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Plantão OlimPIADAS

Plantão OlimPIADAS

| Sally | | 22 comentários em Plantão OlimPIADAS

Aproveitando o espírito olímpico, que já toma conta de comerciais, ruas e estabelecimentos cariocas, hoje vamos estrear nosso primeiro Plantão OlimPIADAS. Para abrir com chave de merda, quero dar um rápido panorama do estado em que o Rio de Janeiro se encontra. A cidade que em quatro meses será sede das Olimpíadas, alcança seu pior momento em muitas décadas. Segue uma compilação de coisas que dificilmente você vai encontrar por aí.

O Prefeito Eduardo Paes tem uma estranha obsessão com escolas de samba e bicicletas. Ele basicamente gasta todo o orçamento da Prefeitura nesses dois itens. Atribuí todos os problemas de trânsito da cidade ao fato das pessoas não irem trabalhar de bicicleta, esquecendo que, além do calor de 40°, é algo extremamente perigoso. Fácil falar, ele vai de helicóptero.

Pois bem, ele gastou 45 milhões em um pequeno trecho de uma ciclovia (que por enquanto é pequena mas em tese ligará a orla do Rio de ponta a ponta, do Leme ao Pontal, e por isso recebeu o nome de Ciclovia Tim Maia). A ciclovia foi inaugurada faz pouquíssimo tempo, salvo engano, três ou quatro meses. O trecho está localizado na borda de um morro e abaixo dele tem um grande precipício rochoso e o mar. O mar carioca não é de brincadeira, é notória sua força e violência. Ainda assim, optaram por fazer a ciclovia dependurada com o mar debaixo dela.

Algo que vocês tem que saber: não existe, nem a título de exceção, licitação honesta no Estado e no Município do Rio de Janeiro. Alguém indica o ganhador, alguém leva dinheiro. Empresa que ganha licitação certamente teve favorecimento, nem que seja edital vazado para se adequar de tal forma a ser a única a preencher as exigências e ganhar por falta de concorrente. Tudo sempre armado. Sempre. Por isso quando dá merda em alguma obra, qualquer curioso pode investigar pela internet e acaba descobrindo a relação entre a empresa e sua contratação. Por exemplo, a construtora responsável por essa ciclovia calhou de ser da família do Secretário de Turismo de Paes. Coincidência, né?

Ontem, na parte da manhã, o mar estava agitado, uma onda bateu na ciclovia de 45 milhões e a derrubou, levando junto pessoas que estavam nela, fazendo com que caiam de uma altura enorme direto nas rochas banhadas por um mar revolto. Obviamente, tudo que encontraram foram corpos sem vida. Até ontem, dois corpos, apenas um deles identificado: o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, que nem estava de bicicleta, apenas corria no local. Testemunhas contam que havia pelo menos cinco pessoas na ciclovia no momento em que a onda a derrubou “como uma folha de papel”. Estima-se que três deles possam ser turistas, ou seja, ninguém vai reclamar seu desaparecimento tão cedo.

Enquanto isso, Eduardo Paes estava em Atenas, sem trocadilho, para cerimônia ligada à tocha olímpica. Mandou falar em seu lugar Pedro Paulo, Secretário Municipal de Coordenação do Governo do Rio, aquele que espanca mulher (e não é fofoca, é decisão judicial) e Paes diz que vai ser o próximo Prefeito do Rio independente disso. Pedro Paulo deu entrevista se esquivando, dizendo que irão apurar a culpa de forma séria e responsabilizar os responsáveis. Traz as algemas, porque os primeiros responsáveis são eles.

A ciclovia era uma obra pública, portanto, tanto o projeto como sua execução deveriam ter sido fiscalizados pelo Poder Público. Se a empresa contratada fez alguma bosta, mais bosta ainda fez a Prefeitura de contratar uma empresa incompetente e de permitir que ela trabalhe por meses sem fiscalizar o que estavam fazendo. Eu não sou engenheira, não vou me meter a apontar o problema, mas mesmo sendo leiga eu posso afirmar: não é para uma ciclovia despencar. Se a ciclovia despencou “como uma folha de papel”, teve erro grotesco.

