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BalaLaico.

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| Desfavor | | 25 comentários em BalaLaico.

+Uma lei publicada no Diário Oficial do município de Florianópolis na terça-feira (17) torna obrigatória a disponibilização de Bíblias em escolas públicas e privadas do município. A medida já está em vigor e vale para o Ensino Fundamental e Médio.

Tá pouco?

+O deputado federal Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos, o Cabo Daciolo (PSOL-RJ), protocolou nesta quarta-feira, na Câmara, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal. O texto original diz que “todo poder emana do povo”. A mudança apresentada pelo parlamentar, que contraria o partido, seria para “declarar que todo o poder emana de Deus”.

A crentalhada está descontrolada. E com poder demais nas mãos. Desfavor da semana.

SALLY

O pessoal do Amigo Imaginário está com tudo! Esta semana eles geraram diversos desfavores, mas o pior não foram seus devaneios e sim o fato de ter gente ouvindo, aplaudindo e colocando em prática o estupro executado contra o Estado (supostamente) Laico.

Um Deputado Federal chamado Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos (isso que é fé, acreditar em Deus mesmo tendo nascido com um nome escroto como esse!) apresentou uma PEC – Proposta de Emenda Constitucional. Quem é leitor assíduo sabe que a Constituição é a lei máxima do país, destinada a assuntos importantes, normas gerais. Uma emenda à Constituição deveria ser algo de suma importância, visando assegurar direitos fundamentais, considerando a complicação e o custo da tramitação.

Mas Daciolo não se importa com o bom senso, tanto é que tem um amigo imaginário mesmo depois de adulto. Ele sugeriu uma emenda à Constituição para alterar uma das frases iniciais e pilar da democracia: “Todo poder emana do povo”. Ele não gostou, ele quer que mude para “Todo poder emana de Deus”. Além do desfavor óbvio de gastar nosso dinheiro com essa bobagem, tem o desfavor easter egg: eu entendo a merda que está o país com todo o poder emanando de um povo burro, feio e oleoso, o Brasil é realmente a cara do Brasileiro. Mas atribuir isso a Deus, bem… meio que queimou o filme do cara.

Ruim. Mas no Brasil tudo pode piorar. Daciolo, este homem temente a Deus, já defendeu publicamente os policiais que torturaram e mataram Amarildo e posa com orgulho para fotos ao lado de Bolsonaro. Como se não bastasse a contradição de falar em Deus e compactuar com a intolerância, ainda é do PSOL. Mas quer ver o desfavor master? Ninguém linka essas informações, ninguém acha um absurdo, uma incoerência, seja com o próprio Deus, seja com o Estado Laico.

Daí você pode pensar que um maluco pedindo algo que jamais será atendido não justifica o título de Desfavor da Semana, afinal, caiu um avião cheio de gente branquinha e com dinheiro também! Calma, tem mais. Uma LEI, eu disse LEI, exige que sejam disponibilizadas bíblias nas escolas públicas e privadas em local “de destaque” e devem ser disponibilizadas na forma escrita, em braile e em áudio, porque né, vai que alguém é insensato o bastante para nascer com uma deficiência e ainda assim louvar quem o sacaneou. O devaneio só piora quando se sugere que as bíblias eventualmente sejam distribuídas aos alunos na hora do recreio. E se você quer sentar e chorar de vez, isso aconteceu em Florianópolis.

Uma coisa é um devaneio individual. Outra coisa é um devaneio individual passar por assessores, comissões de constitucionalidade, parecer jurídico e pelas mãos de muita gente terminando por virar uma lei. Essa lei foi um erro enorme e coletivo. Um grupo considerável de pessoas leu isso, acho bacana, achou que estava de acordo com a previsão de Estado Laico da Constituição, foram lá e deram vida a essa lei. Ela foi publicada no Diário Oficial nesta terça, dia 17, procedimento usado para dar ciência à população da existência da nova regra.

