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Direito de nascer.

Direito de nascer.

| Desfavor | | 84 comentários em Direito de nascer.

O milagre da vida humana é pra lá de comum… acontece até mesmo sem querer. Sally e Somir concordam com o direito de um casal escolher caso a gravidez não tenha sido planejada, menos quando a decisão não é unânime. Os impopulares colocam suas opiniões no mundo.

Tema de hoje: Um quer ter o filho, outro não. Qual vontade prevalece?

SOMIR

Definitivamente a de quem não quer. Apesar de na prática não ser bem assim, filhos são uma responsabilidade imensa e precisam de boas condições para vir ao mundo. É o tipo da coisa que faz MUITA diferença se fizer direito. Não estamos mais numa sociedade que precisa desesperadamente de cada nova vida, então adaptemo-nos aos tempos.

Não estou dizendo aqui que pais solteiros VÃO fazer mal para seus filhos, tem muita gente nesse mundo que faz das tripas coração para dar um jeito nisso e criar um ser humano funcional, mas qualquer sinal de negligência nesse processo pode e será danoso para a criança. Criar um filho sozinho não é o ideal, e seres humanos precisam de muito mais cuidado para preparar suas próximas gerações. Deixemos esse esforço para quem precisa fazê-lo, não para qualquer um com um surto de carência.

Querer ter o filho sozinho sem nenhuma necessidade de fazê-lo soa egoísta. É assumir um risco desnecessário cuja principal vítima nem tem escolha a não ser pagar o preço pela sua decisão. Condenação de réu inocente. Sei que estou sendo insensível, mas a visão realista das coisas frequentemente a é. Filho não é brinquedo, filho não é animal de estimação… sua margem para erros é pequena e as consequências são duradouras. Precisa assumir o risco? E não estamos falando de casos especiais onde é a única/última chance, quase sempre dá para tentar de novo numa situação mais favorável.

Sei que é uma discussão sexista, afinal, vamos enxergá-la de forma diferente se quem não quiser o filho for o homem ou a mulher. Vou levar isso em consideração:

Se a mulher não quer: ACABOU! Vai discutir o quê? Ela vai carregar um ‘parasita’ no corpo por nove meses e passar pelo parto contra sua vontade? Isso é uma violência contra ela. As pessoas deveriam ter direito sobre seus próprios corpos, infelizmente ainda vivemos na Idade Média no que tange os direitos femininos sobre a própria gravidez no Brasil, mas isso não muda o fato a coisa certa a se fazer é permitir que a mulher decida se quer ou não o filho.

Mas mesmo que você goste de estar errado e sinta prazer em ferrar com a vida de outras pessoas (vulgo seja contra o aborto), pode entender a parte psicológica da coisa: não é bonito, mas é mais comum que o homem rejeite a cria. Normalmente quando há negligência na criação, ela tende a ser mais masculina. Não estou dizendo que todos os pais são ausentes, mas a tendência é que ‘ausente’ esteja mais do lado de ‘pai’ do que de ‘mãe’. Isso é importante por um motivo: criança criada com uma mãe que não quer o próprio filho vai ficar ainda mais complicada e estigmatizada pela sociedade.

Imagina não ser querido nem pela própria mãe? Sei que temos muitos hormônios destinados a combater essa rejeição, principalmente na mulher, mas isso não é suficiente para evitar todos os casos. Arriscar-se com um filho que vai ser preterido pela própria mãe parece uma boa escolha para você? Precisa fazer isso com a criança?

Mulher tem o direito sobre a gestação e seu afastamento vai ser consideravelmente mais doloroso do que o do homem. Se ela não quer, dois não tem filho. Isso deveria ser a norma.

Se o homem não quer: Não é ele que vai pagar com o próprio corpo pela gestação, mas filho não é brinquedo! Nos olhos da lei, não existe isso de não se responsabilizar pelo filho. É uma sacanagem com o homem ter um filho contra a vontade dele, até porque quando as coisas apertarem, ele tem que pagar o pato querendo ou não.