A empresa, por sua vez, como é de costume, bota a culpa nos fenômenos da natureza. Aqui no Rio é assim: sempre que chove e alaga, a culpa é da chuva, pois “choveu mais do que o esperado”. Neste caso não seria diferente, parece que a culpa foi da onda, que veio com mais força do que o esperado. Apenas pelo amor à argumentação, supondo que não seja possível construir uma ciclovia que resista às ondas cariocas, havia duas escolhas: fazê-la em outro lugar ou fiscalizar e em dia de ressaca, interditá-la, assim como fecham a ponte Rio-Niterói em caso de ventos fortes. Enfim, ficou claro que não vai dar em nada, mais uma vez. Mas a queda da ciclovia é só uma face dos problemas.

Na quarta-feira, dia anterior ao desabamento da ciclovia, um cano estourou e alagou as imediações do Maracanã. Quando eu digo que alagou, estou falando de algo em proporções catastróficas, de fechar o trânsito e não passar ninguém.

O Estádio do Maracanã certamente será palco de algumas competições olímpicas e mesmo assim seu entorno está todo colado com cuspe. O Rio de Janeiro todo está remendado e colado com cuspe. Toda semana desaba algo, quebra algo ou acontece algum estrago proveniente de obra superfaturada terminada às pressas com material de segunda categoria. Nada indica que essa sucessão de acidentes vai parar em agosto.Eles vem acontecendo desde janeiro e parecem estar cada vez mais frequentes.

Para piorar, a economia do Estado do Rio está quebrada. Funcionários públicos não estão recebendo seus salários, nem mesmo os aposentados. O Judiciário mandou pagar e impôs penalidades caso o pagamento não fosse efetuado. Adivinha se pagaram? Não. Tem gente que não recebe faz mais de três meses, que está sendo despejada, cujo filho está sendo impedido de entrar na escola por estar com três meses de mensalidade atrasada. A pessoa se mata de estudar, faz concurso público buscando estabilidade e acaba assim.

O Governador do Rio de Janeiro, Pezão, está totalmente inutilizado, permanentemente internado por conta de um câncer e seus desdobramentos. O Vice, que é quem deveria segurar esse rojão, é um senhor com mais de 80 anos que se diz perplexo e alega nunca ter visto uma situação financeira tão trágica. Não tem condições de fazer porra nenhuma para reverter o quadro. O risível Judiciário carioca dá decisão por cima de decisão mas é solenemente ignorado pelo Estado. O Rio faliu, e o buraco é tão grande, que parece ser irreversível.

Com isso, temos um funcionalismo público que já era decadentes, mil vezes pior. Obras paralisadas, órgãos públicos fechados e uma contenção de despesas perigosa feita com escolhas duvidosas: tem dinheiro para pagar motorista para Secretário mas não tem dinheiro para pagar cimento de qualidade para construir vila olímpica. Os desdobramentos são os mais tenebrosos possíveis: hospitais fechando as portas por falta de medicamentos, crianças que frequentam a rede pública de ensino recebendo alimentos estragados e até funcionários públicos mais dedicados indo trabalhar a pé, pois não tem nem dinheiro para transporte, mas não querem deixar a população na mão.

Em paralelo a tudo isso, estamos enfrentando um verão sem fim, que, segundo estimado pela meteorologia, só termina para valer em agosto. Ontem, para vocês terem uma ideia, os termômetros registraram um calor de 39°. Com isso, todas as mazelas do calor: desde um aumento no consumo de energia que pode causar sobrecarga e colapso até aumento nos casos de Dengue e Zika. Por sinal, temos, até o momento, mais de seis mil grávidas com Zica no Rio. Os casos de Zika e Dengue só aumentam, boa sorte para quem achava que em agosto tudo estaria sob controle. E se adoecer nem hospital tem.

Temos também a belíssima ameaça do Estado Islâmico. Mas era pouco, não basta a maior célula terrorista do mundo te ameaçar abertamente, se dá para piorar, vamos piorar! Descobriram um suposto numero de celular que seria de um membro do Estado Islâmico e resolveram deixar dezenas de provocações.

Ok, eu ri, é engraçado, mas não é algo inteligente de fazer. Não se manda uma imagem de Jesus Cristo nem se ameaça com a Carreta Furacão terroristas enfurecidos. Centenas de Hues xingaram e trollaram o suposto numero do Estado Islâmico. Carioca é uma raça tão desgraçada que faz terrorismo com terrorista. Bem, se o numero era realmente do Estado Islâmico, agora eu até dou razão para eles socarem uma bomba por aqui.

