Skip to main content
Currículo.

Currículo.

| Sally | | 56 comentários em Currículo.

Você sabe fazer um currículo decente? Se não sabe, nós vamos te ajudar.

Reparem que eu usei a palavra CURRÍCULO. Aquele título de “currículo vitae” não se usa mais, não escreva essa porcaria se não vai parecer obsoleto e desatualizado. Aliás, não coloque título nenhum, ninguém precisa ser cientificado que se trata de um currículo, todo mundo vai perceber. Comece pelo seu nome todo, com algum destaque. Seguido por informações pessoais e o objetivo ou área onde pretende atuar.

A fonte deve ser Times New Roman ou Arial. Não invente. E que nem se passe pela sua cabeça usar a hedionda Comic Sans (ou similares) para apresentar um currículo. Como bem disse o Somir uma vez, ela é o “macaquito” das fontes. Ela está para as letras assim como Romero Britto está para os quadros. Comic Sans só serve para uma função: rechear balões de histórias em quadrinhos. Nunca usa Comic Sans para nada na sua vida, e se você gosta dela, procure terapia.

A cor da fonte deve ser preta. O tamanho da letra deve ser algo legível, nem gigante, nem pequeno. Algo entre 12 e 14. Se você quiser “ousar”, vá até o azul marinho ou o cinza escuro. E tudo sempre monocromático, a menos que você esteja pleiteando uma vaga de carnavalesco, por gentileza, o documento todo na mesma cor. E tudo em letras maiúsculas é motivo para apanhar com um gato morto até o gato miar.

Para começo de conversa, você deve colocar seus dados pessoais relevantes para ser encontrado pela empresa. E esses dados não devem depor contra você. São eles:

  • Nome completo
  • Idade
  • Nacionalidade
  • Estado civil
  • Endereço com CEP (caso algum contato via correios seja necessário)
  • Telefones para contato (o ideal é que sejam pelo menos dois, para assegurar que você seja encontrado com facilidade)
  • E-mail pessoal
  • Objetivo ou área de atuação

O que se vê no cotidiano: gente que coloca como estado civil namoro, abrevia seu sobrenome, omite nacionalidade (mesmo que seu nome seja João da Silva, pode ser relevante a confirmação de ser brasileiro), deixa um único celular para contato (e se por uma infelicidade ele der fora de área na ocasião em que tentam contatar acaba perdendo uma oportunidade) e e-mail sem noção. O ideal é que o e-mail seja nome + sobrenome (tudo junto, separado por um ponto ou _) @provedor. Por exemplo, sally.somir@gmail.com (este e-mail não existe, é mero exemplo).

Mas não. Bom senso está em extinção. As pessoas colocam renatinhasafadinha83@embratel como e-mail de contato. Gente, NADA pessoal, nem o provedor, nem o apelido. Rafaelgostoso@gmail também não pode, por gentileza, realmente precisa dizer que isso mina a credibilidade do candidato? A menos que o cargo seja para stripper, NOME + SOBRENOME @ PROVEDOR. E verifique esse e-mail com frequência, ninguém mantém uma porta aberta por muito tempo em um mercado abarrotado.

Dependendo do que se pleiteia, algumas informações extras podem ser necessárias. Porém, só deve ser inserido o que for indispensável. Por exemplo, quando se pleiteia uma vaga destinada a pessoa portadora de necessidades especiais (haja saco para essas designações) é útil colocar sua deficiência ou o código dela. Usem o bom senso: se a informação não for útil para decidir sobre sua contratação, por mais legal que ela seja, deve ser omitida. Guarda para falar na entrevista. Quanto menor o currículo, maiores as chances dele ser lido até o final e menores as chances de algo que depõe contra você ser encontrado.

Numero de documentos também são desnecessários como regra. Se, para exercer a função que você postula, a lei exige um documento especial, ele deve sim ser inserido (brevê, OAB, CRM…). Caso contrário não. Também não é necessário citar o nome dos pais, a menos que você queira pleitear uma vaga em um filme e seu sobrenome seja Jolie-Pitt, isso não vai te ajudar em nada.

Uma foto geralmente é bem vista quando se pleiteia uma vaga para a qual a aparência é importante, como por exemplo no setor de vendas, moda ou qualquer situação que se lide com público/imagem. A foto tem um único objetivo: mostrar que você é uma pessoa minimamente agradável aos olhos (se precisar de mais do que isso, vão te pedir um book, e não uma foto). Para isso, uma foto simples basta. Fotos em festas, fazendo biquinho, descontraídas demais, sensuais, com muita maquiagem, com decote, com óculos escuros ou com mais destaque para o fundo do que para a sua pessoa são furada. Foto de biquíni então nem se fala. A menos que a vaga seja para Angel da Victoria’s Secret, use uma foto bem básica. Gente que coloca foto de óculos escuros em curriculum merece câncer no cu.

Cuidado, o uso indiscriminado da foto pode dar a entender que o melhor que a pessoa tem a oferecer é sua aparência. Para não errar, eu só colocaria foto quando isso estivesse especificado na exigência da empresa para contratar ou quando a aparência fosse realmente determinante para o cargo.

Dependendo daquilo que se pleiteia, pode ser interessante colocar um objetivo. Eu abomino, mas sei que não é socialmente mal visto. Só não pode ser um objetivo genérico como “integrar esta empresa e desenvolver um trabalho de qualidade dentro dela”. Não, porra. Onde, exatamente, você quer trabalhar? Na Coca-Cola? Em qual setor? Quer fazer o refrigerante? Quer fazer a propaganda do refrigerante? Quer vender o refrigerante? E, por mais redundante que pareça, não sejam idiotas de colocar um objetivo que implique em foder com quem está avaliando o currículo. Sim, eu já recebi currículos onde a pessoa pleiteava meu cargo.

Eu pessoalmente não gosto do objetivo por achar que ele elimina outras possibilidades, restringindo muito a contratação. Se alguém me diz que seu objetivo é vender bananas, eu descarto a pessoa para vender qualquer outra fruta e qualquer outra coisa, mas se a pessoa me diz que sua área de atuação é trabalhar com vendas, eu posso pensar em aproveitá-la para vender qualquer coisa. Área de atuação > objetivo. Se nada for especificado, dê preferência à área de atuação, mas, novamente, sem deixa-la muito genérica.

Depois dessa parte, começa uma nova etapa, que deve ser devidamente espaçada. É ela que o avaliador vai olhar em primeiro lugar. Grandes chances dela ser o primeiro e maior filtro: o histórico profissional.

Uma das partes mais importantes do currículo é descrever suas experiências profissionais anteriores. Mesmo que não sejam diretamente relacionadas à área que se pleiteia uma vaga, podem ser avaliadas como positivas pelo empregador. Novamente, bom senso para detectar a pertinência: ter feito um curso de primeiros socorros pode acrescer em quem pretende trabalhar com crianças, já ter sido caixa do Carrefour não ajuda quem quer ser cantor em um coral. Se a execução do trabalho anterior gerar qualquer benefício para a prática do cargo ao qual você se candidata, pode colocar. Eu não recomendo inserir curtos períodos ou períodos de experiência que não se tornaram efetivação, pois leva a pensar que o funcionário fez algo de errado e por isso não ficou na empresa.

Estas experiências deve estar datadas, da mais recente para a mais antiga (a mais recente deve vir primeiro) informando o período que você trabalhou em cada local e em qual função. Se não for algo notório, uma breve sinopse das atividades pode ser colocada, mas apenas se não for notório. Coisas como “Caixa do Mc Donalds – funções: mensurar o valor econômico dos pedidos, receber pagamentos, dar troco” depõe contra.

Eventual formação acadêmica, cursos ou qualquer investimento que realmente acrescente valor ao seu passe devem ser colocados, mas sempre com detalhes suficientes para que quem recebe o currículo possa verificar sua veracidade ou referências. E tudo com data também.

NUNCA, JAMAIS, EM TEMPO ALGUM corte e cole aquelas apresentações prontas (nem crie uma) no estilo “sou uma pessoa extrovertida com bom relacionamento interpessoal, aprendo rápido, comprometida, pontual e cago cheiroso”. NINGUÉM QUER SABER suas características psicológicas ou comportamentais, a hora disso é na entrevista, não no currículo. Fora a vergonha de precisar cortar e colar algo, denotando a total incapacidade de criar três linhas com seu próprio cérebro. Quem avalia seu currículo está cansado de saber que é corta-cola, já viu centenas desses no mesmo dia. Você vira automaticamente “mais um”.

