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Está escrito.

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| Desfavor | | 31 comentários em Está escrito.

8 anos de desfavor. Mais um aniversário, mais uma semana temática onde o foco somos nós mesmos. Depois de tanto tempo, o mundo e o desfavor mudaram: fomos buscar inspiração no nosso passado para reescrever textos com uma visão mais atual sobre os temas. E já começamos com o pé esquerdo: Sally e Somir já fizeram esse mesmo tema no passado, na mesma condição, mas mudaram de lado.

Tema de hoje: quem escreve os melhores textos do desfavor, Sally ou Somir?

SOMIR

Da última vez que eu respondi essa pergunta, não tive dúvidas: era a Sally. E essa foi minha visão quase que na totalidade da existência do desfavor, pelos motivos citados ali: ela é mais objetiva, mais empática, mais… humana, no quadro geral. Sobre isso eu não mudei de ideia. Mas são muitos anos de desfavor, e até mesmo o contexto do que é um texto melhor vai se modificando com o tempo. Daquela vez foi Sally, mas sabem do que mais? Agora eu entendo melhor o desfavor e acredito que eu mereço o voto.

Afinal, ninguém – muito menos eu – precisa tirar as qualidades dos textos dela para concordar com minha escolha aqui. Até porque “melhor texto” é uma definição perigosamente subjetiva. Melhor texto é o que você mais gosta? Ou é o que mais te acrescenta? Ou… outra coisa completamente diferente? Num caso desses, faz bem definir um contexto para fazer a análise. E por consistência, tentarmos nos ater a ele até o final.

Pois bem, se precisamos de um contexto para definir o que é melhor, eu faço minha proposição: o melhor que o desfavor tem a oferecer é sua singularidade. Na prática, somos um blog sobre tudo, ao mesmo tempo. Sociedade, política, cultura, humor, baixaria, ciência… do grotesco ao erudito, sete dias por semana. Se formos analisar friamente, o desfavor flerta com a “síndrome do pato” todos os dias: anda, nada e voa, mas não faz nada disso muito bem. Queremos fazer tantas coisas diferentes aqui que é óbvio e compreensível que gente mais focada vai acabar sendo melhor do que a gente.

Bacana entrar aqui pra ler um texto humorístico, mas comediantes fazem melhor. Se você quer notícias e análises políticas, deve saber que somos essencialmente opinativos e não jornalistas especializados nisso… se está procurando novidades e curiosidades, somos extremamente mais lentos que as redes sociais. Somos generalistas por definição. E até nisso um portal de internet ou uma rede de blogs com vários funcionários vivendo disso podem fazer um trabalho melhor. Mas, não importa o que façam melhor em especificidade ou em volume de conteúdo produzido, ninguém mais enxerga o mundo como o desfavor. Sally, eu e vocês, impopulares. Não é sobre os detalhes ou sobre o quadro geral, é o ponto de vista único que se forma aqui.

Dito isso, pode até parecer que eu estou erodindo minha base, porque Sally ganha de goleada na variação dos temas abordados, e também costuma emitir opiniões bem mais palpáveis sobre suas visões de mundo. Pois bem, apesar de tudo isso, defendo os meus textos como melhores no contexto da singularidade. Os textos da Sally são muito bons, mas tendem a ser únicos apenas na medida da abordagem que ela faz dos temas. Sally, para o bem ou para o mal, é consideravelmente mais previsível do que eu. Inclusive dentro do próprio texto: você sabe o que vai acontecer, mas quer ver ela desenvolvendo… seja com humor, fúria ou até mesmo uma doçura compreensiva eventual.

O desfavor seria impossível sem a estrutura que ela traz, mas eu acredito que contribua mais para fazer deste blog um lugar mais único na internet. A regra de ouro não existe à toa: se qualquer um de nós sair, a proposta toda fica manca e o desfavor vira outra coisa completamente. Mas nessa mistura, meus textos são os melhores para cumprir o papel de nos tornar suficientemente diferentes no quadro geral. Eu frequentemente escolho temas com base em coisas que acredito que mais pessoas deveriam “perder tempo” pensando. Sim, “perder tempo” mesmo. Porque no mundo de hoje a disputa por atenção é tão grande que está todo mundo berrando na sua orelha com as propostas mais atraentes baseadas em pesquisas de mercado.

Eu estou cagando para o que é popular ou para o que eu acho que você precisa saber naquele exato minuto. Eu escolho temas e abordagens focadas em disseminar conteúdo que eu SEI que é difícil de conseguir com qualquer grau de qualidade por aí. Sally pesquisa e capricha pra passar informações confiáveis e fazer melhor do que a maioria (e consegue), eu faço tudo meio errado mesmo, mas no final do meu texto eu espero que pelo menos você tenha pensado em algo completamente alienígena à sua vida cotidiana, ou que tenha considerado alguma conexão entre ideias que te pareça maluca. Eu não tenho dó de desperdiçar seu tempo para ler um texto que termina sem conclusão, por exemplo, porque eu quero mesmo ver esse circo pegar fogo. E quando eu quero passar um ponto através de uma história ficcional, azar de todo mundo: vai ser assim. Se entenderem que todas as histórias tem uma análise e uma opinião, ótimo. Se não, bola pra frente.

