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Ressaca política.

Ressaca política.

| Desfavor | | 41 comentários em Ressaca política.

Ontem o Congresso votou favoravelmente pelo impeachment de Dilma. Apesar de Sally e Somir terem opiniões muito próximas sobre o mérito da coisa toda, ainda sim encontraram um motivo para discordar. Os impopulares fazem seus votos.

Tema de hoje: o que foi o pior desse processo de impeachment até aqui?

SOMIR

Com o risco de me repetir: o pior de tudo é que alegria de pobre dura pouco. Se Dilma apanhar no Senado também (tudo indica que sim), assumem Michel Temer e Eduardo Cunha. Imenso desfavor que não tenhamos pra onde correr e uma boa ação seja punida no final das contas. E ao contrário do que muitos pensam, não é trocar seis por meia dúzia. Pelo lado positivo, eles não são do PT, pelo lado negativo… eles não são do PT. Mas, vamos por partes…

Os outros desfavores nesse caso, desde a polarização doentia na qual se tornou o país até mesmo o show de horrores que foi a votação (são horas da minha vida que não voltam mais), esses já eram esperados. Desde a última eleição que política virou o embate entre duas torcidas organizadas, estamos aguentando esse papo faz um bom tempo, com ambos os lados fazendo de tudo pra deixar a discussão a mais vazia possível, como se algum dos lados fosse o “mocinho” da história. De um lado a culpa de tudo era do PT, do outro era tudo conspiração. Mas, estava na cara. Tivemos tempo pra lidar com tudo isso.

A votação foi terrível sim, reforçando cada milímetro de preconceito que eu tinha contra as pessoas de todos os estados. Vou ter que dar o braço a torcer, a democracia brasileira funciona muito bem, pelo menos no quesito da representatividade: o povo brasileiro é aquela merda que vimos mesmo, mas mais mal vestida. Os discursos, quando não eram genéricos corta-e-cola entre um e outro, eram odes à ignorância e ao atraso desse povo. Só não podemos ignorar que sempre foi assim. É essa gente mesmo que está lá, os “excelentíssimos BMs”.

E você pode argumentar que já era previsível também que se Dilma saísse, assumiriam esses dois. É a lei, é como funcionaria de qualquer jeito. O que eu sinto, não sei se sozinho, é que essa realização nefasta só foi se materializar mesmo nos últimos dias. O sistema estava todo bagunçado, todo mundo jogando pra desequilibrar o jogo para seu lado, então, a possibilidade de Temer e Cunha como presidente e vice acabou meio disfarçada até ser tarde demais.

Como provavelmente já é. E sinto que ainda não deu tempo pra digerir isso… que o povão ia continuar berrando suas opiniões para os quatro vento e que a votação viraria palanque para essa gentalha legislativa não gerava nenhum incômodo suficiente para repensar a vontade de ver o PT sendo escorraçado do poder. Mas confesso que a tática do governo de chamar tudo de golpe fica incomodamente mais real do que deveria quando se pensa em quem fica com os espólios dessa guerra. Como eu disse no sábado: pro Brasil não é golpe, mas para eles é.

E o que preocupa agora é que o PMDB estará no poder. E eles são especialistas nisso, digo, nisso de se manter no poder, não de governar. Foram eles que “permitiram” que FHC, Lula e Dilma ficassem nos seus cargos até agora, com seu suporte subornado. E quando eles viraram a casaca, poucos dias depois a presidente estava sendo votada fora do poder pelo Congresso. É um partido perigoso.

E agora, encabeçado por duas “baratas políticas”, Temer, e PRINCIPALMENTE Cunha, tem um poder impressionante de se segurarem nos seus cargos. Cunha está com mil acusações nas costas, passou meses e meses como inimigo declarado do PT no poder… e estava lá presidindo a sessão de impeachment de seus desafetos. Esse aí sobrevive a tudo, pelo visto. Pelo o que eu percebo, o povo não gosta nem de um, nem de outro, mas eles estão conseguindo subir mesmo assim.

E por mais que ambos tenham mil motivos para serem votados pra fora de seus novos cargos, temo que alguém menos queimado que Dilma tenha muito mais força para negociar os apoios necessários para enrolar seus merecidos impeachments futuros até ser tarde demais. Agora que todos sabem que vamos mudar de cacique, vem uma longa fase de oferendas no Congresso e no Senado. Considerando o volume de votos no “sim”, foram poucos que apontaram o dedo na cara de Cunha durante a votação.

