Skip to main content
Coisas que eu não quero saber sobre seu filho:

Coisas que eu não quero saber sobre seu filho:

| Sally | | 38 comentários em Coisas que eu não quero saber sobre seu filho:

Olá, tudo bem? Queria te dizer uma coisinha, pois acho que está acontecendo um pequeno mal entendido. Não sei exatamente onde foi que eu errei, mas parece que, por algum motivo, você presumiu que eu teria interesse no seu filho. Não, não é interessante para mim. Talvez para os avós, para os padrinhos ou para outras pessoas que tem filho seja, mas para mim não é. E, quer saber? Eu tenho o sagrado direito de que não seja, sem que disso se pressuponha algo negativo ao meu respeito. Certamente você deve achar muitas coisas que eu amo desinteressantes e nem por isso eu me ofendo com você. Então, vamos respeitar e não me submeter a uma overdose de filho?

Não depende da idade, bebê ou criança, seu filho não é interessante, mesmo andando, mesmo falando, mesmo cantando, ao menos não até os 18 anos, onde, se malhar bastante e ficar bem musculoso, pode vir a se tornar interessante para mim. Enquanto isso, queria que você soubesse algumas coisas que eu não quero saber sobre seu filho.

Não quero saber o que come, quando come, se comeu tudo ou não e o trabalho que dá para alimentá-lo. É um problema seu e, spoiler, não interessa e mim e provavelmente não interessa ao mundo também, mas o mundo finge algum interesse por motivos de educação, que eu, no caso, não tenho. Me poupe igualmente das fotos do seu filho todo sujo comendo, pois não é fofo, é desagradável e nojento. Aliás, aquela comida de bebê, que mais se assemelha a um vômito, é desagradável por si só. E, pense comigo, se eu não quero saber nem o que ele comeu, imagina se vou querer saber detalhes do que saiu depois desta refeição…

Pois é, amiga (sim, amiga, porque homem não faz isso). Eu não quero saber da cor, textura ou periodicidade dos excrementos do seu filho. Diarreia? Prisão de ventre? Nada disso me interessa. E a cor? Ahhh a cor… como gostam de falar da cor! Acho caso de lobotomia pessoas que discutem cor das fezes, no dia em que eu for Presidente do Mundo, estas pessoas serão esterilizadas. Seja boazinha, limpe a bunda do seu filho várias vezes por dia sem participar pessoas que não querem saber dos detalhes sobre o evento.

Não quero saber da situação dental do seu filho: se está nascendo o primeiro dentinho, se está com febre ou irritado com isso, se nasceu dente de cima, dente de baixo… Olha, faz assim, se nascer um dente no cu do seu filho, aí sim você por favor me envia uma foto, pois é algo deveras interessante que eu nunca vi, mas gostaria de ver!

Também não quero saber que dentinho está mole, que dentinho de leite caiu, como caiu, como arrancaram e como a Fada do Dente recompensou esta perda. Na boa, acho que alimentar esse escambo da Fada do Dente é um primeiro passo para a banalização do tráfico de órgãos. E, por gentileza, não seja porca nojenta e não mande fazer um colar com o dente de leite do seu filho, é simplesmente asqueroso ter que olhar para esse percentual de sorriso pendurado no seu pescoço. Vamos todos ter bom gosto e dignidade, em nome de um mundo melhor.

Também não quero saber quais desenhos seu filho vê, quais musiquinhas ele gosta ou quais personagens são seus favoritos. Me é profundamente desinteressante. Quero conversar sobre coisas de adultos, que por sinal, é o que somos. Eu quero que a Galinha Pintadinha vire canja, que a Peppa Pig vire bacon no meu sanduíche e que todos os personagens de desenho infantil morram incendiados.

Funciona da seguinte forma: é interessante para a criança, por ela ser uma criança, é interessante para a mãe, por ser mãe da criança e ter interesse em tudo que diz respeito à criança, mas não é interessante para outros adultos que não tem filhos. Mesmo mãe, lembre-se, você é uma pessoa adulta, não viva 24 horas da sua vida em função de assuntos infantis, não se anule como adulto.