Você pode achar chato, pode achar presunçoso, pode até mesmo achar uma maluquice sem pé nem cabeça, mas até mesmo pelo meu processo habitual de criar o texto enquanto ele está sendo escrito eu te garanto que você não vai achar versão melhor ou pior dos meus textos por aí. Concordando ou não com as conclusões (quando existem), eu aposto que pelo menos uma vez você leu um texto meu e ficou pensando no que diabos eu estava usando quando escrevi. No porquê de uma conexão, no significado de uma frase… eu posso ser obtuso mesmo, mas não é pelo prazer de alienar: é uma forma de comunicação que eu acredito que está desaparecendo na mídia moderna. Um mercado pouco explorado profundo o suficiente para trazer pontos de vista que você não vai ver ninguém “perdendo tempo” de escrever nessa corrida maluca por cliques e visualizações, mas superficial o suficiente para não cair no puramente filosófico ou técnico (e por incapacidade minha mesmo).

Eu me sinto mal escrevendo isso por um motivo: não fosse a preocupação da Sally em dar toda a base de atração e relevância prática do desfavor, eu jamais teria liberdade e até mesmo plateia para fazer o que faço. De uma certa forma, eu só posso escrever o que considero os textos que mais definem a singularidade do desfavor porque a Sally está incentivando vocês a me lerem… se você usar a ideia de que o melhor texto é o que te faz voltar todos os dias, escolha ela. Mas, se você, assim como eu, achar que o melhor é o que nos mantém suficientemente “estranhos” nesses últimos 8 anos para manter uma identidade completamente única na internet (e esse orgulho eu tenho aqui), provavelmente vai concordar comigo.

Mesmo se você gostar mais de ler os textos dela. Maluco, não? Coisas do desfavor…

Para dizer que eu me vendo mal para um publicitário, para dizer que eu chamei os textos da Sally de genéricos (dai-me forças, Zodraz), ou mesmo para dizer que adorou que a comemoração começou com briga: somir@desfavor.com

SALLY

Só muda de ideia quem as tem. Nesta quarta-feira dia 23 o Desfavor completa oito anos e, para comemorar, decidimos fazer um exercício interessante: rever alguns textos antigos. Eu me sentiria muito babaca se, oito anos depois, pensasse exatamente as mesmas coisas. Quero me desdizer sempre, pois é sinal de que estou evoluindo. E hoje venho discordar de mim mesma quando, em 2013, disse que o Somir escrevia os melhores textos do Desfavor. Foi mal, hoje acho que sou eu.

Hoje eu acredito que os melhores textos são aqueles que entregam o que se propõe a entregar e, dentro da proposta de entrega do Desfavor, eu me saio melhor. Acho preferível um texto sobre um assunto simples, sincero e honesto, que deixa claro a que veio, que de fato te explica o conteúdo, que te acrescenta informação do que um texto sobre um assunto rebuscado escrito de uma forma que não torna sua leitura uma diversão e demanda esforço para fixar o conteúdo. O bom texto é aquele que você lê e, sem perceber, o conteúdo “escorrega” para dentro da sua cabeça. O mundo mudou, o excesso de trabalho, de estímulos, a escassez de tempo não permitem mais esse estilo pouco prático do Somir.

Estamos na era da informação fácil, rápida e condensada. Falta de tempo, excesso de estímulos. Tudo tem que ser dinâmico, o mais sintético possível conservando o máximo de profundidade. Não dá mais para fazer cinco parágrafos introdutórios. Se você precisa de cinco parágrafos introdutórios, talvez o assunto devesse estar mais amadurecido na sua cabeça antes de virar texto. Somir não amadurece nada (nem ele mesmo) nunca. A coisa brota na sua cabeça na véspera da data de publicar o texto e ele passa para o papel no improviso. Ele o faz bem feito? Sim, se fosse eu a fazer o mesmo ficaria uma bosta, mas, ainda é improviso. Falta de planejamento dá nisso. Ele desenvolve suas ideias enquanto as escreve, eu as desenvolvo na minha cabeça e entrego tudo pronto e organizado.

Eu pesquiso. Eu pesquiso muito. Às vezes um texto meu demora semanas de pesquisa para sair. Somir não pesquisa, porque né, ele acha que sabe tudo. Por isso os textos dele geralmente caem para o lado de contos de ficção ou análise social, sempre assuntos que ele domina e que teve muitos inputs. Na verdade, quem escreve dois textos com conteúdo prático por semana sou eu, ele escreve um texto e um Des Contos, que é legal mas é puro lazer, na sexta. Um ego privilegiado, né? Não que os contos sejam ruins, são interessantes, mas… oi? Você não é tão importante para gastar 50% do seu conteúdo com obras de sua autoria, nem eu que sou roteirista faço isso! Na minha cabeça eu sempre vou achar que é mais útil para as pessoas saberem sobre algo como doença ou dicas de mercado de trabalho do que ler uma história que eu criei.

