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Supervulcões.

Supervulcões.

| Somir | | 28 comentários em Supervulcões.

Porque vulcões normais são chatos. Supervulcões já bateram na trave com sua meta de eliminar a humanidade, mas seu silêncio atual não quer dizer que não estejam prontos para mais uma tentativa. Deve ser apenas questão de tempo. Está sentindo a pressão?

Mas eu não posso simplesmente ir para a parte divertida onde todos morremos antes de passar algumas informações sobre as entranhas do nosso planeta. Quer dizer, até posso, mas é até poético que este texto seja chato na maior parte do tempo. Diferentemente dos vulcões comuns, os supervulcões são mestres na arte de esperar.

FOGO MORRO ACIMA

Nessa nova fase do Desfavor Explica, eu considero que todos vocês são muito burros e não conhecem nada sobre nada (mentira, eu sempre considerei). A primeira coisa a se entender é a forma como nosso planeta está montado: em camadas. Vivemos na camada superior, chamada Crosta. Até porque seria um tanto quanto perigoso não viver nela, abaixo disso temos um “recheio cremoso” de rochas derretidas chamado de Manto Superior. Com temperaturas variando entre 500° e 900°, esse recheio derrete a boca e a mão.

O Manto Superior é feito de magma, rocha derretida que troca de nome quando chega a superfície, mais ou menos como as modelos/atrizes que começam sua carreira dando tudo de si. Abaixo da crosta se chama magma, quando sobe para nos encher a paciência, o nome artístico é lava. Flutuando por sobre esse manto, a Crosta terrestre está quebrada em vários pedaços. Cada um desses pedaços é uma Placa Tectônica. Nas bordas das placas, existe muito atrito com algumas se chocando, escorregando para baixo de outras…

Nessa bagunça, surgem a maioria dos vulcões normais. É esperado que numa das tantas rachaduras vaze um pouco de magma. A maioria dos vulcões do mundo estão nas bordas das placas tectônicas, e apesar dos vários problemas já causados por eles, ainda não é o grau de insanidade geológica que vamos ver a partir daqui. Pense nos vulcões normais como espinhas no rosto: a pele é fina e não demora muito até explodir. Supervulcões são espinhas na bunda, daquelas que você só estoura com uma motosserra e fazem uma sujeira imensa quando se vão.

ESPINHA NA BUNDA

Ok… não tá legal essa analogia não. Vamos tentar outra…

UNDER PRESSURE

Tan taran tan tan tan… melhor. Se vulcões já são a mãe natureza se aliando da pressão, numa espécie de “peido molhado” especialmente apimentado, vamos pensar em supervulcões como tentar cagar pelo umbigo: não era pra acontecer, e se acontecer é porque muita coisa se quebrou no meio do caminho. Desastre na certa. E olha que eu quis melhorar a analogia… seja como for, um supervulcão segue a mesma lógica de um vulcão comum, é um lugar onde o magma chega perigosamente perto da superfície. Mas ao invés de vazar como normalmente o faz nas versões menores, ele começa a se acumular por não conseguir quebrar a última barreira.

E como ele acumula… os maiores supervulcões do mundo podem chegar a 3.000 quilômetros quadrados de área. Área explosiva. A diferença entre um vulcão explodindo e um supervulcão fazendo o mesmo é basicamente como comparar uma granada com uma bomba atômica. O magma vai empurrando o solo pra cima, criando uma… olha só, a analogia da espinha vai servir mesmo… bolha na crosta. Mas como é algo sutil, centímetros por ano, a vida segue por cima dessas armadilhas mortais. Essas áreas gigantes onde o magma está se acumulando para explodir eventualmente se chamam Caldeiras.

SINAL AMARELO

Agora chegamos na parte divertida. Aposto que muitos já ouviram falar do Parque Yellowstone, nos EUA, nem que seja só pelo nome. Além da vida selvagem, um dos maiores atrativos locais são seus fenômenos geológicos, como gêiseres de água que explodem do solo com pontualidade. O que alguns podem não saber é que Yellowstone é uma caldeira. Debaixo do parque, mais de 1.500 quilômetros quadrados de magma emburrando a crosta para cima. Yellowstone não está sobre uma falha ou algo do tipo, o que o torna especialmente perigoso: não tem muito por onde esvaziar a pressão.

