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Festa de um.

Festa de um.

| Desfavor | | 72 comentários em Festa de um.

Muitas empresas acham uma boa criar festas e confraternizações para seus funcionários. Em algumas delas, exige-se que não se traga nenhum “estranho” ao convívio profissional. E é aqui Sally e Somir desenvolvem a desavença da vez. Os impopulares estão convidados, e podem trazer suas opiniões.

Tema de hoje: Ir numa festa de empresa onde seu(sua) parceiro(a) não pode entrar?

SOMIR

Sim. E vejam bem, não estou nem dizendo que acho bonito criarem festas com esse tipo de regra… estou me atendo ao verdadeiro assunto aqui: casal não precisa (aliás, nem DEVE) fazer tudo juntos. Há sim espaço numa relação saudável para momentos de separação desse tipo.

E antes que me acusem de manipulador barato; sei muito bem que estamos nos concentrando num evento específico, e também que festas de empresa tem uma reputação no mínimo dúbia em relação à manutenção da fidelidade conjugal. Mesmo assim mantenho a defesa do princípio: um casal é feito de duas pessoas com suas vidas entrelaçadas, mas não necessariamente fundidas.

Existem outros motivos razoáveis para que um casal não precise comparecer como casal em qualquer evento social, e só quem tem sérios problemas de confiança não admite que o outro exista separado de você. Por mais que o mundo esteja apinhado de gente assim, não podemos deixá-los ditar o rumo das coisas, não? Espaço não é sinônimo de distância num casal que tem suas cabeças no lugar.

Mas falemos da condição da coluna: Eu mesmo não sou fã de socialização em geral. O primeiro motivo pelo qual não iria numa festa dessas é por achar um saco. Tenho que fazer um certo exercício de abstração para acreditar que seja do meu interesse comparecer, independentemente de poder levar a parceira. Muito cuidado para não errar a premissa do tema de hoje: a festa existe e você por algum motivo quer ir.

Se não queria para ir começo de conversa, toda essa discussão torna-se irrelevante, não? Tem que querer ir e considerar se o impedimento de levar parceira(o) vai virar impedimento de comparecer em geral. E é aqui que precisamos entender que as pessoas podem ter independência até mesmo dentro de um relacionamento romântico estável.

Se o motivo para querer ir é gostar das pessoas com quem trabalha, não vai deixar de gostar porque algum chato com poder de decisão forçou essa regra de não levar ninguém de fora, não? Tenho horror a essa coisa de “amigos do casal” como regra, aqueles que são divididos litigiosamente como bens após uma separação. Cada um tem direito a ter sua “turma”. E é muito chato quando qualquer envolvido tenta se impor em relações que não lhe dizem respeito. Vai deixar de ver seus amigos por causa de uma proibição arbitrária da empresa? Que marquem um encontro com as(os) respectivas(os) depois. Daquela vez não deu. Não ir é dar muito poder para quem não merece. A turma se encontra quando pode.

Se o motivo é relacionado com seu status na empresa, mais força ainda para o argumento de vidas separadas. Ninguém deixa de ir trabalhar para manter um relacionamento, oras! Se a festa é necessária para ser bem visto na empresa, é mais uma daquelas obrigações que não gostamos, mas temos que engolir. Vai abrir mão de uma promoção ou mesmo ficar na lista de demissões futuras só para dar uma prova de união supérflua? Espero que ninguém aqui esteja num relacionamento onde o outro tenha o poder de te atrasar na vida por um capricho…

E sim, tem o caso de quem quer ir para fazer merda. Quem acha um barato encher a cara e dar em cima dos companheiros de trabalho. Bom… quem quer ir por esse motivo dificilmente é menos propenso a ser irresponsável e infiel em outras situações, não? Quem quer aprontar, apronta. Ridículo achar que um adulto não tem culpa quando faz algo assim. Se não fosse na festa, seria em outro lugar.

Foda-se se a festa vai ser num puteiro. Trai quem quer trair. Se não foi por vontade própria, chama a polícia porque foi estupro! Assim como não se coloca a culpa na vítima, não se coloca a culpa em quem confiou no parceiro em relação à sua fidelidade. Seja onde for, se a pessoa está assumindo o risco, que pague por ele se acontecer.

