Desfavor do Ano – 2015
| Desfavor | Desfavor do Ano | 28 comentários em Desfavor do Ano – 2015
2015 é um ano para ser lembrado. Lembrado como um desfavor! Não tinha como escolher outro tema que não o desastre do governo do PT e todas suas consequências em nossas vidas. Desfavor do ano, mas pode chamar de “Não Disse?” honorário…
SOMIR
Se fôssemos contar incompetência e corrupção como definidores do Desfavor do Ano, já poderíamos escrever um e deixar programado para os próximos, só trocando o ano. É parte de viver no Brasil. É o desfavor dos últimos 515 anos! Mas eventualmente alguém caga tão cagado que ficamos obrigados a falar do óbvio. Era prenúncio de desastre a reeleição de Dilma, mas as pessoas demoraram mais ou menos um ano para perceber.
Mas o desfavor que eu destaco aqui é que no fundo, não perceberam não. Dilma e seu governo bambo estão com uma taxa de aprovação minúscula, as pessoas estão justamente emputecidas com a crise que se instaurou no país, mas… não perceberam o problema. Estão com raiva de um governo perdido que não consegue mais providenciar pão e circo, não de um que cometeu erros de planejamento grosseiros desde 2003, desperdiçando praticamente toda a “sorte global” do começo dessa década.
Se não tivessem estourado as contas e ficado tão paralisados com o festival de denúncias de corrupção, Dilma e seus aliados (agora vários são ex-aliados) poderiam ter seguido o estilo Lula numa boa que teriam enormes chances de emplacar mais um presidente em 2018. O brasileiro ainda não está disposto a entender que o país precisa trabalhar seu futuro, mesmo que seja um remédio amargo. Os que querem Dilma fora agora provavelmente o querem para dar chance de alguém vir e fazer mágica para resolver todos os problemas.
Seja lá a mágica da vez: ou distribuir mais dinheiro, ou mesmo virar tudo de ponta cabeça e seguir a via de extrema direita. O brasileiro continua esperando a solução cair no seu colo, um jeito de poder conciliar a vontade de se dar bem em tudo com a vontade de viver num sistema mais igualitário e justo. Pudera, com tantos anos de governantes trabalhando essa fantasia que era fácil arrumar o país e que quem era contra suas medidas só queria ver a caveira dos pobres, a mentalidade tomou raízes.
Ano passado eu falava sobre a “esperança” do governo fazer tudo tão errado ao ponto de fazer o brasileiro acordar para esse fato, grande desfavor perceber que mesmo com a economia afundando sem parar e uma paralisação completa das estruturas de poder federais, mesmo assim a lição não vai ser aprendida. Dilma é ruim porque parou de distribuir dinheiro, assim que vier um que faça isso, estará tudo bem de novo! O que me leva a impressão que alguém vai pagar o pato de novo por reequilibrar a economia brasileira e ser enxotado como vilão assim que o próximo salvador da pátria fizer uma campanha vitoriosa.
As medidas populistas do PT não seriam desastrosas se fossem um complemento de um plano maior. Que precisa distribuir renda, precisa. E não tem dia melhor pra começar que hoje… mas mentira tem pernas curtas e vimos na prática como o povo brasileiro não tinha nenhuma rede de segurança de verdade. Assim que veio a conta de um ano eleitoral onde se fez de tudo para manter o país parecendo próspero, ficou claro como a mobilidade social prometida não tinha fundamentos.
Inflação disparando, mercado parando de investir, demissões… era um sistema de desenvolvimento baseado em jogar a conta para o próximo otário que assumisse o governo. O PT calculou mal o fim do ciclo vantajoso de importações (principalmente da China) e acabou com a bomba no próprio colo. Talvez tenha sido ganância de se segurar no poder mais quatro anos, talvez tenha sido pose para não desistir da candidatura da presidente… seja o que for, foi péssima ideia querer ficar no comando do país bem na hora de serem desmascarados.
