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Sobrevivendo no Rio de Janeiro.

Sobrevivendo no Rio de Janeiro.

| Sally | | 68 comentários em Sobrevivendo no Rio de Janeiro.

Seja pelas Olimpíadas, seja por necessidade, seja por masoquismo, se você vem ao Rio de Janeiro, dá uma lida nisso aqui. Resolvi escrever um texto sincerão sobre o Rio de Janeiro. Não vou falar de pontos turístico nem das atrações que valem uma visita. Não vou falar de gastronomia ou noitadas. Aqui a proposta é sempre um novo enfoque, todo o resto você lê em qualquer guia de viagens. Aqui você lê o que dificilmente vai encontrar compilado em outro lugar: Desfavor Explica – Sobrevivendo ao Rio de Janeiro.

O Rio é uma cidade que transmite uma falsa segurança ao visitante. Essa gente bronzeada mostrando seu (des)valor faz parecer que tá tudo certo, que nos bairros “bons” você está seguro. Ilusão. Ao contrário das cidades comuns, aqui o perigo não está em guetos ou em áreas distantes, ele está por todos os lados. Sim, existem áreas onde ele é maior, na verdade, onde ele é certeza. Se virar com o carro no local errado, você vai ser metralhado, não vai ter conversa. Mas em nenhum ponto da cidade sua segurança está garantida. Nenhum. Tenha isso sempre em mente.

Vamos falar da sua chegada. Se puder chegar pelo aeroporto Santos Dumont, que é mais próximo da parte bacana da cidade, melhor. Porém, não pegue táxi ali de jeito algum. Aliás, não pegue táxi no Rio de Janeiro. Chame um Uber, mas marque com ele no setor de embarque, pois se ele te buscar no setor de desembarque, os taxistas podem hostilizar. Nenhum bairro “ficável” para um turista está a mais de meia hora de distância do aeroporto Santos Dumont.

Se só puder chegar pelo Galeão (vulgo Aeroporto Internacional Anotonio Carlos Jobim), leia meu texto sobre o assunto e nem pense em entrar em um táxi comum. Ou chama um Uber, ou contrata um táxi do próprio aeroporto, daqueles com valor fixo para deslocamento, assim o taxista não tem interesse em ficar te levando para dar voltinhas em trajetos mais longos. O deslocamento do Galeão para qualquer lugar do Rio é extremamente perigoso. Toda semana tem um baleado, mas, obviamente, só sai na imprensa quando a pessoa é alguém socialmente falando.

É que o trajeto é todo cercado por favelas perigosas, realmente perigosas, que deveriam ter sido removidas até as Olimpíadas, mas em vez disso o maravilhoso Poder Público local fez apenas um tapume para escondê-las. Essas favelas contam com constante vigilância de dentro para fora, “atiradores de elite” da criminalidade local que apontam com fuzil para os carros que passam, ainda que você não os veja. Portanto, o que quer que aconteça nesse trajeto do aeroporto para o seu destino, não tente nem reagir nem fugir pois você vai morrer. Além daquele que te aborda, tem um sniper com armamento pesado apontado para você.

Alugar um carro. Não recomendo. O trânsito no Rio é caótico, as pessoas dirigem de forma agressiva sem respeitar normas básicas de trânsito e, principalmente, o GPS pode te matar. O GPS, Waze ou o que quer que você use para determinar sua rota, não está ciente das fortes zonas de conflito em guerra civil no Rio. Não raro indicam o caminho mais curto ou com menos trânsito sem saber que é um caminho extremamente perigoso. Sem exagero, aqui, se você entra no local errado, você morre. Não tem conversa, não tem diálogo, não tem chance para você se explicar.

Vamos falar sobre os bairros do Rio. Pode se dizer que o Rio se divide em Zona Sul, Zona Norte e Zona Oeste. Na Zona Sul estão pseudointectuais, esnobes e riquinhos de esquerda. Na Zona Norte está o pessoal mais divertido, porém o lugar é tenebrosamente perigoso. Na Zona Oeste temos o pior dos dois mundo: esnobes sem berço emergentes e perigo juntos.

O ideal é ficar na Zona Sul, pois se você não tem a sagacidade local, vai ter mais dificuldades para se manter em segurança na Zona Norte ou Oeste. É bem simples: procure pelo Cristo Redentor: se ele está de frente para você, com os braços abertos para o seu bairro, ok. Caso contrário, você está fazendo isso errado. Os bairros que eu recomendo para turistas são: Copacabana (orla, e apenas orla), Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico, Gávea e Urca.

Nos bairros da Zona Sul procure se manter o mais próximo do mar que puder, pois quando mais próximo do mar, melhor a infraestrutura e a qualidade da hospedagem. Não importa em qual bairro você esteja, todos tem uma favela em algum lugar. TODOS. E não há favelas pacificadas no Rio de Janeiro, isso é mito. São barris de pólvora que podem explodir a qualquer momento. Não recomendo andar a pé após as 20h em lugar algum, e mesmo de carro ou táxi, seja rápido e atento quando estiver na rua.

