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Fofoca!

Fofoca!

| Desfavor | | 20 comentários em Fofoca!

Boa parte da mídia parece dedicada a discutir a vida pessoal de celebridades. A indústria da fofoca vai de vento em popa, e apesar de Sally e Somir concordarem que é uma futilidade, temos notícias exclusivas que eles podem estar discordando sobre o mérito! Bomba! Os impopulares contam o que descobriram…

Tema de hoje: Consumir fofoca é degradante?

SOMIR

Claro que é. Você prefere ser visto comprando uma Caras ou uma Superinteressante? (Sei que alguns de vocês não devem mais saber, mas antigamente tinha uma coisa chamada revista, muito popular. É tipo um site, mas impresso. Maluco, eu sei.) Se você concorda que existem conteúdos melhores para consumir, provavelmente concorda que fofoca é degradante.

Mas o argumento da relatividade talvez não seja exatamente o ponto aqui. Sempre tem algo melhor porque melhor é relativo. Poderia focar nisso forjando um conceito de melhor que muitos de vocês se sentiriam bem em aderir e angariar votos para minha causa, mas seria um truque. Quero ir no cerne da questão: o mero interesse na fofoca é degradante. É a curiosidade em seu menor denominador comum…

Muitas vezes argumento que uma das principais causas do baixo desenvolvimento intelectual de povos feito o brasileiro é o fim da curiosidade logo depois da infância. A pessoa não quer aprender mais nada, só quer ter certeza de alguma coisa e agir de acordo. Mas é claro que isso não contabiliza a curiosidade sobre as vidas pessoais de outros seres humanos. Desconfio que o mito de que o Einstein era ruim de matemática na escola (não era) seja mais conhecido pelas pessoas do que o nome da teoria que o fez mais famoso. Ou que lembrem mais do mito que Charles Darwin renegou sua teoria no leito de morte (não renegou) do que da Teoria da Evolução em si.

Infelizmente a maioria das pessoas só fica com essa curiosidade ligada pelo resto da vida. Pessoas, seus hábitos, seus relacionamentos… a fofoca é basicamente o que sobra quando não tem mais nada para pensar. Porque analisar e julgar escolhas alheias não exige praticamente nada de conhecimento. A fofoca é popular porque ninguém precisa se esforçar para que seu cérebro faça uso da informação. Basta comparar a outra pessoa com sua própria vida e uma opinião surge na hora!

Eu sei que fofoca é algo profundamente atrelado ao funcionamento do ser humano, somos descendentes dos mais aptos a viver em sociedade. Pensar na vida alheia foi muito útil para chegarmos até aqui, mas o grau de especialização da indústria da fofoca é uma aberração do conceito. Alguém me explica a função evolutiva dos paparazzi? O que eu acredito que a Sally vá fazer é tentar explicar a fofoca moderna como mais um elemento de socialização. E vários de vocês vão morder a isca.

Consumir fofoca significa aceitar e financiar a indústria. Como isso não é degradante? E a indústria já fez questão de transformar a curiosidade sobre o outro (que é natural) numa caricatura patética de valores fabricados. Não misture as coisas, consumir fofoca é comprar fabricações e pactuar com um nojento misto de evasão e invasão de privacidade. Financiar quem quer o povo cada vez mais burro não é degradante? Não é para ter vergonha? Ah, vá!

Metade do que sai no mundo da fofoca é plantado. Ficção descarada. Qualquer candidata a Miss Rabo de Fora tem assessor de imprensa hoje em dia. Propaganda não anda pagando bem para ninguém ultimamente, então a indústria precisa aceitar subornos para se manter. Não sei se vocês sabem, mas é assustadoramente fácil plantar notícia até em jornal famoso e de grande circulação. O pessoal que vende anúncio te diz na cara dura que escrevem o que você quiser! Imagina o que acontece em lugares onde não há o mínimo de integridade como em sites e revistas de fofoca?

