
As pedras do meu caminho – Parte 7
| Sally | Des Cult | 10 comentários em As pedras do meu caminho – Parte 7
CAPÍTULO 17 – A BUSCA DA CURA ATRAVÉS DE RELIGIÕES
Durante muito tempo o Pilha buscou uma cura para sua dependência química em religiões. Frequentou a igreja católica, centro espírita, candomblé, igreja messiânica e evangélica. Se você precisava de mais algum motivo para ser ateu, taí.
Obviamente nada “resolveu” o problema e o próprio Pilha desistiu de religiões. Acredita em Deus, mas diz bater um papo direto com ele, sem intermediários. Bem, talvez alguns alucinógenos o tenham ajudado a visualizar Deus de uma forma um pouco mais concreta, mas, em todo caso, ele é bem claro ao dizer no livro que religiões não o salvaram.
Porém, ele conta que tem uma “mediunidade explícita”, o mantra de quem quer se achar especial. Uma vidente confirma: “a mediunidade dele aflora o tempo inteiro, ele tem um grau de vidência e audição muito grande. De 2015 a 2037, querendo ou não, precisará trabalhar essa força espiritual, só assim sua vida vai engrenar, caso contrário seus caminhos continuarão sendo cortados. Na verdade ele nasceu quatro anos antes do seu espírito estar pronto para reencarnar, não queria voltar a este planeta, mas foi obrigado. Por isso veio desesperado e cheio de conflitos. Também deveria ter desencarnado em 2000, quando a Terra lhe deu um chacoalhão para ver se ele estava maduro para entrar em um resgate de vivência- mas sua fé em Deus o salvou”.
Otimismo da moça em achar que o Pilha passa dos 60 anos de idade. Torço por isso, aliás, por mim o Pilha podia ser imortal ou então poderiam fazer dezenas de clones dele para alegrar e melhorar a humanidade. Cada bairro deveria ter seu Pilha. Toda cidade deveria ser obrigada a ter um Pilha como Prefeito. Seria lindo ver os Clones Pilhas se unindo e fazendo merdas coletivas. Porém, temo que ele não tenha muito tempo mais para desenvolver sua mediunidade. Aliás, achei meio agouro dizer que os caminhos do Pilha continuarão sendo cortados. Que porra de religião é essa que te sacaneia se você não fizer o que ela quer? Aliás, bem mal organizada essa religião, que manda um espírito para a Terra antes dele estar pronto. Tinha que ser brasileira mesmo.
O próprio Pilha admite sua mediunidade: “Até hoje me incomoda entrar nos lugares e enxergar a aura das pessoas. Não tenho controle sobre isso”. É, Pilha… esse é o preço que se paga por anos e anos de drogas pesadas, ver a aura, ver elefante rosa, ver vaca voadora. A ciência explica esse tipo de alucinação tardia, mesmo anos depois de parar de usar drogas. Eu também veria a aura das pessoas se tivesse usado tudo que o Pilha usou.
Durante algum tempo Pilha foi fiel seguidor do Padre Marcelo Rossi, que hoje está mais na merda que o próprio Pilha. Acho mais fácil o Pilha salvar o Padre Marcelo do que o contrário, o religioso está parecendo uma caveira de peruca. Teria o Pilha dado tanto trabalho que exauriu o Padre Marcelo Rossi, deixando-o nesse estado, pesando apenas 20kg?
A religião onde Pilhão permaneceu mais tempo foi a evangélica. Em seu relato sobre seus tempos de evangélico, o Pilha tentou ser delicado para dizer o quanto é charlatanismo, mas, sabe como é, mesmo sendo delicado, ele é mais incisivo do que todo nós: usa termos como “lavagem cerebral” e “bitolado”. Encerra seu relato com esta frase: “Convivendo no meio, também acabei descobrindo alguns podres e isso me levou a procurar novos caminhos”. Quando uma pessoa que já foi presa por sequestro e por se passar por agende do DENARC e que tripudia do delegado por não ter visto que ele tinha uma arma de numeração raspada condena “podres”, imagina o tamanho da podridão.
Fica a dica: se nem um ser humano notável e muito acima da média como nosso Pilha recebeu uma cura, um alô divino, um atalho, não vai ser a gente, bando de Zé Ruela, que vai receber. Se vira sem contar com isso.
CAPÍTULO 18 – A PRISÃO POR UM REAL
Este capítulo relata a primeira prisão do Pilha, que marcou também o início da sua derrocada pública: quando ele foi preso por causa de um real. A história contada por ele é bem diferente da história contada pela imprensa.
