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Aquela da calcinha…

Aquela da calcinha…

| Sally | | 47 comentários em Aquela da calcinha…

Chego em casa, depois de uma viagem, e encontro uma calcinha vermelha atrás do sofá. Uma calcinha mais ou menos do tamanho de uma linha de costura, toda rendada. Imediatamente comecei a linkar diversas mudanças de atitude nos últimos tempos vindas de Siago Tomir, que até então, eu atribuía ao fato de estar tentando parar de fumar. Não eram, eram sinais de traição.

Ainda faltavam muitas horas para que ele voltasse do trabalho, o que me deu tempo suficiente para pensar com riqueza de detalhes em tudo que poderia ter acontecido. Fiquei me torturando por horas. Não queria acreditar que ele fosse esse tipo de homem baixo nível que trai a mulher dentro da sua própria casa, mas a evidência estava ali, na minha frente.

Quando Siago Tomir abriu a porta de casa, não teve nem diálogo. Atirei a calcinha na cara dele.

Tomir: *olhando sem entender
Sally: Pense sabiamente antes de falar pois eu sou capaz de te matar agora
Tomir: *olhando assustado
Sally: Essa calcinha estava atrás do sofá, encontrei por coincidência
Tomir: Sally eu…
Sally: Pense antes de falar
Tomir: Eu nunca vi essa calcinha antes em toda a minha vida
Sally: Ah é? Estava escuro quando a moça tirou? *arremessando o primeiro objeto na direção de Siago Tomir
Tomir: Ai!
Sally: Esse é o caminho? Negar uma evidência concreta que eu estou apresentando?
Tomir: Sally, se acalma…
Sally: Não, não. Calma não tem pra hoje não. Depois de tudo que eu aturei de você, você tem a cara de pau de me trair?
Tomir: Deve ter uma boa explicação para essa calcinha…
Sally: Sou toda ouvidos

Siago Tomir olhava apavorado. Até aí, porra nenhuma, todo homem descoberto vira um verdadeiro ator e emula como ninguém a indignação dos inocentes. É uma última deixa, uma última tentativa desesperada para o caso da mulher não conseguir lidar com a verdade ter a que se apegar e continuar na relação. Homem algum que queira continuar em um relacionamento admite traição se não for flagrado no ato.

Tomir: Será quem dos gatos trouxe da rua?
Sally: Um gato… Um gato trouxe uma calcinha da rua e escondeu atrás do sofá? *atriando o segundo objeto na direção de Siago Tomir
Tomir: Não sei Sally! Estou desesperado tentando entender!
Sally: Não trabalhamos com “não sei”, é explicação clara ou faço minhas malas agora!
Tomir: Sally, eu não sei o que aconteceu!
Sally: *começando a fazer as malas
Tomir: Tem que ter uma explicação… tem que ter…
Sally: Você tem o tempo de eu fechar esta mala para encontra-la
Tomir: Alicate
Sally: Alicate usa calcinha?
Tomir: Não… não sei, mas a culpa é sempre dele! Ele esteve aqui, espera, vou ligar para ele
Sally:A troco de que ele viria aqui e esconderia uma calcinha atrás do sofá?
Tomir: Não sei, Sally. Ele é bizarro
Sally: Vai ligar na minha frente e na viva voz, que é para eu saber que vocês não estão combinando nada
Tomir: Alicate? Vem aqui rápido, por favor
Sally:
Tomir: Ele está vindo
Sally: Quer dizer que eu vou protagonizar papel de corna na frente do Alicate?
Tomir: Eu nunca faria isso com você, Sally. Tem uma explicação, eu tenho certeza de que tem uma explicação!

Vigiei Siago Tomir o tempo todo para que ele não combine nada com o Alicate. Assim que o Alicate chegou eu mesma falei com ele.

Sally: Você tem alguma coisa para contar?
Alicate: Tenho
Sally: O que?
Alicate: *olhando mudo
Sally: O QUE?
Alicate: Calma que estou juntando coragem
Sally: Junta logo e fala
Alicate: Calma
Sally: *atirando o primeiro objeto no Alicate
Alicate: AI! MALUCA!
Sally: O próximo vai ser maior
Alicate: Me dá um minuto, ok? Apenas um minuto!

Alicate passou um minuto em silêncio (eu contei no relógio) e depois começou a falar.

Alicate: Eu escondi uma calcinha atrás do seu sofá
Sally: Qual foi a cor da calcinha?
Alicate: Calcinha vermelha, de puta. Tá feliz?
Sally: Afirmação machista, mas tudo bem. Por qual motivo você fez isso?
Alicate: Eu queria que vocês brigassem, esses dias que você passou viajando foram muito bons e eu não quero mais você com o Tomir
Sally: *atirando o segundo objeto no Alicate
Alicate: MANO, ESSA MULHER É LOUCA! CONTROLA TUA MULHER AÍ!
Sally: Tomir! Esse filho da puta quase terminou com o nosso relacionamento e você vai ficar aí parado? Não vai dar nem um murro na cara dele?

Alicate fez uma cara de indignação. Siago Tomir não sabia como se portar.

Alicate: Porrada não, Mano. Porrada eu não aceito
Sally: Você não tem que aceitar nada, some daqui e não ouse entrar em contato com a gente nunca mais!
Alicate: Mano… resolve isso aí

Disse a frase, virou as costas e saiu. Siago Tomir, visivelmente nervoso, fumou uns 40 cigarros.

Com o tempo veio a conversinha mole de que Alicate não era má pessoa, que era infantil, idiota, sem noção. Que não fez por mal, que foi uma brincadeira de péssimo gosto. Sempre que podia, Tomir tentava aliviar a barra do amigo. Aquilo tudo me parecia muito estranho, pois o próprio Siago Tomir deveria estar chateado com a babaquice do amigo.

Foi quando me deu um estalo: as câmeras de segurança. A casa tinha câmeras de segurança no quintal e se Siago Tomir estivesse mentindo e tivesse entrado com uma mulher dentro de casa, eu saberia. Tive um trabalho desgraçado (e paguei caro) para conseguir assistir aos vídeos de todos os dias em que estive ausente. Perdi quase um dia inteiro assistindo gravações. Foi quando a verdade finalmente apareceu.

Era manhã. Estava ventando muito. Uma calcinha saiu da janela da casa ao lado, provavelmente do varal, e veio voando até a janela da nossa sala. Se não houvesse um vídeo, eu jamais acreditaria. Voou janela adentro. Assisti tudo, até o fim. Siago Tomir não havia entrado com ninguém. Mas mentiu para mim, não foi o Alicate a colocar aquela calcinha ali. Decidi confirmar de vez a história. Peguei a calcinha e fui até a casa dos vizinhos.

Sally: Boa tarde, desculpe a situação inusitada, mas aconteceu uma coisa muito chata e eu queria uma confirmação sua, só para poder dormir em paz.
Vizinha: Pode falar

Contei a história. A vizinha olhava com cara compreensiva.

Vizinha: Que coisa engraçada… você tem o vídeo?
Sally: Tenho sim
Vizinha: Posso ver?
Sally: Pode, claro

Mostrei o vídeo para a vizinha, que começou a chorar.

Sally: O que foi?
Vizinha: Essa calcinha não é minha!
Sally: *cara de bunda
Vizinha: Mas saiu da minha casa, olha só! Dá para ver!
Sally: Sei lá, vai que entrou na sua casa voando também…
Vizinha: Não! Volta! Volta naquela parte antes!
Sally: Aqui?
Vizinha: Isso! Olha! Tá vendo essa mulher passando no andar de cima?
Sally: Sim
Vizinha: Não sou eu! É outra! É a dona da calcinha!
Sally: Calma… pode ser um mal entendido…
Vizinha: Não, eu já desconfiava. Vou matar o meu marido!

Analisamos o vídeo melhor e realmente tinha outra mulher com o marido dela, fato que eu não havia percebido, por estar focada apenas na calcinha até então. A vizinha saiu de casa transtornada, quase que no mesmo momento em que Siago Tomir chegava.

Tomir: O que está acontecendo?
Sally: *atirando um sapato em SiagoTomir
Tomir: AAAIII!
Sally: MENTIROSO!
Tomir: O que foi dessa vez, Sally?
Sally: MENTIROSO! NÃO FOI O ALICATE QUEM COLOCOU A CALCINHA ATRAS DO SOFÁ!
Tomir: Foi sim
Sally: NÃO FOI
Tomir: Ele mesmo assumiu que colocou
Sally: *atirando o outro sapato em Siago Tomir
Tomir: Sally, o que você quer de mim?
Sally: SINCERIDADE
Tomir: Não, Sally. Você quer me torturar!
Sally: Sabe o que me mata? Você é inocente, e ainda assim mente!
Tomir: *olhando surpreso

A discussão foi interrompida pelos gritos do vizinho.

Tomir: O que está acontecendo?
Sally: A vizinha deve estar tentando matar o vizinho
Tomir: Os evangélicos?
Sally: Sim
Tomir: Tomara que consiga
Sally: Não desconversa, quero saber por qual motivo você mentiu para mim!
Tomir: VOCÊ, SALLY! VOCÊ É O MOTIVO
Sally: Eu?
Tomir: VOCÊ. Você me deixou sem escolha ao se recusar a aceitar o meu “não sei”, você me obrigou a inventar alguma coisa!
Sally: Eu não te obriguei a nada! E como foi que o Alicate sabia o que tinha que dizer?
Tomir: Homem sabe, Sally. Homem sempre ajuda outro homem, mesmo que não sejam amigos. Homem sabe.
Sally: Sabe como?
Tomir: Porque mulher é tudo igual.

Nunca descobri como ele passou as informações para o Alicate. O vizinho teve uma tesoura enfiada na barrida e foi hospitalizado, mas sobreviveu.

Para especular sobre telepatia masculina, para se comover com a amizade do Alicate ou ainda para mostrar que é bizarro e dar razão a Siago Tomir: sally@desfavor.com


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