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Animais X Crianças

Animais X Crianças

| Sally | | 43 comentários em Animais X Crianças

O assunto de hoje não é nenhuma novidade, mas uma notícia divulgada semana passada me fez perder a paciência de vez e querer falar sobre isso: estão tratando animais de estimação como filhos e filhos como animais de estimação.

A gota dágua que me fez querer mexer nesse vespeiro é que agora, esta hipervalorização e humanização dos animais de estimação pode ser oficializada: diversos cartórios permitem que você registre seu pet como um membro da família, incluindo inclusive seu sobrenome nele. Efeito Gil Brother Away: estou perplecta.

Segue o início da notícia, apenas para contextualizar:

“Donos de animais domésticos agora podem obter o registro de guarda, uma espécie de certidão de nascimento, dos bichos que muitas vezes são tratados como integrantes da família. O documento pode até ter o sobrenome dos guardiões para provar o ‘parentesco’.”

Para quem não está familiarizado com a minha pessoa, prazer, Sally, aquela que ama cães e gatos e não suporta crianças. Aquela que escolheu não ter filhos pois a simples vozinha aguda de uma criança faz seu útero virar do avesso. Aquela que procura sempre viajar e ir a restaurantes chield free por não suportar sequer estar no mesmo recinto de uma criança. Dito isso, acho um verdadeiro absurdo o rumo que as coisas estão tomando: crianças sendo tratadas como cachorros e cachorros sendo tratados como crianças representa um desaforo e inversão de valores.

Gostando ou não de crianças: ser humano > animais. Ponto final. Quem coloca animais acima de seres humanos (especialmente dos próprios filhos) precisa de acompanhamento psicológico. E, acreditem, tem muita gente fazendo isso, mesmo sem perceber. Sobra tempo para passar com seu filho? Se sobra, ok, compre um cão e dedique tempo a passear com ele, brincar com ele e tudo mais. Não tem tempo nem para o seu filho? Bem, talvez seja o caso de priorizar, em vez de tirar tempo de uma criança para dar para um animal de rabo.

E por falar em faltar tempo… Quem aqui já ouviu aquela clássica explicação da pessoa que gosta de cachorro mas não quer ter um cachorro pois “eu trabalho o dia todo, seria cruel, eu não teria tempo para o bicho”. Eu escuto sempre. O curioso é que, as mesmas pessoas que não adotam um doguinho por não dispor de tempo suficiente para ele e julgar que isso seria maldade com o animal… fazem filhos! What the fuck, minha gente! Quem trabalha muito e não tem tempo para um cachorro também não tem tempo para uma criança! Não é bem assim, eles dirão. Criança você pode colocar em uma creche ou deixar com alguém enquanto você trabalha. E meus ouvidos sangram… Delegar estímulo intelectual do seu filho? Temo que um dia tenha câncer de ouvido por ter que ouvir barbaridades como esta!

Quem aqui nunca viu uma criança de coleira no shopping? Não tenho filhos e evito contato com crianças como o diabo da cruz, então, não sei se é realmente necessário atrelar a criança a você por uma elo físico (talvez seja, assumo minha ignorância), mas, por favor, se o fizerem, que seja pela mochila ou pelo pulso, coleira não, né gente? Já vi várias crianças presas pelo pescoço sendo conduzidas por seus pais. Coleira é para cachorro. Em compensação, já vi vários doguinhos passeando no shopping dentro de carrinhos de bebê. É de fazer cair o cu da bunda. Cães precisam andar, se exercitar e, de preferência, ao ar livre. Levar cachorro em carrinho de bebê ao shopping é aberrante.

Uma vez vi ambas as cenas simultaneamente. Uma mãe levava seu filho, que deveria ter uns 3 ou 4 anos, em uma coleira e empurrava um carrinho com um cachorro do lado de dentro. Como me arrependo de não ter fotografado essa cena. É uma ode à inversão de valores que estamos vivendo. É uma cena emblemática. E, olha, quando uma pessoa como eu sai para defender crianças em detrimento de cachorros, algo de muito bizarro está acontecendo!

Vamos falar sobre: pessoas que chamam seu animal de estimação de “filho”. Eu vou me policiar para falar sobre isso, pois é quase que uma unanimidade e certamente muitos de vocês que estão lendo o texto o fazem. Não acho adequado. Porém acho mais grave quando de fato há um filho real na família. A criança cresce sendo chamada de “filho” e, ao mesmo tempo, vê o cão ou o gato sendo chamado de… “filho”! Que prestígio, hein? A criança cresce sabendo que seu status é o mesmo de um animal de rabo que urina na rua. Se bem que, o brasileiro médio urina na rua também… que desgosto.

