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Imprensa vermelha.

Imprensa vermelha.

| Desfavor | | 15 comentários em Imprensa vermelha.

+Brasil ficou na 99ª posição no ranking de liberdade de imprensa, divulgado hoje (12) pela organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) com a análise das condições de trabalho para a imprensa em 180 países, o que representa um ganho de 12 posições em relação à 111ª posição, conquistada pelo país em 2013…

Quando ficar na 99ª posição é um ganho, percebe-se como as coisas vão mal. Desfavor da semana.

SALLY

Você acha que vive em um país com plena liberdade de imprensa, onde jornalismo é exercido de forma livre e sem qualquer amarra? Pense duas vezes. O Brasil está em 99° lugar, uma posição nada honrosa, em uma pesquisa realizada pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

O Uruguai ficou em 23° lugar e até mesmo países bastante cagados, como o nosso amado Suriname, ficaram à sua frente. Isso mesmo, o Suriname, o FUCKIN´ SURINAME, está em 29° lugar, enquanto que o Brasil amarga um 99° lugar. Sentiu vergonha? Eu também. E fiquei preocupada.

E olha, só não ficou ainda mais mal colocado por pouco. O México, que foi contemplado com o posto de país mais mortífero do Ocidente para jornalistas, ficou na frente por apenas UM assassinato a mais. Sim, apesar de toda a ostentação de uma suposta democracia e liberdade de imprensa, o Brasil é letal para muitos jornalistas.

Os principais problemas apontados foram a segurança dos jornalistas (ou seja, o Poder Público não dá conta de proteger o cidadão) e “a concentração da propriedade da mídia nas mãos de poucos”. Destaque especial para o fato de que muitos atos de violência cometidos contra jornalistas foram cometidos pelo próprio Poder Público.

Tivemos oportunidade de ver isso com muita clareza por ocasião das manifestações, onde a polícia espancava cruelmente até mesmo meninas de cinquenta e poucos quilos pelo “crime”de estar filmando a ação abusiva da polícia. Mas isso acontece desde sempre e piorou muito nos últimos anos. Quem ousa falar mal do atual Governo não fica impune, podem ter certeza.

Essa notícia me fez pensar. E muito, porque olha, para um Desfavor da Semana desbancar esse carnaval vulgar, quente e imundo que deu as caras, precisa de muito. Pensem comigo: a imprensa sempre foi considerada um “quarto poder”. Quando alguém com poder de difusão de informação e de formação de opinião como a imprensa apanha calado, é hora de realmente ter medo.

Jornalistas trabalham em um país onde não é seguro fazer jornalismo, pelos mais diversos motivos. Um país onde definitivamente não há liberdade de imprensa plena. Ninguém melhor que os jornalistas para denunciar estas condições desumanas à exaustão, até mesmo como uma forma de se proteger e reivindicar melhores condições de trabalho.

Mas não é isso que acontece. Você tinha noção do quanto era comprometida a liberdade de imprensa no Brasil até ler este texto? Eu não tinha. Sabia que não era um mar de rosas, mas porra, nunca imaginei que o país estivesse tão no fim da fila, tão atrás de países muito mais medíocres em termos de cultura e economia. Os jornalistas estão sem condições de trabalho e sem liberdade de expressão e estão se calando.

Calma que piora. Os dados, mesmo desfavoráveis, estão mascarados, camuflados, de forma proposital ou não. Consta que no ano passado DOIS jornalistas forma mortos no Brasil por causas diretamente relacionadas a seu trabalho. Foi mal, mas só eu conheço três. Se você acha que apenas dois jornalistas morreram no ano passado, pense novamente. Se os dados reais fossem expostos, o Brasil estaria na última colocação do ranking com toda a certeza.

Onde está a imprensa que não denuncia isso? Onde estão os jornalistas que não reivindicam melhores condições de trabalho? Não sei, provavelmente escrevendo notinha sobre subcelebridade que perdeu a parte de cima do biquíni na praia para sobreviver, pois, como quase todas as profissões, há uma crise generalizada e uma inversão de valores medonha. Os jornalistas, guardiões e detentores de informação por excelência, estão aceitando de forma mansa trabalhar em um país cagado em matéria de liberdade de expressão jornalística.

Se nem os próprios interessados parecem se revoltar, imagina o povo. Ninguém parece achar suspeito que um país com outros índices altíssimos e bem ranqueados tenha uma posição tão baixa em matéria de liberdade de expressão. As pessoas não percebem que alguma peça não encaixa. E os poucos que percebem, não parecem se incomodar. A verdade é que o Brasileiro Médio nem ao menos parece querer saber a verdade, está mais interessado em fofoca de famoso do que no bom e velho jornalismo decente.

A imprensa é o quarto poder que fiscaliza os outros três. A imprensa é o instrumento mais eficaz para fortalecer uma democracia. Pode observar, quanto menos democrático um país, mais sofre e fica reduzida a liberdade de sua imprensa. E o Brasil, caros Impopulares, tem um índice de liberdade de imprensa comparável a países que enfrentam uma ditadura!

O que isso te diz? Na minha opinião, ditadura pode ser aberta, escancarada, declarada ou pode ser implícita, velada. Eu acho que o Brasil passa pelo seu período democrático menos democrático de todos os tempos. Aos poucos, a imprensa está sendo arrochada, pressionada, intimidada. Não nos damos conta por ser um processo gradual, mas está acontecendo.

Palavras valem pouco. Cada qual fala o que quer. É através dos atos que se faz uma boa avaliação. E os atos mostram uma imprensa intimidada, censurada. São atos dignos de uma ditadura. Vergonha profunda do Brasil, que se curva diante de uma ditadura mais uma vez, sem sequer perceber que o está fazendo. Zero capacidade de questionamento e reflexão. Zero pessoas corajosas dispostas a levantar essa lebre.

