
Burreza.
| Desfavor | Ele disse, Ela disse | 6 comentários em Burreza.
O mundo está apinhado de gente burra. Mesmo que exista um fator relativo muito grande aqui, estamos falando daquelas que mal conseguem compreender o mundo ao seu redor, não só sobre um tema, mas em geral. Sally e Somir discordam sobre a possibilidade de redenção de pessoas assim. Os impopulares dizem qual opinião acham mais burra.
Tema de hoje: existe burrice irremediável?
SOMIR
Não. É um assunto cheio de nuances, mas se for para traçar uma regra geral, eu não apostaria em burrice inescapável. Eu considero burrice o apreço pela ignorância. É mais do que não saber, é um grau mais “elevado” de desinteresse e incapacidade de aprender ou usar o conhecimento que tem para emitir opiniões ou tomar decisões. Burrice não é errar quando se faz algo pela primeira vez, burrice é uma recusa às vezes até consciente ao saber.
E é com base nisso que eu acredito que a burrice possa ser combatida sim. Claro, depende demais da própria pessoa e com certeza faz toda a diferença estar inserida num ambiente propício para tal, mas a capacidade de botar o cérebro pra funcionar sempre está lá. Minha teoria para tanta gente parecer incapaz de conquistar alguma evolução intelectual é que não existem subsídios e experiência suficientes para lidar com essa público.
Uma coisa é ensinar uma mente em formação, naturalmente curiosa, e outra completamente diferente é uma que já criou sua própria visão de mundo, mesmo que nas lacunas do próprio aprendizado. Sou da opinião que inteligência é resultado direto de curiosidade e interesse, o cérebro não vai se desenvolver se não for exercitado. Sem “mexer esse músculo”, vai tudo continuar flácido. O que tende a dificultar para muitas pessoas o processo de vencer a ignorância/burrice é a falta de incentivos para aprender. Aprender para “não ser burro” é um péssimo incentivo. E infelizmente é muito assim que o mundo lida com essa ideia.
Como se ser inteligente fosse o objetivo em si. Ser inteligente não tem a menor graça por si só, na verdade, tende a te deprimir quando se pensa muito sobre o mundo no qual vivemos com suas verdadeiras cores. As pessoas acabam com a ideia de que se lerem vários livros vão começar a ter melhorias significativas na vida… ledo engano. E essa frustração com o se tornar mais inteligente acaba influenciando o desinteresse que essa massa burra tem com a ideia de evoluir a cachola.
Ser inteligente é excelente quando você tem curiosidade e interesse sobre o mundo ao seu redor. Aí sim o cérebro bem treinado começa a brilhar: você consegue acumular informações, relacioná-las, reconstruí-las… mas desde que você tenha algo para fazer com esse material. Ser inteligente para entender melhor a novela não é um objetivo que faça muita diferença na vida da pessoa. Evidente que muita gente vai se dizer incapaz ou sem vontade nenhuma de pensar mais no que acontece ao seu redor: sem o combustível da curiosidade, inteligência é só o fim da “bênção da ignorância”.
Estou falando tudo isso porque minha opinião hoje se baseia na ideia de que os resultados péssimos que tivemos até hoje na verdade são resultado de uma abordagem errada sobre a luta contra a burrice. Inteligência se desenvolve a partir de alguns temas queridos que vão dando força para o resto do cérebro para acumular mais informações. É um processo lento, mas possível. Não vou negar que por questões que vão bem além da vontade das pessoas, cérebros podem perder poder de fogo com desnutrição, abusos e isolamento, mas alguma base se mantém.
E, claro, não estou falando de gente que realmente teve um dano cerebral acentuado, uma falha de desenvolvimento que impede fisicamente as sinapses, estou falando de quem desenvolveu tão pouco o intelecto que ficou para trás até mesmo da (baixa) média mundial, mas ainda sim é funcional na sociedade. É gente que não entende os textos que lê, mas consegue travar uma discussão com outro ser humano e não parecer obviamente atrasado (além das opiniões absurdas e da ignorância galopante).
Essas pessoas, que parecem inalcançáveis, por incrível que pareça ainda tem sim um mínimo necessário para alcançar pelo menos um patamar médio (não brasileiro médio…). Não precisa virar gênio, é só começar a entender ideias mais abstratas e relacionar conceitos próximos. Entender por cima um texto que lê. Muita gente não consegue porque não tem o interesse necessário para fazer o esforço. Não é nem questão de ser necessariamente preguiçoso, é tentar seguir um caminho muito mais difícil do que o precisaria seguir.
