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Flertando com o desastre: Argentina da gema.

Flertando com o desastre: Argentina da gema.

| Sally | | 173 comentários em Flertando com o desastre: Argentina da gema.

Vendo as maravilhosas mentiras que a imprensa nacional está divulgando diariamente resolvi eu mesma testar qual é a realidade dos fatos: como é tratado um gringo no Rio de Janeiro? O que se vê aos olhos da imprensa nacional é muita simpatia, receptividade e boa vontade. O carioca te recebe de braços abertos, tal qual o Cristo Redentor. Pois é, mas, tal qual Cristo, descobri que o carioca é uma fraude.

Desde o começo da Copa, aproveitei os períodos onde a Seleção Argentina estava no Rio (e consequentemente a torcida em peso) para fazer esse estudo Troll-Antropológico. Hoje lhes trago o resultado: o carioca não é esse povo acolhedor que se diz. É um povo malandro e mal intencionado que está sempre em busca de algum proveito, seja ele sexual, seja financeiro. O que difere o carioca do baiano é que o carioca tem competência e inteligência para conseguir passar a perna nos outros, mas na essência, são moldados na mesma fôrma.

Para quem não sabe, o “argentino” é minha língua materna. Sim, eu sei que não existe um idioma “argentino”, competi esse erro premeditado para mostrar que posso emular com perfeição sotaque, gírias e vocabulário no geral. Pois bem, me vesti como uma típica argentina, me comportei como uma típica argentina e falei como uma típica argentina. Segue o relato.

Vamos começar falando de preços. Os camelôs todos, no mínimo, dobraram o preço das coisas para mim. Alguns até triplicaram. Quando tentava barganhar em espanhol eles se recusavam a abaixar o preço. Minto, um deles, ao me ver confusa com as notas, resolveu me fazer um desconto relâmpago: o que era dez reais passou a ser cinco, mas ele apontou para a nota de cinquenta dizendo que aquilo eram cinco reais e que estava fazendo o produto pela metade do preço. A cara de pau impressiona, eles juram que aquele é o preço, eles são verdadeiros atores.

Nas lojas, onde eu esperava que o tratamento fosse um pouco diferente, outra decepção. Vendedores com cara de bunda, de saco cheio, sem saber falar uma palavra de inglês ou de espanhol. E olha que fui em lojas de luxo, que tem bolsas de mais de vinte mil reais. Aparentemente o moço com nome do autor de “Os Miseráveis” quer cobrar caro nos seus produtos mas não paga um Fisk ou um CCAA para suas vendedoras. No geral os vendedores cariocas estão bem despreparados e parecem exaustos, talvez porque de fato estejam. Trabalhar em loja é escravidão e quem tem um bom inglês ganha mais (e trabalha menos) se for ser secretária executiva. Está sobrando a xepa da feira para as lojas, muito triste.

Transporte público. Sem condições de qualquer motorista de ônibus da cidade te compreender ou te ajudar se você não falar português. Os pontos estão mal sinalizados, uma pessoa de fora não tem a menor ideia de qual ônibus pegar pois desconhece nome de ruas e bairros. Falta de segurança, pequenos furtos, roubos e encoxamentos coroam o passeio.

Metrô foi menos pior, pois além de estar tudo bem sinalizado em mais de um idioma ainda colocaram umas mocinhas que falavam no mínimo inglês para auxiliar quem comprava um bilhete na máquina automática. Pena que o serviço em si não funcionou direito: atrasou, trens parando entre uma estação e outra, ar condicionado quebrado e, como sempre, o pessoal da encoxada e mão na bunda, mesmo no vagão de mulheres. Cantadas em um portunhol lastimável e agressões verbais grosseiras em referência a futebol vieram de brinde. Os seguranças do metrô acharam graça, ficaram rindo.

Táxi foi uma tristeza. Não tem jeito, a maioria dos taxistas cariocas dão uma volta ao mundo para te levar para qualquer lugar, só para cobrar mais. Mesmo quando perguntei sobre o trajeto, questionando se não havia um caminho mais curto, os malandros saíram se explicando, dizendo que estava em obras ou que aquele trajeto era muito perigoso, que poderíamos levar um tiro de bala perdida ao passar por ali. Qual é o gringo que não vai acreditar nisso? “Very dangerous!”, eles dizem, fazendo sinal de arma com o dedo.

A hora de comer pode ser um problema, dependendo de onde se vá. Um restaurante mais caro tem mais boa vontade com um gringo, mas os fast foods no geral não se esforçam. Se for comida de rua, tipo barraquinha de cachorro quente ou quiosque de praia, o preço inflaciona quando quem pede é um gringo. Um vendedor de churros chegou ao cúmulo de ter o preço estampado na carrocinha e querer me cobrar mais apesar do preço estar lá estampado em letras garrafais. Vale tudo para enriquecer durante a Copa!

Se um gringo for depender da boa vontade do carioca para usar o banheiro, se caga nas calças. É o tipo da coisa que não dá para fazer mímica e eles parece não saber como se diz em outros idiomas. Pedi por banheiro em espanhol: um “baño” (se pronuncia “banho”) e invariavelmente me informavam que ali não havia chuveiro. Alguns faziam a mímica do chuveiro e depois um “não” com o dedo. Pois é, eu não queria tomar banho, eu só queria usar o banheiro. Até em restaurantes me informaram que não havia “banho” ali. Na rua então, nem pensar. Aliás, informação na rua no Rio de Janeiro, nem pensar mesmo que você seja carioca.

A palavra “não sei” não consta no vocabulário do carioca. Se você pedir uma informação que ele não sabe, ele vai inventar qualquer merda e você vai parar sabe-se lá onde. Além disso carioca dando explicação é um espetáculo à parte: “a Senhora pega e vira à direita depois do cinema, daí pega à esquerda depois do hospital tal…”. Oi? Filho, eu sou de outro país,não sei onde é o cinema e o hospital! Porque não falar em números, que é algo universal? Três ruas e vira para a direita, anda mais duas ruas e vira para esquerda. Não, isso não existe no Rio de Janeiro. Eles chegam ao cúmulo de te mandar ir não sei onde, virar não sei onde e “mais lá pra frente a senhora pergunta como faz para chegar lá”.

O respeito, ou melhor, a falta dele, também me impressionou. Mais os homens que as mulheres. Homem ou aborda para passar cantada ou sacaneia aos berros quando você passa tendo como pano de fundo a rivalidade futebolística. Mulher apenas fala mal, muitas vezes de forma propositadamente audível. As pessoas na rua olham de forma curiosa, como se o gringo fosse um bicho. Uma má educação sem limites. Alguns até apontam. Se eu ganhasse um real para cada vez que ouvi que Pelé é melhor do que Maradona…aos berros.

A polícia carioca consegue tratar o argentino ainda pior do que trata o próprio carioca. Quando os argentinos estavam na rua fazendo a festa e comemorando, a polícia achou aquilo indevido e saiu baixando o sarrafo: porrada com cassete, spray de pimenta, chutes e pisões, mesmo havendo mães com crianças de colo no meio. Ninguém entendeu nada, eles não sabiam que não podiam ficar naquela rua. Alguns tentaram se defender e reagiram para proteger a esposa ou a namorada e acabaram presos. Nem preciso dizer que os policiais não falavam uma palavra de espanhol e nem faziam o menor esforço para se comunicar.

Agora vamos supor que um gringo foi roubado, coisa que aconteceu MUITO, apesar de pouco noticiado. Para começo de conversa, o gringo tem que adivinhar qual é a delegacia responsável e onde ela fica. Mas suponde que ele teve a sorte de encontrá-la, como será que é o tratamento? Parecido com o das lojas: pessoas de saco cheio que não sabem falar o idioma, impacientes. Filas e mais filas de turistas de todas as nacionalidades. Total carência de intérpretes, que a meu ver deveriam ser obrigatórios em eventos de grande porte como esses. Roubos e furtos deixando de ser registrados porque não se entendia o que o turista estava dizendo. Assim fica fácil manter as estatísticas de criminalidade lá embaixo.

E os aeroportos? Bem, esta semana já despencou um infeliz lá no terceiro andar do Galeão e está hospitalizado em estado grave. Mas não custa reforçar que ambos os aeroportos estão um lixo que não dá vazão ao número de passageiros. Teve gente que perdeu o jogo em outros estados pois, apesar de chegar duas horas antes, não conseguiu embarcar. Banheiros interditados, com poucas ou nenhuma privada disponível. Limpeza precária que não dá vazão. Estacionamentos perigosos que oferecem risco a quem transita por eles, apesar do preço excessivo. Comida ruim, cara e isso quando tem, porque em horários de pico acaba. E funcionários que mal sabem falar português, até a moça que chama os voos pelo autofalante fala um inglês macarrônico.

