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Ofensa no masculino.

Ofensa no masculino.

| Desfavor | | 32 comentários em Ofensa no masculino.

+Uma propaganda da Bombril com a presença de Ivete Sangalo, Dani Calabresa e Monica Iozzi é alvo de processo no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). O anúncio — em que a cantora e as humoristas ironizam os homens — é acusado de “discriminação de gênero” e até mesmo de “deboche da figura masculina”. Até quarta-feira, o Conar recebeu 15 denúncias sobre o assunto.

Até os homens começaram com isso? Desfavor da semana.

SOMIR

Além do domínio da abertura de potes de azeitona, mais uma coisa sempre me deixou orgulhoso do meu gênero: homens são alvos mais livres para o humor. Mesmo antes da patrulha do politicamente correto mostrar suas garras, já era mais aceitável debochar do homem e até mesmo de desgraças que acontecem com ele. É possível ver até piadas recorrentes sobre como homens podem ser estuprados na cadeia! E nem isso causa reações furiosas de nós. Bom, talvez eu esteja conjugando o verbo no tempo errado… não causava.

Entre si, homens não se perdoam. É capaz até de um amigo rir da sua cara se você levar um chifre: não SÓ por ter a sensibilidade de um rinoceronte bêbado, mas também por achar que você aguenta numa boa. Vai te mandar largar de ser otário e te sugerir pegar mulher para esquecer. Não estou nem defendendo esse tipo de mentalidade, estou apenas mencionando que há um componente de “proteção” no corporativismo masculino focado em nos deixar menos sensíveis às intempéries da vida.

A vida te sacaneou? Bate de volta ou para de drama! Via de regra acreditamos que outros homens conseguem ser sacaneados e ainda sim tirar uma lição positiva disso. Com certeza não é SEMPRE o melhor caminho a se tomar, mas vem se provando consistentemente funcional na nossa história. Muito se engana quem acha que a casca mais grossa é apenas questão de privilégio numa sociedade paternalista, é também um jeito de nos protegermos. Ensina-se logo para o moleque que não é para ficar chorando se apanhar, que é feio. Sim, essa ideia volta pra morder a bunda de homens e mulheres no futuro dos relacionamentos, mas há uma sabedoria aí que eu detestaria ver se perder num concurso de vitimização.

Essa sabedoria é simples: na medida do possível, não deixe a pancada te definir. Sua vida é muito mais do que isso. Que se ensine melhor os homens a demonstrar seus sentimentos, ok, mas… não mexam nisso! O que mais incomoda sobre a onda de chororô atual é a quantidade de pessoas que veste a carapuça de qualquer crítica ou piada sobre um grupo ao qual pertence e faz um estardalhaço sobre isso. Ou seja: define-se pela pancada. Vítima profissional.

Que as mulheres sejam mais sensíveis sobre os desaforos (sérios ou humorísticos) que vivem escutando por aí, eu até entendo. Acredito na liberdade de expressão total, mas concedo o ponto que qualquer grupo tratado como minoria vai estar pelo menos um grau de saco cheio acima de homens brancos heterossexuais de classe média ou alta. Mais próximos do limite, por assim dizer. Ok! Isso não significa que eu ache aceitável essa histeria censora que se instala por aí, mas é mais fácil entender de onde esses ofendidos estão vindo.

Agora, quando um grupo “maioria” feito os homens começa com esse tipo de comportamento censor, temos um problema. O “estado de exceção” das minorias capitaneadas por ofendidos profissionais torna-se então norma. Todo mundo apontando o dedo para todo mundo. Ao invés de vermos uma redução dos casos de denúncias ridículas ao Conar depois de anos de chiliques ridículos, só adicionamos mais uma categoria de pessoas ao grupo. Os homens, que cagavam abertamente para piadas e críticas direcionadas ao seu gênero, começam a exibir uma involução.

