+Presidente nacional do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira (7) na qual apontou episódios que demonstrariam a “desconfiança” que o governo tem em relação a ele e ao PMDB.

Papelão. Desfavor da semana.

SALLY

Faz tempo que uma carta não dá tanto o que falar. Achei que não viveria para ver uma carta causar polêmica uma última vez. Para minha surpresa, uma carta ganhou protagonismo esta semana: um belíssimo mimimi escrito por Temer encaminhado para Dilma vazou na imprensa.

Nem vou entrar no mérito da carta, afinal, não sei dos detalhes que se passam ali para julgar seu conteúdo. Apenas posso dizer que ele certamente sabia onde estava pisando e aceitou a posição na qual se colocou, pois isso era público. Não acho decente reclamar e muito menos tentar reivindicar algum tipo de aprovação ou confiança por escrito. Se foi uma carta forjada para jogar uma pá de cal na popularidade da Dilma, foi escroto. Se foi de coração, foi mais escroto ainda, coisa de gente chorosa, pequena e covarde.

O que me surpreendeu de verdade foi Dilma e o PT indignados achando que a carta foi vazada de propósito, como uma armadilha sórdida. Ok, meus queridos, e se foi? Quantas baixarias o PT já fez, no mesmo estilo ou muito piores do que estas? Qual é a indignação? Ah, entendi, a indignação é quando fazem com eles… ok. O PT já fez pior, vazou informações pessoais, promoveu perseguição e até mesmo boicote. Não venham se ofender.

Temer tem todo o direito de desabafar via carta. Por sinal, se eu realmente quisesse confidencialidade, eu usaria o mesmo recurso. Se o que tivesse vazado fosse um e-mail, todo mundo (inclusive eu) estaria marretando o quão otário ele é de escrever algo confidencial usando internet como meio. O que pretendem? Que ele não se expresse por escrito? Nesse jogo imundo, que cada vez fica mais sórdido, todo mundo é suspeito de uma carta como essa vazada.

Na boa, se ele quisesse poderia subir em um caixote de feira em praça pública e dizer tudo que disse, que por sinal, fora a chorosidade, não é novidade para ninguém. Compreendo o sujeito reclamar. Imagina que merda ficar debaixo do guarda-chuva de Dilma vendo o país se afundar em escândalos e sendo respingado de merda por todos os lados? Eu também ficaria chateada, eu também reclamaria. Ainda que seja uma carta vazada, francamente, tem coisa tão pior acontecendo…

Ele está tentando derrubar a Dilma? Sagrado direito dele. Regras éticas deixaram de existir faz tempo, e esses desvios de caráter são bem tolerados no PT por seus seguidores quando conseguem depreender deles uma causa nobre. Então toma: se estão tentando derrubar Dilma, isso também pode ser visto pela ótica de ser um bem para o país.

Não compartilho desse pensamento, acho que falta de ética não justifica falta de ética, mas não admito versão seletiva: se o pensamento vale para o PT, tem que valer para os outros também. Inclusive para Cunha, quando, por motivos pessoais, tenta derrubar ou intimidar Dilma. Quem faz tem que estar preparado para tomar de volta sem imputar aos outros como falha uma torpeza que já cometeu. Isso se chama “coerência”.

A roupagem moderna de Robin Wood, de pessoas que roubam para dar aos pobres, sempre autorizou o PT a cometer qualquer ilicitude aos olhos de seus militantes, apesar de saber que na prática prestam todo tipo de favorecimento a banqueiro e empresário, enquanto cortam verba para educação. Mas quando a baixaria respinga neles, oh! Que escândalo!Os petistas sempre são vítimas.

Quando eles fazem é nobre, quando os outros fazem algo similar é baixo, é crime, é nojento. Quando pediram o impeachment de FHC estavam exercendo sua cidadania em um estado democrático de direito. Quando agora renomados juristas pedem impeachment do PT com prova documental que Dilma usou lei para conseguir dinheiro de forma ilegal é golpe. Como sustentam esse absurdo? No grito. Gritam tanto, acusam tanto os outros, intimidam e se vitimizam de uma forma que constrange o interlocutor a persistir em sua argumentação. Pessoas racionais desistem, devido à baixaria que se instaura.

Politicamente, para quem tem bom senso, Temer está morto agora. O povo não vai comprar essa vitimização por três motivos: pela prolixidade (ninguém vai ler a carta até o fim), pelos termos (tá difícil demais de entender) e por ele ter dinheiro (petista acha bem feito rico sofrendo, desde que não seja ele). Ficou como um frouxo, um canastrão, um pateta.

A carta não foi um golpe baixo. Golpe baixo é juntar um dossiê sobre a pessoa por anos, com informações sobre sua vida pessoal e jogar a público para denegri-la, coisa que fizeram com Lula quando ele ainda tinha a profissão candidato a presidente, levando ao conhecimento de todos que ele não apenas tinha uma amante, como também a coagiu a fazer um aborto de um filho seu. Isso é golpe baixo. O que Temer fez foi uma reclamação boba e uma busca paumolenga de validação. “Mimim não confia em mim, mimimi não me chamou para tal solenidade”. Vai à merda. Me dá um papel e uma caneta e você vai ver o que é escrever baixaria sobre Dilma!