E agora, temos um país em vias de quebrar, sem sabermos quem está governando o quê… e a ilusão de muita gente que basta mudar o nome de quem usa a faixa presidencial. Dilma fez por merecer o processo de impeachment, mas é notável como a maioria dos defensores da saída dela estão na verdade putos por ela ser ruim no que está fazendo. Achando que votaram em alguém bom que está decepcionando. Não, votaram nisso mesmo. Quase metade do país já queria pular fora ano passado, mas um pouco mais da metade continuavam esperando mais soluções mágicas.
Votaram na crise. Votaram na corrupção. Quem votou no outro candidato também não estava votando exatamente na antítese da bandalheira, mas pelo menos queriam ver alguma coisa nova, no mínimo diminuir a sangria. O desfavor do ano é que estava muito na cara que viria esse ano desastroso economica e politicamente, mas mesmo assim a maioria dos brasileiros resolveu pagar pra ver. E obrigou todo o resto a pagar junto.
E como disse no começo do texto, mesmo quando a casa cair de vez e entrar outro partido no governo, as expectativas de soluções instantâneas serão as mesmas. O povo vai navegar nesse mar de lama criado por quatro governos petistas durante a posse de outro. Vai queimar o filme de qualquer um que pegar esse país nos próximos anos, quiçá décadas. E é bem capaz de depois de um tempo, quem quebrou o país volte dizendo que é a solução mágica para tudo.
2015 foi péssimo, mas não péssimo o suficiente ainda para fazer nosso povo perceber que estamos votando muito errado faz muito tempo, e que não é nenhum nome sozinho que vai resolver a situação. A raiva da Dilma não me engana, não deveria enganar ninguém: é resultado direto da expectativa ridícula de continuar fazendo as mesmas coisas esperando resultados diferentes. Seja como for, logo logo o PMDB deita na cama com o próximo governo e todos se acertam novamente.
Caem algumas moscas, mas a merda está lá do mesmíssimo jeito. Feliz 2016!
Para dizer que adora esses textos pra cima, para dizer que cagar o Brasil é tão fácil que nem deveria ser digno de nota, ou mesmo para dizer que está vendo meus olhos azuis aí de onde está: somir@desfavor.com
SALLY
O grande desfavor do ano não é toda a sujeira, corrupção, violência e mentiras que o PT promove e vem promovendo. É a forma como isso se reflete na população. São os líderes quem ditam o tom do grupo e desde que o PT entrou no poder, esse discurso “nós x eles”, onde quem pensa de forma contrária é tratado como inimigo a ser aniquilado, ganhou força no Brasil.
Curiosamente o Brasil sempre foi conhecido por ser um país pacífico, com um povo igualmente pacífico – até demais. Nos últimos anos isso está se transformando. Pessoas lidando com diferenças ideológicas como se fossem times de futebol, uma postura raivosa e revanchista, um modo competitivo onde no final todos perdem. Isso vem de cima, isso vem de todas as vezes que Dilma e Lula fizeram discursos paranoicos, conspiratórios e mentirosos, mostrando aos liderados que é ok se portar assim.
Não tem inflação, é mentira da elite branca, que odeia o pobre e por isso fala mal do PT. Não tem crise, é uma grande conspiração da direita para desmoralizar quem melhorou a vida do povo. Não teve mensalão, é uma grande mentira arquitetada pela mídia golpista. Vem sendo assim, sempre assim. A culpa nunca está neles, mas em terceiros filhos da puta, sem caráter e conspiratórios que tem a intenção de derrubá-los, desmoralizá-los e desmerece-los, já que não querem quem defenda o pobre.
Curiosamente, os índices de desemprego estão nas alturas, os ricos estão cada vez mais ricos (anistiados, favorecidos e estimulados pelo PT) e os pobres estão ganhando uma esmola assistencialista que foi pensada inicialmente para garantir-lhes uma existência digna ENQUANTO eles não melhoravam o país. Tá aí, mais de uma década de PT no poder, e o grande legado que deixaram é bolsa-esmola. Se você parar para ler dados independentes de instituições sérias verá que o pobre passa hoje seu pior momento no Brasil, seja salarial, seja pela assistência que recebe do Poder Público.