Vejam que a lei obriga escolas públicas e particulares. Percebam o Estado se metendo na esfera privada. Se eu quiser instituir uma Escola da Galinha Preta Pintadinha vinculada ao Candomblé, essa escola vai ter que ter bíblias à disposição. Porém em momento nenhum se fala em colocar referências a outras religiões nas escolas. É só a bíblia. E pau no cu do Estado Laico, que coerência nunca foi o forte do Brasil mesmo. Foda-se! Para quem tiver curiosidade e estômago para ler, o numero da Lei é 9.734 de 11 de março de 2015 e o autor dessa excrescência jurídica é o vereador Jerônimo Alves do PRB.

Vergonha define. Muita vergonha. Um país onde criança morre de fome, pessoas morrem por falta de atendimento médico, pai de família morre executado pela polícia, filhos morrem por falta de segurança pública, onde analfabetos funcionais se formam em escola pública, neguinho gasta tempo e dinheiro com essas bobagens. REVOLTANTE. Mais revoltante ainda é que a sociedade não se encarregue de execrar esses merdas, de coibir esse tipo de mau uso do dinheiro público e não marque seus nomes para nunca mais votar neles.

Percebam que a questão aqui passa longe da religião em si. Você não tem que defender essa babaquice por ser católico ou evangélico. Você pode ter a sua religiosidade e ainda assim achar uma babaquice o gasto de tempo e dinheiro público para modificar uma linha na Constituição que não transforma em nada a realidade do brasileiro. Você pode achar escroto obrigar outras pessoas com religiões diferentes a estudarem lado a lado com uma bíblia. Mas não, no Brasil, o país do medíocre, se você é de tal religião, deve defender cegamente tudo que vier dela. Se é de tal partido, deve defender cegamente tudo que vier dele. Deve ser muito confortável não ter que pensar, apenas aderir ao que meia dúzia de escolhidos pensam por você.

É isso, Estado Laico não existe, apesar de ser uma garantia fundamental da Constituição, um dos pilares do Estado Democrático de Direito. E todo mundo acha normal. Mais: quem supostamente acha que se beneficia com isso por ter a sua religião como a escolhida para burlar uma norma constitucional não percebe que ninguém ganha com essa mania cretina de cagar e limpar a bunda com a Constituição. O importante é se dar bem, mesmo que seja trapaceando, burlando norma. Os mesmos que proclamam respeito pelas normas quando sua burla de alguma forma os prejudica. Insuportável.

Não tava ruim o bastante com o PT surtando e perdendo as estribeiras das merdas que faz, os religiosos precisavam sair da toca também. Parabéns, Brasil.

Para cagar pela boca alguma frase feita religiosa e leva o esculacho da sua vida, para mostrar seu lado empreendedor e abrir uma empresa de revenda de bíblias ou ainda para anotar o nome desses escrotos e não votar neles nem para síndico de prédio: sally@desfavor.com

SOMIR

Li o texto da Sally antes de escrever o meu. Como é de costume, senti-me plenamente representado pelo texto dela. Resta a mim então tomar um caminho paralelo e falar sobre como essa gente não me representa. Tá, muito disso é pela minha visão sobre religião: já disse e repito que deveríamos tratar religiosidade como um distúrbio mental (muito embora de raiz social) e procurar um tratamento pelo bem da humanidade.

E como eu considero um caso de ‘fios forçosamente cruzados’ no cérebro, não tenho ódio ou algo do gênero pelos acometidos de tal condição. Adianta bater no esquizofrênico? Claro que não. Quero viver num mundo onde as pessoas tenham no mínimo a oportunidade de buscar tratamento e viver a vida mais digna possível independentemente dos problemas que as dificultam a percepção da realidade.

Arrogante e condescendente, eu? Mas ei, todo mundo tem os seus problemas. O ponto aqui é por mais que eu fique puto com leis e projetos de lei como os apresentados hoje, não é propriamente pelo componente religioso. Acho incômodo que tantos adultos acreditem no Papai Noel, mas francamente, problema deles! O problema passa a ser meu quando figuras de poder com evidentes dificuldades de compreensão sobre a realidade começam a impor suas visões sobre os outros.

Por sorte, vivemos num Estado com uma proteção nesse sentido. O Estado Laico pelo menos garante que essa gente descompensada não passe por cima de direitos e garantias de outros cidadãos. Por azar, boa parte da nossa população sequer entende como isso é importante. Aí não dá para botar na conta apenas da religião: é baixo desenvolvimento intelectual mesmo. Falta de nutrição, falta de incentivo, falta… bom, seja lá o que for, falta! Há um enorme contingente de pessoas sem o mínimo discernimento necessário para entender uma sociedade baseada em preceitos complexos como justiça e igualdade.

E esse povo vota. E aqui caímos na eterna dúvida sobre o político religioso: ou é mal intencionado – vulgo usa a religiosidade como alavanca para ganhos pessoais – ou tem mesmo uma mente simplória ao ponto de achar que a Constituição precisa de uma emenda cedendo o poder do povo para sua divindade predileta. Os dois casos são preocupantes.

É preocupante que pilantras tenham tamanho poder em mãos, é preocupante que tamanhos imbecis tenham qualquer tipo de poder. A escalada dos políticos evangélicos ao poder é perigosa para o país. Se não acredito que teremos uma escalada do fanatismo ao ponto de vivermos eventualmente num país do Oriente Médio, o poder religioso que escorre por entre as frestas do nosso sistema é corrosivo para qualquer tipo de avanço social relevante.

Até posso considerar de uma certa inocência a ideia que bíblias tornariam melhor o sistema educacional, mas não posso encontrar o lado positivo na imposição de uma crença sobre uma população supostamente livre. Evidente que os defensores de tal medida vão argumentar sobre a desobrigação dos alunos de consumirem essa propaganda religiosa, mas não deixa de ser o Estado desequilibrando a balança entre as mais diversas religiões passíveis de escolha por um cidadão livre.

O cidadão pode ser cristão, mas o representante político de vários deles não. O sistema brasileiro tem inúmeros problemas, mas um dos mais sérios é a incapacidade de nossos políticos entenderem seus cargos. Ao invés de agentes para o desenvolvimento de uma sociedade, são ‘agentes livres’ advogando em causa própria. O corrupto que desvia dinheiro para si e o religioso que impõe sua crença bebem da mesma fonte de incompetência sobre suas funções.

E é aí que o problema está: principalmente no Legislativo, parece que nossos representantes não tem a menor ideia sobre o que deveriam fazer. Ou mesmo sobre o que representam no sistema. Um evangélico – por mais fervorosa que seja sua devoção – com um mínimo de capacidade de compreensão sobre como um Estado deveria funcionar jamais criaria uma lei obrigando cidadãos livres num Estado Laico a disponibilizar material de uma religião em seus empreendimentos. Vou além, nenhuma pessoa inteligente faria isso (pelo menos com boas intenções).

Não é lógico. E o que dizer do pobre coitado que acredita não estar minando TODA a fundação do sistema democrático ao tentar fazer uma homenagem à sua divindade? Como é que não passa pela cabeça da pessoa algo tão básico assim? O que um ser humano tão despreparado para sua função faz representando o povo no Congresso? O cidadão é Deputado Federal e sua ideia de melhoria da sociedade é subverter o princípio básico do sistema que jurou defender?

No fundo o que mais me incomoda é a burrice (ou a flagrante apropriação indébita do poder público para fins pessoais). Dói, dói muito ter de acatar ordens de gente assim. Pena que pouca gente nesse país pensa assim. Pena que pouca gente tenha sequer os requisitos básicos para pensar assim.

E é claro, na próxima eleição, ninguém vai ter aprendido nada. Se Deus existiu, morreu de desgosto.

Para dizer que doente mental é a mãe (normalmente são os pais que forçam os filhos a adquirir o distúrbio), para dizer que pelo menos não são muçulmanos (ainda não…), ou mesmo para dizer que é claro que ninguém é tão burro e fazem isso de sacanagem mesmo: somir@desfavor.com


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