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Zé Droguinha

Zé Droguinha

| Sally | | 67 comentários em Zé Droguinha

Eu sou do tempo em que usuário de drogas era viciado em drogas, o dependente químico, aquele que, por uma doença, não é capaz de se portar conforme se espera na vida em sociedade e que precisa de tratamento. Porém, uma nova figura desponta no horizonte. Hoje, nem sempre é esse o caso. Existe uma figura muito comum que todos nós já encontramos em algum momento da vida: o Zé Droguinha. O Zé Droguinha não tem doença alguma, ele tem apenas falta de vergonha na cara, falta de maturidade e falta de noção. É sobre ele que vamos falar hoje.

O viciado sabe que tem um problema ou ao menos se dá conta de que faz algo socialmente recriminado, tanto que procura esconder a droga e seu uso. Nega, guarda no congelador, joga na privada para os outros não encontrarem. O Zé Droguinha não, ele ostenta o uso da droga e, em alguns casos, é tão demente que cultiva em casa uma pequena quantidade sem utilidade, apenas para ostentar uma suposta bandeira de contestação, mas que basta para que ele seja preso por tráfico e não por uso se um dia for pego, causando uma tremenda dor de cabeça para a família. Ele gosta que o mundo saiba que ele faz uso daquela droga, lhe agrada que associem sua imagem a isso.

O Zé Droguinha não parece ter consciência de que o uso de drogas ainda é crime no Brasil, pois o Zé Droguinha é arrogante e acha que se ele discorda, se ele não vê qualquer problema nisso, é uma lei injusta que ele decide não cumprir. Sim, o Zé Droguinha escolhe qual lei vai obedecer, pois ele se acha acima da justiça por sua condição social e acredita que nunca lhe acontecerá nada. Mais: o Zé Droguinha ainda desmerece quem não usa drogas, são pessoas que, no seu entender, são medrosas, frescas, certinhas (com conotação pejorativa) e não sabem curtir a vida. Mas, às vezes a vida surpreende e o Zé Droguinha acaba encrencado.

Ao contrário de traficante que paga o preço e troca tiro com a polícia, o Zé Droguinha chora feito uma menina quando é preso. Chama pelo papai e pela mamãe, fica caladinho na cela, cabecinha baixa, entra em depressão. Toda aquela pose do Zé Droguinha, com discurso e certezas, só se aplicam para os coitados que o cercam, quando o Estado pesa a mão sobre ele e ele se depara com a realidade reservada a quem faz uso de drogas, colapsa emocionalmente. E só sobrevive porque papai e mamãe pagam o que tem e o que não tem para que ele fique em uma cela melhor, seguro de investidas dos outros detentos e também um bom advogado que, cedo ou tarde, vai tirá-lo dali, já que não há justiça no Brasil e branco classe média sai enquanto preto pobre favelado fica, apesar de cometer o mesmo crime.

O Zé Droguinha é frágil emocionalmente. Se acha o dono da razão, se acha o espertão que nunca vai ser descoberto e, acima de tudo, se acha rebeldão e elite por usar drogas. Mal sabe ele que não existe coisa mais clichê do que criança que não teve suficiente amor ou limites dos pais usar drogas quando adulto para chamar a atenção. Em sua faculdade de humanas ou entre seus amigos hippies, a falta de problema e a vida boa que levam, sem necessidade de ralar trabalhando na chibata de um chefe por 12h por dia lhe permitem o uso recreativo de drogas no meio da semana, enquanto sentam e falam bosta atrás de bosta achando que estão tendo grandes epifanias.

Um usuário, usuário mesmo, de verdade, sabe te dizer exatamente a qualidade da droga que está consumindo. O Zé Droguinha não está nem aí para a droga em si, ele quer o rótulo de usuário, o suposto poder, a suposta pertinência a uma elite que isso lhe confere e a aura de contestação, de diferentão. Eu já vi darem orégano para um Zé Droguinha fumar na frente de todo mundo (sem ele saber) e ele não apenas fumou, como ainda ficou elogiando o material e com comportamento de quem estava fumando maconha. Zé Droguinha pode fumar até bosta de vaca que não está nem aí, contanto que possa ostentar o título de “Fumo Maconha”, para ele está ótimo. Viciado não. Dá orégano para o Pilha e vê o que te acontece.

Zé Droguinha não sobe morro para comprar droga, nem vai a qualquer lugar perigoso, ele é um cuzão e tem medo. Zé Droguinha tem seu fornecedor que manda motoboy entregar a droga em bairro bonitinho, para seu conforto. Drogado sobe morro com televisão nas costas para conseguir mais droga. Zé Droguinha pega a droga com o motoboy e coloca no sutiã da namorada ou entre a meia e o tênis, pega o carrinho que papai deu e vai para casa ou para festinha usar a droga.