O discurso do PT é venenoso. É do mal, é conspiratório, é o argumento típico de quem não assume as merdas que faz e as coloca na conta de terceiros. Não por acaso o brasileiro vem repetindo esse modo de funcionar com cada vez mais frequência. Ninguém se responsabiliza por nada, ninguém tem culpa de nada, os outros é que são uns filhos da puta que estão tentando prejudicar, geralmente por inveja. Mas eles vão pagar, ah, eles vão pagar. Pois além de tudo, o PT conseguiu incutir uma vertente violenta que não existia no brasileiro. Vingança é aceitável agora. A melhor forma de resolver as coisas é na briga, na segregação, na agressão.
Pessoas brigando seriamente por política, por canalhas (de ambos os lados) que já mostraram mais de uma vez, que não valem a merda que cagam. Pessoas saindo do sério, se xingando, se batendo e até mesmo se matando. Amigos rompendo amizade. Radicalismo, intolerância com as diferenças. Acabou o diálogo. Aquele diálogo como eu o conhecia, onde eu ouvia a opinião diferente e procurava absorver dela o que ela tinha de bom e formar uma terceira, com base na minha e na outra, acabou. Só o que a pessoa diz é válido, nada pode ser acrescido ou refletido. Hoje as pessoas estão reativas, raivosas e se você expressa uma opinião diferente da delas, vira inimigo, vira alvo, vira algo ruim a ser silenciado e agredido.
Além se ser um modo de funcionar nefasto, é extremamente empobrecedor para o povo como um todo. As pessoas não conseguem mais lidar com a diferença de opinião: te esculhambam, te xingam, te desmerecem. Você vira inimigo se pensa diferente. Se pensa assim, só pode ser um filho da puta, um elitista que é contra pobre ou qualquer outra comparação maniqueísta. É um mecanismo típico de quem tem o rabo preso, que tenta te constranger na intimidação a eventualmente apontar alguma incoerência. As pessoas não falam mais por medo de apanhar, seja o linchamento moral, sejam surras físicas que estão sim acontecendo. Simplesmente nojento, não é mais possível a troca de ideias, e assim, um povo que já era tosco e ignorante, piora ainda mais sua condição. Sem querer me gabar, mas atualmente o único lugar público com diálogo aberto que eu conheço é o Desfavor.
O povo brasileiro aos poucos, tal qual o sapo na panela de água quente, foi se acostumando a funcionar assim e agora entrou no modo intolerante e não consegue mais parar. Não acho que tenha volta, talvez só depois de muitos anos de uma liderança centrada e compassiva, coisa que ainda não se vê no horizonte. Isso reflete socialmente: justiceiros, linchamento, violência gratuita por todos os lados. A sociedade está doente, mais doente do que o normal. Virou aceitável mentir descaradamente e se defender com vitimização. Depois de mais de uma década vendo isso acontecer toda semana, mesmo quem não aceita, está dessensibilizado. Já é quase normal. Uma pena. Nunca deixem de se indignar.
E a oposição tem culpa. Entrou nessa guerrinha. Quando você alça alguém à condição de seu inimigo, lhe dá importância e lhe permite ficar no mesmo nível que você e se vitimizar com cada pancada que você dê para se defender. A oposição foi burra, ela levou o PT até onde ele está hoje. Ela permitiu que ele ganhe no grito, se fazendo de vítima ou de maluco. A verdade é que a oposição dançou conforme a música porque nessa festa, todo mundo ganhou uma fatia generosa do bolo. Agora a merda está feita.
