Manual de um Bon Vivant – A Arte da Conquista

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Manual de um Bon Vivant – A Arte da Conquista

Estava eu sentado fumegando um charuto cubano, quando eis que em meu celular chega uma mensagem do Somir com os dizeres: “Entre em contato comigo”. Assim mesmo, simples, seco, mas eficiente, já que faziam muitos anos que não tinha contato com esse ser desprezível. Para quem não me conhece, meu nome é Ângelo Pavanni e tive o desprazer de estudar na mesma escola que Somir, Chester e Cia. Na época eu era franzino e adepto de certos luxos que eles consideravam afrescalhados, motivos pelo qual me chacoteavam por onde quer que eu passasse. Eis que o mundo dá voltas e hoje sou um homem de sucesso, executivo de uma multinacional e dono de uma conta bancária de 7 dígitos. Por isso, cogitei escrever essas linhas nesse blog fundo de quintal, para mostrar aos meus antagonistas que, apesar de todo o bullying que me fizeram, dei a volta por cima e estou melhor que todos eles juntos. De certa forma, agradeço pelas ofensas do passado, que me fizeram dedicar parte do meu tempo em estudar e me tornar o que sou hoje. Meu sonho é um dia ver um desse ignóbeis baterem na porta da minha empresa, pedindo emprego. Eu, que tenho uma boa alma, irei conceder um cargo sim, mas no almoxarifado.

Porém, não foi para destilar meu veneno que me dei ao trabalho de vir aqui escrever, mas sim para mostrar meu estilo de vida, em como minha vida de luxo me rendeu o apelido de Don Juan Italiano. Creio que o primeiro passo para se tornar um conquistador é tentar entender o que as mulheres querem. Nem toda mulher quer um homem provedor, nem toda mulher quer um homem sensível, mas toda mulher quer um homem que saiba compreendê-la, eis aqui o segredo da conquista meus jovens. Você não precisa aceitar o ponto de vista dela e nem concordar com o que ela pensa, mas tente compreendê-la, escute o que ela tem para falar e dessa maneira estará dando alguns passos a mais que 99% dos homens.

Vou dar como exemplo minha primeira conquista. Eu trabalhava no terceiro andar do prédio e ela no quinto, mas às vezes nós nos esbarrávamos no elevador. Ela era muito bonita, mas parecia tímida e não era de muita conversa. Muitas vezes entrava e saia do elevador sem dar uma palavra, nem mesmo um “bom dia”. Eu também era muito tímido e não sabia como iniciar um diálogo com aquela minha paixão platônica. A luz se deu na leitura de um livro chamado “Manual de Persuasão do FBI”, escrito pelo Dr. Jack Schafer. No livro, o ex-agente do FBI dá dicas de como se aproximar das pessoas sem que elas liguem um sinal de alerta e uma das dicas é manter uma certa constância de aproximação do alvo. Seguindo essa dica, comecei a subir ao quinto andar na desculpa de pegar um café. Para minha sorte, a mesa dela ficava perto da cozinha e comecei a analisar as coisas que estavam em cima da mesa dela. Muitos papéis, um lixo abarrotado e uma foto de família me davam poucas dicas sobre a personalidade dela, então analisei a bolsa que estava semi aberta ao pé da mesa. Ali tive uma dica mais valiosa, uma capa de livro azul de John Green.

Pesquisando sobre o autor, descobri que o livro era o “A culpa é das estrelas” e naquele mesmo dia passei em uma livraria para comprar um exemplar. No dia seguinte subi pra tomar um café, mas desta vez fingi que estava lendo o livro. Fiz questão que ela percebesse minha presença ali, mas mesmo assim ela não tomou nenhuma iniciativa e eu fiquei na minha. Mas um dia ela entrou no elevador e rapidamente abri o livro em uma página qualquer.

_Está gostando? – ela perguntou.

_Desculpe… – respondi ingenuamente.

_Do livro, o que está achando?

_É muito bom, a maneira como ele narra as personagens é bem peculiar.

_Como assim?