Me poupe dos relatórios sobre consultas médicas, pois eu estou cagando para o peso, altura e saúde do seu filho da forma mais solene que se pode cagar para alguma coisa. Sério mesmo, desejo que seu filho esteja bem, mas não force minha boa vontade. Quantos centímetros cresceu, quantos gramas engordou, o quanto está dentro do tamanho padrão para crianças dessa idade, a coloração do catarro que indica se é um resfriado, quantas vezes tossiu, o tipo de remédio que está tomando… nada disso me interessa.

Chega desse overload, tem muita coisa acontecendo comigo e com o mundo para que eu perca o pouco tempo que eu tenho ouvindo sobre a cor da secreção da meleca do seu filho. E, faz o favor, limpe esta porra deste nariz desta criança, de dez em dez segundos, se necessário, que eu não sou obrigada a ver secreção de ninguém. Se eu não vejo do homem que amo nem dos meus pais, não vai ser do seu filho que eu vou querer ver, né? Por um mundo melhor e mais estético, chega de criança com nariz escorrendo.

Uma foto da criança, para ver como ela está, ok. Mas só me mande uma foto quando algo mudar na criança. E por algo mudar, não quero dizer a roupa. Sei que não é o que você quer ouvir, mas seu filho sai com a mesma porra de cara em todas as fotos, quem viu uma, viu todas. Não gaste memória e bateria do meu celular com um book do seu filho, eu o preciso para coisas mais importantes ao longo do dia. Coisas de adulto, tipo trabalho, sabe?

Por favor, mesmo pessoalmente, não me mostre fotos do seu filho diariamente, eu não gosto de crianças, portanto, isso me irrita e me toma um tempo que, para uma pessoa ocupada como eu, é precioso. Pense em algo que você não gosta, um animal, uma comida, qualquer coisa. Pensou? Ok. Agora pense que todo santo dia eu te mostro foto desse algo que você não gosta com diversos adornos: um arquinho de unicórnio, uma toalha de banho de bichinho, uma camiseta de time de futebol. Um saco, né? Pois é, é assim que eu me sinto, goste você ou não.

As horas de sono do seu filho também não me dizem respeito. Ter filhos é ter privação de sono, lide com isso com graça e dignidade em vez de entupir meu ouvido de reclamações, pois foi uma escolha sua. É indiferente para mim de quanto em quanto tempo ele acorda, se mama, se toma mamadeira, se volta a dormir, que horas acorda de manhã. É um problema única e exclusivamente seu. Esta informação não me acrescenta nada, absolutamente nada na vida. E, estou em uma idade e com uma falta de tempo que me obrigam a priorizar informações que me acrescentem algo, pois quero ser uma pessoa melhor, mais culta e mais interessante.

Igualmente me poupe dos malabarismos que você faz para seu filho dormir: o que canta, como nina, onde ele dorme. Me traga conhecimento, não sua rotina. Cólicas? Refluxo? Tudo assunto para se tratado com o pediatra – ou com quem se interesse, que certamente não sou eu. Deixa luzinha acesa para a criança dormir? Dorme na sua cama? Tem pesadelos, faz xixi na cama? Faz o seguinte exercício: me contar algo acrescenta algo útil que eu vá usar na minha vida? Se não, engula a informação e conte para uma mãe, que certamente poderá dar utilidade a tudo que você falar.

Eu não tenho filhos, e não os terei. Portanto, para mim, é totalmente irrelevante e perda de tempo ouvir sobre as suas marcas favoritas de produtos para bebê. Eu não quero saber se a fralda X é a melhor, se o brinquedo Y estimula o desenvolvimento do bebê ou se o leite Z evita cólica e gases. Realmente não me acrescenta em nada, e, na boa? Não é interessante. Está com uma necessidade incontrolável de elogiar algum produto? Manda um e-mail ou telefona para o SAC do fabricante, ao contrário da pessoa que vos fala, eles vão adorar ouvir cada detalhe.

