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Fácil pra quem?

Fácil pra quem?

| Desfavor | | 17 comentários em Fácil pra quem?

Que não está fácil pra ninguém Sally e Somir concordam, mas quando falamos sobre relacionamentos amorosos, os dois discordam sobre quem está pagando o maior preço. Os impopulares se comprometem ou não a dar sua opinião.

Tema de hoje: o que é mais sofrido, namorar ou galinhar?

SOMIR

Namorar. Talvez seja uma questão vista diferente entre os sexos, mas do lado de cá, eu não posso tapar o sol com a peneira: entre ter um compromisso com uma mulher ou estar livre para pegar e desepegar, ter o compromisso soa bem mais complicado. A não ser que você lide com namoros de uma forma tão relaxada que só pareça um rolo muito demorado, deve saber que ele vem com uma enormidade de letras miúdas no contrato.

Quem galinha tem sim que caprichar mais em aparência e socialização para se manter “viável” no mercado, mas não sei de onde vem a ideia que o solteiro desinteressado em relacionamentos duradouros tem que pegar uma mulher diferente por dia… às vezes nem em começo de namoro se faz sexo todo dia! Parece que a alternativa a ter uma namorada é pegar quinhentas mulheres diferentes por mês…

Galinhar, pelo menos no contexto que eu entendo aqui, é não querer fechar só com uma. Independe do número de parceiras, e aliás, independe até de quanto tempo se fica com cada uma. É ter na cabeça clara a ideia de que se está livre e é sua própria prioridade. Usar o tempo e recursos que tem de acordo com o seu foco, e não ter que dar satisfação pra ninguém. Não estou dizendo que namoros são inviáveis e horríveis, é claro que eles tem suas vantagens, e com a pessoa minimamente certa, compensam as concessões necessárias.

Estou apenas dizendo que é menos sofrido estar livre. Entre não estar namorando e feliz e estar namorando e feliz, quem está namorando está pagando um preço mais caro. Galinhar não é fórmula de felicidade, é só um estado mais relaxado de existência. Porque mesmo que a necessidade de conquistar diversas mulheres gere suas dificuldades, são dificuldades escolhidas para aqueles momentos. Quer arranjar uma companhia pra noite? Vai ter que ralar. Não quer? Quer ficar coçando o saco ou jogando videogame no sábado à noite? Escolha sua. Ninguém está dependendo das suas ações.

Namoro até permite um grau de relaxamento maior em relação até a aparência e traços negativos de personalidade, mas não vamos nos esquecer que tudo tem limite nessa vida e que o preço pelo relaxamento num namoro pode ser irreversível. E pior, pode gerar o efeito sapo na panela: você vai relaxando, a outra pessoa te aceita até o limite dela, e quando a coisa estoura, você já pode ter ido longe demais, pra recuperar o relacionamento ou mesmo pra se reorganizar.

Quem está solto no mercado tem feedback instantâneo e paga na hora o preço pelas suas escolhas. Relaxou e não se apresentou bem? Vai tomar fora até fazer diferente ou mudar o seu grau de exigência. Galinhar tem até isso de tranquilidade: a possibilidade de ir testando versões suas até achar o equilíbrio ideal de esforço e recompensa. É menos sofrido apanhar logo e poder reagir do que ficar cozinhando uma briga que pode não ter mais volta. Ou mesmo tomar na cabeça uma crítica pesada de alguém cuja opinião te fere muito mais do que uma mulher aleatória.

Sem contar o óbvio: mulher se controla muito mais enquanto não tem a segurança do relacionamento. O grau de insanidade feminino é tão aceitável nessa fase inicial que homens até topam namorar! E mesmo os que aprendem a duras penas que o pacote feminino presume maluquice eventualmente acabam acreditando que da próxima vez vai ser diferente quando encontram uma se matando pra manter o controle num embrião de relação. Na galinhagem, a que não se controla chama atenção logo e pode ser eliminada da vida. E a que se controla dura o tempo suficiente pra não poder por as asinhas de fora. Tá, homem também fica uma merda quando passa a fase da pose inicial, mas isso só reforça meu argumento. Nem é sobre ser machista, é sobre como o ser humano vai ficando cada vez mais estranho quando olhado suficientemente de perto.