Cada vez mais vemos casais que se separam e entram com ações judiciais para decidir a guarda do… animal de estimação! Puta que me pariu dez vezes! O Judiciário existe para coisas importantes, tipo prender estuprador, obrigar hospital a realizar cirurgia para salvar a vida de paciente, compelir um pai a pagar pensão para que seu filho não passe necessidade! O que uma pessoa tem enfiado no cu para acionar o judiciário (algumas ações chegaram até o STF e STJ!) com o objetivo de pedir a guarda de um animal de estimação?

Em compensação, cresce cada vez mais o numero de crianças criadas em guarda compartilhada. Mesmo sendo uma falsa simetria, isso nos dá uma noção de que, em algum nível, pais topam dividir o tempo que passam com seus filhos mas querem os animais só para eles. Ficar uns dias da semana sem o filho ok, mas ficar uns dias da semana sem o doguinho? Quem ele pensa que é? Corre lá e pede a guarda dele só para você!

Cheguei a presenciar o caso de um casal que não teve qualquer dificuldade em instituir a guarda compartilhada do filho de dez anos, que ficava uma semana com cada um, mas acionou o Judiciário brigando pela… pela… wtf… pela “guarda” de um gato. Os argumentos eram ótimos: “O Fulano (filho) já é grande e sabe se cuidar sozinho, se acontecer algo errado ele me conta, já o Sicrano (gato) não pode falar, não pode me contar se for maltratado, não sabe se defender, ele precisa de mim todos os dias da semana”. Novamente: perplecta.

Tem pai que não quer nem assumir ou registrar seu filho ou dar seu sobrenome a ele, a mãe precisa entrar com uma ação judicial de reconhecimento de paternidade e o registro é feito na marra. Esse é o nível atual do Brasil. Fora os casos onde as pessoas simplesmente não registram os filhos, por diversos motivos. Temos milhões de seres humanos não registrados. Entretanto, em um país com esse grau de involução, acharam pertinente permitir que se coloque o seu sobrenome em um animal de rabo que lambe os próprios testículos. Super perplecta.

Pasmem, atualmente, o gasto com pets no Brasil supera o gasto com crianças. Ok, existem mais animais do que crianças nos lares brasileiros atualmente, mas, mesmo assim, é um absurdo. Crianças tem despesas muito caras, como escola, por exemplo. Um pet, em tese, gasta um pouco com comida e higiene. Mas não, aparentemente, pets ganham caminhas personalizadas, festinha de aniversário, banho e tosa, perfume, coleira com strass e tantos outros supérfluos. Nada contra, desde que esteja sobrando dinheiro para a pessoa. Quantos brasileiro tem dinheiro sobrando?

É tentador depreender que, se não há dinheiro sobrando e há tantos gastos com pets, algo do que poderia ser gasto com a criança está sendo direcionado para o animal, ne? Por favor, me digam que vocês também estão perplectos. Vejo gente chorando miséria, negando coisas para os filhos e cão indo toda semana fazer banho e tosa em pet shop. Fora os serviços que são atribuição do dono, inerentes a ter um animal, que as pessoas delegam e pagam (caro) por isso: banho, passeio e outros. Se você não tem tempo nem de dar um banho no seu animal e delega esta função a uma pet shop, será mesmo que você deveria ter um pet?

Mais uma belezura que presenciei em um shopping esnobe: mãe passeando com criança e doguinho, estando a criança e o cão com a mesma roupinha. Eu realmente devo estar ficando velha, a sensação de não pertinência e total incapacidade de compreender os novos códigos sociais e valores está se acentuando cada vez mais. Em que planeta é aceitável que filho e cão estejam no mesmo patamar de vestimenta? No meu mundinho esquizofrênico sequer é aceitável que se coloque uma roupa em um animal, mas, ok, já me dei conta de que eu sou socialmente desajustada. Reflexão rápida: que se passará na cabeça dessa criança vendo o cão com a mesma roupa que ela e sendo chamado de “filho”?

Por mais que você ame seu pet, ele não é um ser humano, ele não é da sua família e é ridículo que você coloque seu sobrenome no bicho, ainda mais registrado em cartório. É deprimente, flerta com a insanidade mental. Seu cão não é seu filho, é seu cão. Ele não quer ser seu filho, isso faz mal ao animal. Parem de sufocar e humanizar os pets! Trate-o como um cão e, acredite, ele vai ser muito mais feliz, conforme já explicamos em outro texto.

Registrar um pet em cartório com o seu sobrenome flerta com a insanidade mental. É um grau de desconexão com a realidade preocupante. Chega a ser ofensivo, em um país com a realidade social do Brasil. E, para fechar, se você quer ser um ser humano minimamente decente, só tenha um pet se, para isso, não precisar tirar um segundo do tempo ou de recurso financeiros que seriam usados com seu filho. Pronto, acabei. Podem xingar.

Para dizer que prefere seu cão do que seu filho, para dizer que para quem vai envelhecer criando gatos eu estou marretando demais ou ainda para dizer que sim, está perplecto: sally@desfavor.com


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