Pilha estava morando na rua e vagava em busca de drogas. Estava sem dinheiro, muito doido e desesperado por crack. Decidiu pedir esmolas e se aproximou de um aposentado que andava pela rua. Talvez pelo efeito das drogas ou pelo seu aspecto de mendigo, acabou assustando um senhorzinho que abordou pedindo dinheiro e acabou levando um empurrão. Eu visualizo o pilha doidão invadindo o espaço pessoal do idoso e gritando coisas como “Me respeita!”. Não se sabe o exato teor da inconveniência pilhal, o fato é que o aposentado deu-lhe um empurrão.
Por mais fragilizado (ele estava pesando apenas 47kg), drogado e fodido que estivesse, era o Pilha. Não se empurra Rafael Pilha. Eu, que sou abusada, não teria coragem de empurrar Rafael Pilha. O que o Pilha fez? Ele foi lá e empurrou o aposentado de volta! Com o Pilha é assim! No meio dessa troca de gentilezas, um policial à paisana que passava viu um drogado com aspecto de mendigo empurrando um idoso e resolveu se meter: sacou uma arma e mandou o Pilha ir embora dali.
Diante da ameaça o Pilha se retirou e continuou sua saga de mendicância para conseguir comprar crack. Dois quarteirões mais pra frente, abordou duas moças com a sinceridade que lhe é peculiar: disse que precisava comprar drogas e pediu dinheiro. Surpreendentemente, as moças decidiram colaborar e ajudar Pilha a comprar drogas. Deram um passe (vale transporte) e um real. Logo depois foi abordado por uma viatura da polícia, que havia sido acionada pelo policial à paisana, informando que havia uma pessoa praticando assaltos no local.
Os policiais abordaram o Pilha de forma truculenta. Além da prisão, também estavam determinados a bater nele, mas antes de começar um deles percebeu que estavam prendendo uma pessoa famosa. Acharam melhor não espancar o Pilha, porque né, ia ter imprensa e ia pegar mal. Ligaram informando que estavam “prendendo um Polegar”, esperaram toda a imprensa chegar na delegacia e levaram o Pilha para lá sacaneando ele no caminho: “Riram muito da minha cara, fizeram chacota com a minha aparência e perguntaram ‘você está pronto para o show?’”. Por mais que o Pilha conte isso com o pesar de uma criança que é sacaneada pelos colegas no colégio, até que ficou bem barato, podia ter sido muito pior. Naquela noite Pilha aparecia sendo preso, todo mendigão, no Jornal Nacional.
Na delegacia, Pilha foi bem tratado. A delegada pediu que ele assine papéis para sua “liberação”, fazendo-o acreditar que era só uma formalidade para soltá-lo. Pilha, ainda muito doido de crack, assinou. Acontece que o que ele estava assinando era uma confissão de dois assaltos a mão armada, que mais tarde seria desmentido pelas testemunhas no julgamento.
Depois se fazer essa cagada, obviamente o Pilha continuou preso. Mas isso não abalou sua moral! Ele continuou na ativa! Ao receber a visita de um amigo que lhe perguntou do que ele estava precisando, respondeu “de um baseado”. Maloqueiro pride! Pilha é assim, sempre dando um jeito de ousar um pouco mais. Ousadia e alegria, pedindo drogas de dentro da cadeia, porque né, tava pouco acusação de dois assaltos a mão armada!
O modus operenadi Pilha continuou. Ele estava preso, mas não estava morto! Um programa de TV conseguiu se infiltrar e ter acesso ao Pilha. No palco, os outros Polegares chorando, a plateia comovida e quando foram falar com o Pilha, ele pediu no ar um cachê de divulgação de dois mil reais, já que o grupo Polegar só estava lá por causa dele. A pessoa quando tem tino comercial consegue ver oportunidade em qualquer situação! Desabafo emocionado é para os fracos, quando colocam uma câmera no nariz dele, ele vai lá e pede cachê. Tenho muito que aprender com esse ser humano maravilhoso.
