
Aquela da Amanda… – Parte 1
| Somir | Siago Tomir | 22 comentários em Aquela da Amanda… – Parte 1
Não quero vocês imaginando. Então eu conto. Eu fui a vítima.
No começo eu fiquei ressentido com a Sally por não querer cuidar de mim, serzinho egoísta. Alicate quase morre para salvá-la, eu quase morro porque ele estava salvando ela, e o meu prêmio é ser devolvido para a casa da minha mãe como uma mercadoria defeituosa. Tem gente que simplesmente não consegue enxergar nada além dos próprios interesses… mas esse nunca foi o caso da minha mãe… nesse caso, infelizmente.
O meu quarto de criança ficou improvisado como enfermaria para nós dois. Nos primeiros dias a Tomira (eu gosto de escrever assim também porque ela fica irritada) deu uma mão, mas depois de uma desavença besta com o Alicate, ela disse que nunca mais chegaria perto daquele tarado nojento e nos deixou aos cuidados só da minha mãe. O que… começou a pesar um pouco para ela.
TOMIR: Mãe!
ALICATE:Tia!
TOMIR: Eu chamei primeiro.
ALICATE: Eu tô mais quebrado.
MAMÃE TOMIR: Precisam de alguma coisa?
TOMIR: Faz um lanche pra mim?
ALICATE: Preciso ir no banheiro, tia.
TOMIR: Mas faz o lanche primeiro!
ALICATE: Tô apertado!
TOMIR: Mas vai que suja a mão dela?
ALICATE: É limpinho com o treco lá…
TOMIR: Segura um pouco! E outra, a mãe é minha!
ALICATE: Ela é obrigada a gostar de você, a tia me trata bem porque eu mereço!
TOMIR: Você merece levar é uma porrada, palhaço!
MAMÃE TOMIR: Vocês não podem esperar um pouco?
TOMIR e ALICATE: Não!
MAMÃE TOMIR: Eu vou buscar o papagaio.
TOMIR: Não! Vai ter bactéria de Alicate no meu sanduíche.
ALICATE: Você não pegou a Claudinha na sua formatura?
TOMIR: Por quê?
ALICATE: Não foi depois da dança?
TOMIR: E dai?
ALICATE: Tava cheia de bactéria minha! HAHAHAHA! Ai…
TOMIR: Argh!
Eu fiz o que toda pessoa racional faria, dei alguns chutes nele. O problema é que chutar com os dois braços imobilizados te desequilibra um pouco. E ficar desequilibrado acaba colocando um pouco mais de força do que o esperado. Resumo: acabei eu caído no chão, Alicate quase caindo da cama, e agora todo mijado. Minha mãe sofreu um pouco para arrumar a situação.
Algum tempo mais tarde:
MAMÃE TOMIR: Como estão meus meninos?
ALICATE: Fala para o seu filho que eu não estou mais falando com ele?
TOMIR: Fala para esse vegetal que eu não me importo?
MAMÃE TOMIR: Eu tenho uma boa notícia.
TOMIR: Os médicos ligaram dizendo que o Alicate não tem jeito e a gente vai ter que plantar ele no jardim?
ALICATE: Eu estou de repouso, não virei aleijado que nem você! Deixa eu bater palmas para minha recuperação… *batendo palmas beeem devagar*
TOMIR: Ah, está falando comigo agora?
ALICATE: E você comigo!
MAMÃE TOMIR: Meninos…
TOMIR: Você falou primeiro.
ALICATE: O que será que a Sally está fazendo soziiiiinha essa hora, hein?
TOMIR: Você cala essa boca!
ALICATE: Ela saiu bem brava com você. Vai procurar os braços de outro! Hahaha! Braços!
TOMIR: E você vai encontrar pernas!
Antes que eu pudesse chutar Alicate da cama de novo, minha mãe subiu levemente o tom da voz.
MAMÃE TOMIR: Meninos, eu não estou aguentando cuidar dos dois do jeito que vocês merecem.
ALICATE: Quéisso tia! Você é um anjo!
TOMIR: Tá tranquilo, mãe.
MAMÃE TOMIR: Eu chamei uma ajuda.
TOMIR: Tomira?