Variedade é a melhor política em um blog de conteúdo enorme como o nosso, assim tem sempre a la carte textos sobre tudo no nosso banco de dados. Isso é um reflexo do estilo de vida de cada um de nós, enquanto eu tendo obter o máximo de inputs diferentes, Somir é um elitista antissocial que sempre bebe das mesmas fontes. O resultado é esse: meus outputs são muito mais diversificados. Meus textos acabam sendo muito mais eficientes para alimentar os leitores com o que eles precisam para sobreviver (saúde, mercado de trabalho, polêmicas, etc). Já os textos do Somir te preparam muito bem… para mundo nerd. No dia que fundarem a Nerdlândia, certeza que os textos dele serão ensinados nas escolas. Até lá, é apenas lazer.

Reparem que quem comenta nos textos do Somir é sempre uma panelinha nerd-elite. Nos meus vem de tudo, fã de gato, marombeiros, gestantes enfurecidas, gente puta com vizinho, mulher em crise no relacionamento. Não são classes, não são grupos homogêneos de pessoas, são pessoas de todas as procedências que vem aos textos movidas por um denominador comum: intelectuais, nerds, populares, mães solteiras, freiras, viúvas, ricos ou Testemunhas de Jeová: todos podem ter medo de lagartixa e interagir sobre isso. Meus textos são para todos, meu nicho é por assunto, não por castas. Muitos dos meus textos unem tribos, raças e religiões, trazendo diversidade ao Desfavor.

Também faço com regularidade textos que ajudam as pessoas. Não me refiro apenas aos óbvios como a série sobre primeiros socorros ou sobre direito. Textos como o Desfavor Explica de 2009 sobre Assexuados ajudaram muita gente a se reconhecer e até a conhecer outras pessoas que se sentem como elas (spoiler: gerou casais em pessoas que estavam absolutamente solitárias e descrentes). Uniu pessoas que estavam separadas se sentindo como aberrações. Pelos meus textos pessoas perceberam que poderiam ter TDAH, depressão, transtorno bipolar ou então que era comum se sentir mal durante a gestação. Em tese, eu não precisaria escrever pensando em fazer o bem. Podia fazer do blog uma egotrip e escrever apenas o que me viesse à cabeça. Mas eu me dou ao trabalho de pesquisar e tentar contribuir com informação quando a considero necessária, ao contrário do Somir, que só o faz quando a considera interessante.

Mais um fator: um texto do Desfavor não é apenas a minha parte. É a troca. Muitas vezes a melhor parte do texto são os comentários. Eu respondo comentários desde sempre, enquanto Somir não responde (perceberam que durou pouco essa fase, né?) ou responde para dizer que quem discorda dele é burro. Depois de oito anos lidando com qualquer pessoa do mundo que decida interagir comigo, seja para elogiar, seja para xingar, acho que posso dizer que isso me deu uma percepção melhor do leitor, o que me permite escrever melhor para ele. Eu escuto o leitor, tenho uma troca diária com ele, isso me ajuda a perceber onde estou errando e onde estou acertando, o que é fundamental para que eu consiga aprimorar minha escrita. Evoluir sem feedback é muito improvável.

Assim como o autor, os textos do Somir são frios, distantes. Não quer dizer que sejam ruins, quer dizer que não apelam para o lado humano dos leitores. São textos que informam, que acrescentam mas… dificilmente emocionam. Provocar emoção escrevendo é difícil: fazer rir, fazer chorar ou apenas inflamar algo dentro da pessoa em matéria de sentimento sem que ela te conheça, sem que ela veja seu rosto, escute seu tom de voz ou veja sua linguagem corporal. Mesmo quem não gosta de mim acaba tendo emoções despertadas (geralmente bem passionais). O que posso fazer? Eu tenho esse dom lindo de aborrecer as pessoas. Em um mundo predominantemente virtual de aparências, acho muito necessário uma escrita que tire as pessoas da sua pose e resgate emoções. Hoje o mundo precisa disso.

Acredito que o mundo ficou tão chato, problematizado e pseudo-intelectualizado que o meu “feijão com arroz”, básico, honesto e direito hoje se tornou melhor do que a problematização truncada dos textos do Somir. O objetivo aqui sempre foi claro: trazer um novo ponto de vista, fazer o que mais ninguém faz, concentrar tudo que você precisa saber para estar seguro e atualizado em uma única fonte, uma revista diária que peneira e sintetiza o que você precisa para estar atualizado e sobreviver nesse mundo. Quem te oferece isso de forma mais eficiente, meus textos ou o único texto semanal do Somir + o Des Contos?

Para dizer que acordamos arrogantes hoje, para se surpreender com a idade do Desfavor ou ainda para dizer que ambos são uma bosta: deixe seu comentário.


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