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Ponto de Equilíbrio.

Ponto de Equilíbrio.

| Somir | | 52 comentários em Ponto de Equilíbrio.

SOMIR

Feliz dia do Troll!

Eu ainda não sei muito bem o que pensar dos resultados de mais esse experimento. Talvez eu tenha caprichado demais da mentira… e sim, o texto é uma mentira contada de uma forma realista. Depois de tanto tempo usando mentiras chocantes para testar a habilidade de vocês de enxergar o embuste à plena vista, quisemos que vocês lessem as entrelinhas.

Dei uma roupagem bonita ao conceito de se contentar com pouco, e aparentemente colou. Algumas analogias “coladas com cuspe” no texto também se demonstraram eficientes: um relacionamento não é uma transação comercial. Sei que para muita gente estar com outra pessoa é só mais uma coisa para fazer na vida, mas o conceito de aperfeiçoamento através de intimidade e cumplicidade é valioso demais para mim. E não sei quanto a vocês, mas eu desisto de tudo o dia que achar que estou “pronto” e não tenho mais nada a oferecer. A evolução nunca pode parar. Quem me exige mais me ajuda mais nesse processo. Não estou pronto, espero nunca estar.

Mas, é claro, ninguém é obrigado a me conhecer, e eu com certeza não facilito. Apontar a incoerência não era o ponto, mas perceber as armadilhas que eu me coloquei no texto… isso eu esperava. Várias passagens claramente na defensiva, demonstrações de motivação derrotista… tinha bastante coisa no texto para ser analisada. Só que não foi isso o que aconteceu. Talvez minha argumentação esburacada tenha sido o suficiente para gerar concordância em mentes predispostas a concordar. O que eu já adianto ser um motivo de preocupação. Pense bem na sua reação.

O comentário da Sally deveria ser o elemento inflamatório, mas também acabou recebendo mais condescendência do que concordância. Talvez se fosse uma postagem da Sally com um comentário meu fazendo uma crítica direta tivéssemos mais reações. De qualquer forma, a verdade é que nós dois ainda estamos buscando a mesma coisa, e ninguém está interessado em se vender mais barato do que vale. Esse mundo dá voltas…

Por um lado estou feliz que a trollagem colou, por outro achei fácil demais empurrar uma opinião derrotista dessas… ano após ano batemos nessa tecla: fique com o pé atrás até com o que a gente diz, por mais impopular da gema que você se sinta. De tempos em tempos vamos passar a perna em vocês, porque enxergamos que precisamos cobrar um pouco, não por chatice, mas por afeto.

Nem toda mentira vai ser uma tela pedindo seus dados bancários para continuar lendo nossos textos! Mentiras poderosas surgem em pacotes aparentemente inofensivos e coerentes. Fizemos um Dia do Troll sutil, e pelo visto isso ainda tem poder.

Ano que vem tem mais.

SALLY

Desde quando vocês optaram por pactuar com a mediocridade? Eu sei que o poder de convencimento do Somir é abismal, mas porra, gente… SEXTO ANO e novamente vocês caíram?
Eu ainda adverti: “Somir, não faz brincadeira com primeiro de abril que fica muito perto do Dia do Troll, isso vai ficar fresco na memória deles e não vamos conseguir enganá-los em abril”. Somir riu e disse que conseguiríamos sim. E de fato parece que conseguimos.

Somir disse algumas coisas bacanas, verdadeiras e até sábias, mas pelos motivos errados, com argumentos equivocados. Para estar em um relacionamento completo, com cumplicidade, sem cobranças sufocantes e com equilíbrio definitivamente não precisa ser uma pessoa da qual você goste pouco ou que te dê muito pouco. Parem de se contentar com o medíocre.

Ah sim… ele diz que está muito melhor com outra que é muito menos do que eu e vocês endossam? Vão sentar em um canavial de rola, antes que eu me esqueça.

Agora eu acredito: todo ano, TODO ANO, vamos pegar vocês no Dia do Troll. E sorte a de vocês que não usamos esse potencial de zebra que vocês tem para tomar dinheiro, manipular algo a nosso favor ou até mesmo para fins eleitorais. Mas cuidado, muitos outros o fazem. Parem de ler nossos textos com a presunção de que tudo que escrevemos é bacana, muita coisa é e vai ser merda pura.

SEMPRE SENSO CRÍTICO, SEMPRE UM PÉ ATRÁS. COM TUDO NESSA VIDA, MAS PRINCIPALMENTE COM ALGO LIDO NA INTERNET.

E vão sentar em um canavial de rolas novamente, que ninguém, NINGUÉM é melhor do que eu para o Somir!

ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO FOI ESCRITO PARA O DIA DO TROLL.

Sempre acreditei que algumas pessoas são mais bem talhadas para relacionamentos amorosos. Outras, nem tanto. Pertencendo ao grupo com as arestas mais ásperas, imaginava que havia alguma coisa errada comigo: sentia-me extremamente pressionado a alcançar uma espécie de padrão de excelência, como se houvesse mesmo uma meta a ser alcançada. Mas nada como um dia após o outro…

Sim, eu sei que o primeiro parágrafo ficou um pouco confuso. Típico de quem quer concentrar muita informação no menor espaço possível. Fazer o quê? Eu tenho o meu jeito de concatenar ideias e infelizmente isso aliena muita gente. Mas eu não estou fazendo uma das típicas mudanças de assunto, estou apenas abrindo os trabalhos com um exemplo.

Já tive em minha vida algumas pessoas que toparam embrenhar-se nessa selva para entender de verdade o que se passava em minha cabeça. Uma delas chegou mais perto que qualquer outra pessoa… e isso me deixou aterrorizado! Normalmente é aqui que falamos sobre resistir aos medos e encontrar recompensas, mas não é bem esse o clima que pretendo impor no texto. Parece-me claro agora que minha forma de me comunicar com outras pessoas tem muito a ver com um mecanismo de defesa para não deixar ninguém chegar muito perto: confunda-os para não mostrar o caminho correto.

Novamente, aqui seria a parte onde eu diria que precisamos desarmar essas armadilhas para uma maior saúde emocional… mas, novamente… não é isso que eu quero dizer. As pessoas tem mecanismos de defesa por um motivo! Reconheço que existem recompensas para quem permite a aproximação de outras pessoas, mas não é como se só essas recompensas existissem. Sinto-me aliviado e seguro quando ninguém consegue invadir minhas defesas.

E parece que ninguém é capaz de te dar esse conselho. Sempre é algo do tipo “arrisque-se mais para ganhar mais”. Oras, vamos desfazer essa generalização perigosa: às vezes você ganha mais calculando friamente as vantagens e desvantagens de uma ação, às vezes a inação é a melhor ação. Começo a entender que talvez exista um ponto de equilíbrio entre custos e recompensas de uma relação com outra pessoa.

Tendo a experiência de estar próximo a alguém que me permite o afastamento na medida desejada, percebo que viver sem a pressão da exposição é vantajoso. Sei o que de bom existe em se entregar mais, mas mesmo que a situação atual não ofereça essas mesmas benesses, a liberdade da cobrança é muito prazerosa. Ei, talvez isso não funcione assim para você, mas não acredito que ninguém mais pense de forma parecida.

Estar num relacionamento amoroso não precisa ser uma luta constante, não precisa consumir suas forças e ter objetivos grandiosos de um suposto “amor perfeito”. Cabe ao casal definir suas linhas-guia de até onde vão assumir esse desafio e se ambos concordarem num ponto de equilíbrio, quem vai dizer que é algo inferior? Tem gente que precisa de mais espaço, tem gente que simplesmente não quer gastar sua energia na construção de algo que muitas vezes não passa de um ideal romântico.

E o que me incomoda no campo da passionalidade e da intimidade talvez tenha outra manifestação na sua vida. Cada um sabe até onde quer pagar por um relacionamento estável. E não tem dessa de ter uma medida padrão. Não somos personagens de um desenho da Disney que só tem olhos para a realeza: aqui em baixo pagamos as contas da manutenção. Gente que ganha na loteria normalmente se ferra quando percebe que seus bens caríssimos custam muito para serem mantidos. Comprar uma mansão sem ter meios ou interesse de pagar por sua manutenção é visto como uma burrada nos negócios, mas nos relacionamentos passa a ser o objetivo a ser seguido?

Você só ouvir o conselho de procurar alguém muito especial e se matar para manter o relacionamento. Ninguém vai te dizer que a casa tem quartos demais para o seu estilo de vida… não, vão te dizer para se virar e gastar ainda mais para preenchê-los todos com hóspedes. Porque é isso o que passa por comportamento ideal no campo emocional: o excesso.

E o que configura excesso para mim pode ser normal para você. E algo que eu acho básico pode ser um sacrifício para você. Tudo bem, a vantagem de viver num mundo tão populoso é que você pode testar várias pessoas antes de achar aquela que é compatível com o seu grau de expectativa. Como ninguém é incentivado a fazer uma análise mais racional das coisas, essa pessoa precisa cair no seu colo para você perceber como faz diferença. Estou dando um conselho que ninguém me deu até hoje e que acho que vai abrir os olhos de muita gente. A minha sorte não pode ser desperdiçada.

Não é se contentar com pouco, é não se deslumbrar com o excesso. Acredito que esse seja um dos maiores problemas nos casais da atualidade: a diferença entre o que configura o mínimo aceitável. Se você quer uma mulher que te trate como um rei, grandes chances de precisar pagar o resgate de uma rainha para mantê-la por perto. Mas e se você não acredita que precisa ser tratado assim? E se você acha que nem merece ser tratado assim? O excesso do outro lado te coloca em dívida.

Quer uma mulher extremamente inteligente? Bacana! Mas isso quer dizer que você vai ter um referencial alto para se medir (o que não é necessariamente ruim para alguém como eu, mas deve ser para muita gente) e que você vai ter que pensar muito para impressioná-la. Uma que tenha uma beleza estonteante? Muito bem! Mas ela provavelmente vai te exigir pesadamente nesse aspecto. E se você for mulher, é só imaginar as possibilidades com homens. Não estou dizendo que você não possa mirar alto, ou mesmo que não deva, só estou dizendo que nem sempre o produto mais caro da loja é o que você quer. Ainda mais se você não tem recursos ou motivação para pagar pela manutenção. E eu sei que muita gente nem liga para essas coisas e tira proveito de quem se dedica mais, mas eu me sinto péssimo ao perceber o quando estou devendo.

E acredito que muitos aqui pensam de forma parecida. Mesmo que não consigam expressar em palavras ou mesmo entender porque ficam frustrados em relacionamentos. O comum nesse tipo de assunto é criar a impressão que você sempre é quem faz mais no relacionamento e que a outra pessoa está em débito, mas eu prefiro ser honesto: eu já passei por uma situação de desequilíbrio onde eu estava me dedicando menos e achei péssimo do mesmo jeito. Às vezes somos nós. Pouca gente tem coragem de considerar essa possibilidade, mas temos pelo menos 50% de chance dela ser verdade. Normalmente alguém fica para trás, justamente porque as pessoas não procuram pelos pares compatíveis.

Na vida as coisas sempre vem com vantagens e desvantagens. Você pode se pautar por um relacionamento no mais alto nível de atenção e cuidado possível, mas vai ter que sofrer para alcançar suas expectativas. Às vezes ficamos até negligentes justamente por isso. Se sua cabeça não comporta aquela relação, os sinais vão começar a aparecer. Mesmo tentando, você vai sempre sentir que está fazendo menos do que deveria. Isso é dar murro em ponta de faca!

E este texto só é depressivo se você ainda não percebeu a diferença entre desistir e se reorganizar. O sonho de viajar até uma outra estrela é menos plausível do que o de viajar até Marte. Não precisa desistir de tudo o que te faz feliz ou abandonar qualquer senso de ambição, e sim achar meios mais realistas de encontrar o que procura. Eu vivo dizendo que essa sociedade é excessivamente motivada, e que isso leva as pessoas a aspirar pelo impossível ou pelo extremamente difícil sem necessidade real para isso. Sou um desmotivador com orgulho. Alguém precisa fazer esse serviço.

Escutem a voz da experiência: uma relação que exige demais de você tem recompensas incríveis e esporádicas, mas uma que exige exatamente o que você está disposto a dar proporciona longos períodos de contentamento. Quem disse que tudo na sua vida precisa ser dedicação 110%? Um porto seguro e calmo para voltar depois das pancadas que a vida te dá tem suas benesses. Eu mesmo não sei lidar com intensidade, relacionamentos mais calorosos costumam significar brigas homéricas. Pode não ser muito elogioso ao ego estar com alguém que não se fere tanto com suas ações, mas com certeza existem benefícios em navegar por águas mais tranquilas. É mais frio? É. É mais estável? É.

Pode ser a idade, mas eu já cansei de ser cobrado. Não sei se quero mais me conformar às expectativas de outra pessoa, acredito que o pacote aqui já esteja suficientemente entregue para o mundo. Isso se chama amor-próprio. Você sabe o que é e procura quem esteja disponível para te aceitar. Não se conformar com menos do que merece é um excelente conselho, mas tem o outro lado da moeda: não perder a noção da realidade e se achar suficiente para quem espera mais. Até porque o “esperar mais” da outra pessoa nem sempre é uma coisa boa. Já esperaram de mim ser mais romântico, oras! Foi mal aí, mas essa carência eu não supro e não vou me esforçar para conseguir. Nem quero.

Claro que algumas pessoas exigem coisas mais razoáveis, como mais atenção, mais cuidados com a saúde, mais transparência… não precisa necessariamente ser algo que você considera ridículo, só um sacrifício que você não está afim de fazer. Se alguém te disser para ser mais caridoso e adotar uma criança de rua, está teoricamente te sugerindo algo belo e nobre, mas quem disse que essa é a sua prioridade? Ou que você tem capacidade para isso? Sagrado direito de seguir seus planos de vida. Ou de fazer o que você acha mais fácil, oras.

Eu já estive dos dois lados, e confesso: prefiro viver sem cobrança, num grau de exigência que me seja mais natural de alcançar. Quem disse que eu quero me tornar uma pessoa melhor de acordo com parâmetros alheios? A pessoa que gosta de você tem que ter um mínimo de noção de até onde você pode ser pressionado para manter uma vida feliz. A ilusão de que um relacionamento amoroso precisa seguir alguns padrões de exigência absolutos só existe para que algumas pessoas tenham em mãos uma maneira de impor sua vontade. Eu não caio mais nessa. Achei meu ponto de equilíbrio e acho importantíssimo colocar essa opinião no mundo: vão te dizer exatamente o contrário e talvez assim como eu, você vá acreditar e ficar se remoendo por não ter conseguido alcançar uma meta imaginária de felicidade.

Até aprender que a resposta não costuma estar nos extremos. Andar de Ferrari é uma delícia até você perceber o quanto vai gastar de gasolina.

Para dizer que adora meus textos pessimistas, para dizer que adora meus textos otimistas, ou mesmo para dizer que ainda não encontrou seu ponto de equilíbrio: somir@desfavor.com


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