MAMÃE TOMIR: Eu tentei convencer ela, mas não deu muito certo.
TOMIR: Sério que você meteu a mão nos peitos dela?
ALICATE: Esbarrou!
TOMIR: As duas mãos? Nos dois peitos? Abertas? Eu ESCUTEI você fazendo “fom-fom”.
ALICATE: Pelo menos isso ela tem, né? Peitaria!
TOMIR: Eca!
MAMÃE TOMIR: Então, eu chamei a…
ALICATE: Ela deu mole…
TOMIR: Ela tinha acabado de limpar sua bunda, seu demente!
ALICATE: Ela disse que não ligava, até estava sorrindo.
TOMIR: Porra, mano.
MAMÃE TOMIR: Meninos, eu chamei a…
TOMIR: E outra, irmã é sagrado. Mesmo sendo a minha… eca!
ALICATE: Se eu tivesse uma irmã, eu deixava você pegar.
TOMIR: Porra, se saísse com sua lataria, ia ser feia de doer.
ALICATE e TOMIR: Hahahahaha!
MAMÃE TOMIR: Amanda.
ALICATE e TOMIR: …
A gente se olhou. Ainda existia uma chance de ser uma pessoa aleatória que também se chamasse Amanda.
ALICATE: Amanda… Amanda?
MAMÃE TOMIR: Eu peguei no seu celular.
TOMIR: AMANDA AMANDA?
MAMÃE TOMIR: O que foi?
ALICATE: Tia… tia… o que foi que você fez?
MAMÃE TOMIR: Ela não era sua namorada? Eu peguei no seu celular. Era uma moça tão atenciosa… ela disse que adoraria me ajudar a cuidar de você.
TOMIR: Porra, Alicate, porque você ainda tinha o contato dela?
ALICATE: Eu tava com o celular da putaria.
Nota: Alicate tem dois celulares. Um normal com contatos de amigos, parentes e funcionários da sua empresa, e um “da putaria”, com os contatos de incontáveis mulheres que dão pouco trabalho para conseguir comer, sendo elas profissionais ou amadoras.
TOMIR: E Amanda serve pra algum celular?
ALICATE: Tia, pede pra ela não vir.
MAMÃE TOMIR: Eu lembro dela, ela parecia tão carinhosa com você. Ela disse que está de férias, e que não vai ser problema. Eu preciso de ajuda.
ALICATE: Eu contrato dez enfermeiras, tia!
TOMIR: E porque você veio pra cá então?
ALICATE: Tava com saudades de você e da tia, mano!
TOMIR: Emocionante, mas você vai botar a Amanda dentro da minha casa!
ALICATE: Já sei, tia! Diz que eu morri.
MAMÃE TOMIR: Não fala uma coisa dessas!
A campainha toca.
TOMIR e ALICATE: …
MAMÃE TOMIR: Nossa, já chegou?
Mamãe Tomir vai indo em direção à porta da frente. Eu tento impedir, mas demoro muito pra navegar os dois braços pela porta do quarto. Só escuto a voz…
AMANDA: Tia! Quanto tempo!
De dentro do quarto, Alicate solta uma lágrima. Eu quase acompanho. Fico olhando para Alicate enquanto ouvimos os passos se aproximando.
AMANDA: E onde está o Cadu? Ah é? Vai descansar um pouco, deixa que eu cuido dos dois, tá bom? Não… vai deitar um pouquinho. A senhora está com uma cara tão cansadinha. Deixa comigo. Claro!
Cada segundo parece um mês. Eu não quero olhar para o corredor. Alicate começa a rezar, sussurrando. Eu me sento numa cadeira e espero pelo inevitável: Amanda aparece pela moldura da porta, cabeça primeiro, sorriso de orelha a orelha. Ela dá duas batidinhas na moldura.
AMANDA: Toc, toc!
ALICATE e TOMIR: …
Amanda não havia mudado muito de alguns anos atrás. Cabelo castanho ondulado, grandes olhos verdes sempre muito atentos, duas covinhas que acabavam se misturando com as sardas do seu rosto a cada um de seus largos e insistentes sorrisos. Amanda não era de se jogar fora, longe disso. Alicate estaria felicíssimo com a presença de uma mulher daquelas não fosse o fato de ser… Amanda. Ela estava parada ali na entrada do quarto, olhando fixamente para ele. Resolvi quebrar o gelo.
TOMIR: Amanda… quanto tempo, né?
AMANDA: Tomirzinho… ai… que saudade! Vem cá me dar um abraço!
TOMIR: …
AMANDA: Tô brincando… hahahaha! Deixa que eu te abraço.
TOMIR: Hehe.
Amanda veio e me deu um forte abraço, balançando o corpo de um lado para o outro. Ela afastou o tronco um pouco para me olhar nos olhos.
TOMIR: Escuta, sobre aquela história…
AMANDA: Shh! *botando o dedo nos meus lábios* Águas passadas! Eu sou uma nova pessoa. Terapia, remédios, exercícios… eu vim pra provar para você e para o Cadu que não tem mais nenhum ressentimento entre a gente. Tá bom?
TOMIR: Tá bom…
Ela subitamente volta o olhar para o Alicate. Num movimento rápido, me empurra um pouco mais forte do que deveria e vai se aproximando da cama. Alicate está com os olhos fechados ainda.
AMANDA: Caaaa… du!
ALICATE: …
AMANDA: Olha só pra você… tadinho. Nessa cama, imóvel, indefeso… parecendo uma passarinho com a asa quebrada. A sua gatinha está aqui pra cuidar de você… não chora não.
ALICATE: Mano…
Com os braços imobilizados, eu não sou de muita ajuda. Olho sem saber o que fazer para o Alicate. Ele ainda tenta evitar contato visual com Amanda. Ela senta na cama, Alicate tenta se afastar sem sucesso. Com um movimento bem delicado, ela começa a acariciar o rosto dele até enxugar uma lágrima que escorria por suas bochechas.
AMANDA: Cadu, meu amor. Eu sabia que a vida ia juntar a gente de novo. Quando a gente faz coisas boas, coisas boas acontecem com a gente. Deus me colocou aqui. E eu já disse, águas passadas. Eu aprendi a perdoar. Eu te perdôo, caduzinho.
ALICATE: Sério?
AMANDA: Claro. Já sei, quem está com fome?
TOMIR: Eu!
Não foi uma boa ideia, mas eu estava com fome mesmo.
AMANDA: E você, Cadu? Eu passei no mercado antes de vir e comprei aqueles biscoitos que você adora. Quer?
Nota: Alicate AMA biscoitos Trakinas. A gente nem tira mais sarro porque cansou uns dez anos atrás.
ALICATE: Quero!
Amanda sorri. Alicate já coloca a mão na coxa dela. Sentindo o ambiente favorável, eu aproveito.
TOMIR: Faz um sanduíche pra mim. Presunto, queijo, acho que tem aquele presunto cru… capricha na maionese. Ah, não coloca alface, alface caga sanduíche. Eu gosto do tomate bem fininho, e vê se tem umas batatas…
Amanda nem terminou de ouvir e já saiu do quarto. Eu continuei berrando outros ingredientes que queria até ser interrompido.
ALICATE: Mano… pega o sanduíche e vaza do quarto.
TOMIR: Você vai fazer o quê com ela nesse estado?
ALICATE: A gente inventa. Alicate fica criativo nessas horas.
TOMIR: Não acho bom eu te deixar sozinho com ela por agora.
ALICATE: Ah, você gosta de ver, né? Ela é safadinha, acho que rola.
TOMIR: Não, cu de burro! Você acha mesmo que ela te perdoou? Você está indefeso se eu sair.
ALICATE: Mulher, cara. Mulher. Você pode fazer a merda que quiser com elas, já ouviu aquele ditado chinês?
TOMIR: “Mulheres são como grama, foram feitas para serem pisadas…”
ALICATE: Não! Amor de pica é o que fica! HAHAHAHA! Ai…
TOMIR: Tá, você que sabe. Eu vou lá comer na cozinha e deixo vocês sozinhos por uns três minutos! Hahahah…
ALICATE: Vai se foder!
TOMIR: Boa sorte aí, mano.
ALICATE: É nóis… fazendo sexo até aleijado.
TOMIR: Hahaha… falou.