Pior: Zé Droguinha leva a droga para dentro da casa onde moram os pais, expondo todo mundo a risco, pois como papai e mamãe sempre limparam todas as merdas que ele fez na vida, cresceu com a falsa sensação de que nunca será responsabilizado por seus erros, na verdade, a falsa sensação de que sequer é um erro, pois se ele quer e se ele acha que não prejudica ninguém, não é um erro, foda-se o que manda a lei, lei é para povão, não para ele, que sabe tudo. Ele é intocável. Quando alguém diz que ele pode ser preso, ele ri, ridiculariza e diz que polícia tem que prender bandido. Não importa que uso de drogas esteja previsto como crime pelo Código Penal, ele miraculosamente, o Zé Droguinha se excluí da categoria de bandido. Apenas quem comete alguns determinados crimes que ele reprova é bandido.

Graças a essa postura, o Zé Droguinha acaba atraindo para si outros Zé Droguinhas. Quem tem que dormir cedo, pois no dia seguinte tem que acordar cedo para executar funções de grande responsabilidade que exigem empenho e atenção, simplesmente não quer ou não consegue acompanhar esse ritmo de vida. Assim, esse aglomerado de Zé Droguinhas se retroalimenta, um reafirmando o que o outro pensa, nessa auto-enganação onde eles são uma elite criativa e inovadora, e não um bando de babacas que não produzem nada relevante para a sociedade. Com o tempo, esses Zé Droguinhas começam a achar que essa vida deles é normal e que todo mundo é assim, que o anormal é ralar pra caralho. Ralador é otário, é escravo do sistema é vendido. Ele esquece que são seus pais, raladores, que pagam suas contas.

O tipo de parceiros que aceitam ficar com um Zé Droguinha são outros Zé Droguinhas ou pessoas carentes, com autoestima baixa, que não se acham merecedoras de parceiros bem sucedidos. Neste caso, os Zé Droguinhas sambam na cabeça dos parceiros, vomitando todo seu elitismo e reforçando sua falsa superioridade, parece que fazem um favor ao outro de premia-los com sua maravilhosa presença.

Lamentável, pois não há nada atraente no Zé Droguinha: fatalmente são molinhos e fora de forma, pois não tem a garra, a disciplina nem a coragem de dar as caras em uma academia (o que eles disfarçam dizendo que não vão se adequar a padrões medíocres de beleza), não são exemplo de sucesso profissional pois não tem o estudo, a disciplina e o senso de sacrifício para lutar por uma boa vaga no mercado de trabalho (no máximo trabalham na empresa do papai, com desempenho medíocre) e também não são lá essas coisas intelectualmente, pois se acham tanto, que acabam estudando bem menos do que precisam.

Enquanto o resto do mundo rala feito um camelo para crescer profissionalmente, ganhar dinheiro e dar conta de suas obrigações básicas, o Zé Droguinha decide, às custas das finanças dos pais, não compactuar com isso. Ele vive de teorias, de achismos, de pensamentos medíocres que, por serem seus, ele presume geniais. Se dá ao desfrute de escolher em quem votar conforme a tolerância que o candidato tenha à droga que ele usa, imaginem vocês, em um país com tantos problemas sérios, o Zé Droguinha prioriza o candidato que vai facilitar sua maconha. E se acha politizadão, O Pensador, O Esclarecido.

Os pais nem tanto, mas as mães sofrem com o filho Zé Droguinha. O eterno coração de mãe, preocupado com os riscos que essa vida pode trazer: medo do filho acabar se viciando nessa ou em outras drogas, medo de ser pego com drogas por policiais truculentos, medo de que não tenha um futuro na vida pois está queimando seus neurônios na juventude intoxicando seu cérebro com substâncias proibidas. Fundados ou não, estes sentimentos são reais. A mãe se preocupa, a mãe adverte, a mãe chora. O Zé Droguinha, em sua eterna postura superior, não dá bola e às vezes até ridiculariza a preocupação da mãe, afinal, ele é foda, ele é espertão, nunca nada de ruim vai acontecer com ele. Conheço tanto Zé Droguinha que acabou preso e passando perrengue…

O mais lamentável é que, socialmente, o Zé Droguinha desfruta de status no Brasil. São vistos como pessoas criativas, disruptivas, artísticas. Muitas vezes, devaneios sob uso de drogas são recobertos de uma falsa genialidade, mais no estilo “o rei está nu”, na base do medo de dizer que está ridículo e parecer que não entendeu o que foi dito. São tidos como excêntricos, espíritos livres e outros eufemismos para o que realmente são: preguiçosos, vagabundos e incompetentes que camuflam incapacidade com contestação.

Estou bem de saco cheio de ver Zé Droguinha sendo aplaudido e valorizado. E você?

Para narrar sua experiência com Zé Droguinha, para se ofender por ser um Zé Droguinha ou ainda para passar a vergonha da sua vida tentando defender que uso de drogas não é crime: deixe seu comentário.


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