Olhem em volta. Olhem em volta e comparem as pessoas hoje com o que eram na década de 80, 90 e até 2000. Vejam a mudança de caráter, de postura. Sintam a vibe bélica, raivosa, censora, intolerante. Isso não é coincidência, isso não veio do nada. Isso é reflexo do tom que o PT imprime ao país. Vivemos em uma sociedade sufocante, até mesmo quando tenta ser protetiva. Supostas leis inclusivas se baseiam em revanchismo compensatório, minorias distorcem fatos e direitos para se dar bem, a liberdade de expressão escorre ralo abaixo. É o que acontece quando Presidente expulsa jornalista de outro país depois dele publicar que o Presidente bebe. É assim que se lida com as coisas na era PT.
Eu sinto muita vergonha e tristeza por estarmos tomando esse caminho involuído. Agora, no olho do furacão, não dá para ver com clareza, mas eu tenho muita convicção que dentro de cem anos, os livros de história tratarão deste período como uma ditadura moderna, como novas características, afinal, se o mundo mudou, tudo mudou junto. O novo conceito de ditadura é esse: não poder falar sem ser agredido, não ter diferença de opinião respeitada. Em vez de ir para porão de delegacia, você é trucidado em rede social, perseguido por facções, demitido e leva uma surra. É ditadura sim, na ditadura do novo século a intimidação não se dá com tortura e sim com silenciamento. Um período negro de pouquíssima produção intelectual (quem é contra o PT não tem voz, é trucidado), de pouco diálogo e de pouco crescimento. Vai por mim, no futuro isso vai ficar claro e essa era negra será lembrada com pesar.
Estou desgostosa de passar por isso. Mas estou ainda mais desgostosa que a maior parte das pessoas não estejam nem percebendo.
Começaram cedo este ano, hein?
PASTOR QUE SE VESTE DE MENDIGO EM CULTOS ANDA DE FERRARI E JATINHO E PEDE PRA FIÉIS “RASPAREM A CARTEIRA”:
http://www.paulopes.com.br/2015/12/pastor-que-se-veste-de-mendigo-em-culto-tem-porche-e-ferrari.html#.VogY0LYrLcd
“PERUA GOSPEL” – ESPOSA DO CARA DA NOTÍCIA AÍ DE CIMA – DIZ QUE QUEM USA SUA GRIFFE “É ESCOLHIDO POR DEUS”:
http://www.paulopes.com.br/2015/12/perua-gospel-diz-que-quem-usa-sua-grife-eh-escolhida-por-deus.html#.VogZr7YrLcd
Só um adendo: eu sei que as duas notícias são da última semana de dezembro de 2015, mas só me mandaram os links agora e possivelmente isso pode ter alguma repercussão e desdobramentos daqui pra frente…
A tônica essencial que captei do texto do Somir diz tudo: Os políticos são a cara do povo que os elege. Um povo que se deixa levar por ilusões de ganho fácil, pelo imediatismo, pelo “jeitinho”, etc, vai acabar elegendo patifes, sejam eles quais forem. Se a sociedade não fizer uma reforma moral como um todo – e aqui falo não da moralidade de cunho sexual (que tanto é apregoada nas igrejas e na boca do BM, mas na prática é tão podre que não há palavras que descrevam) mas valores como honestidade, confiabilidade, honra, vergonha na cara, etc – esta sociedade irá continuar se degenerando e continuará elegendo políticos patifes com diferentes partidos, mas prometendo ser o “salvador da pátria”. Para quebrar este ciclo extremamente vicioso dá trabalho e infelizmente a grossa maioria dos BMs não quer sequer saber de mudar, pois seria inconveniente para muitos deles. Mas é preciso, ou então a nação continuará rumo ao colapso total.