Não ande de transporte público, pois dependendo do dia e da hora pode ser tranquilo, mas também pode ser tenebroso nos mais diversos aspectos, desde violência e crime, até higiene e assédio. Vá de Uber, que é seguro, confortável e muitas vezes até mais barato. Não se descuide da sua bolsa, mantenha-a rente ao corpo. Se sair à noite nunca, jamais, em tempo algum repouse seu copo de bebida em algum lugar. O copo tem que ficar sempre na sua mão, pessoas colocam coisas nas bebidas dos outros mesmo nas mais caras e badaladas casas noturnas.

Se for à praia, vá como o carioca vai: sem dinheiro, sem celular, sem nada de valor. Deixe até a aliança. E passe protetor solar, muito protetor solar, o Rio de Janeiro fica bem debaixo do buraco na camada de ozônio, 30 minutos ao sol podem causar queimaduras no nível bolhas. Muito cuidado com o mar também, além de ser tão imundo que em determinados locais pode te causar um problema de saúde sério e te mandar para o hospital, o mar do Rio é bravo. Puxa mesmo. Salvo engano, é um dos maiores índices de afogamento do Brasil.

E por falar em hospital… Não perca seu tempo indo a um hospital público caso precise de atenção médica. Quem não é daqui não consegue nem mensurar o nível calamitoso da saúde pública carioca. Você vai ficar abandonado em um canto esperando por atendimento e se for algo grave, confie em mim, você vai morrer e ninguém vai se importar. Na verdade, essa questão do abandono também acontece em hospitais particulares, só que a demora é um pouco menor. O único caso onde vale a pena ir para hospital público é se você tiver um ferimento por arma de fogo. Nesse caso, vá ao Hospital Miguel Couto, que é referência nesse tipo de socorro, de tanto baleado que recebe.

Ao transitar nos locais públicos, tenha a consciência que você está em uma selva urbana. Os carros não vão parar para você atravessar, aliás, muito pelo contrário, alguns até vão acelerar no melhor estilo Carmaggedon, só para te ver correr. Tente só atravessar no sinal e sempre, sempre, sempre espere por uma grande falta de civilidade em todos os setores, porque é quase certo que ela vem. Carioca, quando é educado, está querendo te roubar. Carioca, via de regra, só tem dois modos de funcionamento: inconveniente ou escroto.

Se você é mulher, vamos conversar. No ano passado, uma mulher sofreu um estupro a cada duas horas no Rio de Janeiro. E com isso, o que quero te dizer não é apenas que evite becos escuros à noite ou andar sozinha. Com isso quero te dizer que é possível que se você saiu, flertou com um carioca e entrou com ele em seu carro, tem grandes chances de que ele se ache no direito de fazer sexo com você, e que, mesmo você dizendo que não, ele interprete como “charminho” e prossiga mesmo assim. Então, você não está em casa, você está no Rio de Janeiro. Tome cuidado extra.

Tudo é caro. Tudo, tudo, tudo. Se estava pensando em vir sem dinheiro, na base da aventura, aborte essa ideia, você vai passar fome. Não dá para “se virar” no Rio de Janeiro, pois além de caro, aqui é a terra dos espertos. Venha com um mínimo de condições ou não venha. E guarde seu dinheiro naquelas bolsinhas de viagem, que ficam por dentro da roupa, tipo pochetes secretas. Dinheiro e documentos importantes.

Vamos falar da polícia carioca. Se você é leitor habitual, sabe muito bem do que a polícia carioca é capaz. Se você é uma pessoa sensata e não lê habitualmente o Desfavor, eu vou fazer um resuminho para você: psicopatas sádicos com licença para matar. Não brigue, antagonize ou irrite um policial carioca, por mais escroto que ele seja com você, pois, na melhor das hipóteses, você será torturado. Dê seu dinheiro, seus pertences, eles sempre estão em busca de bens materiais. Vai por mim, dá tudo que é melhor. Esqueça a noção de justiça e injustiça, afinal, foi escolha sua vir para uma terra sem lei.

Mesmo que você venha com todo o conforto e recursos, precisa saber uma peculiaridade sobre o Rio: aqui tem gente demais. Isso significa que todos os lugares estão sempre lotados nos horários de pico, sejam eles festas, boates, restaurantes, praia ou metrô. Se não quer fila e tumulto, se informa sobre os horários de pico e evite os programas mais visados naqueles horários.

Porém, tenho que te informar que independente de cheio ou vazio, a prestação de serviços no Rio de Janeiro é péssima, mesmo nos lugares mais caros. O carioca simplesmente não sabe atender bem. A informalidade, o jeitinho, a falta de planejamento se refletem a todo momento na prestação de serviços. Não espere muito.

Também não se programe esperando pontualidade, excelência ou respeito em elevados padrões. Não trabalhamos. Nivele por baixo suas expectativas e tudo será mais fácil. Ah, sim, Rio de Janeiro quando chove é uma bela duma merda, não tem absolutamente nada para se fazer, pois o único recurso que sobra, o shopping, é caro e fica intransitável.

Não quero de forma alguma desencorajar alguém a vir. É possível que, apesar destas peculiaridades, ainda queiram. Venham, venham sim, mas venham com o mindset correto.

Para perguntar se eu recomendo correr na ciclovia, para perguntar se eu recomendo que grávidas venham ao Rio ou ainda para dizer que um lugar que nos proporcionou o Rafael Pilha não pode ser ruim: sally@desfavor.com


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