Se você coloca um interesse no caminho desse burro, ele vai ter não só motivação como recompensas para desenvolver a mente. Repito: a maior burrice é achar que ser inteligente é uma vantagem por si só. Sem ter o que fazer com essa capacidade extra de processamento, parece só perda de tempo mesmo. Todo burro é alcançável se tiver as condições minimamente ideais ao seu dispor. Se deixá-lo isolado entre seus “pares” tempo demais, ele não vai conseguir sequer enxergar vantagens em pensar mais, aliás, muito pelo contrário: inteligência é mal vista para boa parte dos que não a desenvolvem.
Não é como se o cérebro se recusasse a fazer seu trabalho. Mas ele quer algo em troca, é sempre difícil sair da inércia. Se não há incentivo para essa pessoa achar um interesse, se manter curiosa e ser recompensada pela capacidade maior de pensamento (crianças costumam ser recompensadas quando usam mais o cérebro, pelo menos até certa idade, isso faz muita diferença…), é claro que a burrice vai parecer irremediável. Querer não é poder, tem que criar o ambiente para conseguir isso.
E, porra, não precisa saber tudo! Se ficar médio em alguma das áreas do conhecimento humano, já sai dessa categoria de burro em geral. O ideal é aprender a relacionar mais ideias, mas mesmo que isso não seja extremamente desenvolvido, só os “músculos” criados nesse aprendizado específico já começam a influenciar em outras áreas da vida. Vai ter que ter aprendido a ler melhor, a fazer conexões lógicas, a pesquisar…
É a forma de enxergar o assunto. Enquanto as pessoas tiverem a ideia de que “dom” é uma coisa real ou mesmo que inteligência é algo que se desenvolve só para ser inteligente, vamos continuar tratando os burros de forma muito errada e limando suas possibilidades de ascensão.
Para dizer que meu texto foi burro demais, para dizer que adoraria ter mais interesse nisso, ou mesmo para dizer que sua resposta é definitivamente talvez: somir@desfavor.com
SALLY
Existe burrice irremediável? Sim, infelizmente algumas pessoas que passam por severas privações das mais diversas naturezas podem estar condenadas a serem burras por mais esforço que façam. Melhoram, mas não saem do patamar de burrice.
Não estamos falando da regra geral, de genética como determinismo biológico, e sim de uma confluência de fatores graves, que podem ir desde desnutrição na infância, abusos, falta de estímulo intelectual e até mesmo tortura. Um ser humano sistematicamente “danificado” em sua fase de formação fica sim com sequelas tenebrosas para o resto da sua vida. E uma delas pode seruma severa deficiência cognitiva, que seja apenas parcialmente reversível.
Via de regra todos podem mudar sua realidade e, com esforço e perseverança, aprender. Mas alguns poucos muito sacaneados, mas muito sacaneados mesmo, não tem essa capacidade. Nem ao menos sabem como. Seu cérebro está “atrofiado”, não tem subsídios mínimos para começar a entender a base necessária para evoluir. É quase que uma deficiência física, porém em vez de ter origem genética, tem origem social.
Crianças que passam fome por períodos prolongados ou muito mal nutridas na infância apresentam sequelas físicas. É visível até mesmo pelo seu corpo, que não crescem como deveriam. O que te leva a pensar que do lado de dentro está tudo ok? O cérebro precisa de combustível para crescer, se desenvolver e até mesmo para trabalhar no dia a dia. Não tem mágica, sem combustível ele fica prejudicado. Mesmo que você coloque todo o combustível do mundo para dentro depois de passada a fase de crescimento, ele não retroage. Os danos estão feitos.
Pessoas com severas sequelas emocionais não tem as condições mínimas para se desenvolverem como seres humanos plenos, muito menos para aprender. Existem diversos relatos de crianças encontradas em florestas, que cresceram com animais e foram “criadas” por eles. Estas crianças tem uma capacidade X de aprimoramento e lapidação, mas nunca serão capazes de ir até onde é necessário para que a sociedade como a conhecemos as classifique como “inteligentes”.
Percebam que eu não estou condenando ninguém à estagnação. Mesmo a pessoa com a pior das vidas pode fazer progresso. O progresso sempre é possível. Porém um salto qualitativo que tire a pessoa da classificação de “burra” eu considero impossível em alguns casos.
Sem uma base, sem um mínimo onde se apoiar, se torna impossível evoluir e aprender o resto. A capacidade de aprendizado do cérebro dessas pessoas está muito atrofiada e, por mais que ela expanda um pouco, será apenas isso: um pouco. Um menino que cresceu com os lobos no meio da floresta nunca será um físico nuclear, lamento informar.
A flexibilidade de um cérebro adulto, bem como sua capacidade de aprendizado, são muito limitadas. Existem, mas nem se comparam à capacidade cerebral do período onde estamos mais propensos ao aprendizado. Nos primeiros anos de vida aprendemos mais coisas do que vamos aprender em todos os anos de vida que vem depois. Não é lógico pensar que um cérebro adulto, menos maleável e capaz de absorver informações, vá dar conta dessa demanda monstruosa. Alguns podem conseguir, mas certamente é leviano afirmar que todos, sem exceção, conseguirão. Vai ter quem não.
Quanto mais velhos ficamos, pior funciona nosso corpo. Além da redução da capacidade de aprendizado (quando comparado à infância) temos também redução de energia e de muitos outros fatores que afetam o aprendizado. É como pensar que um dia um fusca pode correr tanto quanto uma Ferrari só por colocar a melhor gasolina do mundo nele. Não, gente. A base, a capacidade de absorver, processar e compreender informações, tem possibilidade de crescimento muito limitada quando encontra entraves graves como desnutrição, abuso e falta de estímulo.
Com isso não quero dizer que todas as pessoas que passaram por isso sejam burras. Claro que não. Existe gente que, apesar de ter tudo contra, é extremamente inteligente, inclusive mais do que eu. Não sei explicar a loteria genética que determina isso. Talvez a pessoa tenha conseguido se auto estimular quando pequena, não sei. Palmas, são inteligentes. Mas não vem ao caso, o tema de hoje é se podem existir casos onde uma pessoa seja tão prejudicada, escrotizada e barbarizada, tão privada do essencial, que a torne incapaz de melhorar o suficiente para sair da classificação de “burro”.
O Brasilzão tá aí para provar o tanto de gente burra que até quer evoluir mas não sabe como, não consegue. Vejo gente burra fazendo esforços comoventes para tentar transcender e migrar para a categoria dos “na média”. Não conseguem. Tentam ler, mas depois de 3 páginas estão exaustos, não tem condições de prosseguir. Ou então fazem uma leitura mecânica sem absorver ou decodificar nada além de trechos desconexos que lhes interessam. São os nossos tão conhecidos analfabetos funcionais, que hoje parecem ser maioria no Brasil.
É um erro achar que todo burro é burro por falta de esforço. Muitos conseguem se esforçar e melhorar, mas alguns realmente não conseguem, apesar de todos os esforços. Não acho que sempre seja culpa deles. Muito fácil julgar quando tivemos as condições essenciais para crescimento e desenvolvimento: achamos que assim como nós, para qualquer ser humano basta o esforço para ascender. Infelizmente não. Dependendo do quanto os infortúnios afetaram aquela pessoa, ela não tem folego para correr até onde precisa.
Muitos conseguem. Muitos transpassam o pior dos mundos e são inteligentes e bem sucedidos. Mas isso não quer dizer que todos consigam. Alguns realmente não conseguem e não por sua culpa, mas por uma confluência de fatores que os priva de uma base mínima para evoluir intelectualmente. Ingenuidade pensar que obstáculos tão graves sempre, sem qualquer exceção, serão transponíveis. Algumas vezes não são.
Não tem jeito. A idade chave pra propiciar o desenvolvimento cognitivo é aproximadamente dos 3 aos 7 anos. No entanto, creio que cultivar o hábito regular da leitura e estudo pode ajudar.
A Peter pan não deixa encostar:
http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/fas-pagam-caro-para-tirar-foto-sem-abraco-com-avril-lavigne/
É, de novo, o mesmo caso: Sally argumenta bem, mas eu tendo a concordar com o Somir nessa. alvo lá raros casos em que o fator neuromotor influencia, todos somos capazes de aprender, e de fato, inteligência é o resultado direto de curiosidade e interesse.
Obiviamente existe burrice irremediável. Convivemos aqui com o epítome dessa burrice durante anos. Um ratinho de laboratório que só nos serviu de diversão. Mas que já foi para a lata do lixo.
(Agora, com licença, que preciso pendurar as roupas no varal).
Obviamente, corrigindo.
Burrice mesmo falta de QI não tem solução algumas pessoas até são esforçadinhas mas nada além disso eu tenho um irmão pré adolescente que não consegue ir bem na escola por mais que se esforce ou seja estimulado e não tem jeito ele vai ser sempre abaixo da média, e conheço muitos outros que são do mesmo jeito