Skip to main content
O novo professor.

O novo professor.

| Sally | | 21 comentários em O novo professor.

Ensinar mudou de conceito. Infelizmente muitos professores brasileiros ainda não perceberam, e, presos a um conceito antigo, que não se encaixa mais na atual realidade, propagam aulas jurássicas que por óbvio não despertam um pingo de interesse nos alunos. A culpa, é claro, é sempre do lado mais fraco: os alunos são vagabundos, não querem nada com nada ou até mesmo tem déficit de atenção. Não, a culpa é sempre do professor. É ele que tem a obrigação de ensinar e se não alcança seu objetivo, está fazendo algo errado e precisa se reinventar.

Não faz muito tempo, o monopólio do conhecimento era uma realidade. A informação estava trancafiada em livros técnicos, de difícil acesso financeiro e intelectual. O professor era o herói que destrinchava essa informação para o aluno e tentava transmiti-la de forma palatável. Mas, mudança de era, crescimento exponencial e blablabla, hoje o conhecimento abunda e até uma idiota como eu consigo transmiti-lo em um blog, ao simples acesso de um clique.

Pessoas engessadas, endurecidas, inflexíveis, continuam preparando suas aulas pensando em transmitir conhecimento. ESTÃO ERRADOS. Conhecimento, hoje em dia, é algo barato, comum, de fácil acesso. O professor que apenas transmite conhecimento é um merda. E com este parágrafo, espero ter me livrado de todos os professores jurássicos, que ficarão com raivinha de mim e fecharão está página. Beleza, daqui para frente falo apenas para as pessoas que me interessam: quem foi louco ou curioso o bastante de continuar.

O professor que apenas transmite conhecimento está obsoleto na sua função de ensinar. Conhecimento tem às pencas por aí. O Novo Professor, além de transmitir conhecimento, precisa ter outras qualidades, como por exemplo, ensinar onde encontrar fontes confiáveis, ensinar a ter um pensamento crítico em cima daquilo que te é empurrado como conhecimento e, acima de tudo, a função que eu considero mais importante: inspirar o aluno.

Quem aqui não escolheu uma profissão, uma área ou qualquer outra coisa inspirado em um professor? Quem aqui não se interessou ou se aprofundou em um tema inspirado por um professor? Ao inspirar você desperta no aluno a vontade, o amor pelo estudo. É preciso fazer o aluno se apaixonar por aquilo. Todo assunto tem uma abordagem que pode ser considerada atraente, divertida ou chamar a atenção. Basta romper com esse modelo obsoleto de aula que ainda persiste no Brasil.

O professor que apenas transmite conhecimento virou um mero papagaio repetidor, pois hoje, a informação está em todos os lados, inclusive a um clique no smartphone do aluno. Razão pela qual, além de inspirar, ele deve ensinar a pesquisar, a filtrar informações, a conjuga-la com outras para ter uma visão geral do assunto, contextualizar e formar sua própria opinião.

Vai ter quem diga (e com razão) que “ela está achando que é fácil? não é tão fácil assim”, pois alunos de certas idades ou classes sociais podem não ter subsídios mínimos para absorver este conhecimento. Em um país onde alunos chegam à oitava série analfabetos, eu entendo a preocupação. “Não é tão fácil”, uma frase que me emputece desde sempre… Em algum momento eu abri o texto dizendo “Olha, é facílimo ser professor”? NÃO. Eu não disse que é fácil, eu apenas disse que é POSSÍVEL. No dia em que eu compactuar que “não ser fácil” é uma desculpa válida para não fazer alguma coisa tatuo “eu sou medíocre” na minha testa.

Não é fácil. O que, olhado pelo ângulo certo, é ótimo, pois o mérito é maior se conseguir. No mundo “não é fácil” a concorrência é menor, quem não é muito inteiro, muito seguro e muito atualizado nem tenta, por medo. Vai que é tua! O resto está todo acomodado ou cagado de medo de tentar. Não ser fácil só torna a vitória maior conseguir e a derrota menor se, no meio do caminho, falhar algumas vezes tentando. Tem um jeito, sempre tem um jeito. Se você ainda não o descobriu, invista mais na sua criatividade e coragem.

Todo mundo é motivável, inspirável. Até chimpanzés dedicam atenção a algo que acham interessante. Não existe aluno inalcançável. O que existe é aluno inalcançável pela forma que você escolheu de transmitir conteúdo. Lamento informar, mas não é o aluno que tem que se adaptar ao estilo do professor. É o contrário. A missão do professor é passar conhecimento, ensinar a pesquisar, ensinar a ter senso crítico, ensinar a compreender esse conhecimento e inspirar. Se você não a alcançou, a culpa é sua e você precisa se adaptar aos alunos que tem.

Como a medicina estaria hoje se, no passado, cada vez que os médicos se depararam com uma doença que era incurável, tivessem cruzado os braços e usado para sempre o mesmo remédio ineficaz? Estagnados. E é assim que a educação está, inclusive no Macro, em um modelo educacional emburrecido, pensado para formar operários para fábricas, generalista, adestrador. Se cada professor romper com isso, rompemos com o sistema e isso, meus amigos, representa um ganho para todos, eu diria, até de caráter evolutivo.

Não está funcionando? Faça como os médicos, corra atrás da solução, beba de diversas fontes, faça testes, faça pesquisas, bote sua cabeça para funcionar. Professores não devem se ater ao conteúdo, ele deve investir boa parte do seu tempo pensando na estratégia para fazer com que o aluno absorva esse conteúdo e se inspire a buscar mais. Isso mesmo, a forma está ganhando mais importância que o conteúdo, pois o conteúdo está banalizado. Aceita que dói menos, e passa a investir seu tempo 50% em conteúdo e 50% em forma.

