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A vida sem antivírus.

A vida sem antivírus.

| Somir | | 39 comentários em A vida sem antivírus.

Tenho uma confissão a fazer, meu nome é Somir e eu estou há mais de cinco anos sem usar um programa antivírus em quaisquer das minhas máquinas conectadas à internet. Longe de mim recomendar que outras pessoas façam isso, é consideravelmente melhor ter do que não ter, mas, nesse meio tempo eu acabei aprendendo algumas coisas sobre a internet (e talvez a vida…) que podem ajudar pessoas mais leigas a se manterem seguras.

Com certeza é causo, mas eu já ouvi que fizeram de um teste de segurança automotivo com dois grupos diferentes; um deles dirigia com um volante comum, o outro com algo especial: uma lança de metal saída do seu centro (onde ficaria a buzina) apontada diretamente para o rosto da pessoa. Se você ainda não conseguiu visualizar a cena, em qualquer freada brusca o suficiente a pessoa teria a cara perfurada pela lança. Resultado: as pessoas do grupo sem lança dirigiram normalmente (mais rápido que quase todos os limites), as com o perigo iminente de ganhar um novo furo no rosto dirigiram exatamente dentro da velocidade permitida da via, a maioria até mais devagar.

Como era de se esperar. Ver o perigo nos deixa mais atentos. Muito embora se você estiver correndo com seu carro, qualquer erro pode ser fatal mesmo. Você está acelerando toneladas de metal numa velocidade que nenhum outro ser vivo no planeta alcança… é sempre perigoso. Mas a lança é perfeita para explicitar o risco. Não estou bêbado (hoje), estou só traçando um paralelo entre o comportamento do internauta médio com e sem antivírus. E não só aqueles que você instala e mantém nas suas máquinas, inclusive os tantos outros que analisam o tráfego da rede e pegam muita coisa ruim antes de você sequer saber que exista.

Vivemos numa ilusão de segurança na internet. Ela é tudo menos isso. Eu já até tinha mencionado o tema anteriormente, mas só pra reforçar: provavelmente a única coisa te mantendo seguro agora é a irrelevância. Pessoas suficientemente capazes dão trabalho para agências de espionagem internacionais… imagina só seu Windows pirata! Mas, com tanta gente conectada ao mesmo tempo e tão poucos alvos verdadeiramente suculentos à disposição, grandes chances de que qualquer problema de segurança que você tenha seja resultado exclusivo da sua falta de atenção e conhecimento em informática.

Então, deixa o nerd aqui explicar algumas coisas que podem beneficiar a maioria dos usuários da internet, vulgo basicamente todo mundo. Hoje eu vou me concentrar na fontes:

Não, não estou falando das letras. E sim de onde você pega os arquivos e programas que deseja. Normalmente ignorar essa parte do processo da internet termina com quinhentos programas inúteis pululando na sua área de trabalho que você não tem a menor de ideia de como foram parar lá. A velha máxima de que é melhor prevenir do que remediar vale muito aqui. Você gasta poucos minutos a mais prestando atenção nas fontes do que baixa ao invés de tempo e/ou dinheiro pra tentar limpar o estrago depois.

E o que significa prestar atenção nas fontes? Bom, não deixa de ser um paralelo com a vida real: preste atenção no contexto. Você compraria um sanduíche de uma loja cheia de ratos? Ou, um celular numa loja de sanduíches? Não? Então você já está entendendo o que eu quero dizer. Se você quer baixar um programa, saiba de onde ele vem e procure um lugar decente para adquiri-lo. É fácil fazer isso, o Google está aí pra te ajudar, caso você saiba o que procurar.

Muito comum só digitar o nome do arquivo ou do programa na ferramenta de pesquisa e clicar cegamente no primeiro resultado. Isso normalmente vai te jogar num site especializado, tipo um Baixaki da vida. E isso não é uma boa ideia… vamos lembrar que isso é a vida real e todo mundo tem que ganhar seu sustento. Quanto mais profissional um desses “atravessadores” parece, maior a chance deles estarem tentando ganhar dinheiro em cima do que você está baixando. E como propaganda de internet é ASSUSTADORAMENTE menos lucrativa do que as pessoas imaginam, há de se considerar como essas empresas podem manter seus sistemas funcionando.

Bom, existem duas formas: ou tentam te fazer ver mais e mais propagandas para você render um pouco mais, ou coletam e vendem suas informações para quem quer te fazer ver mais e mais propagandas. Para fazer isso, o mecanismo “legal” é tentar instalar programas extras no seu computador junto com o que você quer. Esses programas extras fingem que tem alguma utilidade, mas eles só existem pelos motivos citados acima. E as pessoas instalam esses programas sem nem perceber que estão fazendo… é a mania de sair clicando em “próximo” desenfreadamente em qualquer instalador.