Para piorar a situação do Pilha, surgiu uma nova acusação. Um cabo da polícia militar foi à delegacia e disse ter reconhecido o Pilha pela TV durante sua prisão, acusando ele e mais duas pessoas teriam roubado um revolver seu e seis mil reais dias antes. Pilha nega, como sempre, sincerão: “Se tivesse roubado seis mil reais não estaria na rua pedindo um real, estaria morto por overdose”. Não me perguntem como o Pilha sabe o que fez e o que não fez, já que estava doido de crack, mas ele sabe. Até acredito que ele não estivesse com esse dinheiro, pelos motivos que ele mesmo deu, mas como ele vivia apanhando dos drogados e tinha seus pertences tomados, nunca saberemos se esse assalto existiu ou não.
No dia seguinte à prisão, os outros integrantes do Polegar foram visitar o Pilha na prisão, cercados pela imprensa. Ficaram esperando, mas ele se recusou a recebê-los, criando um grande constrangimento para eles, diante das câmeras. Os Polegares disseram à imprensa, constrangidos, que compreendiam que ele não quisesse ser visto naquele estado, mas o Pilha tratou logo de desmentir: “Eles nunca gostaram de mim e agora querem se promover às minhas custas”. Preso sim, falso jamais. Sincerão atrás das grades.
Adivinha se Dona Sylvia foi à delegacia ver o filho? Claro que não! O motivo? Era o primeiro dia dela em um trabalho novo. Né? Prioridades! Bastava seu patrão ligar a TV para ver um motivo fortíssimo para um atraso ou falta, mas não, Dona Sylvia foi trabalhar. Mas Dona Sylvia ligou, né? Ela tem essa coisa forte de maternidade telefônica que a gente já conhece. Ligou e pediu que o filho não dê entrevistas. Parece que ela não conhecia a peça… No mesmo dia Pilha convocou uma coletiva de imprensa na delegacia. Obviamente com esse conjunto de atitudes o Pilha se complicou mais e mais e o que seria um evento para liberação em 24h acabou se complicando.
Pilha ficou em uma cela de 16m² com mais 20 pessoas, entre elas, traficantes, ladrões e assassinos. Para sua sorte, foi tratado como um ídolo, os presos lhe deram desde um colchonete até comida de suas marmitas. A dominância do Pilha era sentida pelo mais alto escalão da criminalidade, todos abaixavam a cabeça para o líder. Liderar Alex, Alan e Ricardo Chupa Rola é moleza, mas liderar a bandidagem não é para qualquer um!
A precariedade da cela era total. Fazia um calor infernal. Não havia espaço para que todos deitem ao mesmo tempo, tinham que se revezar na hora de dormir. A situação estava feia para o lado do Pilha. Ele abaixou a cabeça? Não, ele não abaixou a cabeça. Continuou sincerão e estrategista. Mês que vem vocês saberão como.
Para dizer que mulher que prioriza profissão é empoderada, para dizer que a condenação do Pilha foi obra da mídia golpista ou ainda para perguntar porque eu não transformo o livro em roteiro de filme e mando para o Pilha: sally@desfavor.com
Qual o problema de Pilha ficar em uma cela com traficantes, ladrões e assassinos? Estava em casa! E deveria ter chegado na delegada para não parar lá. Se ele estava mendigão na rua provavelmente estava a um tempo se sexo.
Não sei como ele não pensou em cantar em uma praça para conseguir uns trocados.
Eu pagaria fácil para o Pilha passar o dia cantando para mim, me acompanhando onde quer que fosse: no trabalho, na academia, no restaurante… sempre o Pilha ao lado cantando Polegar!
Se esse livro daqui a algum tempo virar filme, quem seria um bom ator pra fazer o papel do Pilha? E imagino que não vá mesmo demorar muito pra sair daí uma cinebiografia, pois se estão fazendo até uma do Bozo, outro ícone dos anos 80 com a vida toda cagada… No caso do filme do Bozo, os nomes foram modificados, mas as referências às pessoas, lugares e fatos reais ainda estão todas lá, quase que sem disfarces. Talvez o mesmo expediente pudesse ser adotado num filme sobre o Pilha, não?
Eu acho que tem que dar nome, lugar, data, tudo de verdade. O Pilha sempre foi transparente e jogou todo mundo na roda, não seria a cara dele um filme mais discreto.
Para ator, eu acho que tinham que chamar o James Marsden
Pilha tá perdendo tempo. Já deveria ter lançado sua candidatura política.
Ele tentou, alguns anos atras… mas acabou preso no meio do caminho. Pessoa maravilhosa!
Triste que existam várias Sylvias e Sylvios criando Pilhas por aí…
Triste é que as crias deles não se tornem iguais ao Pilha.
eu amo rafael pilha
Eu também, Camila. Com todas as minhas forças.