E aqui não me refiro apenas a professores concursados, de carreira. Falo para todos os que, por algum motivo, tem a oportunidade de transmitir conhecimento a alguém de forma regular. E, não se engane, você sempre tem algo a ensinar a alguém. Sempre. Sempre tem alguém que sabe menos que você em alguma coisa. E se você se propôs a ensinar, saiba que vem no pacote a necessidade de ser versátil e adaptar sua forma de ensino ao aluno.

Não é criativo? Não consegue pensar em nada outside the box? Investe. Assim como médicos tem que se atualizar quando é colocado no mercado um novo bisturi ou quando um novo procedimento cirúrgico é introduzido, o professor também precisa se aprimorar. Faz o curso de criatividade do Murilo Gun, faz um curso na Perestroika. Não tem dinheiro? De manhã, enquanto se arruma para ir ao trabalho ou até mesmo no percurso, vai escutando o podcast do Murilo Gun, o GunCast, que é de graça e traz insights maravilhosos. Mexa-se, alimente sua criatividade, a expansão da sua mente, saia da caixinha em vez de desistir e se convencer que nada vai resolver. Criativo não se é, não é um dom, é dedicação e investimento pessoal.

E, só para constar, não falo em tese. Cheguei a dar aula em faculdade de direito e sempre, sempre, sempre fazia questão de uma abordagem nova, inusitada, surpreendente. Sempre passei conteúdo de uma forma que ninguém mais fazia. Fiz o que ninguém fazia, o que ninguém nunca fez. Abri portas. Fiz dezenas, se não centenas de experiências com minhas turmas. Experiências do bem, como faço com vocês aqui no Desfavor, para melhor compreender e me adaptar ao público. Por isso eu digo de camarote: teste, improvise, inove, crie. Sem medo. Medo a gente tem que ter é de ficar estagnado, pois essa, meus amigos, é a única receita certa de fracasso nos dias de hoje.

O primeiro passo é buscar conhecimento, como já dizia o ET Bilu. Beba de fontes boas, de gente com um mindset alinhado com essa proposta. Murilo Gun, Thiago Mattos, Felipe Anghinoni. Procure todas as palestras do TED TALKS (tem legendado no Youtube) sobre educação, pesquise o que as cabeças pensantes estão fazendo e falando sobre o assunto, mas não para copiar, e sim para trazer inputs para sua cabeça.Uma frase que um disse, combinada com outra frase que outro disse podem gerar na sua cabeça uma ideia nova espetacular. Para ter outputs é preciso alimentar o cérebro com muitos inputs. Busque informações relacionadas ao assunto e devore-as.

Quanto mais, melhor. Depois você separa o que achou bacana e começa a adaptar para o seu estilo. Nada de copiar. Com o tempo, você vai aprender a combinar boas propostas, mudar algo e transformar propostas ruins em algo melhor e vai desenvolver seu estilo único de motivar, inspirar e transmitir conteúdo para quem quer que seja.

Pois é, não vem sem esforço. Mas na vida, tudo que vale a pena depende de esforço. A boa notícia é: quase ninguém faz isso no Brasil, logo, vai ser muito fácil se destacar em um mar de medíocres. Não tenha medo de ousar, não tenha medo de tentar. Eventualmente pode dar errado? Sim. Mas estagnado você já tem a certeza do erro anyway.

Nada é pior do que ser um professor papagaio, apegado ao conteúdo como centro da sua aula e a avaliações arcaicas que apenas medem o poder de memorização, e não de compreensão dos alunos. Faça esse esforço de mudar seu mindset e se deslocar dessa premissa de transmitir conteúdo como foco principal da aula. Depois faça o esforço de beber de boas fontes para aprender a ser mais criativo e assertivo, inspirando seus alunos. Junte coragem, uma dose de loucura e comece a tentar.

Não existe aluno não-inspirável ou não-ensinável. Se você tem alunos que considera assim, a falha é sua. É sua obrigação ensinar a eles, uma obrigação que chega a ser moral, ética. É fácil? Não é fácil. Mas é possível. Queira ser melhor na sua profissão. Aliás, queira ser O melhor na sua profissão. O que seria de todas as profissões se todos cruzassem os braços e se recusassem a se atualizar? Engenheiros construiriam palafitas, médicos nos tratariam com sanguessugas. Todo mundo rala e se atualiza, porque caralhos o professor está se achando no direito de permanecer estagnado?

Observe sua turma. Observe seus alunos. Beba de boas fontes, gaste tempo e disponibilidade emocional do seu dia planejando como se tornar interessante para eles. Invista em você e na sua escolha de vida profissional. Ou, se não quiser fazê-lo, seja honesto com seus alunos e, acima de tudo com você mesmo, e pare de tentar ensinar. Retire-se. Não se torne um burocrata hipócrita, não tente encaixar um quadrado em um buraco onde agora, só passa um círculo. Retire-se e dê espaço para quem quer construir um mundo melhor, com pessoas melhores e motivadas.

Ensinar não é um dom, depende de esforço, estudo, aprimoramento pessoal, observação, criatividade, coragem e entrega. Do or do not, there is no try.

Para tentar me convencer de que não é possível e ser esculachado, para dizer que quer assistir uma aula minha de alguma coisa ou ainda para usar este texto com o propósito de melhorar e me contar os resultados: sally@desfavor.com


Comments (21)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: