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Nossos desfavores.

Nossos desfavores.

| Desfavor | | 65 comentários em Nossos desfavores.

Seis anos de desfavor: Comemorando o aniversário da República Impopular, Sally e Somir passam a semana toda analisando a história da nação.

São milhares de postagens. Seis anos quase ininterruptos postando diariamente sobre os mais variados temas. Sally e Somir concordam que já construíram uma história aqui, mas não quando tem de escolher A postagem que mais nos definiu até hoje. Os impopulares escolhem as suas.

Tema de hoje: Qual a postagem que definiu o desfavor?

SOMIR

Flertando com o desastre: Holocausto.

Estamos escolhendo uma postagem, sim. Mas também estamos tentando encontrar o momento onde o desfavor se solidificou no que é. Quem nos conheceu no meio desse caminho pode até achar que as coisas sempre foram do jeito que estão, mas alguns de vocês nos viram amadurecer não só como proposta mas como pessoas.

2009 foi um ano importantíssimo para sedimentar o jeito desfavor de ser. Para quem não sabe, o desfavor nasceu de eu e Sally largando o blog de uma comunidade feminina do Orkut que ela mesma criou e resolvendo fazer um vôo solo por divergências com o resto do pessoal que escrevia o blog original. O desfavor nasceu para continuar aquela ideia sem as amarras do mimimi.

E o que eu fazia num blog feminino? Bom, eu acompanhava a Sally. Não era minha casa, eu era um convidado meio mal educado bancado pela dona. Até criei a Somira para não destoar muito. Quando a (hoje fica claro que inevitável) desavença entre nós e a turma do blog chapa branca comercial ficou insustentável, mudamo-nos eu e Sally para nossa própria casa.

E por um tempo, seguimos no automático. Sally ainda focada num público essencialmente feminino, eu ainda me sentindo um pouco o convidado bancado pela dona. Era o público dela, e especificamente o público dela quando escrevia Sally Surtada. Muitos impopulares da gema que ainda nos acompanham como Suellen e Deja são dessa época, e sabem bem que a pegada era outra.

Sally concentrada em fazer seus Sally Surtada cada vez mais atraentes, eu tentando achar um ponto comum com o público. Se alguém tiver a curiosidade, fica evidente o meu esforço para parecer mais acessível nos textos de 2009, mas só até aquele Flertando com o desastre. Porque depois daquilo, não era mais o blog da Sally ou do Somir, era o desfavor.

Foi numa das nossas primeiras semanas temáticas, talvez a primeira delas. Semana do Avesso. Nossas colunas eram fixas, ela fazia Sally Surtada e Processa Eu!, eu fazia Flertando com o desastre e o Deleta Eu!. Invertemos. Naquele momento, Sally tinha muito o que dizer, mas só uma coluna para falar mal de homem e de celebridades para dar vazão. Quando ela saiu completamente do script e mandou ver um texto falando sobre a Segunda Grande Guerra e o Holocausto, pegou muita gente de surpresa.

Ela ficou insegura com o desvio do hábito. Por vezes Sally é modesta demais sobre suas capacidades. Eu sabia que ver ela escrevendo algo mais abrangente seria a porta de entrada para algo muito maior do que o que estávamos fazendo até ali. Ela me escolheu para esse projeto, mas eu também a escolhi e sabia do potencial. Se ela não viesse junto e mostrasse para o público a extensão de sua capacidade de escrever, acabaríamos repetitivos. Ainda bem que ela encarou o desafio.

Foi a postagem desatou de vez as amarras do ‘blog anterior’ do seu material. Ela adorou escrever a coluna, eu adorei ver ela escrevendo a coluna. Faz tempo que eu digo pra ela que essa é minha coluna preferida dela no desfavor, não porque ela não escreveu coisas ainda melhores depois, mas pelo momento. Sally é a força motriz do desfavor: quando ela bota as coisas em movimento, todos vamos juntos.

Foi nesse momento que eu senti que tínhamos construído uma coisa nossa e que o desfavor tinha uma cara. Não demorou muito para abolirmos essa coisa de coluna fixa e começarmos a escrever não para segurar um público ‘importado’, mas para conversar com o nosso. Daquela semana temática para frente, era o nosso projeto, o nosso desfavor.