Mais uma coisa, que talvez alguns de vocês não gostem de ler: eu não acredito que a PF e a Justiça em geral vão ter tanto sangue nos olhos para correr atrás do PMDB do que tiveram contra o PT. Temer vai assumir sabendo quem tem que bajular. Foi o que eu disse lá no começo: por um lado é um alívio que não seja mais o PT com a caneta na mão, mas não podemos esquecer que Lula, Dilma e cia. bateram todos os recordes de arrogância nesse processo. Não se protegeram das investigações e ainda declararam guerra aos que estavam investigando.

Duvido, duvido muito, que Temer, Cunha e cia. cometam o mesmo erro. Pode ser que tenham cometidos crimes e improbidades do mesmíssimo jeito “certeza da impunidade” que seus antecessores, mas não apostemos neles tentando ganhar no grito e transformando tudo num circo extremamente público. Vão tentar virar o jogo no tapetão, discretamente. E como “não vimos” nos últimos anos, enquanto se está abaixo do radar do povão, é muito mais fácil manobrar.

E… vai perder um pouco da graça pra muita gente. Ok, podem não gostar do Temer, mas ele vai ter que comer muito feijão pra conseguir o grau de hostilidade passional que Dilma e Lula conseguiram nos últimos anos. A mídia não vai pegar tanto no pé, o brasileiro médio vai continuar olhando só pra disputa PSDB X PT, e nesse vácuo de atenção… talvez sigamos até a próxima eleição com pelo menos um dos dois no cargo. Sem esquecer que eles estavam lá em todas as decisões horríveis que deflagraram a crise, dizendo amém.

Claro que foi tudo um desfavor, mas esse… esse tem tudo pra durar bem mais que os outros.

Para dizer que grandes merdas porque o PSDB ou a Marina ganham na próxima e fica tudo ruim por igual, para dizer que pelo menos viu os militantes petistas chorarem, ou mesmo para dizer que a gente nunca se contenta com nada: somir@desfavor.com

SALLY

Em princípio, eu defenderia que o pior deste processo de impeachment foi a agressividade e belicosidade que deixou nas pessoas, mas acompanhando essa votação TENEBROSA, sou forçada a mudar meus argumentos: a pior parte desse impeachment foi a votação, que escancarou a burrice, imbecilidade, falta de educação e falta de escolaridade dos nossos parlamentares.

Somir sugeriu fazer um Live Desfavor durante a votação e eu fiz pouco caso… como me arrependo. Um prato cheio para piadas e comentários. Um show de horrores, sobretudo se a gente pensar que essas entidades é que fazem as leis que somos obrigados a seguir.

O show de horrores começou por Cunha. Xingado, esculhambado e trucidado em muitos votos, ele apenas olhava friamente para os votantes e continuava presidindo a votação com um preparo emocional que eu nunca vi na vida. Não alterava sua expressão facial, parecia um robô. Um grau de psicopatia nunca antes visto. Esse elemento não vai ser fácil de derrubar.

Os Deputados Federais em sua esmagadora maioria, todos vergonhoso. Suados, oleosos, feios, com perucas ou cabelo mal tingido. Horrendo. Intelectualmente é ainda pior: não sabem falar, erram concordância, não colocam plural nas palavras, um vexame de tal porte que me faz duvidar que tenham qualquer escolaridade.

Todos claramente votaram por questões pessoais, entretanto justificaram seus votos com os discursos mais do que hipócritas: por Deus, pela família, pelas criancinhas e teve até um descontrolado que disse “pela minha mulher que hoje luta por sua vida”. Os idiotões citando o nome dos filhos (todos tenebrosos): “Por meu filho Marcleison e pela minha filha Gislaine”. Essa votação virou um Manual do Sequestrador. Parecia Xou da Xuxa: “quero mandar um beijo para minha mãe, para meu pai…”.

Mas o que mais me apavorou foram os do Rio de Janeiro. Porque eu tenho mais tolerância com estados menos desenvolvidos, mas Rio de Janeiro não tem desculpas. Os votos mais tenebrosos saíram do Rio de Janeiro, e nem me refiro ao “sim” ou “não” e sim à justificativa e ao discurso. Vergonha profunda do Rio de Janeiro, que se divide em evangélicos radicais doentes mentais e esquerdinhas pseudo-intelectuais debilóides.