Não custa lembrar também do tipo de excremento que nos representa em Brasília, pessoas que, se fossem decentes, poderiam lutar para tentar reverter a situação. Quem acompanhou a votação do impeachment viu que o Rio consegue a proeza de ter os piores Deputados Federais do Brasil. As lhamas Bolsonaro e Jean Wyllys encabeçam uma lista vergonhosa que jamais lutará por nada além de interesses próprios.

Os preços de tudo no Rio estão nas alturas. Uma diária em um hotel (ruim) em período de Olimpíadas está em torno de mil reais. Uma água de coco na praia hoje, pode chegar a R$ 11,00 ou mais. Dificilmente você consegue alugar um local para morar seguro e em um bairro acessível, próximo ao centro urbano, por menos de dois mil reais, contando com aluguel e condomínio. Se for morar em um local mais afastado do seu trabalho, prepare-se para enfrentar, no mínimo, quatro hora diárias de trânsito.

Ser mulher também não está fácil. Uma mulher é estuprada a cada duas horas no Rio de Janeiro. Isso porque contam como estupro o pacote completo, pois se abuso físico contasse, eram mil por minuto. Não queira ser mulher em transporte público do Rio, nem com homem ao lado você é respeitada. E nem pense em se indignar e reagir, pode apanhar.

O aeroporto internacional, que já foi objeto de texto só para ele, continua uma grande lixeira com ar condicionado deficiente, instalações precárias e aparelhagem obsoleta. Vive abarrotado e tem mais cara de rodoviária do que de aeroporto tamanha precariedade.

Detectores de metal não funcionam (eu mesma embarquei com uma faca de cozinha na bolsa pouco tempo atrás, para fazer o teste), a polícia federal caga para quem chega e quem sai, não revistam ninguém, mal olham para o seu documento. Fui embarcar, entreguei minha carteira da OAB fechada, nem abriram para olhar, podia ter papel de pão dentro, podia ser de um homem, podia ser qualquer coisa. Funcionários putos, exaustos e mal pagos (ou não pagos) não costumam trabalhar com excelência e o clima de bandalha do Rio acaba contaminando a todos.

Toda semana eclode uma greve de alguma categoria: aeronautas, aeroviários, até taxistas andaram fazendo seu dia de greve. São greves experimentais, dizem. Ficam 24h em greve e voltam a trabalhar. A intenção? Se preparar para uma greve de verdade no período das Olimpíadas, onde todos estarão com o cu na mão e os holofotes nos cornos e justamente por isso cederão com mais facilidade aos apelos dos trabalhadores. Ou cedem, ou passam vergonha internacional.

As comunidades que diziam estar pacificadas estão cada vez mais tomadas pelo tráfico. Nas poucas em que as UPPs ainda estão nas mãos da polícia, assim o estão fruto de sucessivas torturas e violações aos direitos humanos que deixam o caso Amarildo no chinelo. Há rumores de que planejam uma grande “descida ao asfalto” (como eles chamam a cidade) em massa quando “os gringos chegarem”. Se isso acontecer, meus amigos, até o Estado Islâmico tem que ter medo.

As principais obras relacionadas a locomoção urbana, que possibilitariam deslocar uma grande quantidade de pessoas a diversos pontos da cidade para acompanhar as competições olímpicas estão severamente atrasadas e sem dinheiro e correm o sério risco de não ficarem prontas. Um belo exemplo disso é trecho do metrô. E se ficarem, sua segurança certamente será questionável: materiais de quinta categoria, pessoas exaustas trabalhando 16h por dia e falta de fiscalização nas obras são receita de desgraça. Pressa em inaugurar causa tragédias.

E, para finalizar, não conseguiram voluntários suficientes para trabalhar nem na cerimonia de abertura, situação que normalmente costuma ser tentadora para o Brasileiro Médio, pois consiste em batucar, dançar vestido de Blanka e aparecer na TV. Em função da falta de voluntários, estão repensando a cerimônia de abertura para algo “menor”.

É isso. O que ninguém te conta por estarem tentando vender o Hell de Janeiro como uma cidade maravilhosa, eu falo sem medo. Pensem duas vezes antes de vir para cá.

Para dizer que tem esperanças de punição pois não foi um Silva que morreu e sim um Marinho Albuquerque, para perguntar a nossos leitores engenheiros qual foi a merda que fizeram na ciclovia ou ainda para agradecer por não morar no Hell de Janeiro: sally@desfavor.com


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