Se o supervulcão de Yellowstone explodir, a erupção pode durar semanas, deixando imprestável uma considerável parte do território ianque. Não estamos falando de lava escorrendo de uma montanha, estamos falando do chão se abrir por centenas de quilômetros e cuspir pra fora milhares de quilômetros cúbicos de cinzas num curto espaço de tempo. Cada quilômetro cúbico significa dez BILHÕES de toneladas disso. Para termos uma noção de escala, uma das erupções recentes mais famosas, a do Monte Pinatubo, que MEXEU com o clima global em 1991, soltou 10.

A última grande erupção em Yellowstone foi há aproximadamente 640 mil anos atrás. Alguns especialistas já dizem que já estamos fazendo hora extra e que Yellowstone está prestes a fazer isso de novo. O solo está se erguendo alguns centímetros por ano desde que se começou a medir. A panela de pressão está apitando. A penúltima e antepenúltima foram mais ou menos nessa distância umas das outras. E mesmo que você tenha raivinha de americano, não sorria: pra variar o que explode lá venta pra cá.

O problema de um supervulcão é bem maior do que sua explosão insana, é a quantidade de porcaria que ele arremessa para o alto. Sabe quando você bate um tapete e a poeira fica na frente da luz? Pó não gosta de descer, que diga o Maradona! Quando a poeira levantada por um vulcão numa explosão com a força de milhares de bombas atômicas é jogada pro alto, ela vai longe. Muito longe. Estima-se que se Yellowstone explodir, vai ter cinzas na atmosfera para o mundo inteiro. Elas chegam no ponto mais alto e começam a ser carregadas pelas correntes de ar. E como poeira é sólida o suficiente para refletir luz solar, uma camada de bilhões de toneladas suspensa bloqueia o Sol, esfriando o planeta, atrapalhando a fotossíntese de plantas e algas… basicamente cagando o ecossistema GLOBAL e fazendo nossa produção de alimentos entrar em colapso. E não adianta dizer que só vai comer bacon, porque mesmo ele depende da agricultura. Só vale a pena dizer isso porque bacon é uma delícia e ataques cardíacos são uma invenção da indústria da comida saudável. Mas, estou perdendo o foco…

Seja como for, a explosão seria um show de fogos divertido para quem estivesse suficientemente longe, mas causaria a morte de uma considerável parte da população humana nos anos seguintes. A poeira pode demorar décadas para se dissipar. A natureza se vira, como o fez dezenas de vezes nas últimas erupções dessa magnitude, a humanidade, porém… bom, só presenciamos uma, e isso quase acabou conosco.

VEI!

Ah, esqueci:

Erupções vulcânicas são medidas numa escala chamada VEI. Como em “VEI, que explosão loka!”. A Escala VEI define o quão fodidos estamos no caso de uma erupção. E como eu mencionei anteriormente, não é sobre o peido, é sobre o fedor. Para marcar pontos, precisa ejetar na atmosfera as cinzas, não importa tanto a pirotecnia. Ela vai de zero a oito, sendo que a cada ponto, as coisas ficam dez vezes piores. Uma erupção VEI 0 é o tipo da coisa que acontece todo dia, não faz nem diferença.

A famosa erupção do Monte Vesúvio, que devastou Pompéia, foi classificada como 5. Já começa a ser um grau de atenção, mas para o texto de hoje, é fichinha. Estamos falando de VEI 7 ou 8. Algo que mexe com o clima do planeta. A única desse nível que “registramos” foi a do Monte Tambora, em 1815. Foi uma VEI 7, que causou o famoso “ano sem verão”, 1816. As cinzas do vulcão esfriaram o planeta por um ano, estragando plantações e fazendo muita gente passar fome.