Quando eu começo a fazer a manobra para passar pelo batente, dou de cara com Amanda, segurando um prato com um sanduíche numa das mãos e um pacote de Trakinas, além de uma grande faca de carne na outra.
AMANDA: Onde você pensa que está indo?
TOMIR: Eu… eu ia comer na cozinha.
AMANDA: Comer como sem os bracinhos? Eu vou cortar para você e te dar, Tomirzinho. Amiga é pra essas coisas.
TOMIR: É… eu faço estilo porcão mesmo, cara no prato. Fica tranquila.
AMANDA: Não, faço questão! Já pra dentro.
Amanda aponta a faca pra mim, e depois para a cama onde eu estava. Ela sorri, fazendo parecer que está brincando. Alicate me olha com cara de bosta, eu peço desculpas só com minha expressão. Ela adentra o quarto, coloca o prato com o sanduíche e os biscoitos numa bancada. Fica parada por algum tempo, expressão perdida, a faca ainda balançando na mão. Alicate e eu ficamos quietos.
AMANDA: Pensando bem…
Amanda se volta para a porta e fecha-a com a chave.
AMANDA: Eu não perdoei vocês não.
Continua na Parte 2.
Para dizer que quando eu escrevo fica chato, para dizer que curtiu a ideia do celular da putaria, ou mesmo para dizer que eu não expliquei o que aconteceu com a Amanda (não cabia aqui): somir@desfavor.com
Sério?
Somir dando atenção e atencioso, com réplica e tréplica?
Desde o começo do ano estou muito atolada, então pedi ao Somir para responder emails e comentários
O curioso não é o fato em si, e sim, ele fazê-lo.
O que será que o Alicate aprontou pra mina ficar com tanta raiva dele? Com certeza que não foi só chifre!
Eu talvez tenha ajudado nessa…
Bolacha. Bo-la-cha.
Que espécie de paulista é você Somir??
Com a erudição dos seus amigos duvido que eles falem biscoito.
Faz um descontos com a história da Amanda e um outro personagem fictício, digamos que o nome dele poderia ser Carlos Eduardo.
É bixxxxxxxcoito
É bixxxxxxxcoito me“r”mo !!!
hahahahaha
Sou do team bolacha!
Eu tenho um sistema: biscoito é o que tem recheio, bolacha é o que não tem. Pronto, resolvido todo o problema e ainda adiciona significados extras em palavras que eram sinônimos (inúteis).
Minha genialidade linguística > costumes regionais. De nada.
—
Na continuação vai ter mais sobre a Amanda.
Eu sou do time contrário: biscoito sem recheio (biscoito de polvilho, biscoito amanteigado) e bolacha = dois biscoitos (há) colados com um recheio.
Herege.
Bis = repetição. Coito = Duas coisas se juntando para produzir uma nova. Está na palavra, ela quer ter esse significado.
Tomir e Alicate parecem s2 crianças do primário hahaha Não vou aguentar de curiosidade pra saber o que a Amanda fez. Vem logo a parte 2!
Spoiler: eu ainda estou vivo pra contar a história.
Nossa… Chocante! hahaha
Uma boa pausa dramática sempre ajuda no clima.
Hã? Siago Tomir by Somir? O que aconteceu agora, briga entre vocês ou estão querendo trollar a gente?
hahah, esse Alicate não tem jeito… não era mais facil ter 2 chips? Ou é pra ninguém saber dessa lista negra?
E a propósito, esse pessoal tá muito grandinho para chamar a mãe dos amigos de tia.
Ele quer contar o lado dele às vezes…
Com exceção do título e dos personagens, isto está mais para Des Contos do que outra coisa…
X-)
Cada um escreve de um jeito. Eu gosto de descrever as cenas, Sally gosta de piorar tudo o que realmente aconteceu. Estilos…
Eu quero é desfazer as difamações.
Isso. Sim. Nem uma coisa nem outra. Alicate se recusa a ter 2 chips, porque evitaria que ele tivesse dois aparelhos: um iPhone dourado “isca de vadia” e mais um branco clássico “pra botar moral na pobralhada”. A lista negra só é segredo para a namorada da vez do Alicate. E Alicate chama minha mãe de tia desde os 10 anos de idade.