Até os escândalos deste país estão ficando chatos e politicamente corretos? Cadê as amantes? Cadê os podres? Saudades de quando vazava que Dilma batia em funcionária com cabide. Mas que bela bosta de carta, hein Temer? E vocês, petistas, se fazer de vítima por causa de uma carta que quando você abre sai arco-íris, ursinhos carinhosos e lágrimas é simplesmente ridículo. Todo mundo frouxo, todo mundo meia bomba, todo mundo na típica paumolescência. Que nojo!

Se é para lavar roupa suja em público, por gentileza, sejam mais divertidos ou então chamem um bom roteirista para escrever as ofensas. Tá chato, viu? Tá chato, monótono e repetitivo. Nem pra barraco brasileiro serve mais. Tá foda.

Para dizer que pessoas modernas mimizam em 140 caracteres, para postar memes nos comentários ou ainda para dizer que nunca viu uma oposição tão frouxa: sally@desfavor.com

SOMIR

Que estamos à deriva, estamos. Que o arremedo de governo da Dilma nem mais merece tal designação, já sabemos. Que o PMDB é aliado de aluguel há décadas, acho que nem a assessoria de imprensa do partido tem coragem de negar… mas mesmo diante da obviedade da crise generalizada no Brasil (Aliás… não dissemos?), sempre acham um jeito de tornar a piada ainda mais sem graça.

Michel Temer escreveu uma carta chorosa para Dilma, a carta vazou (o que provavelmente era o objetivo – Temer quer tirar o dele da reta para o caso de precisar se distanciar mais ainda do PT) e já virou piada. Ridículo um homem feito (de dinheiro meu e seu!) ficar com esse mimimi todo, como se fosse alguma surpresa tanto seu papel decorativo – o que é meio padrão em todas as vice-presidências – quanto a desconfiança de Dilma e seu partido sobre o PMDB.

Mas já que estamos aqui, vamos fazer uma Tecla SAP na carta? Vou selecionar alguns trechos:

Senhora Presidente, (Com “e” no final mesmo, caguei para o que você prefere!)

“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem) (Achei melhor traduzir, sabe como é PT, né? Capaz de acharem que é um feitiço do Harry Potter e queimarem antes de te mostrar…)

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio. (Vou deixar isso aqui registrado porque a merda que vocês estão fazendo não para de escorrer pra cima de mim. Tudo bem que eu ajudei, mas o brasileiro é tão imbecil que é capaz de achar que eu era contra!)

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo. (E por pessoal eu quero dizer algo que vai vazar e cair em todos os jornais e redes sociais… não mandei minha estagiária escrever isso pra ficar escondido, né?)

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. (Dá pra desgrudar essa sua imagem toda cagada de mim?)

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. (Só porque a gente está tentando te foder desde o começo do mandato? O PT te fodeu mil vezes mais e você ainda defende eles!)

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles. (Vulgo o que você deixou de me pagar até aqui, sua bruxa!)

1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. (Se eu ligo de verdade? Claro que não. Eu até aceitei ser vice na reeleição… mas vai que cola que eu não fiz nada de útil porque você impediu?)

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários. (Chupa! Estamos tirando o corpo fora dessa crise toda! Como seus comparsas são terríveis nisso de roubar e começaram a estragar pra todo mundo, está perdendo a graça estar no governo…)

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. (O que você acha que é o meu trabalho, sua cretina? Eu distribuo cargos! Você me quebra assim. Moreirão foi tão bem que até conseguiu trazer o Zika vírus…)

4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas “desfeitas”. (É, eu só me importo com os cargos que meus indicados perderam… isso fode o orçamento no final do mês…)

5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos (…) Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. (Eu prometi um monte de cargos, você entregou para os seus amigos!)

6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. (Foi procurar uma versão mais barata, né? Se fodeu. Eu custo caro por um motivo…)

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. (Fazemos QUALQUER negócio! Como vocês vão rodar em 2018, tenho que garantir o desvio das crianças…)

8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden – com quem construí boa amizade – sem convidar-me. (Eu tinha ensaiado uma música pra cantar pra ele! Magoei!)

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa. (Tá achando que vai me arrastar pra vala junto com você, baranga? Mas nem fodendo!)

10. Até o programa “Uma Ponte para o Futuro”, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal. (Você tem noção de como deu trabalho mandar escreverem aquilo?)

11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. (Não assinaram o contrato? Agora abracem o capeta. Não vamos a lugar algum.)

Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais. (E por momentos críticos eu quero dizer o seu governo… quer dizer, era pra ser meu também, mas eu escrevi uma cartinha tirando o meu da reta.)

Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. (Quem dorme com porco acorda com a boca cheia de farelo… estou pulando fora, se fode aí! Hahahahaha!)

Para dizer que prefere a versão realmente desbocada da Tecla SAP, para dizer que não há nada a Temer, ou mesmo para dizer que decorativa mesmo é a mulher dele: somir@desfavor.com