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Corrige.

Corrige.

| Desfavor | | 58 comentários em Corrige.

Amanhã exerceremos nosso direito e dever de eleger nossos representantes. Mais uma eleição, mais um desfavor da semana.

SOMIR

Reforçando: democracia é uma merda, mas é a melhor merda que temos. O direito ao voto direto foi reinstituído depois de muita luta, mas essa acaba sendo a única vitória no processo todo. Vendo pelo lado positivo, pelo menos podemos votar.

Vendo pelo lado negativo… bom, é melhor ficar confortável, isso vai demorar. Escolhemos candidatos entre uma massa de despreparados e óbvios incompetentes para exercer cargos engessados por uma máquina pública corrupta e ineficiente. Milhões e milhões de votos desperdiçados num sistema inóspito para as tão prometidas mudanças e melhorias.

Tudo isso num país que ainda não sabe se peca pelo excesso ou pela falta. Votaremos por uma série de motivos diferentes, com exceção de um que nos une: a obrigatoriedade do voto. A “festa da democracia” não parece tão interessante quando a presença nela é compulsória.

O voto obrigatório tem o ranço do tempo dos militares e sua integração nacional na marra. Temiam que seus adversários políticos (os que não estivessem mortos ou traumatizados demais) organizassem-se no vácuo do desinteresse político do cidadão médio. Nada melhor do que o povão para perpetuar governantes conservadores.

Além disso, é mais uma forma de infantilizar a população, tão afeita a um Estado paternalista. O povo vota forçado porque precisa de alguém para dizer-lhes os que fazer para seu próprio bem. Presume-se que a escolha de representantes não seja prioridade da população. Nesse ponto eu discuto menos, realmente não a é. Mas nada ensina melhor o valor de uma escolha do que ter a liberdade de fazê-la.

É o voto obrigatório que cria aberrações feito o Tiririca, já basicamente garantido como deputado com a maior votação do país. Cidadão pode achar hilário votar num palhaço assumido para frequentar o picadeiro de Brasília, mas dificilmente sairia do seu caminho para votar nele. Tratado como criança, o eleitor reage com pirraça.

Falta ao eleitor brasileiro a opção de assumir que não dá a mínima. Excrescências como voto nulo e branco DIGITAIS são resultado direto disso. Fazia sentido sacanear nas cédulas, mandando mensagens de protesto, mas na urna eletrônica? Quando a rebeldia é pasteurizada de tal forma, reunindo todos os votos ‘diferentes’ num mero ruído digital, perde-se um mecanismo de comunicação e por consequência, um pouco do que significa a democracia.

Se não fosse o suficiente, mesmo a pessoa com um mínimo de ‘vaidade eleitoral’ ainda sim raramente tem a chance de fazer algo além de um tiro no escuro com seu voto. O excesso de candidatos e partidos de um sistema dividido entre o trauma da ditadura e a farra do Fundo Partidário evita que tenhamos identificação com os candidatos que escolhemos. Com todo o processo eleitoral transformado numa sinfonia desafinada de pessoas pedindo atenção, não é de se estranhar que tanta gente só escolha um candidato durante os estágios finais da campanha eleitoral.

Deveríamos escolher representantes, e não ‘consumir’ um produto propagandeado por poucos meses. Depois do voto o cidadão raramente tem contato ou sequer satisfações do candidato que ajudou a eleger. A maioria das pessoas mal se lembra em quem votou nas eleições anteriores.

E o que dizer da limitada gama de opções apesar da quantidade enorme de candidatos e partidos? País muito atrasado intelectualmente normalmente gira ao redor de um mesmo tipo de candidato conservador que reflete a ignorância da população. Por exemplo: no final das contas, escolher entre Dilma, Aécio ou Marina é escolher entre o sujo e o mal lavado. Opiniões muito parecidas, muito genéricas.

Qualquer candidato que destoe suficientemente das visões limitadas do brasileiro médio sofre para conquistar votos. Mil pastores para cada cientista. Teremos uma teocracia antes de ter uma bancada humanista no Congresso! Porque é isso: eleição ultimamente só serve para crente combinar voto e enfiar gente incrivelmente escrota no poder.

E agora vem o pior: mesmo se um candidato com visão e capacidade para fazer algo além de esquentar uma cadeira passar pelo crivo da eleição, será esmagado pelo sistema. E no final das contas é isso que torna o processo eleitoral brasileiro um exercício fútil de democracia. Tem tanta coisa errada, tantos elementos podres enfiados no meio da política, que acabam contaminando qualquer tentativa de resolução das demandas históricas de um povo que só esquece que tudo está uma merda justamente na hora de votar.

O que nos resta é a ideia de que você provavelmente vai votar num candidato que não gosta para evitar que outro pior assuma o cargo, vai votar em qualquer um porque simplesmente não liga para o que vai acontecer depois, ou vai votar em alguém que realmente acredita que mereça o cargo, mas não vai ter sequer a oportunidade de colocar em prática suas boas ideias para o país.

Mas, ei, boa votação para você também!

Para dizer que vai votar nulo ou branco na Dilma, para dizer que vai votar no Levy Fidelix para encher os trens dele de viados, ou mesmo para dizer que ainda acredita (você é uma pessoa melhor do que eu): somir@desfavor.com

SALLY

Assim como a gente, você também deve estar de saco cheio de ser palhaço nesse grande circo chamado Brasil. Amanhã será apresentado o espetáculo principal, onde seremos obrigados a votar em urnas que já foram desacreditadas por diversos especialistas nacionais e internacionais, influenciados por pesquisas igualmente sem credibilidade.

Todo o processo foi um tremendo desfavor. Desde o layout dos candidatos, que mais parecem personagens do Chaves, até a lamentável propaganda eleitoral, que apresentou todo tipo de bizarrice. A cena da Dilma dançando funk, por exemplo, nunca mais será apagada da minha cabeça. Segundos de puro terror.

