia mofar na cadeia, que a nossa acusação era de tráfico internacional de armas, que eu iria pegar 8 anos e o Rafa também, que nosso casamento estava acabado, pois ficaríamos trancados e nunca mais a gente iria se ver”.
Uma mente maldosa pode chegar a pensar que na verdade, Pilha comprou a arma, mandou Aline entrar com a arma pelo acesso a pedestres por achar que ela, com seu template loiro de olhos claros e por ser mulher não seria revistada e que, quando o caldo entornou, ela, apaixonada, se manteve fiel à versão que combinaram sobre a história, que inocentava ele.
Uma mente maldosa pode alegar que ele sempre foi impulsivo, nunca teve bom senso e tem pouca capacidade de prever as consequências dos seus atos, por isso seria mais provável que ele, não Aline, tivesse arquitetado tudo. Mas, felizmente aqui somos todos fãs do nosso Pilhão e não há espaço para vozes maldosas. A culpa foi da teimosia da Aline, Pilha foi o grande herói que topou ser preso para não deixar a mulher sozinha. Porém… creio eu que Pilha não conseguiu ajuda-la muito trancafiado em outro presídio, não teria sido mais proveitoso se ele estivesse solto, para esclarecer o caso junto à imprensa e acionar os advogados? Não importa, quem tem vocação para herói não mede seus atos. Pilha sempre será um herói.
Depois de pressionar Aline, o delegado se voltou para o Pilha quando viu que ele estava se metendo o tempo todo em um depoimento que não era o dele para defender a esposa: “Pô, seja homem! Bate no peito e fala que é seu!”. Ahhhh… pra que? Obviamente o delegado não sabia com quem estava falando. Meu amigos, toda situação tem um ponto de não retorno, aquele momento em que você caga as coisas de uma forma tão fodida, que não tem mais como desfazer. Este foi o ponto de não retorno do caso. Peguem uma pipoca e acompanhem a resposta do Pilha:
“Seja homem você! Poderia ser meu sim, porque eu já tinha ganho de presente. Agora, seja homem você de bater no peito e vir para cima de mim na pressão psicológica, não pra cima da minha mulher, que nunca pisou em uma delegacia. Você está gritando, jogando as coisas no chão. Uma autoridade, um Policial Federal perdendo a linha?” Pilha continuou em um longo e maravilhoso discurso, que atingiu seu auge quando ele disse: “Eu sou repórter. Ela pode até assinar, mas eu vou pedir para o meu advogado puxar as imagens das 30 câmeras daquela ponte… só se o senhor fizer as imagens sumirem… senão a verdade aparece!”.
Levanta a mão quem aqui acha que depois de um esporro desses, de dedo na cara, de ameaça a delegado, esta situação tinha alguma chance de acabar bem. Pilha acabara de ameaçar um delegado, e o que é pior, com uma carteirada de merda: repórter do “A casa é sua”, programa de fofocas, do canal Rede TV. É o mesmo que peitar um traficante que aponta um fuzil para você com um revolver de brinquedo, daqueles que quando você atira sai uma bandeirinha escrito “Bang!”.
Neste clima leve e descontraído, chegou a vez do Pilha prestar seu depoimento. Mas, depois de falar uma pá de merda, ele resolveu ser comedido: “Para evitar adulteração, só falo em juízo”. Para surpresa de todos, o delegado levantou-se, tirou o colete e abraçou o Pilha: “Eu já fiz apreensões muito piores do que essa. Não deu em nada. Aline vai pagar fiança e vai embora”. Pilha ficou surpreso e perguntou “Por que, então, o senhor pegou tão pesado com ela?” e o delegado respondeu: “Faz parte”.
Pilha e Aline passaram aquela noite na delegacia, em celas separadas, mas confiantes de que tudo daria certo. Apesar de não estarem na mesma cela, conseguiam se falar gritando um com o outro. Quando amanheceu, Aline acordou e chamou pelo Pilha, mas não obteve resposta. Ele havia sido levado, escondido, para a prisão.
Mês que vem continuamos…
Para dizer que a pequena Laura promete, para dizer que não quer esperar até setembro para saber o desdobramento do caso ou ainda para perguntar se o Pilha gritou ME RESPEITA! para o delegado: sally@desfavor.com
Pilha nunca nos decepciona…
Muito pelo contrário, ele sempre supera expectativas!