Outra coisa sobre a qual eu não preciso saber: creche e babás. Você não vai querer saber o que eu penso de colocar um filho no mundo para ver no café da manhã e no jantar por cinco dias na semana e só ter tempo no final de semana, então, não me mantenha refém em um diálogo onde eu não posso dar a minha opinião sincera. Quem se ofende com sinceridade deve exercitar não trazer assuntos sensíveis a debate.

Não venha com esse discurso de que a creche é muito boa e que seu filho adora a creche, nunca ninguém vai cuidar dele com o mesmo zelo e estímulo que você faria – e um descuido ou um acidente com crianças podem ser fatais. Você escolheu correr esse risco, mas está em negação sobre ele. Daí, quando você fala sobre deixar seu filho em creche ou com babá/empregada, me coloca no dilema de mentir descaradamente para você (coisa que não quero fazer) ou dizer meu doloroso ponto de vista (que certamente não será bem recebido). Então, converse sobre creche com os pais que colocaram os filhos na mesma creche que o seu, assim, será um festival de validação recíproca: você vai ficar mais tranquila e eu não vou ter meu saco enchido.

Falou a primeira palavra? Filme e mande para o grupo da família no whatsapp, eles vão adorar, não eu. Até porque, verdade seja dita, a primeira palavra de uma criança geralmente nunca é uma primeira palavra, é um ruído ininteligível que os pais forçam a barra para encaixar na palavra mais próxima e comemorar que o filho falou: “Brrrrrrllllllssss” vira “mamãe” em uma cabecinha onde tá rolando uma rave de hormônios. Então, além de não apreciar, eu provavelmente não vou entender a primeira palavra do seu filho. No dia em que eu tiver prazer em ver palavras mal pronunciadas, assisto a um vídeo do Flavio Silvino.

Que gracinha, deu o primeiro passinho? Mas também não me interessa, isso é bastante comum para mim, é assim que eu caminho no dia seguinte em que malho perna, então, não é novidade. Salvo em caso de queda, isto sim é engraçado. Criança caindo, que me diverte, ninguém manda, né? Por mais vídeos de criança caindo de cara no chão no whatsapp!

Pensa aqui comigo: vamos supor que você não ligue a mínima para carros, que ache o assunto chato. Imagina se eu te mandasse whatsapp com frequência com fotos do motor, do radiador, da vela, da suspensão. Não contente, fico falando sobre carro o dia todo, do desempenho de cada peça e do que o mecânico disse: a suspensão precisa ser trocada, a pastilha de freio está gasta e a bateria está ótima.

Agora imagina que, em determinado ponto, você, de saco cheio porém muito educada, não aguenta mais me ouvir falando diariamente de cada detalhe do carro e tenta ser sutil. Diz coisas como “Pois é, eu não entendo nada de carro, eu nem tenho carro, não dirijo…”. Ignorando diversos avisos sutis como esse, eu continuo detalhando diariamente o estado de cada peça, o desempenho do veículo e o parecer do mecânico. O que você pensaria sobre mim? Inconveniente do caralho, chata sem-noção, insuportável, certo? Certo.

Então, por qual motivo eu não posso pensar o mesmo de pessoas que, apesar do meu visível desinteresse, me sujeitam a excessivas e exaustivas informações sobre crianças? Talvez porque se presuma que toda mulher tem instinto maternal e sonha em ser mãe um dia. Não é verdade. Mulheres tem o sagrado direito de não gostar de crianças sem que disso se presuma algo negativo a seu respeito. Eu tenho esse direito. Passou da hora das pessoas que tem filho terem também um certo semancol de perceber que nem todo mundo se interessa e a maturidade de não se ofender quando isso lhes é dito de foram direta.

Por favor, por gentileza, por caridade: eu não gosto de crianças e não tenho interesse em nada que se relaciona a crianças. Se você não sabe falar sobre mais nada que não seja seu filho, faça um favor a nós duas e não fale comigo.

Para perguntar se eu não me canso de atrair a ira materna, para enviar este texto de forma anônima a uma mamãe monotemática e me contar a reação ou ainda para repetir a ladainha de que eu sou má pessoa: sally@desfavor.com


Comments (38)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: