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Tender critica – 3

Tender critica – 3

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Ex Machina

(Brasil: Ex Machina: Instinto Artificial), 2015 – Diretor: Alex Garland. Estrelando: Alicia Vikander, Domhnall Gleeson, Oscar Isaac. Gênero: Ficção Científica.


Ao pesquisar sobre este filme, encontrei uma teoria muito interessante chamada de “A religião das Máquinas” que define muito bem o conceito de Ex Machina e outras obras do gênero. Nesta teoria criada por Jaron Lanier, um especialista em computadores do Vale do Silício, as máquinas estão ficando cada vez mais humanizadas e, em contrapartida, os humanos estão ficando cada vez mais automatizados. Dessa maneira, uma Inteligência Artificial estaria utilizando as informações da internet para gerar uma auto consciência, tal qual um Deus dos tempos modernos. Para Lanier, a partir do momento em que pessoas apenas replicam informações na rede sem adicionar conteúdo próprio, como é o caso do compartilhamento nas redes sociais, isso já seria um indício de que a automatização da humanidade já está acontecendo.

Pensamento parecido com os do filósofo Jean Baudrillard, que diz que as máquinas dominarão a humanidade pelo conhecimento, sem a necessidade da violência. De acordo com ele, ao utilizarmos um computador no lugar de nossos cérebros para resolvermos até os problemas mais banais, deixamos de estimulá-lo e consequentemente ficamos mais dependentes das máquinas. Ele diz ainda que por causa disso, no futuro a humanidade se tornará cada vez mais andrógina e menos voltada para as questões sexuais, deixando-nos incapacitados de nos relacionarmos fisicamente com outras pessoas sem o intermédio de algum dispositivo virtual. Por isso meus caros, se vocês conhecem alguém que não consegue mais tirar os olhos do celular tremam, porque as máquinas estão ganhando terreno. Mais uma prova disso, são notícias bizarras como esta.

A partir destes conceitos temos então Ex Machina, que mostra Caleb (Domhall Gleeson) um programador de uma grande empresa de TI que, inesperadamente, é premiado para conhecer o dono da empresa, um cara super fodão, conceituado e tratado como um guru da informática chamado Nathan Bateman (Oscar Isaac). Natan por sua vez é um cara misterioso e milionário que mora em um lugar isolado. Para chegar ate ele, Caleb faz uma viagem de helicóptero e aí já se nota as excentricidades de Natan, quando em determinado momento o piloto diz não poder se aproximar muito da propriedade do rapaz. Caleb então faz um pequeno trajeto a pé e encontra uma pequena mansão, aonde acabará encontrando seu chefe. Deslumbrado em conhecer Natan, Caleb descobre que na verdade está ali para realizar um Teste de Turing, ou seja, ele precisa avaliar uma máquina para saber se ela está tendo comportamentos humanos ou apenas simulando esses comportamentos. É aí que entra em cena Ava (Alicia Vikander), uma ciborgue com Inteligência Artificial que terá sessões de conversas com Caleb ao longo de uma semana. A partir deste ponto, o relacionamento entre os três começa a ser um jogo de manipulação e o espectador ficará por um bom tempo em dúvida sobre quem está manipulando quem.

O filme é um show de interpretação por parte dos três e isso é muito importante, já que quase todo o filme é sustentado por eles. Os diálogos entre Natan e Caleb são profundos, cheios de citações e algumas coisinhas técnicas de informática, mas isso não vai atrapalhar a imersão até mesmo de quem não entende nada de TI. A divergência está sempre nas personalidades dos dois homens, enquanto Caleb é tímido e introspectivo, Natan é beberrão e cheio de manias para evitar que seus planos sejam descobertos. Criador da Blue Book, uma ferramenta de pesquisa na internet e com escrúpulos duvidosos, Natan pode facilmente ser associado a Steve Jobs pelo fascínio que ele causava nas pessoas, e sua empresa é claramente inspirada no Google. Desta maneira, ele utiliza uma série de artimanhas para manipular Caleb, enquanto aos poucos vai mostrando como criou Ava. Ava por sua vez possui uma certa inocência e não sabe precisamente de onde surgiu sua consciência, o que faz com que Caleb vá sentindo piedade pela ciborgue e acabe se apaixonando por ela. Por isso, os questionamentos que ele faz a Natan ao longo do filme vai mudando de tom, indo do deslumbramento à repulsa. Isso mostra claramente que esse é um filme de atuação, apesar da direção ter sido bem eficiente.

Esse é o primeiro trabalho de Alex Garland como diretor, que escreveu os roteiros de 28 days later (Extermínio) e Sunshine (Sunshine: Alerta Solar), que são excelentes e já fica aqui minha recomendação. A ambientação é num futuro próximo e bem clean, diferente do usual futuro cyberpunk sujo ou cheio de parafernalhas futuristas. Isso dá um certo contraste com as intenções dos personagens, que nem sempre são claras. Tanto Ava quanto Natan possuem segredos e fazem uma guerra fria utilizando Caleb como marionete. Essa sensação de ser uma cobaia, uma marionete ou até mesmo um ser pré programado percorre por toda a trama e no final das contas não há pontos de vistas 100% certos ou errados, já que cada um ali irá utilizar dos recursos necessários para atingir seus objetivos. Desta maneira, a fotografia minimalista no interior da mansão mostra o quanto aqueles personagens estão presos em suas próprias tramas, com um expectativa de liberdade muitas vezes apresentada através de sonhos, dando um aspecto onírico ao filme. Liberdade essa que só é encontrada na realidade após o clímax do filme, que pode ser um pouco clichê se você tiver assistido muitos filmes de robô.

Um grande ponto negativo da obra foi a falta de divulgação aqui no Brasil, sendo lançado diretamente em DVD/Blu-Ray. A história em si não é muito inovadora, mas é criativa e deveria ter saído em pelo menos algumas salas do país, que ao invés disso preferem receber blockbusters. É uma pena que a “cultura em massa” brasileira se resuma a esses enlatados no cinema, stand ups nos teatros e livros de colorir para adultos. Mesmo assim a brasileirada acha que é super culta por comprar essas merdas, mais um sinal de que a automação das atitudes humanas está sim mais perto do que imaginamos.

No geral, Ex Machina é uma boa surpresa, com atuações espetaculares e uma direção bem definida, mas por vezes sua trama demora demais para se desenvolver, apresentando algumas pequenas irregularidades e com um final muito similar a outras obras do gênero. Não é um filme que revoluciona, mas nos faz pensar sobre nossa própria humanidade e como podemos um dia sermos substituídos por máquinas pensantes. Como o próprio Natan prevê em determinado ponto do filme, um dias as máquinas olharão para nossos restos mortais assim como nós olhamos para os fósseis da pré-história. É ele também quem acredita que tudo possui uma programação, inclusive os seres humanos. Após o final do filme, essa questão de destino x livre arbítrio te fará queimar alguns miolos e se por um acaso, mesmo assim você não entender nada, pergunte para o Deus Google que ele te responderá.

Por: Tender, o pseudo crítico


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