E falemos de liberdade mesmo: namoro presume presença. Presença e atividades em conjunto. O que normalmente tem a ver com concessões de ambos os lados. Casais suficientemente diferentes entre si acabam seguindo uma vida de atividades entubadas e mau uso do tempo livre pelo menos metade do tempo. Novamente, até tem gente nessa vida que compensa o problema, mas estamos falando de compensar, não de ser agradável. Quem está galinhando pode ir se focando em estar nos lugares onde quer e procurando quem compartilha daquela vontade momentânea. Ou mesmo ser totalmente egoísta e pagar o preço sozinho pelas suas escolhas de como gasta o tempo.

É liberdade até da sensação de culpa por estar fazendo mal para outra pessoa. Todos erramos e temos algum hábito ou mania que vai irritar outro ser humano. Quem namora assume um contrato de proximidade constante que vai expor uma pessoa querida a todos seus problemas. Estar livre presume até mesmo poder ser uma grande merda em paz, e mexer-se de acordo com sua vontade e capacidade. Impossível decepcionar quem não estava contando com você.

E pra quê mentir? É menos sofrido não ter obrigação de fidelidade. Pra nenhum dos lados, inclusive. Quem galinha pode ir atrás de quem tiver vontade, variar quando quiser, pode inclusive ter sua lista de mulheres de acordo com os gostos e vontades do momento. E não precisa pensar em momento algum sobre com quem elas estão saindo. Não faz diferença se ela está praticamente pelada ao sair com você, se resolve dar atenção para outro, se te conta detalhes terríveis sobre seu passado sexual… não há sensação de posse ou exclusividade. Uma coisa a menos pra se preocupar, não?

Se namoro fosse menos sofrido, a maioria não acabava.

Pra dizer que nerd não convence com esse papo, pra dizer que menos sofrido é não ser tão merdeiro, ou mesmo pra dizer que o melhor mesmo é ganhar dinheiro e cagar pra mulher: somir@desfavor.com

SALLY

O que é mais difícil, namorar ou galinhar?

Sem dúvidas galinhar. Namoro gera uma estabilidade, uma possibilidade de acomodação, ainda que parcial ou temporária. Quem se propõe a galinhar tem muito mais trabalho e passa por mais dificuldades.

Um argumento simples e conhecido de todo mundo: compare as consequências de ficar fora de forma namorando e ficar fora de forma na galinhagem. Me diga quem sente as consequências com maior impacto. Quem está na galinhagem tem que estar sempre atraente, pois mata um leão por dia. Ainda que vocês digam que não é difícil se arranjar por aí, coisa que eu concordo, se você quer se arranjar com uma pessoa minimamente decente, tem que estar atraente para os padrões vigentes. A exigência no namoro é menor, pois você já teve oportunidade de mostrar outros atrativos que não apenas o físico.

Galinhar pressupõe sair com frequência. Sair com frequência pressupõe, entre outras coisas, gastar dinheiro, dormir menos e passar por estresses inerentes à vida noturna. Fatalmente também acaba pressupondo bebida e outros hábitos não tão saudáveis. Galinhar é exaustivo, namorar é confortável. Não me digam que não ajuda ter alguém bacana te esperando em casa no final do dia para compartilhar boas notícias e pedir ajuda em caso de necessidade. Apoio e conforto a gente não encontra na galinhagem.

Quem está na pegação joga uma loteria humana. Você nunca sabe ao certo quem é a outra pessoa, pode estar saindo com uma pessoa comprometida, com uma pessoa maluca ou até com uma pessoa que vai te dar uma tremenda dor de cabeça mais para frente. E, mesmo que a pessoa seja bacana, você nunca sabe ao certo como ela é em profundidade: o que a ofende, o que a incomoda, o que ela gosta. É viver pisando em ovos, sempre ligado em convenções sociais básicas, se policiando para ficar dentro de um perfil médio de adequação. Namorar não. No namoro os dois já se conhecem, dá para relaxar e ser você mesmo muito mais do que com uma pessoa estranha.

