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Tender critica

Tender critica

| Desfavor | | 35 comentários em Tender critica

A minha intenção inicial era abrir um canal no YouTube para fazer a análise de filmes, jogos, hqs e outras coisas nerds, mas ainda estou considerando essa ideia de mostrar minha pessoa e meus pensamentos para o mundo. Se a repercussão dos textos for positiva, acho que o farei. As obras escolhidas nem sempre serão lançamentos ou comerciais, darei preferência para produções mais alternativas, fora do eixo que recebem críticas de pessoas mais profissionais do que eu. Enfim, minha intenção não é ser a voz da verdade, nem fazer uma crítica profissional , mas sim dar uma breve análise do que considero interessante nas obras escolhidas e tentarei fazer isso semanalmente, mas não prometo nada ok? Por isso, também não darei notas às obras, acho esse negócio de nota muito autoritário e quero dar liberdade para vocês fazerem próprias avaliações. E sim, darei muitos spoilers ao longo dos textos, então tomem cuidado para não estragarem a diversão de vocês. Para hoje escolhi dois filmes: It Follows e Maggie. A escolha desses dois filmes não foram aleatórias, pois tratam da morte anunciada, mas cada um à sua maneira. Além disso, foram dois filmes que assisti sem compromisso e que superaram as minhas expectativas, por isso decidi compartilhá-los com vocês, espero que gostem.

It Follows

(Brasil: A Corrente do Mal), 2014 – Direção: David Robert Mitchel. Estrelando: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi, Jake Weary . Gênero: Terror / Suspense


Jay (Maika Monroe) é uma jovem moradora de Detroit, que está saindo com um rapaz chamado Hugh (Jake Weary). Em sua primeira relação sexual com ele, ela descobre que recebeu uma maldição sexualmente transmissível que irá persegui-la até a morte e que a única maneira para escapar dela é transmitindo a maldição para a frente. A premissa do filme parece vazia, mas a forma como ela é contada é bem envolvente e tenta fugir dos clichês de terror. Esqueça os sustos fáceis, o diretor preferiu dar um tom mais psicológico ao filme e o medo está no desconhecido, no inexplicável e na forma como os jovens encaram a morte, o sexo e a transição para a vida adulta.

Isso fica muito claro no elenco principal da trama, formada apenas por jovens suburbanos de uma cidade que um dia foi uma das maiores potências econômicas dos estados Unidos, mas que hoje em dia está tomada pelo crime (tem inclusive um documentário muito interessante sobre o assunto aqui). Esse detalhe fica implícito em algumas ambientações, como construções abandonadas, escolas decadentes e serve de premissa para um dos objetivos do filme que é o medo do outro, já que a maldição se apresenta na forma de pessoas que caminham incansavelmente na direção do amaldiçoado com a intenção de matá-lo. O medo do outro é muito recorrente em filmes de terror, afinal de contas, todos os monstros, aparições fantasmagóricas ou assassinos em série nada mais são que o medo na própria humanidade, a coisa mais maligna existente na Terra.

Após ser amaldiçoada, Jay conta com a ajuda de seus amigos para escapar da maldição. Esse é outro ponto interessante da trama, que não explica muito bem como escapar da maldição ou o que ela é, apenas diz que é necessário passá-la para frente e esperar que o próximo amaldiçoado não morra, já que se isso acontecer a entidade volta na linha da corrente até chegar à sua origem. A entidade em si não possui muitos poderes, não atravessa paredes e não é uma paranormalidade quase onipresente como em outros filmes de fantasma. Pelo contrário, ela possui uma presença física, que precisa caminhar incansavelmente até chegar à sua vítima, dando um certo tempo para que ela transmita a maldição para outra pessoa.

Isso me gerou algumas perguntas como: se a entidade matar toda a corrente amaldiçoada, ela morre? Sexo com camisinha passa a corrente pra frente? O sexo precisa ser consensual? E por aí vai, perguntas estas que ficam sem respostas e que frustram pessoas que, como eu, são indagadoras por natureza. Mesmo assim o roteiro se mantém, dando apenas as informações necessárias para que a história ocorra, sem muitas soluções mirabolantes ou místicas para tentar compreender quais são as motivações da entidade, como ela surgiu e porque ela utiliza o sexo para matar suas vítimas.

A primeira impressão que fica é que o filme está falando sobre doenças sexualmente transmissíveis, mas não creio que essa seja apenas sobre isso, já que doenças assim não somem após serem transmitidas para outras pessoas. Mesmo que hoje em dia tenham alguns grupos infames como o Clube do Carimbo, o sexo é apenas uma vertente do filme. O medo aqui parece estar muito mais relacionado com a entrada desses jovens no universo dos adultos, um lugar de insegurança profissional, econômica, social e da certeza de que dia após dia, ano após ano, estão se aproximando cada vez mais da morte certa.

É no papel da morte certa que a entidade se encaixa perfeitamente, já que em seu trabalho incansável ela irá parar apenas quando a vítima não estiver mais viva. É o medo da morte na mais tenra juventude e da incerteza do que pode ser sua vida no futuro que Jay foge de seu destino. O filme dá muitas dicas sobre isso, já que ela vive em uma família problemática, com uma mãe ausente e um pai morto. Em certo momento até os vizinhos comentam que aquela família do bairro é um tanto estranha e aqui entramos em outro detalhe da obra; o voyeurismo. Nos Estados Unidos é muito comum os bairros serem controlados pelos próprios vizinhos, na tentativa de conter a presença de criminosos na área. Porém, isso beira à invasão de privacidade e isso é mostrado na forma de dois garotos que observam Jay enquanto ela nada na piscina. O voyeurismo fica implícito até mesmo em alguns ângulos de câmera, que captam cenas através de janelas, portas ou no olhar subjetivo de algum ponto geral da rua.

Dito isso, afirmo que a direção de fotografia do filme é muito boa, sempre captando pequenos detalhes, sempre focando na presença da entidade como mais uma pessoa na multidão, já que ela pode tomar a forma de qualquer ser humano. É exatamente essa uma das maiores graças do filme, principalmente nos planos mais abertos, já que sempre parece que algum dos figurantes é a personificação da entidade. Há até uma brincadeira que Jay e Hugh fazem no início do filme que já dita o que diretor quer fazer com quem está assistindo o filme, na brincadeira, os personagens tentam se colocar na vida de outras pessoas presentes no cinema, assim como eu tentei a todo momento identificar se um figurante era ou não era a entidade.

Esse tipo de imersão é essencial para que um filme atinja seu objetivo, que é cativar quem está assistindo a participar da trama, a se envolver com a história, a ter empatia com os personagens e isso o diretor fez com louvor. Ponto positivo também para Maika Monroe, que segura o filme praticamente sozinha, já que os outros atores apresentam atuações razoáveis. Outro ponto alto é a trilha sonora, toda feita por um artista chamado Disasterpeace (codinome de Rich Vreeland), que faz trilhas para jogos. Toda composta por sintetizadores, a trilha é uma viagem oitentista que lembra os bons tempos dos filmes de John Carpenter.

Resumindo, “A Corrente do Mal” fala sobre a decadência de um capitalismo selvagem, as incertezas da adolescência, uma sociedade sociedade opressora e o fato de que todos os seres vivos morrerão um dia. Feito com baixo orçamento, esse filme me surpreendeu e me fez voltar a atenção de um gênero Terror que há muito tempo só me decepcionava, apesar de gostar muito. Com certeza, um dos melhores que vi nos últimos tempos, mesmo sem ter tomado um único susto sequer. No fim das contas, acho que meu maior medo também seja o de morrer sem ter vivido o suficiente…


Maggie

(Brasil: Maggie – A transformação), 2015 – Direção: Henry Hobson. Estrelando: Arnold Schwarzenegger, Abigail Breslin, Joely Richardson. Gênero: Terror / Suspense


O filme basicamente acompanha Maggie Vogel (Abigail Braslin) e sua lenta transformação em um zumbi. Porém, na história o vírus zumbi possui certo conhecimento por parte dos cientistas, é razoavelmente controlado já que a transformação demora dias para ocorrer e tem até nome: Necroambulist. Particularmente considero esse um dos vírus zumbis mais inteligentes do cinema, pois os vírus tradicionais matam muito rápido, o que contraria a própria lógica da lei natural da sobrevivência (para entender mais sobre vírus, veja aqui, já para entender mais sobre bactérias, clique aqui.

No começo do filme, Maggie está desaparecida e cabe ao seu pai Wade Vogel encontrá-la. E é exatamente Wade que me fez amar esse filme, já que o personagem é interpretado por ninguém mais, ninguém menos que Arnold Schwarzenegger. É a primeira vez que eu vejo ele sair de sua zona de conforto, que são os filmes de ação e comédia, isso me deixou surpreso, não sabia que o grandalhão possuía tanta carga dramática de atuação. Arnold demonstra toda a preocupação de um pai que, ao encontrar sua filha, descobre que ela está infectada com um vírus mortal e sem cura.

É nesse relacionamento de perda anunciada que o filme se desenvolve, deixando meio que de lado todo o apocalipse zumbi para se focar na família Vogel. Um família que por si só já foge dos padrões, já que Maggie é órfã de mãe e tem que conviver com seus meio-irmãos e sua madrasta Caroline. Enquanto isso Wade é um fazendeiro que precisa conviver com a perda da esposa, com a convivência da nova família e com a inevitável morte da filha.

Esse sentimento de perda permeia toda a história, seja a perda dos valores humanos, na forma de governos autoritários em situação de risco, seja nas perdas pessoais, como no exemplo da família Vogel e até mesmo na situação socioeconômica demonstrada no filme, já que os fazendeiros precisam queimar suas plantações para evitar que o vírus Necroambulist se espalhe. Sendo assim, se por um lado o dramalhão faz desse filme um diferencial no gênero zumbi, por outro é meio que um tiro no pé. Ao focar muito nessas perdas, o roteiro se esquece do apocalipse zumbi, que aparece apenas como coadjuvante em noticiários e meia dúzia de cenas com os monstros.

Para mim isso não tirou o mérito do filme, mesmo com as atuações meio apagadas dos atores. Arnold saiu da zona de conforto? Sim! Ele surpreende com carga dramática? Sim! Mas ele é um bom ator? Infelizmente, não. Não há química entre os atores em cena, tudo parece muito superficial e a empatia com os personagens corre o risco de não acontecer se você não estiver na vibe do filme. No meu caso ocorreu empatia com o Wade, mas eu tenho empatia com todos os pais de menina de todos os filmes que tenho visto atualmente, até mesmo os ruins… Porém uma coisa realmente me incomodou em “Maggie – A Transformação”, se substituirmos o Necroambulist por qualquer outra doença, como o câncer, o filme perde toda sua essência, dando tiros em vários alvos e acertando alguns de raspão.

Talvez isso ocorra porque o filme é a estreia de Henry Hobson como diretor, além de ser uma produção EUA-Suíça. A falta de uma direção mais experiente acaba tirando todo o brilho da produção, pois se tivesse sido levada mais para a escola americana de cinema, o filme viraria uma enxurrada de mortos-vivos e a luta pela sobrevivência, se fosse mais pra escola européia, a narrativa seria mais densa, demonstrando como lidamos com a morte e o fim da sociedade como a conhecemos. No final das contas, não foi nem pra um lado, nem pra outro. Enfim, se você é fã de filmes tradicionais de zumbi, passe longe de Maggie, mas se você quer passar alguns minutos assistindo um filme sem compromisso, vale a pena dar uma olhada.


Dica de filme ruim da semana: Alien Tampon

Por: Tender, o pseudo crítico


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