Como eu não mantenho nenhuma proteção extra, posso me divertir tentando dar olé nas cada vez mais criativas formas que esses programas usam para te empurrar seus amiguinhos pilantras. Em alguns você tem que tirar a seleção de uma caixa de confirmação para não instalar, em outros você tem que marcar. Alguns são tão espertos que colocam um botão igual ao do instalador original com um “avançar” à direita e um “cancelar” à esquerda. Pessoa acha que vai cancelar toda a instalação, mas na verdade estaria cancelando só o programa extra que não queria. Já encontrei até um que vinha todo em chinês, com botões coloridos onde instalar estava em verde, gigante, e cancelar em vermelho, com um desenho de um diabinho acompanhando.

O segredo para evitar a maioria dessas armadilhas é simplesmente ler o que diabos está escrito. Tecnicamente os programadores desses softwares tem que colocar alguma saída para quem não quer instalar pra não configurar vírus na cara dura (embora alguns venham com vírus que instalam de qualquer jeito). Leia o que está na tela, clicar em “próximo” só depois de saber o que “próximo” vai fazer.

Mas, claro, tem mais uma parte importante das fontes: o site de quem fez o programa ou criou o arquivo. Isso é especialmente eficiente para programas grátis. Muita gente os cria só por diversão mesmo, e distribui gratuitamente até pra não ter obrigação nenhuma de ficar resolvendo bugs de usuários (a parte mais chata desse negócio). Se você achou um programa que faz o que você quer, procure a empresa que faz no Google, confirme se é o site real deles e só aí pense em baixar. Só use esses sites de download genéricos em último caso. E mesmo assim, prepare-se para lutar contra instaladores golpistas.

E voltando aos exemplos da vida real: se você vai para uma favela comprar drogas, sabe que está assumindo o risco de algo ruim acontecer com você. Faz parte do pacote da ilegalidade não ter garantia de nada. Brasileiro tem uma mania de achar que pirataria não é nada demais e que o processo de roubar programas e conteúdos de terceiros não é entrar num mercado negro… é sim. Se você está consumindo qualquer conteúdo pirata, saiba que infectar sua máquina no processo não é nada de muito estranho. Complicado colocar um vírus na edição legal de um Office da vida, mas, caso você tenha controle total sobre o arquivo antes de alguém baixar e rodar no seu computador, pode colocar muitas surpresas lá dentro.

Sim, tem vários grupos que levam isso muito a sério e quebram a segurança de conteúdo pago por esporte ou ideologia, mas, até parece que um ser humano normal vai saber quem são essas pessoas, e mais importante, saber se você está baixando o mesmo arquivo que elas disponibilizaram. Nada mais simples do que copiar o que alguém fez e soltar de novo para o download com um “presentinho” para os incautos. Se eu perguntar para 100 pessoas como se faz a verificação de origem e integridade de um arquivo baixado da internet, 99 vão me responder surpresas sobre sequer a existência dessa possibilidade. A outra vai me explicar por duas horas por que isso não serve pra nada e citar casos onde o método deu errado…

Fiquem putos se quiserem, mas quem rouba trabalho dos outros não tem direito de reclamar se ele vier com vírus. Pirataria tem custos. Presuma que qualquer coisa pirata que você instalar é perigosa. Inclusive os sites que disponibilizam esses arquivos. Se quer o bônus de não pagar nada, tenha o ônus de conhecer os lugares mais seguros pra baixar arquivos e ler os comentários de outras pessoas que já baixaram. Existem ferramentas online para analisar arquivos, existe bom senso… se algo parece bom demais pra ser verdade, adivinha só? É bom demais pra ser verdade.

Um arquivo costuma ter tamanho condizente com o que se propõe a fazer. Você não vai baixar um Windows inteiro num pacote de menos de um mega, oras! Não vai ter o Fifa 18 pra baixar em 2016… é só usar a cabeça. É o equivalente de clicar naqueles links de “fotos privadas” de alguém que você nem conhece que caem de tempos em tempos no seu e-mail. Na maioria dos casos, é só pensar por alguns segundos sobre o que está baixando pra perceber o que é furada ou não.

Eu sei que existem diversas ferramentas para cuidar dos arquivos que você coloca no seu computador (ou celular, atualmente), que dá pra configurar muita coisa e ficar mais seguro, mas eu não estou escrevendo um texto técnico com dicas de sites e softwares, porque, spoiler, daqui um mês já estaria tudo desatualizado mesmo. Hoje eu quero bater na tecla do bom senso. De pensar antes de clicar “Ok” em tudo o que aparece na sua tela e de considerar o que outra pessoa está ganhando com suas ações no computador ou smartphone. Porque alguém está ganhando.

Não é difícil ficar sem antivírus (muita gente não tem e nem atualiza quando tem). Difícil é não se colocar na posição de se arrepender de não ter um. Se você começar a prestar atenção nas fontes do que baixa e instala nas suas máquinas, pouca coisa vai ser realmente perigosa. E essas coisas realmente perigosas, acredite, estão pouco se lixando para seu antivírus… nenhuma falha de segurança é mais explorada que a do usuário sem noção.

Para dizer que gostou de ler mas não vai fazer nada, para discutir se pirataria é justificável (é, mas é errado do mesmo jeito), ou mesmo para dizer que vai me raquiar agora (meu IP é 127.0.0.1, pode atacar!): somir@desfavor.com


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