Se não quer correr nenhum risco, amarre a outra pessoa no pé da cama e garanta que ela não receba visitas… O preço da segurança é mesmo a eterna vigilância. Mas como eu disse antes: um casal tem dois elementos independentes, ambos trabalhando para que a carga fique mais leve para cada indivíduo. Confia-se nas atitudes da outra pessoa porque é um saco não poder. Uma relação onde você fica com medo quando a outra pessoa vai para um festa sem você é uma relação com distribuição de responsabilidades injusta demais para o meu gosto.

Saber se controlar não é só evitar situações de risco, é saber lidar com elas. É ter linhas bem definidas das quais não se passa. É também entender sua escala de prioridades. Mesmo que a festa do tema de hoje seja uma putaria e seu chefe fique te pressionando para beber mais e agarrar a secretária, ainda é responsabilidade total sua fazer ou não. Você pode falar não, você pode até se demitir ali mesmo para evitar uma traição… É possível, e é isso que conta. Não quis ir? Agora aguenta. Repetindo: se NÃO queria ir, seu ponto de vista não é relevante neste exemplo.

E se sua(seu) parceira(o) não aceitar que você assuma nenhum risco de fazer besteira como condição de continuar com você… Bom, mais motivo ainda para ir sozinho(a).

Para dizer que adoraria que festa de empresa fosse mesmo essa putaria toda, para perder o ponto do texto completamente, ou mesmo para dizer seu gênero pode mas o outro não: somir@desfavor.com

SALLY

Tema perigoso o de hoje. Sujeito a todo tipo de falácia e a puxar pelo pé aquele enorme grupo de pessoas que NÃO LÊ o texto todo e argumenta apenas lendo a pergunta. Sim, eu percebo quando fazem isso, e acho feio. Mas vamos lá, vamos ao menos tentar: ir a uma festa da sua empresa ou do seu trabalho onde seu parceiro NÃO POSSA ENTRAR? Desculpa, mas não.

Eu sei que as pessoas não nasceram grudadas umas nas outras e que um casal saudável tem momentos de lazer separados. Não tentem forçar a barra do meu argumento para esse lado, porque eu vou te perguntar se “Tens aquário em casa?”. A pergunta não é “Um casal sempre tem que, obrigatoriamente sair junto?”. Não estamos falando de um evento onde seu parceiro não quer ir, de um dia em que ele tinha um outro compromisso ou estava cansado para te acompanhar. Estamos falando de uma festa onde sua entrada está BARRADA.

Talvez eu seja muito polida com essas questões sociais, e frequentemente vejo que o sou muito mais do que os brasileiros, mas acho terrivelmente deselegante a concepção de uma festa onde meu parceiro NÃO PODE ENTRAR. Não vou. Vai me desculpar, mas eu não vou. Vou em festas sem meu parceiro sem problema. Meu parceiro pode ir em festas sem mim igualmente. Mas festa onde meu parceiro está PROIBIDO de entrar, mil desculpas, eu não frequento. Acho mal educado demais.

Não apenas mal educado com meu parceiro, mas COMIGO. Porque sabe, se você quer me dizer quem eu posso e quem eu não posso levar em uma festa, enfia sua festa no cu! (olha a polidez falando alto…). Uma festa babaco-corporativa onde um imbecilóide acha errônea e ultrapassadamente que barrar a entrada de pessoas de fora vai “unir” seus funcionários não merece prestígio. Posso até não bater de frente e inventar uma doença ou uma desculpa, mas não vou.

Isso sem mencionar o fato de que todas, T-O-D-A-S as festas nesse esquema nas quais eu já cometi o erro de ir foram uma putaria generalizada. Porque as pessoas SE TRANSTORNAM quanto tem o combo bebida + certeza de que ali ninguém está acompanhado. O que é feito ali, morre ali, não vai ter ninguém para contar para sua esposa ou marido. Sério mesmo, as pessoas mudam de postura diante de uma situação dessas, em maior ou menor grau. Me recuso a participar, porque além de achar escroto comigo e com meu parceiro, ainda serei testemunha de uma infinidade de baixarias que me colocarão como cúmplice de algumas mentiras. Depois vou ter que olhar para a cara do corno e sorrir? Tô fora.

Por definição, uma festa assim me desagrada. Você vai em uma festa destinada a matar filhotinhos de gato? Você vai em uma festa destinada a fazer um ritual que você desaprova? Eu não vou. A definição da festa de pessoas sem seus parceiros me repele por si só, não tenho interesse em participar de uma coisa dessas, porque, sinceramente, não atrapalha em nada cada um levar seu parceiro, no único fator que atrapalha é que não vai poder fazer putaria. Então, no país da sacanagem, fica bem claro para que lado uma restrição dessas vai levar. Estamos falando de Brasil, não da sua cabeça ou de um mundo ideal/civilizado. BRASIL.

Se você passa pelo menos oito horas por dia, de segunda a sexta, olhando para os cornos daquelas pessoas o ano todo, porque merdas tem que ser obrigado a se restringir a estas mesmas pessoas na hora de comemorar e confraternizar? Enfia uma dentadura no cu e sorri pro caralho, com bem diz o Away! Por favor, que coisa mais sacal ter que confraternizar SÓ com aquelas mesmas pessoas com as quais você é obrigado a ficar confinado o ano todo. Se quiser confraternizar com elas você sai com elas depois do expediente qualquer dia do ano. Porque estipular um dia segregacionista onde você é OBRIGADO a confraternizar com elas, e só com elas?

Ninguém aqui é criança. Vocês já devem ter participado de festas assim, sabem como as pessoas se comportam. Você já foi a alguma festa dessas onde uma pessoa casada não tenha dado em cima ou ficado com outra pessoa? Eu não sou obrigada a participar ou a assistir a putaria alheia. E mesmo que, como por um milagre, pessoas no BRASIL,em um ambiente seguro, sem seus parceiros e com muita bebida não se pegassem, não vou sujeitar meu parceiro ao desconforto de ter que lidar com essa loteria babaca, A Putaria de Schrödinger: ela pode ou não pode estar acontecendo. Não acho certo, não acho justo.

E, que fique claro, não estou falando necessariamente de traição. Porque se eu achar que a pessoa vai me trair só porque eu não estou lá, nem deveria ficar com ela em primeira instância! Qualquer situação onde seja uma porta escancarada para flerte, putaria e sacanagem é desconfortável e deve ser evitado, não porque alguém vá trair alguém e sim porque a pessoa não merece passar pela angústia de ter que lidar com a possibilidade de muitas pessoas estarem dando em cima do seu parceiro, barrada, do lado de fora. Mesmo sem traição, é bem desagradável saber que seu parceiro está em um local onde, por definição, há muitas pessoas dando em cima dele, seja uma boate, seja um puteiro, seja uma festinha da empresa.

Não gostaria que fizessem comigo, seja pela questão da pessoa ser meio frouxinha na hora de se posicionar, seja pela insegurança que me traria, portanto, não faço. Em toda empresa tem alguém que te acha atraente e tem alguém que você acha atraente, vai dar mole pro azar e juntar todo mundo regado a álcool se quiser, eu não quero. Vai ser isso que vai demolir um relacionamento? Certamente não, mas evitar magoar o outro nunca é demais. Nunca se sabe quando o copo vai transbordar, tomar cuidados com o outro é sempre muito bem vindo, por mais “besteira” que possa parecer.

Se você quer ser o tipo de pessoa que deixa seu parceiro ser barrado em uma festa e acha isso normal, beleza. Eu não acho, eu não aceito que me digam quem eu posso ou não posso levar e muito menos que me imponham uma presença excluindo uma pessoa que eu amo. Será possível que eu seja assim, tão maluca? Devo ser, pois geralmente as pessoas sequer refletem sobre essa proibição e abaixam a orelha na maior docilidade. “Todo mundo faz”. Oi? Foda-se. Eu não sou todo mundo. “Todo mundo faz” não é e nunca vai ser argumento que me convença de alguma coisa. Aliás, muito pelo contrário.

Sinceramente, ninguém morre por peitar um chefe e dizer que acha isso inadequado e desagradável com o parceiro e não vai. Muito pelo contrário, talvez ganhe até o respeito. Mas se você for mais cagãozinho, finge que adoeceu. Porque trabalho se encontra outro no jornal, já um relacionamento que valha a pena…

Para argumentar com uma série de falácias que eu já refutei nos primeiros parágrafos, para só agora se dar conta do desaforo que isso é ou ainda para me agradecer pelo enorme problema que este texto vai te criar: sally@desfavor.com


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