Ressalto que não tinha lido nem uma palavra do livro, então resolvi apelar para uma segunda técnica do agente do FBI, jogar uma pergunta sutil em uma resposta genérica sem que ela percebesse.

_Há uma densidade de conflito de emoções, entende?

A isca estava jogada e esperei para ver o peixe mordia.

_Sim, também acho isso. A forma como ela encara o câncer e como isso influencia sua paixão pelo Gus é muito triste.

_Pois é, a certeza da morte acaba unindo eles, por mais que tentem se afastar. – isso eu disse por intuição, já que a pesquisa que eu havia feito sobre o autor havia me dado pistas sobre o livro também.

Depois disso, começamos a conversar com mais frequência no elevador e nas minhas idas para tomar café. Eis aqui outra lição jovens, a verdadeira conquista deve ser feita com calma. Se você quer uma transa fácil e sem compromisso, vá pra balada ou pague uma prostituta que é mais fácil, mas se quer conquistar alguém é preciso paciência. Notem que estou dando conselhos exclusivamente para o universo masculino, já que mulheres naturalmente atraem com certa facilidade quem querem conquistar. E é aqui que entra a parte mais difícil da conquista: prestar atenção aos detalhes. Homens não costumam prestar atenção aos detalhes e eu tenho certa dificuldade nisso também, então uma técnica que utilizei com a moça foi tirar algumas fotos sem que ela notasse. Dessa maneira, sempre que ela cortava o cabelo, comprava uma roupa nova ou mudava algum detalhe na aparência, eu sempre fazia um elogio sobre a mudança. Não exagerem no elogio, para não parecer forçado ou afetado, por exemplo:

_Nossa, seu cabelo ficou muito bom, gostei. Esses brincos são novos? Você tem muito bom gosto. Essa roupa combina muito com você.

Vocês entenderam o esquema, certo? Em pouco tempo ela começou a sentir atraente e feliz com essas percepções que eu tinha, o que invariavelmente resultou em um relacionamento sem eu precisar dar nenhuma cantada patética ou ferir meu orgulho próprio em uma investida mais direta que resultaria em fracasso. O fato dela ser amiga da filha do dono da empresa também era um fator interessante, que serviu de trampolim para eu ter contato direto com o magnata e assim iniciei minha segunda conquista: a de um cargo executivo. Sim meus caros, a conquista não se limita apenas ao sexo oposto, é necessário conquistar homens também para que eles percebam seu potencial sem necessariamente colocar em risco o território do alvo. Que homem é um bicho territorialista, que tentará defender seu habitat com unhas e dentes isso não é nenhum segredo, mas como invadir esse ambiente sem que o alvo perceba? Isso ficará para uma próxima ocasião. Sobre a mocinha da história, fiquei com ela um bom tempo, mas como eu queria dar saltos maiores que os dela, logo percebemos que nosso relacionamento não daria certo. Hoje somos bons amigos e agora ela é gerente regional de uma marca de calçados. Esse sapato italiano de couro legítimo que estou vestindo agora? Presente dela de aniversário. É amigos, a conquista é uma arte que rende bons frutos.

Acredito que além da história, vocês gostariam de receber dicas de quem sabe das coisas não é mesmo? Então para uma boa leitura, fica a recomendação do livro do Jack Schafer, aonde ele explora algumas nuances comportamentais e é uma porta de entrada para a arte da persuasão. Enquanto lia esse livro, visitei a Noruega, um lugar lindo e casa da Voss, umas das águas mais puras do mundo. Na ocasião, visitei as geleiras que servem de fonte para a água e bebi ela lá mesmo, direto do fabricante. Sem poluentes, corantes ou conservantes, essa água está protegida pelo gelo e não interfere no sabor de outras bebidas, como o vinho. Para quem gosta de estilo e quer ter uma experiência única, vale a penas, mas é para poucos viu? Aí na Banânia deve custar uns R$20 a garrafa, mas isso pra mim é troco de champanhe (que não tomo essa porcaria chamada pinga).

Agora deixem-me trocar o número do celular, não sei como o Somir conseguiu este, provavelmente foi por meios virtuais, hacker maldito. Morra de inveja, puto!

Por: Ângelo Pavanni