E pior, é uma ficção de merda. Viado da novela está namorando Pelada da revista? Sério que isso gera curiosidade e/ou satisfação na mente de vocês? Pessoa desconhecida faz sexo com outra pessoa desconhecida. Dá no mesmo. Se isso é muito interessante, acompanha a timeline dos seus conhecidos no Facebook que dá no mesmo. Fulana passeia na praia? SÉRIO? Consumir isso não é degradante?

E a outra metade… ou é evasão de privacidade, ou é invasão. Evasão eu acho ridículo, mas que seja… a pessoa quer se expor. O problema é que eu nunca vi evasão com umas verdades ou com temas interessantes que só poderiam sair daquela pessoa. Mostrar onde você caga na Caras te faz interessante por que mesmo? Financiar evasão também é financiar a indústria da aparência e dos contatos. Essa gente só se mostra porque facilita seu ganha pão sem necessariamente se esforçar por isso. Fama resolve. Consumir fofoca é garantir que ex-BBB pode ganhar a vida aparecendo em festa. Consumir fofoca é dar para Kardashians da vida uma bela desculpa para serem inúteis. Não é degradante ser peão desse jogo?

E a parte da invasão… ah, isso é de matar. A pessoa tem um trabalho que a expõe ao público? Ok. A pessoa merece ter um cretino tirando fotos dos seus filhos num restaurante? Ou ter alguém com uma câmera apontada quando resolve trocar de sutiã DENTRO do seu quarto de hotel? Porque é isso que se financia. Pior, alguém tem direito de saber se a pessoa está feliz ou triste num relacionamento? Se levou um chifre? Essas porras não são da minha conta, e eu fico puto quando isso vaza para cima de mim. Sei que é raro demonstrar empatia, mas eu me sinto escroto quando pactuo (mesmo que de surpresa) com essa cafajestagem de expor os outros ao ridículo e ao escrutínio de gente que não tem nada a ver com isso. Financiar exposição forçada de terceiros para diversão do povão não é degradante?

Essa indústria é um lixo. Um câncer na sociedade. Ajudá-la é degradante.

Para dizer que isso é que nem celular: você sabe que está tudo errado na produção mas ainda quer, para dizer que é que nem vício: você sabe que faz mal mas não vive sem, ou para dizer que é que nem dirigir bêbado: quando você faz não é tão sério: somir@desfavor.com

SALLYR

Consumir fofoca é degradante? Não, por si só , não. Na minha opinião SÓ consumir fofoca é que é degradante.

Fofoca é futilidade sim, não tem como negar. Mas nem só de intelectualidades vive um ser humano. Todos nós temos momentos em que precisamos de um mínimo de alienação e distração para recarregar as baterias e como cada um escolhe utilizar esse momento não merece entrar em julgamento. Não é o que se faz em si (ler fofocas, jogar videogame, ler revista feminina…) e sim a FORMA como se faz uso do recurso que determina o grau de degradação.

A fofoca tem um papel evolutivo. Desde os tempos das cavernas, passar uma história adiante tem um intenção: a sobrevivência. Quando você ouvia que atrás daquele morro vivia um tigre devorador de humanos, aprendia que não deveria ir para lá. A fofoca faz isso, em um grau menor. Ela é mais um elemento para nos ajudar a formar convicções na vida. Não o único, não o mais importante, mas um elemento.

A fofoca também consola, humaniza nossos ídolos. Quando vemos que belas mulheres são traídas, aprendemos que homem trai mesmo e que isso independe da beleza da parceira. Quando descobrimos que aquela cantora que admiramos está grávida torcemos por ela e ficamos felizes. A fofoca nos permite enxergar o lado humano das celebridades que a mídia tenta vender como perfeitas e infalíveis. A fofoca é ruim, mas a idealização é ainda pior.

Todo mundo precisa de um “time out”, de um intervalo para recarregar as baterias. Cada um relaxa o cérebro como pode, ou como quer. Ler sobre a vida alheia (e nem sempre coisas ruins!) não me parece degradante. Degradante é precisar de drogas ilícitas para relaxar, é fazer mal aos outros para relaxar, é ser desonesto e mentiroso. Ler sobre a vida alheia esbarra mais na curiosidade do que na fofoca.

