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Aquela da Amanda… – Parte 2

Aquela da Amanda… – Parte 2

| Somir | | 46 comentários em Aquela da Amanda… – Parte 2

Aparentemente ser ameaçado por mulheres furiosas é um padrão na minha vida… continuando:

Alguns anos antes do que aconteceu naquele quarto, era o começo da noite quando Alicate me manda um torpedo:

ALICATE: “mano vc ainda tem akela cam fodastica???”
TOMIR: “Todo o tempo que você ganhou escrevendo feito um babuíno eu vou desperdiçar não respondendo de cara.”
ALICATE: “Porra, Tomir! Ainda com essa viadagem? Você me empresta aquela sua câmera profissional?”
TOMIR: “Não.”
ALICATE: “pq???”
TOMIR: “Não entendi o que você escreveu, favor tentar novamente.”
ALICATE: “Por que eu sou seu amigo?”
TOMIR: “Ninguém mais te aguenta.”
ALICATE: “Por que você não vai me emprestar?”
TOMIR: “Pelo mesmo motivo que eu não te empresto mais nada… porque ou some ou volta quebrado.”
ALICATE: “Se quebrar eu pago outra… Alicate tem!”
TOMIR: “Então compra uma.”
ALICATE: “Só pra fotografar a minha mina? Desperdício!”
TOMIR: “Ela quer ser modelo? Leva pra um estúdio profissional.”
ALICATE: “Nada, mano, ela topou tirar umas fotos pelada pra mim!”
TOMIR: “E você quer uma câmera profissional pra isso? Você nem sabe mexer nela!”
ALICATE: “Então tira você!”
TOMIR: “Hã?”
ALICATE: “Você é irmão e nunca mexeu com mulher minha… foda-se se você vir.”
TOMIR: “Sei lá, estranho isso…”
ALICATE: “Você sabe usar a câmera, ela vai ficar com você e eu não vou poder quebrar, você tá solteiro e a Amanda é gata… larga de ser bicha!”
TOMIR: “Então tá!”

Sempre que o Alicate monta um bom argumento, o Universo fica irritado e pune todos os envolvidos. Dois dias depois, vamos eu, Alicate e Amanda para uma chácara da família do Alicate. Amanda estava bem desconfortável com a ideia, mas depois de algum vinho e da insistência dele, soltou-se. Tiramos várias e várias fotos. Até que artísticas, mesmo contra os protestos do Alicate, que pedia sempre mais distância entre os joelhos dela. Os dois pareciam felizes, minha câmera não tinha sido estragada, foi bem melhor que o previsto.

Até que alguns dias depois, recebo uma ligação do Alicate:

ALICATE: Mano, você manja de Photoshop, né?
TOMIR: Não, eu faço tudo na mão e escaneio depois.
ALICATE: Vai se foder… sabe aquelas fotos da Amanda?
TOMIR: Se você perdeu, azar. Eu não tenho cópia de nada.
ALICATE: Não, não… é que eu queria postar na internet.
TOMIR: Porra, isso é baixo até pra você. Brigaram?
ALICATE: Nada! Tem um fórum onde a galera troca foto das namoradas… só pode entrar quem manda as da sua.
TOMIR: E ela sabe disso?
ALICATE: Eu disse pra ela que ia esconder a cara. Ela disse que se for assim tudo bem…
TOMIR: Essa sua mina topa tudo! Mas… isso dá muita merda, tem que fazer direito, às vezes neguinho deixa a cara no thumbnail, esquece EXIF…
ALICATE: Não falo virgem. Traduz.
TOMIR: Vai se foder!
ALICATE: Eu vou te mandar as fotos, tira a cara dela?
TOMIR: E aí se der merda a culpa é minha? Não.
ALICATE: Se você não fizer, eu vou fazer sozinho…
TOMIR: Ah, caralho… manda então.

Alicate me mandou as fotos que ele queria postar. Eu coloquei uma caixa preta na frente do rosto dela. Conferi e “reconferi” se não tinha nenhum vazamento técnico de informações… mandei de volta, Alicate conferiu também. E nenhum de nós notou um espelho no fundo da imagem. Como Amanda estava de costas nessa, seu rosto aparecia refletido. E isso só foi notado depois da foto ter mais de mil downloads no fórum. Com a bênção de Murphy, alguém que baixou essa foto reconheceu a Amanda. Alguém do trabalho dela. E ela trabalhava numa empresa bem tradicional… a foto foi circulada entre seus colegas, acabou indo para a família dela (mais tradicional ainda, pai militar)… Amanda acabou demitida no mês seguinte, foi expulsa de casa e pra completar, Alicate não demorou muito para “sentir-se sufocado” com ela morando junto com ele.

Foi um término complicado. Bem complicado. Amanda tornou-se violenta e precisou ser afastada algumas vezes pela polícia. Alicate tem uma ou duas cicatrizes ainda, e sempre teve medo dela reaparecer. Mas, Amanda parecia ter sumido na vida… até aquele dia.