Os debates mais pareceram episódios de “A Fazenda” devido ao baixo nível dos interlocutores somado às brigas e falta de coerência. Em todo o processo, os candidatos deram um show de despreparo e incompetência, bem como toda a equipe que os cerca. Tenham medo.

Mas o pior, pior mesmo, são os candidatos em si. Dilma, por exemplo, nunca responde o que lhe é perguntado. Repete frases prontas, foge do assunto, vomita estatísticas mentirosas. Marina, uma despreparada que nem ao menos um discurso consegue decorar. Aécio, mais sujo que pau de galinheiro não passaria nem em um concurso público que tivesse exame toxicológico: não pode ser Gari, mas pode ser Presidente da República. Luciana Te Processo Por Uma Piada Genro e Levi Homofóbico Fidelix são piadas prontas.

As subcelebridades candidatas também contribuíram para o grau de depressão eleitoral no qual estamos. Dr. Rey prometendo bolsa-silicone, mulher fruta, cantor e outros ignóbeis aos quais eu não teria coragem de delegar nem mesmo tarefas simples como descascar uma batata, tem grandes chances de se eleger.

Graças a uma legislação que pretendia ser protetiva mas acabou truncada, nem mesmo estuprador pode ser preso se cometer crimes ou for pego a poucos dias da eleição. Proteger as pessoas de um esquema ditatorial vetando prisões de cunho político ok, mas fazer da democracia impunidade para estupro, vai desculpar, é simplesmente grotesco.

O pior é que somos obrigados a sair de casa, ir até uma zona (nome apropriado) eleitoral e votar. Não porque a multa seja grandes coisa, acho que está em torno de três reais, mas porque dá mais trabalho a burocracia para pagar a multa do que ir para a zona votar. E vamos votar para jogar voto no lixo, pois além das urnas eletrônicas não serem seguras, existe um claro combinado de distribuição de poder onde ninguém quer mexer, pois cada um está recebendo sua fatia do bolo.

Não fosse a paumolescência do Aécio, que visivelmente não está interessado em derrubar a Dilma ou a incompetência da Marina, Dilma não se reelegia. Mas eles parecem receber um mensalão para não fazer sombra a essa versão de batom do Bob Esponja. Ninguém bateu forte no PT, está todo mundo contente com as coisas como elas estão. Menos o povo.

Se a urna não fosse eletrônica, eu faria questão de limpar minha bunda com a cédula na privacidade da cabine de votação, antes de depositá-la na urna convencional. O mesário teria uma bela surpresa ao se deparar com um freadão de bicicleta ao abrir a cédula. Mas nem a esse pequeno prazer eu tenho direito. Estou afrontada, indignada com essa palhaçada à qual vou ter que me submeter. Não estamos em uma democracia, sabemos que não estamos em uma democracia, entretanto temos que arcar com o ônus dela sem ter direito ao bônus.

Um povo apático, alienado, conformado e subornado que vai votar sem nem mesmo pensar muito no assunto. Um povo imbecilóide que não questiona nada que não lhe gere um ganho concreto e imediato. Um povo que está sendo estimulado a procriar desenfreadamente para ganhar dinheiro por cada filho que faz, ou seja, uma raça idiota que só aumenta. Não há luz no fim do túnel, e se houver, podem ter certeza de que é um trem, que vai passar por cima da gente, para coroar nossa desgraça.

Todas as pessoas inteligentes que eu conheço vão votar contrariadas e desesperançosas amanhã. Independe de quem seja seu candidato. Quem está curtindo a “festa da democracia” ou é muito ignorante ou muito sem noção. Gente que diz “pelo menos agora a gente pode votar”. Claro, porque é um grande ganho votar em uma urna cujo resultado pode ser facilmente manipulado! Ao menos era mais honesto quando não se podia votar declaradamente.

Tem ainda o sofrimento de uma minoria azarada que trabalhará nas eleições como mesário ou coisa do tipo. Gente que vai ter que trabalhar seu lado zen para atender a todo tipo: burros, mal educados, apressados, arrogantes, grosseiros e muitos outros. Passar o dia todo em função de um jogo idiota de cartas marcadas, “servindo a seu país”. Servindo é de saco de pancadas do seu país!

E como se tudo isto fosse pouco, a paunocuzação não acaba. Provavelmente teremos um segundo turno, e mesmo que não o haja, teremos uma encheção de saco after-taste, quando sair o resultado. Não quero nem imaginar o que vai acontecer com as redes sociais quando Dilma for anunciada Presidente da República novamente. Seus lacaios Dilmetes ofendidos e raivosos vão encher o saco do resto do mundo, tal qual torcedor do time rival tripudia do torcedor de time perdedor.

Daí, é claro, vem o pior desfavor de todos: mais quatro anos de Dilma. Porque sejamos realistas, é isso que vai acontecer. Não é o que eu queria, não é o que você queria, mas é isso que vai acontecer. E depois mais 4 +4 anos de Lulinha, se a cirrose não o matar antes, coisa que não deve acontecer, pois pobre cachaceiro é uma raça especialmente resistente. Vai ver os germes morrem com o álcool…

É isso. Se você também está puto, bem vindo ao clube. Você tem todos os motivos do mundo para estar injuriado. Montam um circo e te obrigam a fazer papel de palhaço, te coagindo a participar com uma das maiores torturas dos tempos modernos: fazer fila no Banco do Brasil.

Viva à festa da democracia.

Para desbafar e xingar à vontade, para dizer que Bradesco é pior ou ainda para se recusar a continuar vivendo em sociedade, fazer uma mochila e ir para as montanhas: sally@desfavor.com


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