A fofoca nem sempre tem a intenção de denegrir. Me explica como a informação de que uma fulana está saindo com o Eric Dane ou com o Patrick Dempsey denigre alguém? Muito pelo contrário, tiraram onda! Fofoca é informação sobre a vida alheia, e não necessariamente essa informação é humilhante ou inútil. Já aprendi coisas lendo revistas de fofocas. Já me consolei com coisas que vi serem ditas em entrevistas por pessoas famosas. E não é um consolar “que bom que ele está na merda não estou sozinha”, foram coisas que me fizeram pensar, refletir e me sentir melhor.

A fofoca também suscita uma discussão ética/moral interessante. Ontem mesmo eu discuti com o Somir uma situação de fofoca sobre um casal famoso e me surpreendi com a opinião dele. A fofoca é um gancho que permite que assuntos polêmicos sejam trazidos à mesa sem constrangimento, afinal, é da vida de terceiros que estamos falando. Terceiros desconhecidos, que nunca nos escutarão e nunca sairão prejudicados pelas nossas opiniões. Discutir uma fofoca tem seu valor, ajuda a conhecer melhor seu interlocutor.

Não entendo qual é a degradação de fofoca. É tão reconfortante ver que somos todos humanos e todos enfrentamos a mesma realidade… Novamente, não falo em rir de pessoas se fodendo, falo em perceber que todos temos medos, inseguranças, alegrias, tristezas, etc. A fofoca é um suspiro de realidade que desmente uma glamourização excessiva da vida.

Até parece que ninguém aqui consome fofoca no dia a dia. Mesmo que você não veja programas de TV ou revistas de fofoca, a fofoca está no nosso cotidiano. A fofoca nos cerca, não tem como escapar dela. E muitas vezes a fofoca funciona até como mecanismo de autopreservação: quem nunca viu ou ouviu que alguém andou fazendo algo incorreto e passou a tomar mais cuidado com essa pessoa? Fofoca é uma consequência natural das relações sociais e lutar contra isso é besteira.

Melhor saber usar a fofoca, revertendo em algo positivo para você, como descansar o cérebro, aprender alguma coisa ou experimentar a deliciosa sensação de que ninguém é perfeito como aparenta ser do que ficar combatendo-a. Somos Todos Fofoqueiros, gostemos ou não disso, está no nosso DNA.

Achar fofoca degradante é se achar acima dela, superior. Não sou, eu também consumo fofoca e acho que ela tem um papel importante. Eu ri quando vazou que o filho de um famoso pastor evangélico era gay, a fofoca expos a hipocrisia e a burrice desse pastor. Eu adoro quando a hipocrisia das pessoas vem à tona e elas são desmascaradas, seja pela via que for. Se for por fofoca, tudo bem.

Não me acho superior a ponto de entender a fofoca como algo degradante. Todo mundo consome, todo mundo faz. Também não me importo em ser mais uma, em aderir a uma coisa que todo mundo faz. Não preciso repudiar o que é comum para me sentir especial. Consumir fofoca tem seu lado engraçado, seu lado relaxante e seu lado social. Consumir fofoca não me faz menos especial e não consumir fofoca não faz alguém mais especial.

Eu até entendo o ponto de vista da Madame aqui em cima, mesmo sem ter lido o texto. Ele tem total desinteresse por qualquer pessoa que não seja ele. Não é o mérito de não gostar da vida alheia por isso ser condenável, é o total desinteresse por qualquer coisa que não seja ele (e uma pouca meia dúzia de coisas que chamam a sua atenção de forma passageira). Não é superioridade, é desinteresse. E ele é um caso único.

Quem se diz superior ou avesso à fofoca está sendo hipócrita, pois todos nós alguma vez na vida fazemos ou consumimos fofoca, em maior ou menos grau.

Para dizer que não gosta de fofoca mas gosta de cachorro e perder o meu respeito, para contar uma fofoca ou ainda para sugerir temas que tá foda pensar em controvérsias depois de sete anos: sally@desfavor.com


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