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Gênero de trabalho.

Gênero de trabalho.

| Desfavor | | 50 comentários em Gênero de trabalho.

Vivemos numa era onde mulheres trabalhando fora de casa já são a norma, e muitas em profissões impensáveis há algumas décadas atrás. O conceito de profissão de homem e mulher parece cada vez mais vago. Sally e Somir trabalham visões diferentes, os impopulares fazem hora extra para dar suas opiniões.

Tema de hoje: Existe profissão de homem e profissão de mulher?

SOMIR

Seria até mais vantajoso hoje mudar a ordem dos textos. Porque a Sally vai defender a visão moderna mais comum e eu pretendo subverter a ideia. Sim, eu acredito que existam profissões de homem e profissões de mulher. E se você acha que isso é demérito para qualquer um dos sexos, antes mesmo de eu dizer qualquer outra coisa sobre o tema, adivinha de quem é o preconceito?

Difícil não ser um pouco corporativo. Nós normalmente entendemos mais claramente os problemas que também temos, e se eu soar machista com algumas opiniões aqui, lembre-se que ninguém está imune a puxar a sardinha para o seu lado. Se você pelo menos for capaz de analisar a situação depois, já está de ótimo tamanho. E se quiser achar que meu argumento desmerece mulher, não tem muito o que fazer, você não é exatamente o tipo de pessoa com quem eu consigo me comunicar eficientemente. Nem sempre funciona.

É a vida. Mas, sobre o meu ponto: não estou começando do zero aqui, há algum tempo escrevi um texto com meu entendimento sobre a diferença entre salários de homens e mulheres. Os dados normalmente mostram que mulheres ganham menos em média por escolherem profissões que remuneram menos. A análise que fiz ali é que o grande erro era subvalorizar as profissões baseadas em contato e cuidado humano. Mulheres deveriam ganhar de forma equivalente fazendo o trabalho para os quais estiverem mais capacitadas e interessadas.

Vamos tirar isso do caminho: eu não estou dizendo que sou contra mulheres praticarem profissões historicamente masculinas, e nem o contrário. Estou apenas apontando para o elemento óbvio: homens e mulheres fazem escolhas profissionais diferentes, e isso gera um desequilíbrio enorme entre a proporção dos sexos em alguns trabalhos. E também dizendo que forçar uma explicação de pura opressão em cima desses dados é escolher a ignorância.

Homens e mulheres são diferentes, fundamentalmente diferentes. Achar que a sociedade sozinha molda os comportamentos de homens e mulheres é jogar no lixo todas as descobertas cientíticas sobre o funcionamento do corpo e da mente de ambos os sexos relacionados ao que é puramente orgânico. Potencial físico, foco intelectual, capacidade de atenção em detalhes, influências hormonais… isso é algo que nasce com a pessoa. Esse argumento que somos todos iguais e que a sociedade molda homens e mulheres no que são é quentinho e confortável para quem quer se sentir politicamente correto, mas meio que abandona as pessoas que querem trocar de sexo, por exemplo.

Ou nasce com a pessoa, ou não nasce. E se não nasce, estamos chamando todos que querem trocar de sexo de imbecis que fizeram a escolha mais difícil e pagarão um preço enorme por puro capricho? O sexo pode ser biológico e ainda sim permitir variações. Só que na média, menino tem uma tendência enorme a ser menino e menina a ser menina.

Existem estudos mostrando que bebês do sexo masculino e do sexo feminino escolhem brinquedos “equivalentes” meio que automaticamente quando tem a escolha. Mulheres sendo mais focadas em outros seres humanos, homens em coisas que não são humanas. O senso de empatia do homem já nasce pra trás e dificilmente alcança o de uma mulher, mesmo com a mesma criação. Em países super igualitários como Noruega, Islândia e afins, não temos hospitais cheios de enfermeiros e obras de infraestrutura tocadas por mulheres. Inclusive, mulheres acabam escolhendo menos profissões técnicas nesses países, na média. Porque com uma garantia social muito maior, não tem tanta necessidade de lutar pelo dinheiro em profissões mais valorizadas (novamente, onde eu acho que está o grande erro). O que acontece de muito bacana por lá é que a mulher que escolhe ir para uma profissão mais “masculina” consegue subir bem mais fácil na vida se for competente.