Está todo mundo indo pra mesma vala. Ao invés de aprender a lidar com a informação que recebem e avaliar seu real impacto, preferem transformar até mesmo uma piadinha completamente inocente em motivo de revolta. É justamente se definir pela pancada! Pior, é inventar que a pancada existiu e chorar mesmo assim.

Vou ser machista aqui, e não me desculpo: homens, eu esperava mais de vocês. Quando mulher dá escândalo por causa de propaganda é ridículo, mas quando homem faz, merece ser sacaneado ainda mais. Sério que ficou ofendidinho por uma merda dessas? Está na hora de fazer recall das bolas, elas vieram com defeito! E se pararmos pra pensar, uma propaganda de produtos de limpeza que exclui homens é excelente para nós! Mais mulheres acreditando que seu desígnio divino é arear panela. Homem é “divagar” limpando? Poxa, que chato! Faz você que é melhor, diva!

Normalmente homens eram capazes de abstrair tanto piadas e preconceitos sobre eles que até tiravam vantagem disso: quem tem a presunção de grosso e insensível pode dar muito menos atenção para os sentimentos alheios… espera-se isso mesmo. Compra uma florzinha para a namorada e já acham que você fez até demais. Vestimos e desvestimos os preconceitos de acordo com o nosso bel-prazer. Não dança? É por ser muito macho e não querer ficar rebolando. Dança? É por ser muito macho e querer pegar mais mulher. Nada pega muito no homem nesse sentido. Não importa o que se fale, cidadão acha sua defesa e bate o pé nela. Muito porque não nos definimos pela pancada. Pelo menos isso nos ensinaram bem.

Se essa moda de chorar por causa de bobagens feito propagandas pegar mesmo, ao invés de mostrar o caminho para um mundo menos chato e castrador, estaremos nos igualando a quem pega o caminho mais curto de se fazer de vítima e esperar que o outro venha defendê-lo. E com esse adendo terrível de inventar motivo para se ofender só para ter um pouco de atenção. Eu queria que mais mulheres pudessem ter poder e liberdade de tocar o foda-se para críticas e humor, não que mais homens começassem a perder.

Tudo bem que a evolução seja “divagar”, mas não dá pra aceitar recuos.

Para dizer que achou o texto um lixo, para dizer que eu posso ter contado um segredo muito grande sobre os homens sem perceber, ou mesmo para dizer que no seu tempo era um homem que anunciava Bombril: somir@desfavor.com

SALLY

Parabéns a todos os envolvidos! Em vez de melhorarmos a sociedade permitindo fazer humor com todos por igual, igualaram a histeria! Agora os homens também estão de ofendendo com piadas das “mulheres opressoras”. Gente, é uma piadinha boba em um comercial de Bombril! Precisa acionar o CONAR por causa de uma besteira dessas?

O desejável é que a sociedade caminhasse para uma direção de liberdade de expressão, onde cada vez mais pudéssemos fazer piada, independente de gêneros. Estamos pior do que na década de 80, onde se podia fazer piada com todo mundo na TV. Isso se chama involução. Se a gente já reclamava de não poder fazer piada com mulher por causa de histeria radical de feminismo mal interpretado, imagina agora não poder fazer piada nem com homem! O que vai ser de mim quando alguém descobrir a coluna Sally Surtada?

Não é como se estivessem incitando o ódio contra homens. Ivete reclama que homem não ajuda na limpeza da casa. A pacata figura de Dani Calabresa, a personificação da gentebonisse (não existe, eu sei, e não me importo), faz o seguinte comentário: “toda mulher é uma diva e todo homem é diva…gar”. Minha Nossa Senhora da Bicicletinha, se alguém se ofendeu com isso, nem é caso de terapia, é caso de lobotomia mesmo! O que está acontecendo com as pessoas? Estão perdendo completamente o senso e proporção e a vergonha na cara? Se não pelo bom senso, que ao menos se contenham pela vergonha do ridículo que estão passando.