Amanda fechou a porta, olhou para nós e começou a apontar a faca.

AMANDA: Vocês acabaram com a minha vida!
ALICATE: Você tirou a foto porque quis!
TOMIR: Cala a boca, animal! Amanda… Amanda… erros foram cometidos, eu entendo… mas isso não é a solução. Se você matar a gente, aí sim sua vida vai acabar de vez… você vai ser presa…
AMANDA: Quem disse que eu vou matar vocês?
ALICATE: Você não está cortando o sanduíche com essa faca…
AMANDA: Eu tenho uma ideia bem melhor.
TOMIR: Ótimo! Então solta a faca e vamos conversar.
AMANDA: Eu vou precisar da faca… pra garantir que vocês topem.
TOMIR: Topar o quê?
AMANDA: *puxando o celular com a outra mão*
ALICATE: Vai ligar pra quem?
AMANDA: Não, não vou ligar. O que eu quero aqui é a câmera.

Alicate e eu nos olhamos. Começou a ficar óbvio.

TOMIR: Isso não vai desfazer o passado.
AMANDA: Tira a roupa.
TOMIR: Calma, Amanda… pensa bem nisso.
AMANDA: Tira a roupa. *apontando a faca*
TOMIR: Nem se eu quisesse… *mostrando os braços engessados*

Amanda então veio até a mim e fez esse favor. Não há muita resistência possível sem os dois braços e com uma faca afiada na sua direção. Logo depois foi até o Alicate e fez o mesmo. Tirou fotos de nós dois na sequência.

ALICATE: Porra… chama alguém, mano!
TOMIR: E botar minha mãe aqui com uma maluca armada?
ALICATE: Merda… Amanda, você não quer dar uma animada no meninão aqui?
TOMIR: PORRA, ALICATE!
ALICATE: Pelo menos eu saio botando moral na internet! Perdemos, mano, perdemos… tira o que puder da situação, tá ligado?
AMANDA: Boa ideia.
ALICATE: Viu? A gente já se fodeu, não fica pior.
AMANDA: Fica pior sim. Tomir, deita na cama com o Cadu.
TOMIR: Não!
ALICATE: Não!
AMANDA: Eu não pedi, meu amor, eu mandei! *apontando a faca novamente*

Acabei deitando ao lado do Alicate na cama, braços engessados para cima. Amanda ria sozinha.

AMANDA: Essa vai pra todo mundo! Os amiguinhos viados!

Amanda pegou o celular, apontou para a gente. Eu e Alicate pelados na mesma cama. Foi aí que eu ouvi o som da maçaneta girando. Minha mãe. Amanda se voltou para trás, e logo depois escutamos a tranca destravando (ela sempre teve cópias das chaves de casa). Amanda soltou a faca segundos antes da minha mãe entrar no quarto:

MAMÃE TOMIR: O que está acontecendo? MINHA NOSSA SENHORA!

Amanda olhou rapidamente para a minha mãe, e saiu correndo.

TOMIR: Mãe, eu posso explicar.
MAMÃE TOMIR: EU NÃO CRIEI VIADO!
TOMIR: Não, a gente não estava…
MAMÃE TOMIR: Eu sabia que esse seu amigo ia te levar pro mau caminho! É por isso que você não me deu netos, né?
TOMIR: Não, espera… a Amanda…
MAMÃE TOMIR: E na minha casa! Na sua cama de criança! Você não tem vergonha?
TOMIR: Alicate, diz pra ela!
ALICATE: A gente não queria, aconteceu!
MAMÃE TOMIR: ACONTECEU?
TOMIR: Cala a boca, desgraçado!
ALICATE: Foi muito rápido!
TOMIR: Alicate, para!
ALICATE: Ele veio pra minha cama, eu não queria!
TOMIR: CARALHO!

Minha mãe tinha finalmente escutado demais. Pegou os chinelos e passou alguns minutos batendo com toda sua força em nós dois. Eu tentei protestar, sem sucesso. Ela expulsou o Alicate, que passou o resto da recuperação com cinco enfermeiras (quatro eu tenho certeza que eram garotas de programa na verdade) na casa do seu pai. Ela me deixou ficar, mas não falou comigo por uma semana. Até hoje ela não acredita muito na história da Amanda.

Algumas semanas depois, Alicate e eu recebemos nossas fotos separadas, vindas de um mesmo número desconhecido, a pesquisa por imagem não deu em nada, mas… aqueles fóruns nunca apareciam no Google. E nunca soubemos se Amanda tirou aquela com nós dois juntos. Ela desapareceu.

Viu? Nada de engraçado. Eu sou inocente.

Para dizer que finalmente simpatiza comigo, para dizer que se fosse um homem com duas mulheres vocês não achariam engraçado (mais pura verdade), ou mesmo para dizer que amigo do Alicate tem que se foder sempre: somir@desfavor.com


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