Sally, concordo com você, mas com algumas ressalvas: O povo brasileiro é pacífico… Em que sentido? Custo a acreditar que uma sociedade na qual cerca de 60000 vidas são ceifadas em homicídios seja realmente uma sociedade pacífica. Eu diria que o povo é “cordeiro” com os políticos que gosta (e aí entra o povo gostar do governo que dá tudo o que ele quer, seja dinheiro na mão, comida na mão, etc), mas são capazes de matar o vizinho que reclamou do som nas alturas, por término de relacionamento (principalmente machos brasileiros que não são educados para receber “nãos” e se acham os reis da cocada preta), por causa de dívidas irrisórias, rixas e desavenças familiares (que são muitos, infelizmente), brigas de trânsito e por aí vai, a lista é longa. Se formos analisar a história da sociedade brasileira, veremos que o povo, no dia a dia, quase nunca correspondeu ao “mito do povo cordial”, ao contrário, a sociedade brasileira sempre foi muito violenta (assim como toda a América Latina) a diferença era que tinha menos gente neste país.
No mais, concordo com você: O discurso politicamente correto preconizado pelo PT para enganar e ludibriar o povo está estragando e muito as relações sociais como um todo, a vitimização conseqüente é a prova cabal disto.
É pacífico no sentido de não ter uma grande revolução ou revolta nacional em sua história, é pacífico como coletividade.
Sou brasileira com muita vergonha e muito horror…
Vejo que existe brutalidade de ambos
tanto de quem é contra o PT quanto de quem o defende.
No momento acho até que é mais difícil tolerarem quem defenda o partido.
Meu receio é de um governo ainda pior. Quando vejo gente falando em Bolsonaro 2018 percebo que ainda estamos distantes do fundo do poço.
Parabéns, Somir. Parabéns, Sally.
“O brasileiro ainda não está disposto a entender que o país precisa trabalhar seu futuro, mesmo que seja um remédio amargo. Os que querem Dilma fora agora provavelmente o querem para dar chance de alguém vir e fazer mágica para resolver todos os problemas.”
“Que precisa distribuir renda, precisa. E não tem dia melhor pra começar que hoje… mas mentira tem pernas curtas e vimos na prática como o povo brasileiro não tinha nenhuma rede de segurança de verdade. Assim que veio a conta de um ano eleitoral onde se fez de tudo para manter o país parecendo próspero, ficou claro como a mobilidade social prometida não tinha fundamentos.”
“Pessoas brigando seriamente por política, por canalhas (de ambos os lados) que já mostraram mais de uma vez, que não valem a merda que cagam. Pessoas saindo do sério, se xingando, se batendo e até mesmo se matando. Amigos rompendo amizade. Radicalismo, intolerância com as diferenças.”
“Supostas leis inclusivas se baseiam em revanchismo compensatório, minorias distorcem fatos e direitos para se dar bem, a liberdade de expressão escorre ralo abaixo. “
Destaquei esses trechos dos dois textos porque são coisas que eu também penso e tenho dito há tempos na cara de um monte gente com quem converso, ou tento conversar. Infelizmente, praticamente ninguém entende, se dá conta do tamanho da merda ou se importa… Mesmo assim, vou mostrar este post pro máximo dos meus contatos que eu puder.
Mas será que tudo de ruim ocorrido nos últimos anos é culpa do PT?
E eu acreditando na sua imparcialidade…, que pena.
Tudo que diz respeito à má administração do país, SIM, ÓBVIO. Era responsabilidade deles.
Mas o que você esperava ?
Situacionistas têm que ter a culpa das situações, ué…
*as maiores das culpas,
porque a “oposição” também foi “lembrada” por ser tão mentecapta ao invés de (correta) captadora…
Querido anônimo,
Aprenda uma verdade desta vida: ninguém é imparcial. A isenção é um mito.
Nem é essa a proposta, isso é um blog de opinião. Damos nossas opiniões.
Não sei o que me deixa com mais medo nessa situação toda: o PT transformar o Brasil numa Coreia do Norte, onde é basicamente um crime se opor ao governo, ou virarmos um Irã, dada a quantidade de deputados-pastores que se lançam em Brasília exclusivamente a fim de puxar o freio de mão do progresso do país.
Tenho medo do futuro aqui. Tenhamos medo. Feliz 2016 (?)