Quer dizer, a única não… já vimos uma VEI 8. Não foi bacana…

TOMANDO DO TOBA

Mas ninguém deixou registros dessa. Pudera, há 70 mil anos atrás a humanidade ainda não tinha configurado a conta do Twitter para comentar em tempo real o mundo basicamente acabando. E seria um fenômeno nas redes sociais, pelo nome: a erupção mais poderosa que a humanidade já presenciou foi a do Lago Toba. Esse sim num lugar bacana: Indonésia. O que quer dizer que aquele lugar já era uma armadilha mortal naquela época e 70 milênios depois, ainda não aprenderam a evitar o local.

Quando o Toba (no masculino porque é um lago, não pelo trocadilho) arregaçou (ok, é pelo trocadilho… eu sou fraco) numa erupção VEI 8, o mundo chacoalhou. A caldeira tem milhares de quilômetros quadrados, e cuspiu céu acima aquelas dezenas de bilhões de toneladas de cinzas e porcarias extras que provavelmente deixaram o mundo no escuro por alguns anos, sem contar muito gelado. Cientistas analisaram o DNA mitocondrial da humanidade (um que é bem mais estável com o passar das gerações) e descobriram um “gargalo” da humanidade mais ou menos na época do Toba explosivo. Alguma coisa muito ruim aconteceu com nossos antepassados bem naquela época, fazendo que a humanidade tenha reduzido seus números para entre 1.000 a 10.000 pessoas. Provavelmente tem mais gente no seu bairro se você mora numa cidade grande.

Além das implicações divertidas sobre sermos basicamente todos parentes hoje em dia, isso também quer dizer que essa bala passou raspando. Várias outras espécies parecem ter sofrido reduções consideráveis nas suas populações. Um supervulcão toca o terror global. E para ficar mais divertido, o nosso querido Lago Toba também está dando sinais de que quer bis: o solo está se levantando também.

ORGULHO NACIONAL

Muito se diz que no Brasil não tem vulcões porque conseguimos estragar tudo sozinhos. Isso é parcialmente verdade: já tivemos alguns. Mas faz tempo, aproximadamente 132 milhões de anos atrás. Mas foi algo especial… ainda é especulativo, mas especialistas da área desconfiam que tivemos uma erupção VEI 9 (nem tem na escala, eu sei!) na área onde hoje é o Paraná. Claro que naquela época o Paraná ainda estava grudado com a África, sendo que metade das evidências dessa MEGA erupção são encontradas até em Angola.

Mas como tudo no Brasil, é meio roubado. Na verdade pode ter sido uma série de supervulcões explodindo próximos uns dos outros, somando seus efeitos para chegar nas possíveis centenas de bilhões de toneladas de material ejetado. Fica pelo menos o alento para os curitibanos: se vocês acham o clima ruim agora, não é o de 132 milhões de anos atrás.

VAMOS TODOS MORRER?

Sim. Mas provavelmente de uma doença sem glamour. A questão é que o “relógio geológico” da Terra nos conta como alguns segundos inconsequentes. Mesmo que Yellowstone ou o Lago Toba estejam prontos para explodir a qualquer momento, qualquer momento nesse contexto pode significar daqui a dez ou cinquenta mil anos, quando eu realmente espero que ninguém mais precise morar na Terra ou mesmo se preocupar com agricultura. Explosões de supervulcões são relativamente raras na história recente do planeta.

Mas sempre tem a esperança. Pode ser amanhã! Não dá pra saber ao certo quando a merda vai estancar. Eu não gostaria de morrer de fome depois de anos de sofrimento, mas meio que compensaria ver pela TV a bagunça que um desses supervulcões causaria. E se acontecer no Lago Toba, muito mais engraçado: #ExplodiuToba em 1° lugar nos trending topics, até o fim dos tempos.

Para dizer que quer conhecer mais formas como todos vamos morrer, para dizer que minhas analogias foram de excelente gosto, ou mesmo para me mandar nadar no Toba: somir@desfavor.com


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