E se um gringo passar mal no meio da rua, o que acontece? Provavelmente morre. Ao tentar pedir ajuda, quase ninguém me entendeu e os poucos que entenderam me indicaram hospitais públicos. Eu disse que não conseguia andar para chegar lá. Ligaram para os bombeiros e disseram que eles só podem buscar alguém se fosse o caso de um acidente de trânsito. Hospitais públicos não tinham ambulâncias disponíveis. Liga daqui, liga dali, resumo da história: se passar mal no Rio de Janeiro escreva em um papel “Hospital Samaritano” e se jogue dentro de um táxi. E se prepare para a conta, de ambos. E nunca deixe que te levem para qualquer hospital da rede D´Or. Mais fácil pedir que o açougueiro da esquina te opere.

Shoppings. Shoppings são sabidamente um dos paraísos dos turistas. Mas isso não impede que os shoppings do Rio não disponham de funcionários poliglotas. Em alguns nem mesmo os banheiros estão sinalizados em outro idioma que não seja o português. Os funcionários daqueles quiosques de informação tem muita dificuldade em lidar com pessoas que não falem português. Não apenas isso, muitos ainda tripudiam de turistas: “Fulanaaaa! Me ajuda aqui que eu não estou entendendo nada do que essa mulher está falando! Ela fala tudo enrolado!” – em tom pejorativo. Vendedores de loja não sabem informar o preço em dólar e muitas nem mesmo aceitam moeda que não seja real.

Para não ser injusta, tem uma categoria que parece ter se preocupado em aprender o básico de outros idiomas: os moradores de rua. Mendigos souberam me pedir dinheiro e dizer que estão passando fome em espanhol e, acreditem ou não, cheguei a ser abordada por um pivete que gritou “Perdió! Perdió!”. As putas, pelo que me falaram, também aprenderam o básico, mas não posso atestar pois não usufrui de seus serviços. Em todo caso, muito triste uma cidade onde os marginais são os que mais se esforçaram para falar o idioma dos turistas.

Praia. Cadeiras, guarda-sol, água de coco ou o que se queira pedir dobra de preço se for um gringo pedindo. Aliás, quando um gringo pisa nas areias ele é assediado por dois ou três barraqueiros querendo empurrar o combo cadeira + guarda-sol. E se não perguntar o preço e só for pagar na hora de ir embora, fica ainda mais caro. Mesmo quem não é de outro país pode ter o preço inflacionado se cair na besteira de ir à praia levando a toalha do hotel. Toalha do hotel é passar recibo de turista. Toalha de hotel jamais. Aliás, toalha na praia no Rio jamais. Canga e olhe lá. Carioca se seca ao sol. Além disso tem praias que estão tão sujas, mas tão sujas, que só gringo tem coragem de ir.

Pontos turísticos. Lotados e cheios de oportunistas. Tente subir o Cristo e se depare com dezenas de pessoas que te oferecem orientação como “guia” para te levar de carro (subir no seu carro, claro). Pessoas que se oferecem para te guiar em trilhas na Floresta da Tijuca ou no Pão de Açúcar. Esses informais estão por todosos lados, vendendo ingressos para aqueles que não querem fazer filas quilométricas, alguns deles falsos. O mesmo na porta do Maracanã: gente furtando, gente roubando, gente vendendo ingresso verdadeiro, gente vendendo ingressos falsos… Outro denominador comum: carência de banheiros nas atrações ao ar livre, recomendo cagar no hotel.

O saldo final é aquele que eu já esperava: desrespeito com o turista em diversas camadas: alguns de sacanagem, outros por ignorância e outros por falta de educação mesmo. Uma falsa amabilidade que na prática não se sustenta, acabando em, no máximo uma boa vontade incompetente e infrutífera. E sim, uma perseguição infundada com argentinos. Argentinos gritam? Falam alto? Chamam a atenção? Bem… Você já viu um brasileiro no exterior? Olha, eu desafio qualquer um a me dizer que passou pelo menos METADE disso em Buenos Aires…

Para dizer que é bem feito para quem gasta dinheiro vindo ao Brasil, para dizer que é Padrão Dilma de turismo ou ainda para contar atrocidades que você tenha visto sendo cometidas contra turistas: sally@desfavor.com


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