Não fale de características pessoais suas, isso vai fazer seu currículo ir parar na lata de lixo de qualquer empregador sério. Eu jamais colocaria nada de “habilidades e competências”, acho que os trabalhos, cargos, empregos, funções e formação dizem exatamente quais são as habilidades e competências de alguém. Salvo situações muito excepcionais, eu pularia essa parte que soa como mentira e bravata. Me lembra aquele vídeo do Murilo Gun sobre o estagiário.

Ninguém quer saber características da sua personalidade nesse momento. Ninguém quer saber da sua vida pessoal. É SEM NOÇÃO inserir estas informações. Prova que a pessoa é bosta o bastante para precisar ficar se auto-elogiando. “Sou uma pessoa alegre”. Vai ser alegre e desempregado, o que se procura é qualificação e não alegria de viver, a menos que o cargo seja para palhaço de circo. E nem sonhe em citar hobbies no currículo, ninguém quer saber. Rechear um currículo pequeno com essas baboseiras é o que mais elimina chances de contratação. Não tem experiência? Coloca onde estudou mas não coloca que gosta de escutar música, ver novela e ir ao cinema.

No máximo, o que vale é um apanhado das suas qualificações profissionais: exatamente o que você sabe fazer, como você contribuiu para os outros lugares onde trabalhou. Ex: ninguém quer saber se Bill Gates é bem humorado e alegre, mas pesa citar que ele desenvolveu o Windows.

Eu não colocaria pretensão salarial, a menos que fosse uma exigência expressa para a vaga. A pretensão salarial te elimina se for muito acima ou muito abaixo do que pretendem pagar, ou seja, as chances dela depor contra você são bem maiores do que as de ajudar. Se não perguntarem, não fale. Negocie na entrevista.

Currículo também não é lugar para colocar referências, nomes de ex-empregadores e telefones. Novamente, se pedirem, entrega-se em separado. Jogar no mundo nome e telefone das pessoas é deselegante.

Idiomas. Todo mundo mente. Justamente por todo mundo mentir, todo mundo sabe que todo mundo mente. E por todo mundo saber que todo mundo mente, todo mundo testa. Pense bem na vergonha que você vai passar se começarem a conversar com você em inglês, espanhol ou francês e você ficar com cara de bunda, respondendo truncado. Melhor não. Se eu contasse o numero de vezes que dei uma calça arriada em Zé Ruela que botou no currículo que tinha “espanhol básico”…

É sempre bom informar até que ponto de informática você domina. Mas, novamente, todo mundo mente, então, todo mundo verifica. Não minta, na dúvida diga que tem noções básicas sem especificar muita coisa (a menos que o cargo exija).

Um currículo deve estar datado (afinal, a experiência, cursos e bagagem de um profissional muda com o passar dos meses) e assinado. Deve ser entregue preferencialmente em mãos.

Nada de anexos, adendos ou súplicas contando história triste, pedindo chance ou tentando convencer a pessoa a te contratar. É vergonhoso e depõe contra.

Um currículo deve ter, preferencialmente, UMA PÁGINA. Isso mesmo, UMA FUCKIN’ PÁGINA. Se tem mais do que isso e você não é um puta profissional experiente, você está errando na otimização das informações. E mesmo para puta profissionais experientes, não deve passar de duas ou três páginas. Menos é mais, se preciso for, selecionar os cursos mais relevantes e pertinentes a aquela vaga e omitir outros. E faça uma boa revisão do português, é um documento pequeno demais para tolerar erros, mesmo que sejam de digitação.

Acredite, só de atender aos requisitos formais mínimos e respeitar um patamar básico de bom senso você já passa na frente da maior parte dos candidatos. Faça a experiência e constate.

Para me advertir que o Brasileiro Médio também contrata e por isso bom senso pode ser um tiro no pé, para dizer que sempre mentiu no idioma e nunca foi desmascarado ou ainda para dizer que não precisa de currículo pois tem filhos o suficiente para não ter que trabalhar: sally@desfavor.com


Comments (56)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: