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Nutella

Nutella

| Sally | | 70 comentários em Nutella

Ela é o mais próximo que já se alcançou de colocar felicidade dentro de um pote. Uma das mais irresistíveis tentações alimentares. Um orgasmo embalado. Doce manjar dos deuses recebe hoje a justa homenagem do Desfavor! Desfavor Explica: Nutella.

Ao contrário do que muita gente imagina, Nutella não é um gênero e sim um produto. Graças a seu sucesso acabou virando referência para designar chocolate com creme de avelã, assim como Gilette virou sinônimo de lâminas de barbear. Na verdade, existem outros do gênero no mercado, mas nunca ninguém conseguiu chegar nem perto do sabor daNutella.

Nutella chegou em 2005 ao Brasil, mas foi criada oficialmente em 1963 pela Ferrero, o pessoal que faz os chocolates Kinder. Este manjar dos deuses foi criado pelo bendito Pietro Ferrero, inspirado em sobremesas da sua terra natal, Itália. No original, a mistura de chocolate com avelã recebe o nome de Gianduia, mas algumas modificações foram feitas na Nutella para deixar seu sabor e sua textura aveludada ainda melhores.

Porém, a origem histórica da Nutella é bem anterior. Mais precisamente, em 1906. Napoleão tentou embarreirar o comércio britânico como artimanha de guerra e esse bloqueio fez com que o preço do chocolate ficasse muito caro.A dificuldade é a melhor amiga da criatividade. Sem ter acesso fácil a chocolate e com um mercado que demandava o doce, confeiteiros se viram obrigados a inovar.

Confeiteiros italianos decidiram adicionar pasta de avelã ao pouco chocolate que conseguiam, já que as avelãs abundavam e o chocolate era caro e raro. O nome dado a essa mistura de chocolate com avelã foi “Gianduia”, nome utilizado até hoje. Agradou. Mesmo depois do fim das restrições, a mistura fez sucesso e teve sua permanência garantida no mercado.

Um século depois, durante a Segunda Guerra Mundial, o chocolate voltou a ficar caro e raro na Europa. O confeiteiro Pietro Ferrero percebeu que teria que apelar para as avelãs novamente, pois não conseguiria sustentar seu negócio vendendo doces de chocolate puro.

A ideia inicial era fazer o chocolate “render mais”. Mais ou menos o mesmo que colocar água no feijão quando aquela visita inesperada aparece. Sim, Nutella é uma forma de colocar água no feijão, só que de europeu. No Brasil ocorre o inverso: o chocolate é muito mais barato do que a avelã, mas naquele contexto, as avelãs tornaram possível o consumo em maior escala do chocolate. Pietro resolveu então se valer das avelãs nesses tempos de crise, dando seu toque pessoal à mistura.

O primeiro nome da Nutella foi “Giandujot”. Após um grande sucesso inicial, ganhou o apelido de “The Smearing”, que significa algo como “sujar”, “manchar”, “lambuzar”. Isso porque a estratégia de divulgação da marca consistia em oferecer pedaços de pão untados com Nutella para as crianças de graça, para degustação. Você levava seu pão e eles davam uma pincelada de Nutella de graça. Não demorou muito para ganharem uma legião de fãs. É o mesmo mecanismo que os traficantes usam: a primeira dose é de graça, depois você tem que pagar.

No meio de um grande sucesso inicial, Pietro Ferrero fez a coisa certa. Já que seu produto tinha um sabor que estava agradando as massas, ele decidiu que podia fazer ainda melhor. Em vez de se acomodar com algo que já era um sucesso e cortar custos para ter mais lucros, ele pensou grande. Pietro Ferrero foi o Steve Jobs dos alimentos. Começou contratando agricultores especializados para produzir avelãs com qualidade superior e foi, aos poucos, aprimorando seu produto até ele ficar com a melhor qualidade possível.

Depois desse salto qualitativo, o produto ganhou um novo nome: “Supercrema Ferrero”, em 1951. Pietro Ferrero recebeu muitas críticas por adotar esse caminho, mas sempre repetia que se o produto fosse bom, se o produto fosse o melhor, as pessoas pagariam mais caro por ele, mesmo existindo outros similares no mercado com preço inferior. Pietro estava certo e construiu um império com base nessa filosofia.

Em 1964 mexeram no produto mais uma vez, por sugestão do filho de Pietro. A intenção era expandir o mercado e alcançar outros países europeus, por isso o nome “Supercrema” foi alterado. Era necessário um nome mais universal, pronunciável em diversos idiomas, mais curto e mais atrativo. Surgiu então “Nutella”, uma mistura de NUT (nozes/avelã em inglês) com NOCIOLLI (avelã em italiano). Era um nome sonoro e palatável para os vários idiomas que se pretendia alcançar. Sua fórmula ficou mais cremosa, para atender tanto a países mais quentes como a países mais frios e sua embalagem ficou mais prática visando facilitar o transporte. O pai criou, o filho aperfeiçoou.