Eu defendo que existem profissões de homens e mulheres porque é um dado estatístico verificável. Tem profissões que homens simplesmente não conseguem exercer, tem profissões que mulheres simplesmente não almejam conquistar. Você acha que o mercado de babás masculinas tem potencial? Você já viu uma mulher limpando fossa? Sim, existem preconceitos em ambos os casos que reforçam as diferenças onde elas não precisariam existir, mas quando a mulher decidiu que ia trabalhar em escritórios assim como os homens, o preconceito enfiou o galho dentro, porque se um grupo suficientemente grande de pessoas resolve fazer algo do tipo, consegue! Hoje mulher é uma visão comum em qualquer trabalho que pode ser feito num computador. Não era. Mas o mundo, machista como fosse, não conseguiria segurar isso.

Uma coisa é dizer que um indivíduo pode mudar a lógica comum ao seu gênero e trabalhar numa boa em uma área dominada pelo outro, outra é dizer que a imensa maioria das profissões que atendem aos anseios genéticos de homens e mulheres estão tomadas por um ou outro gênero por puro acaso. Oras, é claro que existem profissões de homens e de mulheres. E isso não quer dizer que elas devam ser exclusivas, mas que é até contraproducente fingir que isso não existe só para dizer que vê o mundo de forma igualitária. Somos diferentes. Essa diferença é tão genética quanto social. Em média, homens são ruins em profissões de mulheres e vice versa. E não é à toa que cursos de enfermagem estão cheios de mulheres e de engenharia cheios de homens, tem um componente genético poderoso sobre empatia e senso mecânico nos sexos que cria a distorção. E não tem nada de errado nisso.

Se continuarmos com essa conversa mole que todos somos idênticos e que todo anão pode jogar basquete profissional se quiser muito, vamos continuar vendo um mundo desigual e sem sentido. Teimando em colocar peças quadradas em buracos redondos… quer resolver as diferenças de salário entre homens e mulheres? Paguem mais nas profissões que elas mais são inclinadas a seguir. Somos diferentes em capacidades, mas somos todos humanos. Direitos humanos iguais, gêneros diferentes. Simples, né?

Para me chamar de machista (nemli), para dizer que seu exemplo pessoal muda a tendência histórica de toda a população mundial, ou para dizer que querer é poder (querer): somir@desfavor.com

SALLY

Existe profissão de “homem” ou profissão de “mulher”? Não, né gente? Que bosta que precisemos estar aqui discutindo isso…

Antes de alguns avanços tecnológicos até poderia ser discutível a limitação de sexo para algumas profissões, mas hoje em dia? Tanto homens como mulheres podem exercer a profissão que quiserem.

Exige força? Beleza, a mulher vai ter que se capacitar. Um belo exemplo é a prova física para concurso de delegado de polícia, que requer preparo físico e uma certa força. Conheço mulheres que contrataram um personal, se exercitaram e passaram sem problemas. Durante o exercício do cargo continuaram treinando para ter a força muscular necessária para atirar com uma arma pesada e vão muito bem obrigada. Nada de mais, em todo trabalho você precisa de algum preparo e dedicação para que seja bem executado ou alguém nasce médico, sabendo costurar gente com perfeição?

Será que existe um ponto em que, independente do preparo, uma mulher não é capaz de chegar? Ou de desempenha o trabalho com a mesma competência de um homem? Olha, eu duvido muito. Bota para carregar pedra (que por sinal, nem profissão é) o Somir e a Gracyanne Barbosa e me diz quem é a mulherzinha. Sem contar que trabalhos manuais estão cada vez mais em desuso, ninguém vai construir uma pirâmide carregando pedra nos dias de hoje. Existe guindaste, grua, retroescavadeira. Vale mais saber operar uma máquina do que ter força física.

Obviamente existem alguns casos onde restrições físicas barram candidatos, mas nesses casos, barram mulheres e também homens. Quando se requer uma certa altura, um certo peso ou qualquer outro atributo específico quem não o atende ficará de fora, mas isso independe de sexo, existem homens e mulheres de todos os tamanhos e pesos.

