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Atentado.

Atentado.

| Sally | | 52 comentários em Atentado.

O texto de hoje estava pronto. Era de humor. Mas soaria artificial depois do baque. Sobretudo por ser de humor. Quem gosta de humor está em choque. Três homens fortemente armados invadiram a redação de uma revista em Paris, atiraram e mataram grandes nomes do humor desenhado. Tudo indica que a causa foi uma charge fazendo piada com Maomé.

Não é a primeira vez que isso acontece. Já haviam ocorrido outros atentados com o mesmo motivo e a revista vinha recebendo tantas ameaças, que estava debaixo de proteção policial. Ainda assim, ainda com proteção policial (de uma polícia europeia!), três elementos conseguiram entrar com armamento pesado e fazer várias vítimas. Estamos todos perplexos.

Pela injustiça? Certamente. Um atentado contra a liberdade de imprensa e de expressão. Mas não é isso que desperta essa comoção, na maior parte das vezes, ao menos aqui no Brasil. A liberdade de imprensa e expressão é estuprada diariamente por aqui e ninguém se indigna. O que doeu foi a Síndrome do Poderia Ser Comigo. Poderia ter sido com qualquer um de nós no mundo. É isso que choca, é lembrar da nossa fragilidade, da nossa mortalidade, do lixo fanático que o ser humano pode ser.

Piada gerando morte. É grave, é muito grave. Mais ainda no contexto francês atual, onde já existe uma tendência discriminatória com imigrantes. Assim como nem toda brasileira é a Valesca Popozuda ou o Neymar, nem todo árabe é um fanático lunático terrorista. Mas infelizmente esta é a visão que está se consolidando. Da mesma forma que em outros tempos se olhava com medo/desconfiança para negros, hoje estamos todos começando a olhar assim para árabes. Os bons pagam pelos maus.

Uma charge, um desenho, tem o poder de transtornar pessoas a ponto de pegarem em armas e atirarem em outros seres humanos. O que se passa na cabeça destas pessoas ofendidas? Qual é o parâmetro? Porque diariamente em diversos lugares do mundo (inclusive aqui, no Desfavor) Maomé é ofendido, vilipendiado e desrespeitado. Qual será o critério para baterem o martelo e decidirem quem tem que morrer?

Fico me perguntando o que eles fariam se soubessem que temos uma marchinha de carnaval sobre a cabeleira do Zezé, onde, em um mesmo contexto, se pergunta “será que ele é” mulher, transviado ou Maomé. Vivemos em um mundo onde, mesmo com uma polícia eficiente, pessoas podem ser executadas em função de uma piada. Não é a primeira vez e infelizmente não será a última. Recentemente tivemos ataques massivos virtuais por causa do filme “A Entrevista”. Está se espalhando.

Aí trago a pergunta do texto. Toda esta introdução foi para perguntar como se punem pessoas que não tem nada a perder e que estão dispostas a tirar a própria vida? Prisão não é punição para estas pessoas, o encarceramento aumenta a sensação de vitimização e o ódio entre eles e seus supostos inimigos. Prender é transformar em mártir. Matar também. Urge encontrar uma forma de punição para estas pessoas que não reforce ainda mais seu fanatismo. Alguém se arrisca?

Sanções internacionais seriam ineficientes, afinal, são países que não tem nada a perder. Nem mesmo bombardear funciona, geralmente são países quase que todos bombardeados, com guerra civil, com qualidade de vida ínfima, repletos de violência e intolerância interna. Violência não assusta nem pune quem cresceu dentro da violência. Fato: em matéria de violência, eles são melhores do que o resto do mundo, é o forte deles. É hora de parar de pensar em punição ou sanção tomando por base aquilo que NOS assustaria. O mundo não somos nós. Estas pessoas tem outra cabeça, outros valores, precisam de uma sanção compatível com eles.

Então, o que fazer? Como responder? Me recuso a ignorar, gente assim, fanáticos religiosos, TEM QUE SER DESMORALIZADOS. E essa é a missão de vocês hoje. Todos juntos vamos pensar na melhor forma de combater violência com inteligência.

Cheguei a pensar em viralizar em redes sociais ofensas sucessivas a Maomé. Da mesma forma como teve o Desafio do Balde de Gelo, fazer o Desafio de Maomé, onde cada um humilha, vilipendia e escrotiza Maomé de uma forma mais diferente e criativa que a outra: queimando foto, cagando em cima da foto, travestindo foto de mulher, enfim, criatividade é o que não falta. O que eles fariam? Matariam um por um, milhões de pessoas de vários países?

Sim, é feio escrotizar abertamente a religião alheia, mas é preciso dar um basta nesse fanatismo. Até porque, nas próprias redes sociais, o que não falta são representantes desses fanáticos dizendo que é só o começo, que muito mais virá. Violência não combate isso. Não tem bomba, tiro ou prisão que assuste quem é pós-graduado em violência, quem está disposto a morrer. A solução tem que ser troll.

Quando vemos algo bizarro, escroto e absurdo como esse atentado, o lado passional aflora. O primeiro impulso é querer matar todo mundo envolvido, querer proibir a religião dessas pessoas, querer censurar, querer prender e arrebentar quem se mostre favorável a esse estilo de vida. Não é por aí. Assim estamos ficando iguais a eles e gerando uma reação que alimentará uma nova ação. Eu sei que é revoltante, mas temos que usar a inteligência. O trunfo é esse: a inteligência, algo que fanáticos não tem, ou ao menos não usam.

Desafio do dia: propor uma solução inteligente, para mostrar a essas pessoas que, desculpa, não podem ter o controle do que o mundo todo fala e não podem proibir ninguém de fazer humor. Se quiserem mandar fotos, desenhos, filmes ou qualquer outra forma de escrotizar Maomé, a gente publica e ainda ajuda. E se derem uma sugestão bacana, além dessa, a gente adere e divulga.

Hoje é dia de debater. Podem começar.

Para ousar falar em respeito e religião na mesma frase, para passar o resto do dia cantando “olha a cabeleira do Zezé” ou ainda para escrotizar Maomé: sally@desfavor.com


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