Tem que ter medo mesmo…
E eu tenho…
Sim, medo demais !
Aproveitando para relembrar isso que já mandei
(só essa vez, porque né…) :
“Feliz ano zika, ops, olímpico”
Um exemplo desse incômodo a que me referi no comentário anterior: o ator Paulo Gustavo se casou com um homem, como todos sabem. O que nem todos perceberam foi que os grupos militantes LGBTs, em vez de comemorarem a atitude corajosa dele (todo mundo sabe que assumir homossexualidade fecha muitas portas para atores) o criticaram por ele ser contra a parada gay e por não ter beijado o noivo no casamento. Ou seja, não basta o cara ser gay pra ser parte da minoria que eles defendem: ele tem que ser um papagaio do movimento e não tem o direito de pensar diferente nem de ter voz própria.
É absolutamente bizarro que gays tenham coragem de chamar outro gay que está escancarando as portas do armário ao se casar com outro homem de “portador de homofobia internalizada” (oi??? Ele CASOU COM OUTRO HOMEM!) e também o meme, muito compartilhado por gays e lésbicas na última semana, com a foto do casal e a mensagem: “Ser gay de estimação para não chocar hétero não te torna aceito. Te torna covarde”.
Além disso, líderes de grupos gays escreveram textões e mais textões sobre como ele perdeu a chance de fazer de seu casamento um ato político e “casamento sem beijo é fazer papel de gay de estimação, um acessório da moda dos héteros homofóbicos que adoram dizer que tem um amigo gay, mas um gay que sabe o seu lugar e não demonstra desejo real pelo parceiro”.
Tem que ser gay nos moldes que os ativistas querem, né? Agindo assim eles são tiranos de conformidade tanto quanto os preconceituosos…
Cê tá brincando, né, Marina? Isso tá acontecendo mesmo? Puta que pariu…
É tão bom ler pessoas que ainda se indignam com as coisas.
Parabéns para vocês, Sally e Somir, por esse blog sensacionalmente diário e lúcido sobre as merdas do Brasil.
A indignação não pode parar!
Muito foda. Eu não consigo enxergar claramente a censura, mas sinto um incômodo (que não sei identificar direito, nem explicar) que me impede, cada vez mais, de ser completamente honesta com o que penso e sou.
Há um texto que eu mandei para o Desfavor convidado, ainda não publicado, que é ficção simples, nada demais. Mas fiquei pensando para quantas pessoas eu teria coragem de mostrar. Escolhi dois amigos de personalidade bastante moderada, mas os dois disseram que eu tinha que voltar a escrever textos fofos (sim, eu sei…) para crianças, porque se eu publicasse um absurdo ofensivo daqueles fulano, ciclano, beltrano e feliciana jamais falariam comigo novamente.
Sempre achei bobagem o anonimato de vocês. Pela primeira vez talvez eu esteja errada. Se um texto bobinho de ficção ofenderia tanta gente e se eu não teria coragem de publicar tem alguma coisa errada com o mundo ou comigo. O clima de hostilidade e intolerância ultrapassou os limites das redes sociais e chegou às ruas, ao trabalho, aos bares. As pessoas estão mais passionais e malucas ao falarem de política do que ao discutirem religião ou futebol. E, o que é pior, todo mundo quer ser vítima, porque é isso que dá popularidade no momento. Mas ninguém quer pagar o preço disso: admitir que existe uma recompensa para vítimas e que nunca antes na história deste país houve tanta gente lutando para ser do grupo oprimido.
Os desfavores do ano foram angustiante. Tomara que vocês estejam completamente errados.
Também torço para estar errada…
“(…) nunca antes na história deste país houve tanta gente lutando para ser do grupo oprimido.” Adorei essa frase.
O clima de hostilidade e intolerância ultrapassou os limites das redes sociais e chegou às ruas, ao trabalho, aos bares. As pessoas estão mais passionais e malucas ponto.
Também me custava acreditar nisso, mas…