É o momento definidor da nossa nação porque eliminou quaisquer fórmulas de manutenção de leitores e colocou o conteúdo em primeiro lugar. Só está aqui para ler Sally Surtada? Azar, só vai ter quando a Sally quiser escrever um. Ou tem capacidade de lidar com temas diferentes, ou está no lugar errado.

Hoje em dia essa nossa proposta está clara, mas antes desse momento, estávamos flertando com a ideia de nos tornarmos caricaturas de nós mesmos. Tirar as amarras das colunas e transformar hits como Sally Surtada e Processa Eu! em conteúdos esporádicos filtrou o público. Quem só queria mais do mesmo foi procurar outras paragens, mas quem queria mais assim como Sally e eu ficou.

Talvez a minha escolha seja um pouco pessoal, confesso. Como foi essa postagem que me fez sentir em casa de vez por aqui, guardo-a com um carinho maior. Mas o desfavor sou eu, é a Sally e são os impopulares. Mexeu comigo, mexeu com ela que passou a escrever sobre tudo o que queria ao invés de ficar pajeando gente monotemática… e mexeu também com nosso público, que começou a se definir a partir dali.

Sei que é mais comum escolher o troféu mais brilhante na prateleira, mas como essa casa também é minha, eu conheço as histórias de cada um deles. Essa postagem pode não ser a mais chamativa, mas é uma das com mais história entre todas elas. Às vezes está nos detalhes. Sally, obrigado por dividir a casa comigo.

Para ser egocêntrico e dizer que foi a que você viu primeiro, para pedir a volta das colunas fixas, ou mesmo para dizer que quem vive de passado é museu: somir@desfavor.com

SALLY

Ano: 2009. Coluna: Deleta Eu. Somir fazia críticas de blogs sofríveis na mesma linha que eu sigo na coluna Processa Eu e o blog escolhido foi o “Homem é tudo palhaço”. Este momento foi um marco definidor para o Desfavor.

Além de ser nossa primeira polêmica significativa (90 comentários em 2009 era coisa pra caralho) deixou bem clara a intenção do Desfavor e fez uma bela peneira de público. Muita gente deslumbrada com a coluna Sally Surtada cismava em jogar o Desfavor no mesmo saco de qualquer blog feminista de esquina. Foi ali que perceberam que não era bem assim.

Não digo que foi ali que começaram a entender a proposta do Desfavor, porque essas pessoas até hoje não entenderam porra nenhuma. Na verdade, foi a partir desse texto que as pessoas passaram a NÃO ENTENDER o Desfavor. Não fechava, não encaixava na classificação tradicional. Como pode um mesmo lugar com textos falando mal de homem e falando mal de um blog que fala mal de homem?

A maior parte das pessoas ainda não compreende a proposta do “nada é sagrado” do Desfavor. A proposta de falar de assuntos sem levantar bandeiras. Se falava mal de homem, então era um blog feminista. Oi? Só que não! Descobriram isso com um choque de realidade nas palavras ácidas do Somir. E ficaram com raiva!

Foi aí que o Desfavor se desvinculou de vez dessa ditadura da classificação: um blog de feminismo, um blog de culinária, um blog de fofocas, um blog de… Não dá para classificar. Somos tudo, somos nada. É preciso alguma sutileza mental para entender que se pode falar sobre um assunto sem se tornar aquele assunto ou tornar seu blog amarrado a aquele assunto. Desfavor não é blog temático, Desfavor é sobre o mundo.

Quem não conseguiu fazer essa passagem mental foi embora. Pessoas se sentiram traídas porque um blog que uma ver por semana, toda terça feira, tinha um texto metendo o pau em homem publicou um texto metendo o pau em blog “feminista”. Quem entendeu e gostou, ficou. Sem amarras, sem esperar que seja um blog “de alguma coisa”. Sem esperar aquele modelo padrão temático.

Daí começou a grande peneira de leitores. De uma tacada só, Somir enxotou os limitados e os ofendidos. Quem ficou sabia que poderia abrir o blog no dia seguinte e ter postagem falando bem ou mal de qualquer coisa, inclusive de nós mesmos, como de fato já teve. Um pacto com o imprevisto, com a falta de classificação, de categorias. Sem amarras, nada é engessado, nada é sagrado.