Não demorou muito para a Nutella conquistar a Europa. Em 1977 ela chegou à Austrália e em 1983 aos EUA, fazendo forte concorrência com o doce local, a pasta de amendoim. No Brasil, chegou em 1994 importada (com preço proibitivo) e apenas em 2005 passou a ser produzido em território nacional. Por enquanto, apenas a versão tradicional é vendida no Brasil, mas em outros países edições especiais são colocadas no mercado de tempos em tempos, como por exemplo uma embalagem dupla que de um lado tem palitinhos de biscoito e do outro uma porção individual de Nutella para molhá-los.

A receita de Nutella varia de acordo com o país onde ela é comercializada. No Brasil, por exemplo, tem grande quantidade de óleo, açúcar e chocolate. Na França leva menos açúcar. Aliás, melhor nem olhar o valor nutricional da Nutella, pois a quantidade de calorias assusta. Se você pegar um pote de Nutella e deixa-lo a temperaturas elevadas por um bom período de tempo, o óleo se separa do chocolate. Não é pouca coisa, praticamente enche um copo de óleo, como mostra este vídeo.

Falemos por alto da composição da Nutella: cada COLHER DE SOPA tem 11g de gordura. Isso é uma quantidade exorbitante. E o açúcar não fica atrás. A quantidade diária recomendada de ingestão de açúcar é de 34g, marca que é facilmente alcançada com pouco mais de duas colheres de Nutella. Basicamente com meio pote de Nutella você excedeu em muito a quantidade de gordura e açúcar para aquele dia, isso sem contar com sódio e conservantes.

O cuidado em adequar o produto a cada público alvo deu certo: um pote de Nutella é vendido a cada 2,5 segundos em todo o mundo. Não são muitos produtos que podem dizer o mesmo, sobretudo se pensarmos que Nutella é um dos mais caros dentro do seu gênero. Hoje também existem as Nutellarias, lojas que vendem alimentos feitos à base de Nutella, tais como milkshake, muffin, bolo, croissant, pizza, pudim e outros. Infelizmente (ou felizmente) não existe nenhuma Nutellaria no Brasil, mas se você for a Frankfurt, Bolonha, Genova, Milão ou Nova York, não deixe de conferir.

Apesar de ser italiana, o país que mais consome Nutella é a França. Por lá existe inclusive uma embalagem enorme de 5kg de Nutella. Hoje, ela é comercializada em mais de 75 países e é o produto mais vendido dentro da sua categoria, denominada “spreads” (qualquer produto que seja usado prioritariamente para untar pão). Em muitos países ela é item essencial no café da manhã, da mesma forma que manteiga ou margarina é para o brasileiro. Em outros é um lanche escolar típico.

Mais um plus para a Nutella: o óleo usado em sua composição não é nem um pouco ecológico. Sua produção causa severos danos ao meio ambiente. Daí você já pode fazer uma pré-filtragem: se tem uma pessoa comendo, certamente não é um pau no cu ativista.

Sim, seu cérebro solta fogos de artifício quando você come Nutella, e existe uma bela explicação evolutiva. Nossos antepassados precisavam estocar energia para sobreviver, pois nunca se sabia quando conseguiriam uma boa caçada novamente.

Como enfrentar feras e animais perigosos não é a mais agradável das tarefas, a mãe natureza equipou o homem com um mecanismo de recompensa para estimulá-lo a correr atrás de alimentos: quanto mais gordurosa e com mais açúcar uma refeição, mais sensação de bem estar nosso cérebro produz. Isso garantia um baita incentivo para uma caçada e também garantiu a sobrevivência da espécie.

Porém hoje em dia não precisamos mais caçar. Há fartura de gordura e açúcar ao alcance das nossas mãos. Infelizmente nosso cérebro não sabe disso e o mecanismo de recompensa continua, visando estocar o máximo de gordura possível para garantir nossa sobrevivência em tempos de vacas magras. Por isso quando você come Nutella seu cérebro te recompensa com um enorme bem estar: você está ingerindo um alimento com quantidades cavalares de gordura e açúcar.

Se você ama Nutella, marque esta data no seu calendário: dia 5 de fevereiro é considerado o Dia da Nutella, dia onde os fãs devem não apenas comer como também divulgar a marca postando fotos e comentários na internet. Taí uma causa que eu apoio com gosto!

Dica de culinária: substitua o chocolate das suas receitas pelo dobro da quantidade de Nutella. Salvo raras exceções, costuma dar certo e fica uma delícia.

Para perguntar quanto a Ferrero está me pagando e receber uma gargalhada em resposta, para dizer que não gosta de Nutella e ter sua sanidade mental questionada ou ainda para contar gordices no geral: sally@desfavor.com


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