Mais velho que andar para frente: tem o filho contra a vontade do homem, diz que não vai pentelhá-lo, e assim que as contas empilham, exige que ele assuma a bronca. Homem não tem nenhuma defesa contra isso depois da fase da contracepção. Não quer ter filho? Azar, homem não escolhe. Mulher pode furar camisinha e ainda reter todas as vantagens de ter um otário para pagar pensão. Homem não tem direito nenhum nesses casos.

Se o que o cara quer é justamente não ter uma responsabilidade para a vida toda por não querer filhos em geral ou não com aquela mulher (o mais comum), é bacana forçar isso goela abaixo dele? A única alternativa é não fazer sexo nunca? Num mundo menos injusto, quando um não quer, dois não teriam filhos. Pelo menos aí o protecionismo com as mulheres seria mais aceitável.

Sem contar que filhos tendem a procurar os pais que não conheceram. Um saco ter de lidar com um ser humano que você não desgosta, mas não queria que viesse ao mundo. É escroto rechaçar, mas é uma sacanagem ter de lidar com ele. Sim, muita gente muda de ideia depois, mas vai contar com essa possibilidade? Vai arriscar com um filho?

E ainda por cima criar MAIS UMA criança nesse mundo sem a presença de um pai? Já não basta todas as outras? Se está carente, pega um cachorro! Não exponha uma criança à sensação de rejeição sem necessidade. Repito: na maioria dos casos, é só esperar por uma situação melhor e ter o filho em outro momento. Isso lá é hora de ter pressa? Cadê a vontade de fazer as coisas direito?

Homem costuma ficar com as contas de um filho, querendo ou não, e apesar de mais comum, sua ausência ainda faz mal para a criança. Se ele não quer, dois não tem o filho. Isso também deveria ser a norma.

Para dizer que filho é uma benção em qualquer situação, para dizer que só concorda na parte da mulher porque, surpresa, é mulher; ou mesmo para dizer que é contra o aborto e não é uma pessoa ruim (é sim): somir@desfavor.com

SALLY

Diante de uma gravidez indesejada, onde um quer ter o filho e o outro não, qual vontade deve prevalecer?

A vontade de quem quer ter o filho. Porque quem não o quer, pode se afastar depois que a criança nascer. Mas quem o quer, não poderá tê-lo caso a gestação não seja levada adiante. Não ter é escolher pelos dois, enquanto que ter pode vincular apenas um.

Um filho pode muito bem ser criado com apenas uma mãe ou apenas um pai. Certamente muitos de vocês aqui não tiveram a presença do combo cristão “papai + mamãe” e nem por isso são pessoas infelizes ou deficientes emocionalmente. É perfeitamente possível que um pai ou uma mãe não queira criar o filho e o deixe a cargo do outro cônjuge. Não disse que é bonito, disse que é possível. E, vamos combinar, melhor isso do que ser um péssimo pai ou mãe.

Se existe alguém que quer muito e ama aquela criança, não vejo porque esta vontade não deva prevalecer no final das contas. Me parece de uma crueldade sem tamanho contar a uma pessoa que um filho seu foi concebido mas que, apesar dela querer muito, ele não vai nascer.

Só porque a mulher gera a criança em seu corpo não significa que ela tenha mais direito a ele do que o pai. Atentem para o tema proposto: HAVENDO DIVERGÊNCIA, qual vontade deve prevalecer? Se a mulher cientificou o homem, sinto muito, é porque a opinião dele deve ser levada em conta. Se o homem quer e a mulher não, a coisa digna a fazer, na minha opinião, é ter o filho e entregar para o pai criar.

Sim, muita mulher deve estar pulando na cadeira ao ler isso. Mas, pensem no que acarretaria a postura contrária: uma mulher que quer ter um filho sendo obrigada a abortar por um homem que não o quer. Minha opinião não parece tão ruim agora, não é mesmo? Queridos, métodos anticoncepcionais existem aos montes, engravida quem quer ou quem assume o risco. Vamos nos responsabilizar pelos nossos atos? Acontecendo a gravidez, se UM quiser, o outro tem que respeitar.