Uma proposta complicada, pois as pessoas no geral gostam de certezas na vida. Precisam de certezas, de regras, de grupos para se sentirem seguras. O preto e branco sempre são mais confortáveis que o cinza, pois o cinza tem vários tons (favor não fazer trocadilhos com o livro), tons às vezes desconhecidos, inesperados, que, justamente por isso causam mal estar. O que não pode ser classificado, enquadrado, não pode ser controlado.

E se tem uma coisa que o BM não gosta é perceber que não tem controle de tudo, que não sabe de tudo. Um texto que faça ruir suas certezas, que abale suas convicções, pode causar um tremendo mal estar se a pessoa for limitada. E foi isso que o texto do Somir fez. Mesmo sendo um dos seus textos mais superficiais (normalmente ele escreve difícil sobre assuntos difíceis), acabou abalando a certeza dos leitores sobre o que seria o Desfavor.

Firmou-se um pacto, aqui é assim: sem classificações, sem restrições e sem preocupação hipócrita de não desagradar. Pessoas com o “foda-se” ligado, escrevendo sem preocupação. Era um momento que o Desfavor estava dando o primeiro boom de expansão, poderíamos ter cativado o público feminino com o Sally Surtada (que era semanal) e conseguido um patrocínio qualquer, uma permuta ou sei lá que tipo de benefício as pessoas tiram com internet.

Mas não. Resolvemos cacetar o público pagante, a massa, a maioria, os consumidores que os patrocinadores tanto querem, e, em troca, pensar fora da caixa.Acho que posso dizer que ali também se definiu o caráter não-lucrativo do Desfavor. Isso sempre esteve muito claro entre Somir e eu, mas ficou bem claro para o mundo quando mandamos embora um público enorme que poderia, direta ou indiretamente, nos render lucro.

Um recado bem dado: não queremos quantidade, queremos qualidade. Podemos nos dar ao luxo de ser um dos únicos blogs diários que NÃO PRECISA de nada além de duas pessoas para existir, duas pessoas que trabalham e se sustentam sozinhas, sem permuta, sem desejo de fama, sem nada que não seja a legítima vontade de estar aqui escrevendo. Mandar aquelas pessoas histéricas embora foi um marco no estilo “Eu escolho meus leitores”.

Ali começou nosso elitismo intelectual. Nossa peneira. Ali começamos a nos dar ao luxo de escolher quem vai participar de forma ativa do Desfavor. Já fizemos várias “peneiradas” por aqui ao longo desses seis anos, mas a primeira a gente nunca esquece, até porque a primeira é a que mais causa surpresa e indignação. Lembro até hoje de pessoas me mandando e-mails revoltados, dizendo que tratando leitoras dessa forma não chegaríamos a lugar nenhum. Pois é, o que essas pessoas não sabiam é fazer isso é exatamente onde queríamos chegar.

Seis anos de postagens diárias, de domingo a domingo. Postagens de conteúdo, não fotinho com piada, não meia dúzia de frases ou achismos. Seis anos de tudo: temas científicos, escatologia, temas culturais, fofoca, culinária, contos, humor, política… seis anos de tudo, sem cair em estereótipos ou classificações, sem maquiar conteúdo por medo de patrocinador e sem fazer uma única concessão para agradar qualquer pessoa que não nós mesmos. Parabéns para nós. Não creio que mais alguém tenha conseguido o que nós conseguimos.

Realização não se limita à parte financeira ou a status. Me sinto profundamente realizada com o Desfavor e o acho um blog muito bem sucedido dentro do que se propõe. Sucesso não é dinheiro e não é audiência, espero que o Desfavor inspire todos a perceberem isso. Sucesso é alcançar o que você deseja, foda-se o que o mundo acha do que você deseja.

Obrigada, Somir, por esses seis anos, que só nós sabemos o quão difíceis foram em alguns momentos e o quanto nos custou manter o Desfavor funcionando. E obrigada por abrir as portas com essa primeira grande peneira. Obrigada aos leitores, que assim como em um casamento, nos aturam nos bons e nos maus dias. Vamos tirar a semana para comemorar!

Para nos parabenizar, para ter pena da gente ou ainda para deixar as suas impressões sobre o Desfavor: sally@desfavor.com


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