Na galinhagem não há intimidade, logo a probabilidade de ter que suportar desconfortos em nome da educação é grande. Ninguém assiste a um filme na TV com pijama de moletom comendo pizza com as mãos com o outro quando está galinhando. No máximo um cinema, com roupinha social e nem sempre na mais confortável das posições. É uma pose, uma obrigação de ser sempre sexy, uma preocupação para esconder os defeitos que se torna cansativa a longo prazo.

E a trava sobre o que dizer? As conversas são cheias de filtros, as pessoas mereciam ter dois minutos para pensar no que vão falar: Ateísmo? Melhor não. Escreve um blog chamado Desfavor? Certamente não. Quando você namora, se supõe que a pessoa aceitou seu “pacote”, com qualidades e defeitos e que no final o saldo é positivo, então, não há uma necessidade tão violenta de reter informações polemicas.

O ritual da conquista, que anda cada vez mais bizarro, é trabalhoso e chato. Ter que passar por isso diariamente, seja como protagonista, seja como destinatário começa a ficar chato depois de algum tempo. As coisas não evoluem: você passa por aquilo, a coisa dura um curto período de tempo, aí recomeça tudo outra vez com uma pessoa diferente. Parece o roteiro do filme “O feitiço do tempo”, um grande dia da marmota. No namoro não, se você investir, as coisas evoluem em progressão. Fica mais fácil viver e investir quando se sente uma progressão.

Na pegação não existe um grande vínculo afetivo. Sabemos que sentimentos tornam tudo mais palatável. Namorados apaixonados tendem a fechar os olhos para os defeitos de seus pares, ou então, as qualidades contrabalanceiam os defeitos. Na galinhagem não, não tem anestesia, se a pessoa faz algo desagradável você sente todo o impacto e… a troco de bons momentos passageiros.

Quando se namora, se você escolher direitinho, ganha uma pessoa para contar. Alguém que você pode acionar para te ajudar a qualquer momento, um aliado nessa grande batalha perdida que é a vida. Um peguete não tem a menor obrigação para com você. A superficialidade da galinhagem não gera o bônus da pessoa eventualmente se desdobrar para te ajudar caso você precise dela. É como comer calorias vazias: sacia, mas não alimenta.

Namorando você escolhe o tipo de perrengue que vai passar, de acordo com as características dos parceiros e com a relação que se propõe a construir. Galinhando, é sempre mais imprevisível e incontrolável. Você nunca sabe ao certo que tipo de problema ou transtorno te espera, muito menos se a pessoa que estará ao seu lado no momento vai ajudar ou atrapalhar.

Sentimentos primais como posse, ciúme e outros devem ser sufocados quando não existe um namoro, pois não é socialmente aceito externa-los. Isso gera aqueles odiosos joguinhos e fingimentos cansativos: finge que não sente, finge que não se importa, finge que também está fazendo de volta. Haja saco. Quando se estabelece um compromisso de namoro, as coisas podem ser conversadas abertamente, pois a relação já é sólida o bastante para permitir críticas, negociações e ajustes. Ninguém vai tunar um carro alugado que será devolvido no dia seguinte, não é mesmo?

Conquistar pessoas dá trabalho. Conhecê-las, entende-las, seduzi-las. Ter que fazer isso diariamente com diversas pessoas é um trabalho infernal, não entendo como alguém pode achar isso tranquilo. E, por mais que digam o quanto está fácil de “pegar” gente por aí, desculpa, mas a menos que estejamos falando de prostituição, um mínimo de trabalho é requerido. Ainda que pequeno, repetido inúmeras vezes, acaba se tornando cansativo sim.

E, é claro, tem o mais clássico dos argumentos: em namoro você tem sexo disponível full time, 24h por dia, quando quiser. É como escolher entre ter uma geladeira cheia de comida e ter que sair para caçar um jantar. Me poupem, é muito mais difícil e sofrido galinhar!

Para dizer que da forma equivocada como Somir encara um namoro, realmente fica mais difícil do que tudo na vida, para dizer que o mais difícil é ficar completamente sozinho ou ainda para dizer que difícil mesmo é casar: sally@desfavor.com


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