Ainda que existam tendências genéticas, isso é muito pouco para classificar profissões como sendo masculinas ou femininas. Por nascer homem ou mulher você não está geneticamente determinado a nada, pode desenvolver as habilidades que quiser e se tornar muito melhor do que quem eventualmente nasceu com uma facilidade para aquilo. A melhor bailarina nem sempre é a que nasceu com um alongamento e equilíbrio superior ao da média. O melhor motorista nem sempre é aquele que nasceu com os reflexos acima do padrão. Eu acredito mais no esforço pessoal de cada um do que nas aptidões que vem de fábrica.

Na verdade, não é raro que aconteça justamente o oposto. Quem tem uma aptidão natural para aquilo muitas vezes não se esforça tanto e acaba sendo pior do que quem precisou ralar muito para chegar lá. Aliás, fica aqui um questionamento para o qual eu mesma não tenho resposta: como saber se homens e mulheres não tem outras aptidões além das clássicas, que não foram descobertas por eles não exercerem atividades que demandem essas áreas?

A genética está sendo superestimada neste caso. Nem sempre por ter uma suposta aptidão genética para algo relacionado à profissão ela fica mais fácil de desempenhar. Vocês acham que eu seria melhor trabalhando com educação e ensino de crianças ou com treinando um atleta? Meus genes femininos podem até dar algum empurrão para a primeira opção, mas isso é completamente inútil quando você não tem a menor ideia de como lidar com uma criança. Você faz bem aquilo que você ama, pois mergulha de cabeça, se aprofunda, estuda, pratica e se aprimora. Nada deixa uma profissão mais fácil do que ter prazer em exercê-la. Seu empenho naquilo que você faz é muito mais determinante para o sucesso do que DNA. Genética é apenas uma tendência, esforço e dedicação é que fazem a diferença no saldo final.

Durante séculos homens foram os provedores, executando tarefas que demandavam força bruta e visão focal, enquanto mulheres cuidadoras, executando tarefas que demandavam empatia e visão periférica. Normal que depois de milênios desenvolvendo esse perfil homens tenham mais aptidão para algumas coisas e mulheres para outras. Não discuto isso. O que discuto é que porque as coisas estão assim, tenham que continuar assim.

Aptidão não é determinante para se classificar uma profissão como sendo “de homem”, existem mulheres que a executarão muito melhor do que eles e que tem total capacidade para isso. O mesmo vale para as profissões “de mulher”. Tenho certeza que o Chester cuida de crianças muito melhor do que eu, que tenho útero. A aptidão é um bônus que você recebe no começo da partida, mas o grosso da sua pontuação final depende do seu esforço durante o jogo. Então, é seu esforço durante o jogo que deve ser usado como critério de classificação, não seu sexo.

Além disso, nada impede que uma mulher use suas aptidões aplicadas a “profissões de homem” e vice versa. Na verdade, pode ser um diferencial. Se eu tenho uma empatia maior, consigo avaliar o que os outros estão sentindo melhor apenas por sua linguagem corporal, posso ser uma excelente gestora de pessoas ou talvez uma ótima médica que diagnostica pacientes com muita precisão. Se um homem tem uma noção espacial melhor e mais força, isso pode ser o grande diferencial para que ele seja muito bem sucedido como bailarino. Não é a ferramenta que você recebe que determina sua função e sim a forma como você decide utilizá-la.

Deixar que a genética tenha qualquer peso na escolha da profissão é bizarro. Engenharia não é profissão de homem, é profissão de quem gosta de engenharia. O fato de existirem aptidões não torna aceitável a classificação de profissões como sendo “de homem” ou “de mulher”. Não existe uma profissão na qual homens ou mulheres sejam excepcionalmente bons e o sexo oposto seja apenas uma rara exceção em bom desempenho. O que existem são profissões onde, culturalmente, determinado sexo não se aventura, não por incapacidade e sim por questões sociais.

Sério, desnecessário discutir esse tema, né?

Para reclamar com o Somir sobre o tema, para dizer que homem não pode ser ama de leite como se isso fosse profissão ou ainda para dizer que no Brasil tanto faz já que todo mundo tem aptidão para jeitinho: deixe seu comentário.


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