Apenas para ilustrar, falemos de Jean Wyllus e Bolsonaro. Bolsonaro, demente como sempre, votou em homenagem aos militares que deram o golpe exaltando em específico o que torturou Dilma. Jean começou dizendo que estava constrangido por estar ali (no BBB pode, né?) e fez um discurso medonho digno daquele personagem caricato de esquerda do Marcelo Adnet. Para finalizar o circo, quando saiu, Jean cuspiu em Bolsonaro e os esquerdinhas idiotizados ficaram dizendo que ele “lacrou” em rede social. Se fosse ao contrário, dava até processo. Aliás, utilizar o termo “lacrou” é motivo para romper relações comigo, fica o aviso.

Jean falou, falou e falou, aquele discurso esquerda antiiiiigo, chato, engessado. Quando acabou disse “Durmam com essa”. Jean deve se achar importante para acreditar que as bostas que ele fala tiram o sono de alguém. Exaltou que Bolsonaro defendeu um torturador, mas parece se esquecer das vezes que ele ridícula e contraditoriamente apareceu fantasiadinho com a boininha de Che Guevara, que, by the way, também era torturador e inclusive fuzilava gays como ele. Detalhe: Bolsonaro mega aplaudido na hora da votação e nas redes sociais. Essa porra se elege se decidir se candidatar à Presidência. HORROR, HORRROR, HORROR, vem logo, Estado Islâmico, joga uma bomba nessa merda de Rio de Janeiro, mesmo que me mate junto, vai valer a pena a faxina social!

Todo mundo falando em Deus, citando bíblia, esquecendo que estamos em um Estado Laico. Ninguém ali é santo, todos com discurso moralista babaca, hipócrita. Impossível que alguém tenha acreditado. Vergonhoso a quantidade de evangélicos que estão criando leis para este país, não tem como esta merda de país dar certo de jeito nenhum. Deus isso, Deus aquilo, Nosso Senhor Jesus Cristo isso, Nosso Senhor Jesus Cristo aquilo. Quase vomitei.

Também houve uma grande incidência de pessoas sem noção que pegavam no microfone para desabafar. Falavam da família, da tia fulana que o criou, dos problemas que seu bairro enfrenta, do furúnculo no cu que não permite com que sentem direito, todo tipo de problema pessoal que não interessa a ninguém e muito menos é motivo para voto. O único motivo válido para voto era: Dilma cometeu crime? Quase não debateram a questão.

Os demagogos extremos também vomitaram suas falácias: Dilma é uma mulher honrada que nunca cometeu um crime e está sendo perseguida pelo malvado Cunha por ser mulher. Dilma é uma santa que está sendo sacaneada pelo malvado Temer em um golpe. Nossa, que golpe bacana esse, onde congressistas eleitos podem votar! Se todo golpe fosse assim… Os que votaram a favor do impeachment também foram demagogos demais: não pode compactuar com a corrupção (ahã), não conseguirão dormir em paz se deixarem um ato de corrupção impune… um nojo.

Teve até gente admitindo que sim, Dilma cometeu crime sim, mas por ser contra Cunha, manteriam no poder uma pessoa que cometeu crime. SENSACIONAL.

Deputados sem compostura aos berros, jorrando perdigotos, excedendo o tempo de voto. Filho, não precisa gritar, tem microfone, não somos surdos e voto gritado não vale dois. Nesse ponto, a psicopatia de Cunha foi útil, quando alguém excedia o tempo, ele calmamente começava a repetir “Como vota, Deputado?”, quantas vezes fosse necessário até impedir a pessoa de continuar falando e fazê-la declarar seu voto.

Conclusão: com ou sem Dilma, estamos fodidos. Dilma virou algo secundário para mim quando me dei conta do tamanho do despreparo, hipocrisia e corrupção que existe nesse covil de imbecilóides que criam as leis que eu sou obrigada a seguir, que regem minha vida. Foda-se quem vai ser presidente, pode ser o Superman, pode ser o Deadpool, pode ser o Papa Francisco, com esse Congresso, meus amigos, estaremos sempre na merda!

Para utilizar tudo que eu disse em conversas de modo a emular que viu a votação, para dizer que já desistiu e não se importa ou ainda para dizer que não está nem aí e só quer ver o circo pegar fogo: sally@desfavor.com


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