O Governo debocha, exaltando a liberdade de expressão vigente no país. Estou afrontada, estou revoltada. Não apenas negam que exista algum fator que comprometa a liberdade de expressão da imprensa, como ainda a exaltam. É muita cara de pau.

Essa notícia gravíssima não repercutiu em lugar algum, mas aqui vamos tentar fazer repercutir. Foda-se carnaval, foda-se Fulaninha Fantasiada, foda-se quem pegou quem. A imprensa brasileira não tem liberdade para trabalhar, isso é realmente muito grave. Nossa voz, quem nos informa, quem nos ajuda a formar opinião não tem liberdade. Isso é mais do que terrível, é um claro sinal da democracia se esvaindo aos poucos.

Para me chamar de golpista, para me chamar de alarmista ou ainda para culpar o pessimismo e a falta de chuvas pelas atuais condições da imprensa: sally@desfavor.com

SOMIR

Tem guerra no Brasil? Tem fanático religioso assassino? Tem alguma coisa que explique ficar atrás de Uganda nessa lista? O Brasil não é estranho à sensação de ficar para trás em qualquer lista de melhores países em dado assunto, mas o que esse país deveria ser – pelo menos em tese – é pacífico. Não existem fatores externos consideráveis para criar uma sensação de insegurança dessas…

Seja lá o que fizemos, fizemos aqui dentro mesmo. Não tem nem a desculpa de estar no Oriente Médio ou na África, nossos muçulmanos são poucos e não enchem a paciência. O Brasil sustenta índices dos mais variados análogos a um país em guerra civil sanguinolenta, sendo que o conceito de conflito para o brasileiro é algo como Fla-Flu ou Corinthians e Palmeiras.

O problema do Brasil está nas instituições podres que não só são ineficientes (por corrupção ou incompetência) como ainda apagam qualquer centelha de evolução na tentativa de manter os esquemas funcionando como precisam. A notícia da vez só vem para corroborar com a tese.

O jornalista é uma peça fundamental nas engrenagens de uma sociedade democrática. A capacidade de fiscalizar o poder público e/ou privado e informar a população é uma válvula de escape para o cidadão não virar vítima de um sistema viciado na perpetuação de um Estado. Se é o Estado que administra o bem comum do público, não deveria ser só dele o poder de fiscalizar seu funcionamento.

Se quem faz o produto também cuida do controle de qualidade, como garantir que o trabalho não seja mal feito? Como saber se esse trabalhador não está apenas se protegendo ao aprovar seu trabalho? Um olhar externo e independente nos dá mais segurança na qualidade final desse produto. Mas o conceito fica muito nebuloso numa República das Bananas: é tamanha a inépcia dos que estão no poder que qualquer análise séria os faria perder o cargo.

O perigo embutido na profissão de jornalista serve a um propósito: turvar esse olhar independente e facilitar o jogo de poder dos responsáveis pela máquina pública. Evidente que o Brasil ficaria mal nessa lista. É conveniente para corruptos e incompetentes que eles sejam abandonados à própria sorte e só encontrem algum conforto ao apoiar o poder vigente.

Como boa parte dos novelos de corrupção e violência podem ser desenrolados até chegar em figuras políticas poderosas, quanto mais fácil for para intimidar ou mesmo calar essas vozes, melhor. Ao jornalista resta pedir proteção justamente para quem está expondo! Uma das primeiras medidas de qualquer governo ditatorial é calar a imprensa, forçando-os a serem asseclas no seu plano de controle total.

Mas não precisa entrar em Brasília com tanques, dá para se manter no poder apenas com uma boa dose de populismo. Sabem como é, população pouco educada e muito desprovida adora pão e circo. Como temos um governo extremamente focado em se manter no poder, é muito interessante que os jornalistas pensem duas vezes antes de publicar o que querem.

Ao invés de focar nessa questão alarmante da falta de segurança da profissão no país, preferem projetos que controlem melhor o que a imprensa pode ou não pode dizer sobre eles. Aparentemente para o governo petista, o problema do Brasil é o EXCESSO de liberdade de imprensa. A colocação terrível do país na lista está aí para nos provar justamente o contrário, mas… existem eleições para ganhar e acordos para fazer.

Mas, se você for um bom jornalista e estiver cobrindo coisas como carnaval e futebol, tudo fica em paz: o governo até financia todo seu negócio. Quase todas as emissoras de TV recebem boa parte de seus recursos através de compra de mídia do governo. Seja legal com eles e vai ter muitos anúncios para exibir, seja um pessimista… e bom, boa sorte fechando as contas no final do mês. O sistema deles funciona bem, obrigado. Para o brasileiro, antagonismo político na mídia é sinônimo de no máximo uma grosseria do Bonner na entrevista com os candidatos à presidência.

Além de ser desestimulado pelo nível abismal de interesse da população por algo além de bundas e fofocas, o jornalista ainda tem de lidar com todos os perrengues da sua profissão como bom cidadão brasileiro: dependendo da sorte. Tudo bem que é perigoso mesmo trabalhar expondo a verdade num país com tantos criminosos, mas se o sistema se organiza para se omitir no caso de você precisar dele para se proteger, temos uma situação como a brasileira.

99° lugar! O Líbano é mais seguro para os jornalistas! Serra Leoa também! Isso é um aviso claro e inequívoco de que o jogo está viciado contra quem quer ao menos tentar jogar uma luz sobre esse país.

Para dizer que preferia que reclamássemos do carnaval, para dizer que seu trabalho é cortar e colar do Twitter e se sente muito seguro, ou mesmo para dizer que o Brasil está sim em guerra: somir@desfavor.com


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