Todo mundo pensa na merda que é ter um filho não planejado, e de fato é um enorme complicador (eterno) de vida. Mas alguém aí já pensou no sofrimento que é alguém te tirar um filho que você quer? Não sou machista não, apenas tento ver uma mesma situação de muitos ângulos, fora da caixa, afastadas das imposições sociais. Sim, ter um filho indesejado é uma merda (usasse camisinha!), mas ter um filho ou uma expectativa de um filho tirada de você também não é agradável.

Será que as mulheres que agora estão indignadas ao me ver defendendo a obrigação moral de levar adiante uma gestação que elas não desejavam gostariam de serem colocadas na situação contrária? Será que gostariam de estar grávidas e serem obrigadas a não ter o filho só porque o pai não quer? Acho que não, certamente falariam muito mal de quem pregasse isso. Entretanto, quando, por uma questão de coerência, chega sua vez de colocar em prática o que pregam, a coisa muda de figura.

O que pensar? Que em se tratando de filho a decisão é sempre da mulher? Porque? Porque ela gera o filho ela pode decidir? Não concordo. Ambos fizeram juntos, ambos tem os mesmos direitos e responsabilidades. Na hora de cobrar dos homens igualdade de participação nas responsabilidades inerentes aos filhos todo mundo tem um discurso na ponta da língua, né?

Quem não usa um método anticoncepcional está se colocando sozinho nessa situação. Não há decisão bonita, qualquer uma das duas é péssima quando um casal discorda sobre um filho: tê-lo ou não tê-lo é um estrago para o emocional dos envolvidos. Apenas me parece que tê-lo é menos pior, pois a pessoa que o tem pode se afastar e viver como se não o tivesse. O oposto não é possível.

Não é campanha contra aborto. Se ambos concordarem, eu bato palmas para quem decide fazer um aborto. Este mundo está abarrotado e cruel demais para colocar mais uma criança cujos pais não terão vontade/infraestrutura/tempo para educar e cuidar. Porém aborto unilateral, seja por decisão do homem ou por decisão da mulher, contra a vontade da outra parte, é uma violência.

Porque é cruel um homem pressionar ou obrigar uma mulher grávida que quer ter o filho a abortar e não é igualmente cruel uma mulher fazer um aborto de um filho desejado e já amado pelo homem? Pussy Power tem limite, e esse limite se chama COERÊNCIA. Não quer passar pelos agouros da gestação? Use anticoncepcional. A partir do momento que um filho foi concebido, o pai tem o direito de opinar meio a meio sobre tudo. Isso se chama ÉTICA.

Quantos homens no planeta tiveram filhos que não queriam, por ética, para não obrigar uma mulher a abrir mão de um filho desejado? Em um mundo ideal pessoas são responsáveis e precavidas, tomando decisões importantes juntas, considerando os sentimentos e desejos dos envolvidos. Em um mundo involuído, o “dono da bola” é quem decide e o outro tem que se sujeitar ao seu querer por falta de opção. No caso, o dono da bola é a mulher e, escorada no discurso “o corpo é meu” decide sozinha. O corpo é seu, mas o filho é dos dois.

Por mais horrendo que soe uma mulher ser “obrigada” (muitas aspas aqui) a ter um filho que não quer, é hora das pessoas começarem a se responsabilizar por seus atos. Mulheres que não querem ter filhos tomam suas providências. E não estamos falando em amarrar alguém ao pé da cama para impedir um aborto, estamos falando da pessoa ter consciência do quão incorreto seria forçar alguém a abrir mão de um filho e não fazê-lo, por uma questão de consciência.

“Eu não sou obrigada”. Não, realmente não é, nem eu quero que seja. Adoro viver em um mundo livre. Só acho que, por uma questão ética, esta seria a postura certa a adotar: em caso de divergência de opiniões quanto a uma gestação, deve prevalecer a vontade daquele que quer ter o filho.

Para se surpreender com a minha opinião, para pinçar trechos fora de contexto e contradita-los de forma tendenciosa ou ainda para torcer secretamente por mais uma polêmica daquelas: sally@desfavor.com


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