Se continuar assim, vamos ter que inverter o critério legal: jogar fora toda a legislação vigente, que se resume a te dizer o que você não pode fazer, e reformular criando uma legislação que te diga o que se pode fazer, pois rumamos para uma sociedade onde existirão mais coisas que não pode do que coisas que pode.

O anúncio foi formalmente acusado de “discriminação de gênero” e “deboche da figura masculina”. MEDO. Medo de viver nessa sociedade neurótica. Sensação de não pertinência, de inadequação, por acreditar não apenas que não devem existir limites para o humor como também que nada, absolutamente nada nesse comercial foi ofensivo.

Já passamos em muito a discussão dos limites do humor, naqueles casos de piadas onde pairava alguma controvérsia sobre serem ofensivas ou não (e mantenho minha postura, quem se ofende com piada deve ir ao analista). Agora a questão esbarra na liberdade de expressão mesmo. Não pode dizer que homem não ajuda no serviço doméstico? Não pode dizer que homem é devagar?

Alguém me explica, por favor, o que pode e o que não pode ser dito, porque pelo visto eu sou uma pessoa sem noção, sem adequação, sem medida, que não consegue ver mal algum onde outras pessoas e até mesmo um órgão público vê. Como diria Gil Brother Away, estou “perplecta”.

Não é apenas a chateação de viver em uma sociedade que tolhe o direito de se expressar, ficando assim mais chata e medíocre. É a sensação de opressão, inadequação e não-pertinência que isso gera. Não me identifico com essa massa, com o Brasileiro Médio, que se ofende, que processa, que ofende em rede social. Haters, oportunistas, histéricos. Não me identifico com nenhum deles e me sinto triste e solitária por viver em um local onde eles são maioria. Desânimo, desesperança, desestímulo.

Na minha opinião, toda essa patrulha ao que é dito se resume a uma palavra só: burrice. Mesmo que eventualmente alguns consigam uma indenização ou algum benefício, todos perdemos como coletividade. Uma sociedade onde não se ousa, não se inova, não se abrem portas, fica estagnada ou retrocede. A cultura do medo, da hipersensibilidade, vai nos levar a um atraso civilizatório se continuar assim.

Humor sempre foi um recurso permitido. Até nas monarquias mais absolutistas existia a figura do bobo da corte, único que tinha autorização para ridicularizar o rei. Todos riam. Séculos atrás. Hoje estamos piores do que isso? Desculpa, mas a liberdade de expressão que dizem estar assegurada na Constituição é uma meia-verdade, pois qualquer contrariedade de quem escuta autoriza a calar a boca do interlocutor. É como sempre dissemos, democracia não é poder falar o que quer, é não silenciar quem fala o que você não quer.

“Deboche da figura masculina”. Sim. Deboche. Dá licença de debochar? A Presidente da República debocha do povo. Lula debochou do povo esta semana dizendo que devem encarar a ele a Dilma como “pais que pisaram na bola” e que Dilma só é criticada por ser mulher. Sobre isso não teve um pio na imprensa. Deboches acintosos, criminosos e prejudiciais à sociedade são praticados todos os dias pelo Poder Público e nada nem ninguém os recrimina. Minto, uns poucos o fazem, e entram para uma lista negra, são perseguidos.

Apenas parem. Enquanto não se der liberdade de expressão total e deixar o próprio povo segregar o que não presta em matéria de conteúdo, essa gente não vai aprende a escolher. Chega desse Estado paternalista te dizendo o tempo todo o que você, pessoa adulta, pode ouvir ou não, o que te faz mal ou não, o que é ofensivo ou não. Apenas parem.

Certeza que se Sally Surtada um dia se popularizar serei linchada.

Para ter dificuldades em acreditar que essa notícia seja real, para observar bem qual vai ser o discurso feminista nessa hora ou ainda para dizer que Lula é que deveria ser o desfavor da semana: sally@desfavor.com


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